O Estado de São Paulo (2020-03-18)

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Este material é produzido pelo Media Lab Estadão.


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EMBAIXADOR DA MOBILIDADE


U


ma pergunta que sempre me fazem: ‘Por


que o mercado de micromobilidade, com


tanto potencial, enfrenta constantes altos


e baixos no Brasil e no mundo?’ Após o boom do


setor, com o surgimento de startups e o interes-


se imediato de fundos de capital de risco, vimos


uma onda de fechamento de algumas iniciativas


e redução de outras, que alegavam problemas


em operar o modelo no Brasil.


Muito se gastou e ainda se gasta para tentar


justifi car os insucessos recentes. Custos logísticos


e impostos, extremamente elevados no Brasil,


falta de segurança, que acarreta roubos e vanda-


lismo dos equipamentos, e das políticas públicas


adotadas para regulamentar os serviços foram


alguns dos fatores levados em consideração.


INÚMEROS DESAFIOS


Os desafios para tocar uma operação de bi-


cicletas ou patinetes compartilhados nas ruas


das maiores cidades da América Latina são


inúmeros e, enquanto você trabalha para re-


solver um, surgem tantos outros. Mas uma das


principais características de negócios novos e


disruptivos é que eles são dinâmicos, e a minha


resposta aos altos e baixos é muito mais sim-


ples: eles apenas não existem. O mercado de


micromobilidade está em alta e é irreversível. O


que vemos como “baixas” é uma curva natural


de aprendizado de modelos de operação e ne-


gócio que funcionem e sejam efi cientes diante


da realidade cultural e social em que vivemos.


Já é possível ver uma mudança cultural im-


portante, na contramão dos 90 anos de altos


investimentos em infraestrutura, subsídios e tec-


nologia voltados para a indústria automobilística.


As pessoas cresceram focando no carro como


seu principal meio de transporte e, hoje, come-


çam a se questionar sobre o tempo que gastam


no trânsito — a média, por trajeto, no Brasil é de


1h30, chegando a quase 2h em algumas cidades.


Muitos já estão repensando suas relações


com as cidades em que moram e efi ciência da


forma em que se deslocam, não é à toa que a


emissão da Carteira Nacional de Habilitação


(CNH) cai desde 2015 entre todas as faixas etá-


rias. Já é comum a existência de diversos grupos


que têm cobrado o poder público por novas so-


luções de deslocamento, como construção de


ciclovias, diminuição dos limites de velocidades


ou, até mesmo, mais espaços de cidades aber-


tos para as pessoas. Basta ver o sucesso que é a


Paulista aos domingos e feriados em que a ave-


nida é fechada para veículos. Essa já é uma nova


realidade das grandes cidades. A ciclovia da Faria


Lima, por exemplo, já chegou a ser a terceira ci-


clovia mais utilizada do mundo.


Em 2019, a Tembici teve um crescimento de


três vezes o número de deslocamentos realiza-


dos com nossas bicicletas se comparado com



  1. Ainda no ano passado, nossos projetos


realizaram aproximadamente a mesma quanti-


dade de viagens que todos os sistemas de bi-


cicletas compartilhadas somados dos Estados


Unidos fi zeram em 2015. Cada bicicleta nossa ro-


dou mais de cinco vezes por dia, em média. Isso


tudo na América Latina, região em que a infraes-


trutura urbana ainda é extremamente defi citária.


Mas, se o comportamento dos cidadãos já


está mudando, somos nós, empresas do setor


O mercado está em alta e é irreversível.


O que vemos como “baixas” é uma curva


natural de aprendizado de modelos de


operação e negócio que funcionem e


sejam efi cientes diante da realidade


cultural e social em que vivemos


de micromobilidade, que precisamos entender


como podemos viabilizar, acelerar e inspirar essa


transformação individual e comunitária.


MODELO HÍBRIDO


Na Tembici, desenhamos um modelo híbrido,


com patrocínio de empresas que, em troca de


uma forte interação com as cidades e seus cida-


dãos, garante uma receita recorrente para nosso


negócio. Além disso, desenvolvemos planos de


assinatura de usuários que geram entradas cons-


tantes e muito importantes para nossa expansão.


Hoje, entre nossos patrocinadores, temos o


Itaú, conhecido pelas bicicletas laranjas, além do


banco Banestes, das empresas Hapvida e Uni-


med, que atuam na área de saúde, e da bandeira


de cartão de crédito Mastercard. Dessa forma, a


Tembici está presente em 14 cidades brasileiras,


além de projetos em Buenos Aires, na Argentina,


e Santiago do Chile. Já estamos de olho no futuro


e, por isso, começamos a testar o modelo com bi-


cicletas elétricas, que também é muito promissor.


Partimos da premissa de que essa revolução


de mobilidade — e a consequente transforma-


ção do espaço urbano — vai continuar acon-


tecendo, independentemente das empresas


do setor serem assertivas no modelo. Entre


questões mais simples e outras mais comple-


xas e ambiciosas, a América Latina vive uma


revolução na forma como as pessoas querem


se locomover e cidades e empresas devem es-


tar preparadas para buscar soluções efi cientes


e sólidas para isso. É o início de uma longa e,


não tenho dúvida, próspera jornada pelas me-


trópoles do mundo.


A AMÉRICA LATINA


VIVE UMA REVOLUÇÃO


NA FORMA COMO


AS PESSOAS QUEREM


SE LOCOMOVER.


Tomás Martins é CEO e


cofundador da Tembici,


empresa que opera bikes


compartilhadas nas principais


capitais do Brasil, além de


Santiago do Chile e Buenos


Aires, na Argentina


Foto: Mariana Pekin


SEM CRISE NA


MICROMOBILIDADE


URBANA

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