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Este material é produzido pelo Media Lab Estadão.
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EMBAIXADOR DA MOBILIDADE
U
ma pergunta que sempre me fazem: ‘Por
que o mercado de micromobilidade, com
tanto potencial, enfrenta constantes altos
e baixos no Brasil e no mundo?’ Após o boom do
setor, com o surgimento de startups e o interes-
se imediato de fundos de capital de risco, vimos
uma onda de fechamento de algumas iniciativas
e redução de outras, que alegavam problemas
em operar o modelo no Brasil.
Muito se gastou e ainda se gasta para tentar
justifi car os insucessos recentes. Custos logísticos
e impostos, extremamente elevados no Brasil,
falta de segurança, que acarreta roubos e vanda-
lismo dos equipamentos, e das políticas públicas
adotadas para regulamentar os serviços foram
alguns dos fatores levados em consideração.
INÚMEROS DESAFIOS
Os desafios para tocar uma operação de bi-
cicletas ou patinetes compartilhados nas ruas
das maiores cidades da América Latina são
inúmeros e, enquanto você trabalha para re-
solver um, surgem tantos outros. Mas uma das
principais características de negócios novos e
disruptivos é que eles são dinâmicos, e a minha
resposta aos altos e baixos é muito mais sim-
ples: eles apenas não existem. O mercado de
micromobilidade está em alta e é irreversível. O
que vemos como “baixas” é uma curva natural
de aprendizado de modelos de operação e ne-
gócio que funcionem e sejam efi cientes diante
da realidade cultural e social em que vivemos.
Já é possível ver uma mudança cultural im-
portante, na contramão dos 90 anos de altos
investimentos em infraestrutura, subsídios e tec-
nologia voltados para a indústria automobilística.
As pessoas cresceram focando no carro como
seu principal meio de transporte e, hoje, come-
çam a se questionar sobre o tempo que gastam
no trânsito — a média, por trajeto, no Brasil é de
1h30, chegando a quase 2h em algumas cidades.
Muitos já estão repensando suas relações
com as cidades em que moram e efi ciência da
forma em que se deslocam, não é à toa que a
emissão da Carteira Nacional de Habilitação
(CNH) cai desde 2015 entre todas as faixas etá-
rias. Já é comum a existência de diversos grupos
que têm cobrado o poder público por novas so-
luções de deslocamento, como construção de
ciclovias, diminuição dos limites de velocidades
ou, até mesmo, mais espaços de cidades aber-
tos para as pessoas. Basta ver o sucesso que é a
Paulista aos domingos e feriados em que a ave-
nida é fechada para veículos. Essa já é uma nova
realidade das grandes cidades. A ciclovia da Faria
Lima, por exemplo, já chegou a ser a terceira ci-
clovia mais utilizada do mundo.
Em 2019, a Tembici teve um crescimento de
três vezes o número de deslocamentos realiza-
dos com nossas bicicletas se comparado com
- Ainda no ano passado, nossos projetos
realizaram aproximadamente a mesma quanti-
dade de viagens que todos os sistemas de bi-
cicletas compartilhadas somados dos Estados
Unidos fi zeram em 2015. Cada bicicleta nossa ro-
dou mais de cinco vezes por dia, em média. Isso
tudo na América Latina, região em que a infraes-
trutura urbana ainda é extremamente defi citária.
Mas, se o comportamento dos cidadãos já
está mudando, somos nós, empresas do setor
O mercado está em alta e é irreversível.
O que vemos como “baixas” é uma curva
natural de aprendizado de modelos de
operação e negócio que funcionem e
sejam efi cientes diante da realidade
cultural e social em que vivemos
de micromobilidade, que precisamos entender
como podemos viabilizar, acelerar e inspirar essa
transformação individual e comunitária.
MODELO HÍBRIDO
Na Tembici, desenhamos um modelo híbrido,
com patrocínio de empresas que, em troca de
uma forte interação com as cidades e seus cida-
dãos, garante uma receita recorrente para nosso
negócio. Além disso, desenvolvemos planos de
assinatura de usuários que geram entradas cons-
tantes e muito importantes para nossa expansão.
Hoje, entre nossos patrocinadores, temos o
Itaú, conhecido pelas bicicletas laranjas, além do
banco Banestes, das empresas Hapvida e Uni-
med, que atuam na área de saúde, e da bandeira
de cartão de crédito Mastercard. Dessa forma, a
Tembici está presente em 14 cidades brasileiras,
além de projetos em Buenos Aires, na Argentina,
e Santiago do Chile. Já estamos de olho no futuro
e, por isso, começamos a testar o modelo com bi-
cicletas elétricas, que também é muito promissor.
Partimos da premissa de que essa revolução
de mobilidade — e a consequente transforma-
ção do espaço urbano — vai continuar acon-
tecendo, independentemente das empresas
do setor serem assertivas no modelo. Entre
questões mais simples e outras mais comple-
xas e ambiciosas, a América Latina vive uma
revolução na forma como as pessoas querem
se locomover e cidades e empresas devem es-
tar preparadas para buscar soluções efi cientes
e sólidas para isso. É o início de uma longa e,
não tenho dúvida, próspera jornada pelas me-
trópoles do mundo.
A AMÉRICA LATINA
VIVE UMA REVOLUÇÃO
NA FORMA COMO
AS PESSOAS QUEREM
SE LOCOMOVER.
Tomás Martins é CEO e
cofundador da Tembici,
empresa que opera bikes
compartilhadas nas principais
capitais do Brasil, além de
Santiago do Chile e Buenos
Aires, na Argentina
Foto: Mariana Pekin
SEM CRISE NA
MICROMOBILIDADE
URBANA