O Estado de São Paulo (2020-03-18)

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A12 Política QUARTA-FEIRA, 18 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


ROSÂNGELA


BITTAR


N


unca foi tão fácil saber quem


tem razão. Os presidentes


da Câmara, do Senado e do


Supremo Tribunal Federal, na lide-


rança de suas instituições, transmi-


tem mais conforto e segurança à


maioria da população que o presi-


dente da República. Sem os meios,


que estão serenamente bem toca-


dos pelo Ministério da Saúde, os che-


fes dos poderes Legislativo e Judiciá-


rio dão sinais de equilíbrio, enquan-


to o presidente Jair Bolsonaro cria


uma rota preocupante de insanida-


de suicida. Entra nela quem quer,


mas caberia ao presidente dar o


bom exemplo. Está nele o que acusa


nos outros: só pensa na disputa do po-


der que, hoje, envolve o risco de morte.


Neste momento de incerteza da pró-


pria sobrevivência coletiva, quando de-


veria estar preocupado com a salvação


pública, é incrível que o presidente pro-


tagonize não ações que gerem confian-


ça, transparência e prudência, mas sur-


tos incontroláveis do seu temperamen-


to persecutório e provocativo.


Um Poder Executivo esconder suas


próprias manobras chantagistas ale-


gando ser vítima de chantagem, é blefe.


Jair Bolsonaro dizer que está apa-


nhando há 15 meses e agora vai revidar,


é também blefe. Desde que assumiu


está batendo, provocando as demais


instituições, jogando uns contra ou-


tros, transferindo a terceiros seus fra-


cassos reais e imaginários. Sim, a co-


brança é leve porque não houve tempo


sequer para sofrer perdas significati-


vas. Sente-se, pela desproporção dos


atos, como se o próprio Bolsonaro esti-


vesse preparando justificativas para


uma ação excepcional.


Foram Bolsonaro, filhos e amigos


que transformaram a Presidência em


rinha.


Não é bom para a democracia que o


Poder Legislativo fique omisso e en-


gula atos de provocações a seco. Nem


é razoável, também, que parta para


retaliação ao Executivo, punindo to-


da a sociedade, como faz o presidente


da República. O Legislativo está agin-


do de acordo com suas atribuições. E


basta que mantenha a calma, bom


senso, cuidados sanitários, definin-


do sua agenda conforme a possibilida-


de do momento.


O ministro da Economia, tal como o


presidente, perdeu a hora para as refor-


mas primordiais, a Tributária e a Admi-


nistrativa. Depois das eleições munici-


pais podem sair do arquivo, quem sa-


be. Agora a pauta está dominada pelas


medidas de guerra e sobrevivência.


Quem brinca com a vida dando sal-


tos mortais em momento inoportuno


pode se arrebentar.


Paulo Guedes foi ao Parlamento e


ficou divagando sobre o crescimento


da Ásia. Os parlamentares perderam a


paciência e a cerimônia, mais de dez


saíram da sala. Uma reunião sem as


grosserias de outros tempos, mas sem


resultados.


No Congresso dissemina-se a certe-


za de que Bolsonaro nunca quis de fato


as reformas e acredita não precisar de-


las para que a economia cresça 3%. Ago-


ra, com a pandemia, o futuro das refor-


mas ficou ainda mais incerto.


À margem destas constatações, o go-


verno tem exemplos internos de


compostura no exercício do poder,


mas não os cultiva. O presidente do


Banco Central, Roberto Campos Ne-


to, faz um trabalho de coordenação


dos projetos de interesse do BC, a


serem apreciados no Congresso,


desde o primeiro dia no cargo. Reú-


ne-se e dialoga com parlamentares,


tudo na mais estridente discrição.


Não será surpresa se conseguir apro-


var a autonomia do Banco Central


em meio às medidas emergenciais


de combate ao vírus letal. Um nicho


de temperança, enquanto a ambigui-


dade, a provocação, o escracho vão


reduzindo a ação parlamentar do go-


verno ao padrão de vereador do Rio.


O ministro Guedes, destilando


desprezo pelo Congresso, arrisca


transformar-se, precocemente, em


um Guido Mantega. Cobrado, Gui-


do reclamava do Congresso, a quem


transferia a culpa, e ficava tudo por


isso mesmo. Até que, em determina-


do momento, algo aconteceu: o im-


peachment.


E-MAIL: [email protected]
ROSÂNGELA BITTAR ESCREVE SEMANALMENTE ÀS
QUARTAS-FEIRAS

Foram Bolsonaro, filhos e


amigos que transformaram


a Presidência em rinha


Marcelo Godoy


Após determinação da Corte


Interamericana de Direitos


Humanos (CIDH), o Ministé-


rio Público Federal (MPF)


apresentou ontem denúncia


criminal contra militares, po-


liciais, peritos e um procura-


dor de Justiça sob a acusação


de terem participado da tor-


tura e assassinato do jornalis-


ta Vladimir Herzog e, poste-


rior, fraude processual e aco-


bertamento dos autores do


crime. Trata-se da primeira


vez – 45 anos depois do delito



  • que uma acusação formal é


apresentada à Justiça.


