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B8 Economia QUARTA-FEIRA, 18 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
Casa Branca prepara pacote de socorro que pode chegar US$ 850 bi; Reino Unido e Espanha também anunciaram estímulos à economia
Petróleo em NY e Londres fica abaixo de US$ 30
KEVIN DIETSCH / EFE
Luta contra o vírus. O presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a pedir ontem que sejam evitadas aglomerações no país
MERCADO VIVE DIAS DE MONTANHA RUSSA
FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO
Bolsas no Brasil e no mundo
VARIAÇÃO DO DIA, EM PORCENTAGEM
IBEX 35
(MADRI)
DAX
(FRANKFURT)
NASDAQ
(NOVA YORK)
S&P 500
(NOVA YORK)
PSI 20
(LISBOA)
FTSE 100
(LONDRES)
FTSE MIB
(MILÃO)
IBOVESPA
(SÃO PAULO)
CAC 40
(PARIS)
DOW JONES
(NOVA YORK)
0
13/MARÇO 16/MARÇO ONTEM
Dólar
EM REAIS
2
JAN
2020
3
FEV
4,000
4,400
4,800
5,200
2
MAR
17
5,0087
VARIAÇÃO
NO DIA
-0,86%
NO ANO
24,8%
6,41 6,23 6,00
5,19 4,85
4,49
2,84 2,79 2,25 2,23
-7,88
-12,32 -11,98 -12,93
-13,92
-4,36
-5,75
-4,01
-5,31
-6,10
3,73
9,35 9,29 9,36
13,91
0,83
1,83 2,46
0,77
7,12
Iander Porcella
Luís Eduardo Leal
Altamiro Silva Junior
Os investidores aproveitaram o
anúncio em série de estímulos
monetários e fiscais, sobretudo
o que foi feito pelo governo dos
Estados Unidos e pelo Federal
Reserve (Fed), para corrigir um
pouco os movimentos recentes
de deterioração dos ativos. As-
sim, as bolsas ao redor do mun-
do responderam em alta firme
ontem.
O Ibovespa teve recuperação
parcial, com ganho de 4,85%,
aos 74.617,24 pontos, após per-
da de 13,92% na segunda-feira -
e avanço de 13,91% na sexta-fei-
ra. Em Nova York, Dow Jones
subiu 5,19%, a 21.237,31 pontos,
o S&P 500 avançou 6,00%, a
2.529,19 pontos, e o Nasdaq ga-
nhou 6,23%, a 7.334,78 pontos.
Anteontem, o mercado acioná-
rio americano havia registrado
a maior queda porcentual des-
de 1987.
Para a Capital Economics, a
turbulência causada nos merca-
dos financeiros pela dissemina-
ção global da covid-19 mostra
poucos sinais de diminuição,
apesar dos esforços dos formu-
ladores de políticas para conter
as consequências. “Nossa opi-
nião é a de que, até que surjam
evidências de que a propagação
do vírus esteja diminuindo, é
improvável que ativos de risco
se recuperem de forma susten-
tada”, acrescentam analistas da
consultoria.
“À medida que os casos de co-
vid-19 continuam a crescer e os
esforços de distanciamento so-
cial são fortalecidos nos EUA e
no mundo, as expectativas de
crescimento econômico e lu-
cros corporativos continuam a
cair”, avalia a LPL Financial.
Ontem, a S&P Global Ratings
informou que prevê uma con-
tração de 1,0% do Produto Inter-
no Bruto (PIB) americano no
primeiro trimestre deste ano e
um recuo de 6,0% nos três me-
ses seguintes. “Os EUA estão en-
trando em uma recessão –se já
não estão em uma”, afirma a
agência.
No Brasil, os investidores ab-
sorveram também o pacote de
quase R$ 150 bilhões que foi
anunciado noite de segunda-fei-
ra pelo Ministério da Econo-
mia. Foi bem-recebido, embora
muito baseado no diferimento
de impostos e encargos em mo-
mento no qual a margem para
estímulos fiscais é restrita. “As
medidas de Guedes foram con-
soantes com a visão de econo-
mia dele. Foi um conjunto de
medidas de diferimento ou an-
tecipação, com soma zero”, diz
André Perfeito, economista-
chefe da Necton. Ele defende
que as iniciativas envolvam tam-
bém injeção de liquidez direta
nas empresas, especialmente
as pequenas e médias, que em-
pregam mais gente.
Riscos. “Ninguém tem dúvida
agora de que estamos diante de
uma crise que afeta os prêmios
de risco e a recorrência dos flu-
xos de caixa das empresas, espe-
cialmente em setores mais pres-
sionados, como o aéreo e o de
petróleo. Há muitas dúvidas,
no curto prazo, quanto a esses
setores mais diretamente afeta-
dos", diz Ilan Arbetman, analis-
ta da Ativa Investimentos.
