O Estado de São Paulo (2020-03-18)

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B10 Economia QUARTA-FEIRA, 18 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Com aura de startup,


divisão tem projetos


futuristas como carro


voador e busca novos


negócios para companhia


Bruno Romani


Aos 50 anos de sua história, a


Embraer está prestes a iniciar


uma nova era, após vender


sua divisão de jatos comer-


ciais para a Boeing por US$


4,2 bilhões. Embora tenha


mantido as divisões de aviões


militares e executivos, o futu-


ro da Embraer pode estar em


uma de suas subsidiárias mais


jovens, a EmbraerX. Fundado


em 2016, o “laboratório secre-


to” da empresa mira criar no-


vas frentes de negócio para a


matriz, com ideias que vão de


aviões autônomos e veículos


elétricos até algoritmos de in-


teligência artificial (IA).


A face mais conhecida da Em-


braerX até aqui é o carro voador,


tocado em parceria com o Uber.


Chamado de veículo elétrico de


decolagem e pouso na vertical


(eVTOL), o conceito foi apresen-


tado inicialmente em 2017 e po-


de ser testado nos próximos


anos. Também ajudou a Em-


braer a desbravar novos ares.


“Em 2016, mergulhamos no Vale


do Silício e percebemos que a on-


da de inovação viria mais alta que


esperávamos. Novos modelos de


negócios e tecnologias estavam


amadurecendo a ponto de cau-


sar transformações nos transpor-


tes”, diz Antonio Campello, pre-


sidente executivo da EmbraerX.


Para além do linguajar das


startups (“inovação”, “disrupti-


vo”), a EmbraerX emprestou


também práticas do maior polo


de tecnologia do mundo. Uma


delas é buscar negócios de alta


escalabilidade, capazes de ge-


rar receita a médio e longo pra-


zos. A segunda é uma capacida-


de rápida de organização em tor-


no de projetos específicos.


“Podemos nos organizar em


verticais de aviação elétrica ou


autônoma, por exemplo, usan-


do engenheiros de diferentes


áreas da Embraer S/A”, diz o exe-


cutivo, sem revelar o número


de funcionários da divisão. Um


dos poucos nomes conhecidos


da EmbraerX é o de Peter Ber-


ger, que é diretor de inovação


da subsidiária e também seu re-


presentante no Vale do Silício.


O acesso à mão de obra alta-


mente qualificada, ressalta


Campelo, é um dos elementos


que diferencia a EmbraerX de


uma “startup pura”. “Podemos


ter engenheiros com 20 anos de


experiência, algo muito difícil


para empresas que estão come-


çando agora”, diz.


Outra diferen-


ça, segundo o executivo, é que a


EmbraerX não capta investi-


mentos no mercado e tem co-


mo fonte de recursos o dinhei-


ro da matriz, o que lhe dá segu-


rança para projetos de fôlego.


Sob um céu de turquesa. Ao


longo de sua história, a Em-


braer fez apostas certeiras em


segmentos em que rivais não


viam oportunidades. Um exem-


plo são aeronaves comerciais


de porte médio, que ganharam


espaço no mercado no final da


década de 90. A EmbraerX espe-


ra ter o mesmo sucesso com


aviação urbana e interurbana,


que devem ver competição in-


tensa nos próximos anos. É nes-


sa área que se encaixam o eV-


TOL e o drone cargueiro, o pro-


jeto mais recente da empresa.


Anunciado em janeiro na feira


de tecnologia CES, o veículo é


uma parceria com a startup


americana Elroy e pretende


servir o setor de e-commer-


ce em curtas distâncias (a-


té 480 km).


Mas a EmbraerX olha


para o mercado de forma ampla



  • e não só na construção de aero-


naves. No documento Flight-


Plan 2030, lançado em 2019, a


empresa traça rotas para seu pro-


tagonismo no futuro, incluindo


serviços. Um desses novos negó-


cios é o Beacon, plataforma que


conectará companhias aéreas


com manutenção de aviões.