A tramitação do caso Herzog


se difere de outras denúncias


apresentadas pelo MPF contra


militares e policiais envolvidos


nos crimes cometidos contra


opositores na ditadura militar.


Uma decisão da CIDH em 2018


determinou que o Estado brasi-


leiro investigasse, processasse e


punisse os autores do delito ocor-


rido em 25 de outubro de 1975


nas dependências do Destaca-


mento de Operações de Informa-


ções (DOI), do 2.º Exército (SP).


O DOI apurava a relação de


jornalistas com o Partido Co-


munista Brasileiro (PCB), en-


tão clandestino. O MPF acusa


na denúncia dois militares pelo


assassinato: o então chefe da 2.ª


Seção do 2.º Exército, coronel


José Barros Paes, e o então co-


mandante do DOI, coronel Au-


dir Santos Maciel. “O homicí-


dio praticado pelos denuncia-


dos foi cometido com emprego


de tortura, consistente na infli-


ção intencional de sofrimentos


físicos e mentais agudos contra


a vítima, com o fim de intimidá-


lo e dele obter informações”, es-


creveu a procuradora da Repú-


blica Ana Letícia Absy.


Os dois coronéis são ainda


acusados com o carcereiro Al-


tair Casadei de fraude proces-


sual porque teriam montado a


cena do crime para induzir a Jus-


tiça a acreditar que o jornalista


se matara. Os então médicos-le-


gistas Henri Shibata e Arildo de


Toledo Viana são acusados de


fazer uma falsa perícia para en-


cobrir o crime.


Por fim, o procurador Durval


Ayrton Moura de Araújo é acusa-


do de prevaricação porque teria


ajudado a encobrir o crime, dei-


xando de fazer constar nos de-


poimentos das testemunhas as


denúncias de tortura contra o


DOI. Os depoimentos faziam


parte do Inquérito Policial-Mili-


tar (IPM) do Exército que apu-


rou o caso. O IPM concluiu que


o jornalista se suicidara.


Anistia. A maioria das denún-


cias apresentadas até agora pe-


lo MPF à Justiça Federal sobre


os delitos da época têm sido re-


jeitadas pelos tribunais sob a


alegação de que os fatos foram


anistiados em 1979. Em 1992, o


Ministério Público Estadual (M-


PE) abriu dois inquéritos sobre


o caso, mas ambos foram tranca-


dos por decisão do Tribunal de


Justiça de São Paulo.


Em 2010, o Supremo Tribunal


Federal (STF) rejeitou a ação pro-


posta pela Ordem dos Advoga-


dos do Brasil (OAB) que questio-


nava a legalidade da extensão da


anistia para os agentes do regime


militar. Manteve assim a anistia


aos crimes políticos e conexos.


Para a CIDH, o caso Herzog,


por ser um delito contra a huma-


nidade, é imprescritível e não pas-


sível de anistia. E afirmou que a


decisão do STF não considerou


a imprescritibilidade dos delitos


contra a humanidade. A defesa


do Brasil alegou que o caso não


podia ser reaberto em razão da


prescrição e pelo fato de ser “coi-


sa julgada”. Para a defesa, os argu-


mentos de irretroatividade da lei


penal e de non bis in idem (princí-


pio pelo qual uma pessoa não po-


de ser punida duas vezes pelo


mesmo fato) estavam de acordo


com a Convenção. Em 2018, após


a decisão da CIDH, o MPF abriu


o inquérito que levou à denúncia.


Caso a 1.ª Vara Federal Crimi-


nal rejeite a denúncia ou se a


acolher, deve haver recurso aos


tribunais superiores.


Justiça de SP barra reforma da


Previdência de servidor público


Pedro Venceslau


O empresário Paulo Marinho


foi escolhido pelo PSDB flumi-


nense como o candidato do par-


tido à prefeitura do Rio de Janei-


ro no lugar do advogado Gusta-


vo Bebianno, que morreu na ma-


drugada de sábado, após sofrer


um ataque cardíaco. Ex-bolso-


narista, Marinho assumiu o dire-


tório estadual tucano após se


aproximar do governador de


São Paulo, João Doria, com


quem hoje mantém um relacio-


namento político estreito.


No dia 5 de março, o nome


de Bebianno como pré-candi-


dato à prefeitura do Rio de Ja-


neiro foi anunciado em uma en-


trevista coletiva realizada na


sede do PSDB paulista, em


uma demonstração da influên-


cia de Doria sobre o partido.


O anúncio desagradou parte


da legenda, especialmente o


presidente nacional do PSDB,


Bruno Araújo, que preferia o


nome de Mariana Ribas, ex-se-


cretária municipal de Cultura


do Rio, na gestão do atual pre-


feito, Marcelo Crivella (PRB),


na disputa. O dirigente não gos-


tou de ter sido preterido no de-


bate interno.