Para este analista, as conse-
quências da crise do coronaví-
rus são visíveis em todas as ca-
deias logísticas –frigoríficos já
estão fechando fábricas. “As-
sim, há muita expectativa para
ver qual será a dimensão do su-
porte, ao longo do tempo, dos
BCs, governos e organismos, e
os respectivos efeitos", acres-
centa. A Ativa projeta corte de
0,75 ponto porcentual na Selic,
na reunião de hoje, que a deixa-
ria a 3,50% - e mais 0,50 ponto,
depois.
"Mesmo com as bolsas subin-
do, não há arrefecimento no dó-
lar, o que é observável também
com relação a outros emergen-
tes. O movimento no dólar é
mais uma questão conjuntural
do que propriamente nossa",
diz Arbetman.
Após quatro altas seguidas, o
dólar fechou em baixa ante o
real, mas ainda se manteve no
nível R$ 5,00 pelo segundo dia
seguido. O Banco Central vol-
tou a atuar no mercado e ofere-
ceu US$ 2 bilhões em leilões de
linha (venda de dólar à vista
com compromisso de recom-
pra), o que também ajudou a re-
tirar pressão sobre o câmbio. As-
sim, o dólar à vista encerrou o
dia em baixa de 0,86%, cotado
em R$ 5,0087.
O analista sênior de merca-
dos do banco especializado em
transferências internacionais
Western Union, Joe Manimbo,
observa que as evidências de
que o avanço da pandemia de
coronavírus está prejudicando
a atividade econômica e tem for-
talecido o dólar ante divisas for-
tes e emergentes. Ontem, ele
notou que o movimento foi
principalmente ante moedas
fortes, com o temor de recessão
na Alemanha fazendo o euro
despencar e dados ruins da In-
glaterra fazendo a libra cair
1,5%.
Denise Luna / RIO
As declarações do presidente
americano, Donald Trump, so-
bre a possibilidade de mais res-
trições de viagens aos Estados
Unidos, desta vez de Canadá e
México era o que faltava para o
preço do petróleo despencar de
vez da barreira de US$ 30 o bar-
ril, fechando ontem cotado a
US$ 26,95 o tipo WTI e US$
28,75 o tipo Brent, o que não se
via desde janeiro de 2016.
Para analistas, somente com
a recuperação da economia,
principalmente da China, trará
a commodity novamente para
um patamar mais sustentável,
ou, quem sabe, a volta das nego-
ciações entre a Rússia e a Arábia
Saudita para um novo corte de
produção. Nos dois casos, a ex-
pectativa da elevação de preços
não envolve o curto prazo.
A queda do preço do petróleo
começou na virada do ano, em
meio a tensões entre Estados
Unidos e Irã, que fez o petróleo
sair do patamar dos US$ 70 o
barril. Em seguida, o surgimen-
to do coronavírus na China e
seu alastramento para o resto
do mundo afetou fortemente a
demanda. Um novo corte de
produção para manter o preço
diante da previsível queda da de-
manda foi proposto pela Orga-
nização dos Países Exportado-
res de Petróleo (Opep), lidera-
do pela Arábia Saudita, à Rússia,
que já estava no seu limite de
redução e acabou sendo descar-
tado, o que pressionou a oferta.
“A expectativa de reduzir ain-
da mais o fluxo aéreo dentro
dos EUA, com algumas cidades
como Nova York e São Francis-
co em estado de emergência fez
a queda da demanda tomar uma
escala ainda maior”, avalia o
analista da Ativa Investimentos
Ilan Arbetman.
Ele lembra que o mundo já
está na terceira semana à espe-
ra de um entendimento entre a
Opep e a Rússia, ainda indefini-
do, já que a melhora por meio de
um aumento da demanda pare-
ce ainda mais distante, com o
avanço do coronavírus em to-
dos os mercados. Para ele, se o
petróleo não retornar no médio
prazo para o patamar dos US$
40 o barril, o setor vai começar a
sofrer como um todo e em bre-
ve as petroleiras vão ter de redu-
zir postos de trabalho e cortar
investimentos.
A queda abaixo de US$ 30, no
entanto, deve forçar a mais uma
redução de preços pela Petro-
brás, prevê Arbetman. Na sema-
na passada a estatal cortou o
preço da gasolina em 9,5% e do
diesel em 6,5%.
De acordo com o analista da
Tendências Walter de Vitto, o
preço do petróleo está condi-
zente com o quadro de deman-
da que vem pela frente. “As notí-
cias estão cada vez mais negati-
vas em relação ao fluxo de pes-
soas no mundo e afeta direta-
mente os combustíveis. Gasoli-
na, diesel e QAV (aviação) são
responsáveis por 60% da de-
manda mundial de petróleo.”