Quando uma aeronave precisar


de reparos, ela emitirá um alerta


para os mecânicos credenciados


mais próximos. É uma forma de


encurtar o tempo do veículo em


solo e aumentar sua eficiência fi-


nanceira. “Uber e Airbnb foram


inspirações”, diz Campelo.


Por enquanto, o Beacon já es-


tá sendo testado na aviação co-


mercial – mas Campelo não re-


vela o nome dos clientes. A im-


portância do projeto, avalia o


executivo, pode ser maior no ce-


nário de carros voadores, uma


vez que os locais de pouso e de-


colagem serão mais dinâmicos e


diversos que aeroportos, exigin-


do um novo nível de desloca-


mentos de equipes de manuten-


ção. Assim, é possível imaginar


que não só o serviço seja uma


fonte de receita, mas também


os dados gerados pelos clientes.


Para o consultor Raul Col-


cher, membro do IEEE e presi-


dente executivo da Questera


Consulting, ainda é cedo para di-


zer como será o futuro da Em-


braer, mas ele será diferente. “A


empresa vai deixar de ter uma


única fonte de receita, para ter


alguns eixos de formação de re-


ceita e lucratividade”, afirma.


Interrogações. A aposta na


aviação urbana, porém, não


será um voo por céu de briga-


deiro. “O segmento existe há


décadas com os helicópteros e


tem rivais estabelecidos”, anali-


sa Paulo Vicente, professor da


Fundação Dom Cabral. Para


ele, a EmbraerX terá de superar


dificuldades como o custo de


manutenção dos carros voado-


res, que pode atrapalhar a esca-


la do negócio. “Identificar a de-


manda não significa ter suces-


so. Será preciso atingir um cus-


to razoável”, diz Vicente. “Já os


softwares serão renda comple-


mentar.”


Se a EmbraerX seguir a lógica


de startup, isso não deverá ser


um problema. “Nesse cenário de


transformação, uma empresa te-


rá 50 ideias, trabalhará em cinco,


mas apenas uma vingará. A Em-


braerX é estratégica para o futu-


ro da empresa”, avalia Lie Pablo


Grala Pinto, professor do Insper.


“A liderança e o conhecimento


em um segmento, porém, não se


transferem automaticamente


para outros. A EmbraerX terá de


criar o ecossistema”, diz.


No futuro, se a visão da com-


panhia virar realidade, Campelo


projeta mais um salto tecnológi-


co: o uso de inteligência artifi-


cial no ecossistema. “No início,


o eVTOL não será autônomo,


mas estará pronto para isso. E se


as aeronaves serão autônomas,


o controle de tráfego aéreo urba-


no também deverá ser”, projeta.


A disputa intensa pelos céus


da cidade também não desani-


ma Campelo, mesmo com as cen-


tenas de projetos de carros voa-


dores, incluindo nomes como


Hyundai e Porsche. “A concor-


rência é bem-vinda para colocar


dinheiro e impulsionar o setor”,


diz. “Mas poucas empresas te-


rão a capacidade de certificação


dessas aeronaves. Nós temos.”


manoellemos


foi o aumento da base de


clientes da startup, que


faz entregas de mercado


online, no último mês


ALUGUEL DE CARROS


Startup Kovi chega a


6 mil motoristas


Com média de crescimento


de 40% ao mês, a Kovi, startup


que aluga automóveis para


motoristas de apps de trans-


porte, alcançou a marca de 6


mil pessoas em sua base de


clientes. Criada por dois ex-


executivos da 99, a startup


recebeu uma rodada de US$


30 milhões no fim de 2019.


À la


Jetsons.


Carro voador,


em parceria


com Uber,


será testado


em breve


[email protected]


GUSTAVO RIBEIRO / 500STARTUPS

INVESTIMENTOS


500Startups tem


novo sócio no Brasil


O fundo de capital de risco ame-


ricano 500Startups acaba de


contratar um novo sócio no Bra-


sil. Flávio Dias, que já liderou


Walmart.com e Via Varejo local-


mente, vai fortalecer a atuação


da 500Startups no País, com


novas parcerias e progra-


mas. Dias já foi investidor-


anjo em 12 startups.


