O Estado de São Paulo (2020-03-18)

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A14 QUARTA-FEIRA, 18 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Internacional


CARACAS


O presidente venezuelano, Ni-


colás Maduro, pediu ontem ao


FMI uma ajuda de US$ 5 bilhões


para lidar com o surto do coro-


navírus, segundo uma carta en-


viada à diretora da organização,


Kristalina Georgieva.


Na carta, Maduro solicita ao


FMI que considere conceder


“um mecanismo de financia-


mento de US$ 5 bilhões do fun-


do de emergência do Instru-


mento de Financiamento Rápi-


do”, de acordo com texto divul-


gado no Twitter pelo ministro


das Relações Exteriores da Ve-


nezuela, Jorge Arreaza.


Esses recursos, segundo Ma-


duro, “contribuirão significati-


vamente para fortalecer os siste-


mas de detecção e resposta”


diante da pandemia que até ago-


ra infectou 33 pessoas na Vene-


zuela. Ele afirma que 28 dos ca-


sos vieram da Europa e os ou-


tros 5 de Cúcuta, cidade na fron-


teira com a Colômbia.


Diante do aumento de notifi-


cações, Maduro decretou qua-


rentena no país. A medida, que


entrou em vigor ontem, prevê a


suspensão do trabalho, exceto


nas atividades ligadas à distri-


buição de alimentos, à seguran-


ça policial e militar, aos servi-


ços de transporte e à saúde.


Essa ajuda solicitada por Ma-


duro ao FMI é a primeira feita


pela Venezuela desde 2001. A úl-


tima visita de uma missão técni-


ca a Caracas foi em 2004. Con-


sultado pela agência France


Presse, o FMI não comentou o


pedido.


O fato de a Venezuela, que


tem uma relação tensa com o


fundo, ter pedido um emprésti-


mo indica que os venezuelanos


estão enfrentado uma severa


crise sanitária em razão das san-


ções decretadas pelos EUA.


Nos últimos anos de crises po-


lítica, econômica e humanitá-


ria, Maduro tem acusado o FMI


e o Banco Mundial de serem


agentes a serviço dos EUA em


“guerra econômica” contra a


Venezuela.


O impacto que a pandemia do


coronavírus teve na economia


global afetará duramente a pro-


dução petrolífera venezuelana,


que ainda mantém em pé o país,


que teve seu PIB reduzido em


dois terços nos últimos seis


anos e tem uma inflação fora de


controle.


O preço do barril de petróleo


venezuelano caiu para a meta-


de (US$ 24) do que estava no


início do ano. O governo tem


cada vez menos capacidade de


manobra financeira e o prog-


nóstico de uma contração de


10% para este ano, feito pelo


FMI, deve ser maior em razão


do coronavírus. / AFP e EFE


MACONHA PARA


CONSUMO EM CASA


Beatriz Bulla


CORRESPONDENTE / WASHINGTON


O ex-vice-presidente dos Es-


tados Unidos Joe Biden teve


mais uma terça-feira de vitó-


rias na campanha pela nomea-


ção do partido democrata pa-


ra disputar a Casa Branca con-


tra Donald Trump. Biden ga-


nhou do senador Bernie San-


ders na Flórida e em Illinois.


No Arizona, que também rea-


lizou primárias ontem, ainda


não havia a divulgação dos re-


sultados.


Na Flórida, o maior prêmio


da noite, Biden abriu quase 40


pontos de vantagem sobre San-


ders, com 62% dos votos. O re-


sultado já era esperado. Em


2016, Hillary Clinton também


saiu bem na frente do senador


nas primárias do Estado. Em Illi-


nois, a abertura das urnas mos-


trou Biden com 59% dos votos e


Sanders com 36%. As duas pré-


vias podem sepultar a campa-


nha de Sanders, com a consoli-


dação do ex-vice de Barack Oba-


ma na dianteira da nomeação


democrata.