Mariana já havia sido anuncia-


da como pré-candidata, mas de-


pois alegou motivos pessoais


para desistir do pleito. Na coleti-


va na capital, Doria afirmou que


ela vai ocupar um cargo na área


de cultura do Estado.


Suplente. Paulo Marinho é su-


plente do senador Flávio Bol-


sonaro (sem partido-RJ) e foi


um dos mais ativos colabora-


dores da campanha de Jair Bol-


sonaro em 2018. O empresário


rompeu com o presidente em


2019, após a demissão de Be-


bianno da Secretaria-Geral da


Presidência.


Antes da indicação de Be-


bianno para a disputa, Mari-


nho chegou a defender que o


partido firmasse uma aliança


com legendas mais próximas,


como o DEM, que deve ter co-


mo candidato o ex-prefeito do


Rio Eduardo Paes. Os tucanos


buscam ainda nomes competi-


tivos para formar uma chapa


de vereadores.


Pedro Prata


Paulo Roberto Netto


O desembargador Antonio


Carlos Malheiros, do Tribunal


de Justiça de São Paulo (TJ-


SP), suspendeu, ontem, em de-


cisão liminar, a reforma da Pre-


vidência paulista. A decisão


atendeu a uma ação movida pe-


lo Sindicato dos Professores


do Ensino Oficial do Estado (A-


peoesp). A Proposta de Emen-


da à Constituição (PEC) esta-


dual foi aprovada no começo


de março, em meio a confron-


tos entre servidores públicos e


policiais militares nos corredo-


res da Assembleia Legislativa


de São Paulo.


Malheiros concordou com a


tese do sindicato de que houve


irregularidade na nomeação


de um relator especial para


substituir a Comissão de Cons-


tituição, Justiça e Redação pa-


ra emitir parecer sobre a PEC.


O governo do Estado, que pre-


vê que as novas regras resulta-


rão em economia de R$ 58 bi-


lhões em 15 anos, não se mani-


festou até o encerramento des-


ta edição.


A reforma da Previdência


dos funcionários públicos pau-


listas passou em primeiro tur-


no no dia 18 de fevereiro, pelo


placar de 57 a 31. Este era o nú-


mero mínimo de votos para a


aprovação e o último voto só


foi garantido pois a base do go-


verno pediu uma votação nomi-


nal, que inclui o voto do presi-


dente da Casa.


A PEC estabelece uma idade


mínima para aposentadoria –


de 62 anos para mulheres e 65


para os homens –, acaba com o


recebimento de adicionais por


tempo de serviço e proíbe a


acumulação de vantagens


temporárias, como o recebi-


mento de valores adicionais


na aposentadoria por ter


exercido cargos de chefia no


serviço público.


Pela regra aprovada pelos


deputados paulistas, a idade


mínima para aposentadoria


dos professores agora é de


51 anos para mulheres e 56


para homens. Já policiais ci-


vis e agente penitenciários


podem se aposentar a partir


dos 55 anos.


Os deputados aprovaram


também uma lei comple-


mentar que define a cobran-


ça de quatro alíquotas previ-


denciárias progressivas pa-


ra os servidores estaduais:


11% para quem ganha até um


salário mínimo; 12% para


quem recebe até R$ 3 mil;


14% para quem tem salário


entre R$ 3 mil e o teto do


Regime Geral da Previdên-


cia, que é de R$ 6,1 mil; e de


16% para aqueles que ga-


nham acima de R$ 6,1 mil.


Blefe, na melhor hipótese


lO decano do Supremo Tribunal


Federal, ministro Celso de Mello,


foi internado em São Paulo em


razão de um quadro infeccioso.


“A patologia não tem relação


com a cirurgia (no quadril) a que


o ministro foi submetido em janei-


ro nem com o novo coronavírus”,


informou o gabinete do ministro,


que prorrogou sua licença médi-


ca até 30 de março.


Decisão está baseada em sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, de 2018; jornalista morreu nas dependências do DOI


PSDB vai lançar


ex-bolsonarista para


a prefeitura do Rio


lEconomia


Suplente de Flávio


Bolsonaro, Paulo


Marinho foi um dos mais


ativos colaboradores da


campanha presidencial


Celso de Mello é


internado em SP


MPF denuncia 6 pela morte de Herzog


WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 27/6/ 2019

Colaborador. Paulo Marinho apoiou eleição do presidente


TABA BENEDICTO / ESTADÃO - 3/3/

Votação. Manifestantes e policiais entraram em confronto em frente à Assembleia Legislativa no dia da aprovação da lei


Desembargador concede


liminar em ação movida


por professores, que


apontou irregularidade na


tramitação da proposta


R$ 58 bi


é quanto o governo de São Paulo


pretende economizar em


15 anos com as novas regras


das aposentadorias dos


funcionários públicos

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