No laboratório secreto EmbraerX No laboratório secreto EmbraerX


pode estar o futuro da empresapode estar o futuro da empresa


insight


“Podemos nos


organizar em


verticais, usando


engenheiros das


áreas da


Embraer S/A.


Assim, temos


profissionais


com 20 anos


de experiência,


algo muito


difícil para


empresas


que estão


começando agora.”


D


urante os últimos dias, mudei várias vezes


o que escreveria na coluna deste mês. No


começo da semana passada, minha ideia


era escrever sobre como eu acreditava que o coro-


navírus se espalharia pelo Brasil. Pensei em fazer


um paralelo com a propagação de memes e fake


news no WhatsApp. Era uma visão alarmista, para


chamar a atenção de quem ainda achava que tudo


aconteceria de maneira mais branda. O título se-


ria algo como “nunca desejei tanto estar errado”.


Hoje vejo que a visão não era tão alarmista assim.


Mais para o meio da semana, devido a situações


que passei em casa e no trabalho, pensei em soar o


alarme de que era importante #CancelarTudo.


Eventos, reuniões, encontros sociais, festas de ani-


versário, fechar as escolas e tudo mais. Desde o


começo da semana eu vinha cancelando, ou trans-


formando em virtuais, todos meus compromissos


presenciais. Fechamos o escritório na quinta-fei-


ra. Estou particularmente mais preocupado com


este assunto pois minha caçula está fazendo um


tratamento médico que a deixa mais vulnerável.


Bom, não era falando de uma epidemia que eu


gostaria de me despedir de vocês. Vou dar um tem-


po com algumas atividades para me dedicar a ques-


tões pessoais. Mas não posso abrir mão do privilé-


gio deste canal para chamar a atenção sobre o tsuna-


mi que vem por aí e da importância de agirmos já!


Estamos enfrentando um inimigo furtivo, impar-


cial e metódico. Ele já está aqui e não vai escolher


quem contaminar. É uma máquina simples, feita


para passar metodicamente de uma pessoa para


outra. Num aperto de mãos ou num espirro. Quase


todos passaremos ilesos por ele, mas muitos terão


que ser hospitalizados e outros não resistirão. Os


problemas são a escala e a velocidade com que isto


acontecerá e os impactos que causará. Estamos


vendo o que ocorreu na China, e o que está aconte-


cendo na Itália, na França e nos EUA. Uma deman-


da extra – além da que já deixa todos os sistemas de


saúde quase no limite – que terá que ser atendida


nos próximos meses e sem tempo para maiores


planejamentos. Cada dia fará diferença.


O urgente agora é diminuir a velocidade de pro-


pagação. Para isto é fundamental #CancelarTudo


e #FicarEmCasa. Se você pode, faça já! Evite o con-


tato, pratique o que os especialistas estão chaman-


do de “distanciamento social” e ajude a “achatar a


curva” do número de casos. Vamos dar menos


oportunidades ao vírus de passar para o próximo.


Com isso, conseguiremos que o número de conta-


minados e, consequentemente, de casos graves


cresça de maneira mais lenta, demandando menos


o sistema de saúde. Assim, estaremos protegendo


os mais vulneráveis e atenuando as consequências


secundárias e terciárias deste fenômeno.


Não é por mim ou por você, é por todos nós!


Obrigado pela companhia, fiquem seguros e


até quando a onda passar.


]


É SÓCIO DO FUNDO REDPOINT EVENTURES

3.500 %


foi o crescimento das vendas


de álcool em gel na Shopper


na última semana


40%


FOTOS: EMBRAER - 14/2/2020

novo voonovo voo


Beacon. Projeto quer ser ‘Uber do conserto de aeronaves’


Antonio Campelo


CEO da EmbraerX


#CanceleTudo e


#FiqueEmCasa

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