O senador vem perdendo fôle-


go semana a semana desde que


Biden ganhou as primárias na


Carolina do Sul e, na sequência,


a maior parte dos Estados que


votaram durante a Super Terça.


O ex-vice-presidente conse-


guiu unir em torno do seu nome


o establishment do partido, que


mostra clara resistência à ascen-


são de Sanders, um senador in-


dependente. A partir daí, Biden


ganhou em Estados-pêndulo


cruciais para a ambição demo-


crata de derrotar Trump em no-


vembro, como Michigan e Caro-


lina do Norte.


Com 219 delegados, a Flórida


é o quarto Estado com mais pe-


so na escolha democrata, per-


dendo apenas para Califórnia,


Texas e Nova York. É também


um Estado-pêndulo, que pode


oscilar entre votos republica-


nos e democratas nas eleições


presidenciais e, por isso, um


campo de batalha para os dois


partidos. Desde 1996, o candida-


to que vence na Flórida ganha


também a eleição nacional para


presidente.


Sanders sabia que teria no Es-


tado a resistência de eleitores


que não simpatizam com seu ró-


tulo de socialista democrático.


A Flórida concentra grande par-


te da comunidade de cubanos


que vive nos EUA e, mais recen-


temente, de venezuelanos que


abandonaram o país comanda-


do por Nicolás Maduro.


As prévias de ontem também


marcaram um momento sem


precedentes: eleitores foram às


urnas em meio ao fechamento


de escolas, universidades, res-


taurantes e lojas em grande par-


te das cidades americanas por


causa da disseminação do coro-


navírus. Ohio, que deveria reali-


zar a votação também ontem, de-


cidiu adiar as prévias partidárias


em razão das medidas de distan-


ciamento social adotadas para


tentar conter o avanço do vírus.


Em Chicago, no Estado de Illi-


nois, os procedimentos adota-


dos por autoridades locais para


evitar aglomerações nas zonas


de votação tornaram o procedi-


mento mais lento. Eleitores es-


peravam até 2 horas e meia em


longas filas para registrar o voto.


Americanos não sabem se e


quando as prévias presenciais


serão retomadas, já que ao me-


nos quatro Estados anuncia-


ram a suspensão da votação:


Georgia, Maryland, Louisiana e


Kentucky.


O presidente nacional do par-


tido democrata, Tom Perez, pe-


diu aos demais Estados que ain-


da têm primárias pela frente


que usem métodos remotos de


votação. Nos EUA, 105 pessoas


morreram e mais de 5,5 mil pes-


soas foram infectadas pelo ví-


rus em todos os 50 Estados do


país e no Distrito de Columbia.


Eleição nos EUA. Ex-vice-presidente americano obteve grande vantagem sobre o senador Bernie Sanders em prévias realizadas em


meio ao surto de coronavírus; desde 1996, o candidato que vence na Flórida ganha também a eleição nacional para presidente


AMSTERDÃ


P


ara evitar o retorno do


tráfico de drogas, o go-


verno holandês modifi-


cou na noite da segunda-feira


uma lei anunciada no dia ante-


rior, que determinava o fecha-


mento de todos os bares, restau-


rantes e bordéis até o dia 6 de


abril. Com a medida, determi-


nada por conta do coronaví-


rus, os coffee shops também


seriam fechados.


Os consumidores de maco-


nha, porém, reclamaram. Te-


mendo a volta da venda ile-


gal, o governo decidiu que os


coffee shops permanece-


riam abertos com a restrição


de a erva ser consumida em


casa.


Antes da decisão, o anún-


cio de fechamento dos coffee


shops causou uma verdadei-


ra corrida à maconha, com


milhares de cidadãos indo às


ruas para comprar a merca-


doria. Filas intermináveis se


formaram às portas das cafe-


terias de Amsterdã, porque o


fechamento dos estabeleci-


mentos, segundo o governo,


estava previsto para o come-


ço de abril.