Ele vê espaço maior para a que-
da de preço da commodity, que
ainda será afetada pelo fim do
inverno no Hemisfério Norte. “
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Beatriz Bulla
CORRESPONDENTE / WASHINGTON
O governo Donald Trump
anunciou ontem que vai pro-
por um pacote de estímulo de
US$ 850 bilhões – o equivalen-
te a mais de R$ 4,2 trilhões –
para evitar que a economia
americana entre em colapso
com o avanço da pandemia
do coronavírus. As medidas
incluem distribuição de che-
ques aos americanos que po-
derão ser no valor de U$ 1 mil,
que o governo pretende en-
viar dentro de duas semanas.
Analistas apontam que o pa-
cote será maior do que o solicita-
do por Barack Obama para reti-
rar o país da recessão em 2009.
“Vai ser grande”, disse Trump.
O secretário do Tesouro, Ste-
ven Mnuchin, anunciou em co-
letiva de imprensa ao lado de
Trump que o presidente pediu
que a operação para efetuar os
pagamentos diretos aos ameri-
canos fosse feita imediatamen-
te. “O presidente nos orientou
a fazer isso agora, então será
agora. Isso (crise) não é culpa
dos trabalhadores americanos.
Usaremos todos os instrumen-
tos que temos e os que não te-
mos negociaremos com o Con-
gresso”, disse Mnuchin.
O governo Trump e o próprio
presidente americano muda-
ram de tom no combate à crise
de saúde e econômica gerada pe-
lo coronavírus nesta semana.
Há uma semana, Trump mini-
mizava os impactos da pande-
mia. O presidente americano
disse ontem, em uma das entre-
vistas coletivas diárias sobre o
tema na Casa Branca, que há
um “enorme espírito” de traba-
lho conjunto no Congresso,
que já aprovou legislação para
que os testes de coronavírus se-
jam gratuitos.
O Tesouro americano infor-
mou também que pagamentos
de tributos podem ser adiados
por 90 dias, sem taxa ou multa.
As pessoas poderão adiar o paga-
mento ao Fisco de até US$ 1 mi-
lhão e as empresas, de até US$
10 milhões. A previsão de Mnu-
chin é que isso corresponda a
uma injeção de US$ 300 bilhões
na economia americana para
atravessar pelos períodos de
baixa produção e consumo.
A Casa Branca voltou a dizer
que apoia o pedido de US$ 50
bilhões feito pelo setor aéreo,
prejudicado com as restrições
de rotas e cancelamentos de via-
gens. A solicitação foi feita on-
tem pelas empresas, que pe-
dem alívio tributário, subsídios
e garantia de empréstimos.
Ontem, Trump voltou a pedir
que sejam evitadas aglomera-
ções e disse que “sacrifícios e
mudanças temporárias” ajuda-
rão a combater o vírus. “Nossa
economia vai se recuperar rapi-
damente.”
Na Europa, o Reino Unido
anunciou um pacote de £ 330
bilhões em empréstimos “ga-
rantidos” às empresas – mon-
tante que representa 15% do
Produto Interno Bruto (PIB)
britânico – como forma de miti-
gar os impactos econômicos da
pandemia de coronavírus.
Além disso, o ministro de Fi-
nanças, Rishi Sunak, revelou
que o governo fez um acordo
com o Banco da Inglaterra (BoE,
na sigla em inglês) para prover
liquidez aos mercados, embora
não tenha esclarecido se o pacto
se refere ao mais recente corte
de juros da autoridade monetá-
ria local ou a alguma ação futura.
Também ontem, o primeiro-
ministro espanhol, Pedro Sán-
chez, anunciou pacote ¤ 200 bi-
lhões para conter os impactos
econômicos do coronavírus. Se-
gundo ele, trata-se de um “de-
creto inédito”. “Um plano de
choque sem precedentes na his-
tória da Espanha democrática”,
afirmou. “Nosso objetivo é im-
pedir que uma crise temporária
tenha um impacto negativo per-
manente em nosso mercado de
trabalho.” / COM AGÊNCIAS
INTERNACIONAIS
lSem dúvidas
Mercado global reage a estímulo
anunciado pelos EUA e tem alta
Comércio popular de São Paulo tem queda de até 60% nas vendas. Pág. B13 }
Trump dará US$ 1 mil a cada americano
lMercado de trabalho
“Nosso objetivo é impedir
que uma crise temporária
tenha um impacto negativo
permanente em nosso
mercado de trabalho.”
Pedro Sánchez
PRIMEIRO- MINISTRO DA ESPANHA
“Ninguém tem dúvida agora
de que estamos diante de
uma crise que afeta os
prêmios de risco e a
recorrência dos fluxos de
caixa das empresas.”
Ilan Arbetman
ANALISTA DA ATIVA INVESTIMENTOS
Ibovespa sobe 4,85%,
dólar recua após
intervenção do BC, mas
fecha em R$ 5,00 pelo
segundo dia consecutivo