O Estado de São Paulo (2020-03-18)

(Antfer) #1

2 |SEMINÁRIO INTERNACIONAL SESI DE EDUCAÇÃO| São Paulo, 18 de março de 2020


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Reportagem:Gabriel Pillar GrossieLara De Novelli; Revisão:Madi Pacheco; Designer:Gabriela Cavallari; Fotografia:Keko Pascuzzi e Sesi

Transpondo os


ainda a surpreende e entristece:


falar de território ainda é novida-


de para muita gente da educação.


“Muitos acham que é apenas dar


uma aula fora da sala de aula. Só


que,seelaforigualàdesempre,


não precisa tirar os alunos da es-


cola, certo?” Para ela, “aprender é


uma ação mental e corporal media-


dapelooutro,pelalinguagemepelo


contexto social”. Portanto, a cidade


é o espaço por excelência de apren-


dizagem, pois oferece um conjunto


de interações, linguagens e contex-


tos impossível de reproduzir dentro


da escola. “A gente pensa sobre o


aprender NA cidade, mas é preci-


so aprender A cidade e DA cidade,


porque ela é conteúdo e agente,


além de espaço”, afirma.


PALAVRAS BRINCANTES


Chiqui, por sua vez, contou da


experiência de ser professora e


atuar como ministra na segunda


mais importante província argenti-


na. Em Rosário, capital de Santa Fé,


as escolas estão se abrindo para a


cidade. “Eu gosto muito de brincar


com as palavras”, ela disse.


Segundo a ministra argentina


de Inovação, o capitalismo rompe a


relação “entre” as pessoas e as coi-


sas. Por exemplo, entre as ciências


sociais e as exatas. “Mas a educação


sem o ‘entre’ diferentes campos,


criando projetos conjuntos, é im-


possível. Os projetos maker falam


disso, porque usam as disciplinas


para buscar soluções aos problemas


das cidades, pois as pessoas têm de


serprotagonistasdaprópriavidaur-


bana”, afirma.


A educação pressupõe inte-


grar a escola à cidade, pro-


movendoaaprendizagemeo


desenvolvimento das habili-


dades socioemocionais para


além dos muros escolares.


Há vários anos, especialis-


tas falam da importância de


levar em conta o “território”


em que a escola está inse-


rida para fazer com que os


estudantes aprendammaise


melhor. A importância dessa


integração esteve no centro


de um dos painéis do Semi-


nário Internacional Sesi de


Educação,emSãoPaulo.


Moderado pela professora Pilar


Lacerda, ex-secretária municipal


de Educação de Belo Horizonte e


ex-secretária de Educação Básica


do Ministério da Educação (MEC),


o debate contou com a participação


de Macaé Evaristo, ex-secretária de


Educação de Minas Gerais; Chiqui


González, ministra de Inovação e


Cultura da província de Santa Fé,


na Argentina; e Natacha Costa, di-


retora-geral da Associação Cidade


Escola Aprendiz, em São Paulo.


Uma linha comum da discussão: a


importância de levar em conta a rea-


lidade local como parte relevante do


processo de ensino e aprendizagem.


DESIGUALDADE SOCIAL


As debatedoras destacaram a


desigualdade social como um im-


portante pano de fundo em países


pobres como o Brasil e a Argenti-


na. “Há muitos anos lutamos por


educação de qualidade, segurança


alimentar, o direito de todas as


crianças serem reconhecidas como


crianças. Mas quantas vezes nós,


professores, já chegamos numa sala


de aula com um currículo bem de-


senhado e nos deparamos com es-


tudantes que estão com fome? Em


que medida tudo o que preparei dá


conta de responder à fome do alu-


no?”, questiona Macaé.


“Quando o conceito de bairro-


-escola foi criado, em 1997, era


umarespostadepesquisadoresees-


tudiosos ao incremento da violência


na cidade de São Paulo. Violência


tem ligação direta com desigualda-


de, e não podemos abrir mão disso


ao pensar na questão do território.