Os holandeses preferiram


colocar a maconha como prio-


ridade à frente até do papel


higiênico, item mais procura-


do nos supermercados de paí-


ses europeus. / AFP


PEQUIM


O governo chinês anunciou


ontem que revogará as creden-


ciais de jornalistas de três gran-


des jornais dos EUA, em respos-


ta a novas restrições america-


nas em relação à mídia chinesa.


Em um comunicado, o Ministé-


rio de Relações Exteriores dis-


se que a China exige que os jor-


nalistas que trabalham para


Wall Street Journal, Washington


Post e New York Times devol-


vam, dentro de 10 dias, as cre-


denciais.


O governo chinês também


disse que outros dois meios, a


Voz da América e a revista Ti-


me, também serão designadas


“missões estrangeiras”, mas


não ficou claro se os jornalistas


das duas empresas teriam as


credenciais revogadas.


“Eu lamento a decisão toma-


da pela China. Isto apenas difi-


culta o trabalho da imprensa li-


vre, que francamente seria


bom para o povo chinês”, disse


o secretário de Estado dos


EUA, Mile Pompeo. “Espero


que eles voltem atrás.”


A medida acontece no mo-


mento em que o governo de Do-


nald Trump designou cinco veí-


culos de mídia da China como


“missões estrangeiras”, restrin-


gindo o número de chineses


que poderiam trabalhar nelas.


Os meios de comunicação


chineses empregam cerca de


160 pessoas nos EUA, que per-


tencem a cinco organizações


de mídia, todas elas controla-


das pelo governo do país. A Ca-


sa Branca restringiu o número


de vistos a cem. Os que excede-


rem serão expulsos.


O momento também é ruim


para a relação entre os dois paí-


ses desde que Trump começou


a ser referir ao coronavírus co-


mo “vírus chinês” – o que mui-


tos condenaram como uma es-


pécie de estigmatização racial.


Ontem, o presidente voltou a


se defender, dizendo que não


vê nada de errado em chamar o


vírus pelo país de origem.


A China disse ontem que a


expulsão dos jornalistas são


passos necessários e recípro-


cos. São contramedidas em res-


posta ao que chamaram de uma


opressão aos meios chineses


nos EUA. No entanto, esta não


é a primeira vez que Pequim de-


cide expulsar jornalistas estran-


geiros.


Em fevereiro, dois repórte-


res e um chefe da sucursal do


Wall Street Journal que trabalha-


vam na China tiveram as cre-


denciais revogadas após a publi-


cação de uma coluna de opi-


nião de um professor universi-


tário dos EUA com um título


que dizia que a China é “o real


homem doente” da Ásia.


O texto se referia ao surto do


coronavírus e foi considerado


pelo governo chinês como “ra-


cista e calunioso”. Apesar de


não haver relação entre os jor-


nalistas e o professor america-


no, Pequim argumenta que a ex-


pulsão ocorreu por falta de um


pedido de desculpas do jornal. /


AFP e AP


Maduro pede US$ 5 bi ao


FMI contra coronavírus


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Biden vence na Flórida e Illinois e amplia


vantagem em primárias democratas


lVantagem


lAlta tensão


China expulsa jornalistas americanos


JOE BURBANK / AP

219


delegados estão em jogo


nas primárias democratas da


Flórida, a maioria vai para o


ex-vice-presidente americano


Joe Biden


Decisão. Democratas votam em Orlando em meio à pandemia de coronavírus: Biden mantém liderança da disputa


ROB ENGELAAR/EFE

Filas. Anúncio de fechar cafés na Holanda: busca por erva


Tráfico de drogas


“Eu lamento a decisão


tomada pela China. Isto


apenas dificulta o trabalho


da imprensa livre, que


francamente seria bom para


o povo chinês. Espero que


eles voltem atrás”


Mike Pompeo


SECRETÁRIO DE ESTADO DOS EUA

Profissionais do


‘New York Times’,


‘Wall Street Journal’ e


‘Washington Post’ terão


credenciais revogadas


Venezuela não recorria


ao fundo desde 2001;


medida tenta conter


pandemia que deve ter


impacto no petróleo

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