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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 18 DE MARÇO DE 2020 Economia B13
Negócios
Renée Pereira
Os principais centros de co-
mércio popular de São Paulo,
conhecidos pelas grandes
aglomerações, viram sua ven-
das despencarem até 60%
nos últimos dias por causa do
coronavírus. Com medo da
pandemia, a queda na movi-
mentação de consumidores
deixou as ruas da região irre-
conhecíveis, com lojas prati-
camente vazias e vendedores
usando máscaras para evitar
contaminação. Alguns clien-
tes também usavam a prote-
ção.
Na Rua 25 de Março, princi-
pal centro popular de compra
de São Paulo, as vendas entre
quinta-feira e ontem caíram
60%, segundo a união dos lojis-
tas da região (Univinco). O dire-
tor da associação, Marcelo
Mouawad, diz que a movimenta-
ção dos consumidores tem fica-
do mais fraca a cada dia, e que
nesta semana a situação se in-
tensificou.
Segundo ele, o impacto eco-
nômico já está evidente e exigi-
rá medidas firmes e consisten-
tes por parte do governo para
evitar uma quebradeira no se-
tor. “Se não houver uma carên-
cia maior para pagar as contas
(tributos), a situação vai ficar
complicada”, diz o executivo,
que também é lojista na região.
Ele destaca que, por enquan-
to, o setor não trabalha com a
possibilidade de fechamento
do comércio popular. “Esta-
mos nos espelhando nos Esta-
dos Unidos, onde o número de
casos é maior e ainda não adota-
ram essa medida.”
No Bom Retiro, importante
centro popular de vestuário de
São Paulo, as vendas da última
sexta-feira até sábado caíram
entre 25% e 30%. Esse movimen-
to foi intensificado na segunda-
feira e ontem, quando o movi-
mento ficou entre 30% e 40%
abaixo do normal.
O vice-presidente da Câmara
de Dirigentes Lojistas do Bom
Retiro, Nelson Tranquez, afir-
ma que uma das saídas tem sido
intensificar as vendas online,
pelos sites, redes sociais e What-
sApp. “Já tem sido um canal im-
portante para os empresários
da região e deve crescer ainda
mais nesse período de crise.” Se-
gundo ele, o comércio online já
representa algo entre 20% e
25% das vendas da região.
Para Tranquez, a crise atual é
complicada porque as empre-
sas ainda não tinham consegui-
do se recuperar da recessão dos
últimos anos. “Desde 2014, ano
após ano, vivemos em situação
delicada, com alguns respiros.
Mas não nos recuperamos.”
Nesse tempo todo, completa,
as empresas enxugaram a estru-
tura, reduziram quadro de fun-
cionários e cortaram custos,
mas poucas têm capital de giro
para aguentar um período lon-
go de crise.
Em relação ao estoque das lo-
jas, ele não acredita que faltarão
produtos. Segundo o executi-
vo, o setor havia acabado de lan-
çar a coleção Outono/Inverno e
a produção está em andamen-
to. “O que pode ocorrer é que
quem esperava produzir mais
pode reavaliar o cenário.”
Mouawad, da Univinco, tam-
bém afirma que, por enquanto,
não há problemas de abasteci-
mento, apesar de boa parte das
mercadorias serem importadas
da China. Segundo ele, apenas
alguns casos pontuais de lojas
de celular estavam sofrendo
com a falta de peças. No geral, o
estoque dura dois meses. “As-
sim, o abastecimento estaria ga-
rantido até maio.”
Um levantamento feito pelo
Instituto de Economia Gastão
Vidigal da Associação Comer-
cial de São Paulo, divulgado on-
tem, reflete essa realidade dos
centros de comércio popular.
Com menos pessoas circulan-
do em ambientes públicos, co-
mo shoppings, as consultas pa-
ra vendas a prazo e à vista tive-
ram queda de 16,3% só no últi-
mo fim de semana comparado
ao fim da semana anterior.
Centros de comércio popular em SP
registram queda de até 60% nas vendas
União dos lojistas da 25 de Março afirma que, em função do surto de coronavírus, movimento é menor a cada dia e que empresários
da região vão precisar de carência maior para pagar tributos; no Bom Retiro, uma das saídas tem sido intensificar o comércio online
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
lDificuldades
ALEX SILVA/ESTADÃO
“Se não houver uma
carência maior para pagar
as contas (tributos), a
situação vai ficar
complicada.”
Marcelo Mouawad
DIRETOR DA UNIVINCO
Efeito da pandemia. Na 25 de Março, lojas mais vazias e clientes com máscaras
Amazon vai abrir 100 mil vagas nos EUA. Pág. B14}