Precisamos conhecer quem são


nossos estudantes e nossas comuni-


dades, como elas funcionam. Nosso


compromissocomamudançapreci-


sa estar em cada escolha que a gente


faz”, afirma Natacha.


PROJETO HUMANISTA


Para Macaé, a questão é ainda


mais preocupante porque o debate


sobre a proteção integral à infância


está perdendo força no Brasil atual-


mente. “Há uma desqualificação de


um projeto humanista; os pobres e


os negros voltam a ser vistos como


‘menores’ por uma parcela signi-


ficativa da sociedade. E a escola


sofre com isso.” Segundo ela, ao se


falar sobre a educação que se quer,


é preciso pensar qual modelo de


habitação responde melhor ao para-


digma da valorização da dignidade


humana. “Muitos de nós, humanos,


temosaarrogânciadeacharquenão


temos de nos preocupar com a na-


tureza. Tanto é assim que construí-


mos nossas cidades num modelo do


século 20, que matou ou canalizou


rios. E é isso que precisamos repen-


sar agora para ter uma boa escola no


século 21”, afirma a ex-secretária


de Educação de Minas Gerais.


CONTEXTO SOCIAL


Natacha destacou um fato que


A integração entre o que se aprende dentro da sala


de aula e os problemas do mundo real, vividos


principalmente nas cidades, é o trunfo de uma educação


preocupada com os territórios que os estudantes habitam


Arte também


é importante


No método STEAM, que o Sesi


usacomopartedaculturado“fa-


zer”, a letra A corresponde à Arte,


num sentido amplo (desde a pintu-


ra,amúsicaeadançaatéodomínio


das múltiplas linguagens, o desen-


volvimento da criatividade e de ha-


bilidades socioemocionais).


Para falar sobre esse aspecto


fundamental da aprendizagem,o


músico e educador Victor Wooten,


vencedor de cinco prêmios Grammy,


fez a palestra de encerramento do


Seminário Internacional Seside


Educação: Construindo Escolas e Ci-


dades Inteligentes.


Quando uma criança aprende a


falar, diz ele, ninguém a corrige, nin-


guém diz a ela que precisa ensaiar,


praticar, até poder falar de fato.


“Desde o início ela ‘improvisa’ com


osadultos,domesmomodoqueum


músico de jazz improvisa com sua


banda. Cada criança diz as palavras


que quer falar primeiro. E aprende


falando”, avalia Wooten.


Depois, na Educação Infantil,


a criança faz um desenho comas


mãos que não tem nenhum ‘valor’


artístico, não segue os padrões. E


todos admiram, os pais logo colo-


cam na porta da geladeira, exempli-


ficou o músico americano.


Ao passar para o Ensino Funda-


mental, no entanto, isso se perde,


isso deixa de funcionar. Quase to-


das as escolas só valorizam o que o


professor quer que seja valorizado.


“Veja o ensino de Música: 98% das


pessoasdesistemdasaulasemdois


anos, porque querem tocar correta-


mente, porque os professores exi-


gem que os alunos toquem como


eles; não há espaço para errar.”


Segundo Wooten, tanto nas au-


las de música quanto na escola,


deveríamos julgar mais o esforço e


menos o resultado. “Se celebramos


o esforço, o resultado vem.”


Os projetos


maker falam


disso, porque


usam as


disciplinas


para buscar


soluções aos


problemas das


cidades, pois


as pessoas


têmdeser


protagonistas


da própria


vida urbana”


Chiqui González


Ministra de Inovação e


Cultura da província de


Santa Fé (Argentina)


Temos a


arrogância


de achar


que não


temos


que nos


preocupar


com a


natureza”


Macaé Evaristo


Ex-secretária


de Educação de


Minas Gerais


Especialistas discutem


como integrar a


escola às cidades

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