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São Paulo, 18 de março de 2020 |SEMINÁRIO INTERNACIONAL SESI DE EDUCAÇÃO| 3
com a cidade
cação das inovações tecnológicas
em espaços públicos dos grandes
centros urbanos trazem grandes
desafios, como os sistemas de mo-
nitoramento, por exemplo, usados
pela polícia em grandes eventos.
“Vimos recentemente um caso em
São Paulo, com a decisão defilmar
as pessoas nas ruas, durante o car-
naval, sem autorização legal para o
uso da imagem do público. Tudo
issoprecisasermaisdiscutidoe
compreendido pela população.”
Segundo ele, há inúmeras coisas
que podem ser feitas para melhorar
a relação com a cidade, “desde que
a gente se coloque como agentes de
melhoria do bem comum”.
RESISTÊNCIA INFANTIL
Para a arquiteta e pesquisadora
Beatriz Goulart, é papel de todos
garantir que a “inteligência” pro-
porcionada pela tecnologia seja
controlada pelas pessoas para estar
a serviço da vida, da política, da con-
versa. “A cidade somos nós, a inteli-
gência é nossa. Estamos preparados
para nos encontrar mais? Ou es-
tamos todos formatados para viver
separados? Como a gente educa a
nossa inteligência?”, questionou.
Beatriz detalhou a experiência
da Escola Municipal de Educação
Infantil Gabriel Prestes, na região
central de São Paulo. Ali, as crian-
çasde4e5anosmantêmumpe-
queno apiário e, justamente porque
estudam a forma de organização das
abelhas, sabem a força do coletivo.
Recentemente, a capital paulista
aprovou uma lei que permitia a ven-
da do terreno da escola. Professores
e alunos foram às ruas, em passeata,
e mobilizaram a população do en-
torno – e conseguiram revogar a lei.
“A escola costuma montar cortejos,
seja para celebrar alguma conquis-
ta,sejaparaprotestar.Eéclaroque
chama muita atenção um grupo de
crianças tão pequenas ‘dizendo coi-
sas’ na rua.” Na opinião de Beatriz,
a educação para a cidade inteligente
passa ainda por um conceito sim-
ples: precisamos, antes de cons-
truir, habitar mais. Habitar um local
é criar sentido. Por isso, construir
antes de criar esse sentido significa
apenas levantar um prédio, uma coi-
sa totalmente sem sentido”, diz.
APRESENTADO POR PRODUZIDO POR
Ações para aproximar as ci-
dadesdaspessoas,paraque
elas não fiquem confinadas
em caixas de concreto como
se estivessem em um outro
planeta, estiveram em des-
taqueemumdosdebatesdo
Seminário Internacional Sesi
deEducação:ConstruindoEs-
colas e Cidades Inteligentes,
realizado no dia 6 de março,
emSãoPaulo.
De acordo com Felipe Mor-
gado, gerente-executivo de Edu-
cação Profissional e Superior do
Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (Senai), os exemplos
mostrados pelos times de alunos
que participaram do Festival Sesi
de Robótica é uma sinalização clara
de como a educação pode ser feita.
“O trabalho com robótica tem
tudo a ver com isso, pois desen-
volve soluções específicas para
cada realidade local. Nosso grande
desafio é formar jovens mais pre-
parados para o futuro. Daí a im-
portância do novo currículo, que
é mais focado em competências do
que em conteúdos e permite a cada
aluno construir um percurso indi-
vidualizado para seus estudos.”
Roberto Andrés, urbanista e pro-
fessor da UFMG, chamou a atenção
para o fato de que, no mundo, as ci-
dades ocupam 7% do território total,
mas respondem por 78% do consu-
mo de energia. “Precisamos melho-
rar muito nossa relação com os lu-
gares que escolhemos para morar”,
disse. Ele citou o exemplo de Belo
Horizonte, que foi projetada sem
levar em conta o desenho dos cur-
sos de água. Canalizou rios e, como
vimos no início do ano, hoje sofre
com enchentes. “Temos de repensar
a relação com os carros para termo-
delos de mobilidade mais inteligen-
tes. Nos Estados Unidos, 29% de
todas as emissões de gases de efeito
estufa são geradas pelo transporte (e
60% desse total, por automóveis).”
Segundo ele, a prefeitura de Paris
investe pesadamente em subsídios
para o transporte público porque
sabe que o custo de cada carro na rua
é ainda maior do que isso.
Na avaliação de Andrés, a apli-
Pessoas como protagonistas
O conceito de cidades inteligen-
tes, segundo Stella Hiroki, consul-
tora e doutora no tema, não está
ligado a uma fantasia futurista, tipo
o desenho dos Jetsons. “Não é uma
coisa de vidro e metal. Ao contrário,
tem muita impressão digital.”
Segundo a consultora, os parâ-
metros que balizam as ações nos
principais centros do mundo não
têm a ver necessariamente com se-
gurança. “Mas com economia criati-
va, novos negócios, sustentabilida-
de e as pessoas como protagonistas
do processo”, afirma.
Stella ainda apresentou dois
exemplos. O Projeto Boas Vibrações
é tocado pelo Senseable City Lab, li-
gado ao Massachussets Institute of
Technology (MIT), na Califórnia. Ele
usa o acelerômetro dos celulares
conectados a aplicativos de mobi-
lidade para verificar as condições
das pontes, por meio das vibrações
captadas pelo telefone, como asfal-
tamento, manutenção e vento.
Em Joinville, Santa Catarina, o
Projeto Waze for Cities Data é toca-
do pela Secretaria de Planejamento
em conjunto com o Waze (aplicativo
que monitora o trânsito). A prefei-
tura desenvolveu uma metodologia
para perguntar à população o que
deve ser feito. Uma das primeiras
decisões tomadas foi substituir um
semáforo por uma rotatória. Segun-
do os cálculos da equipe, haverá um
ganho de 72 horas de economia no
trânsito, algo como R$ 1 bilhão/ano.
“O mais interessante é que cada
cidade precisa encontrar a sua vo-
cação e, principalmente, os seus
limites. Não é porque existe tecno-
logia para fazer muitas coisas que
os moradores têm a obrigação de
colocar em prática.” A boa notícia,
diz Stella, é que há empresas inte-
ressadas em testar novos modelos.
O novo
currículo tem
que ser focado
mais em
competências
do que em
conteúdos”
Felipe Morgado
Gerente de educação do Senai
Cada cidade
precisa encontrar
a sua vocação e,
principalmente, os
seus limites. Não
é porque existe
tecnologia que os
moradores têm
a obrigação de
colocar em prática”
Stella Hiroki
Consultora em cidades inteligentes
Há 15 anos
incentivamos o
trabalho com
robótica na sala
de aula. Os alunos
resolvem problemas
de questões
de Matemática,
Ciências, Geografia
e História”
Sérgio Gotti
Gerente-executivo de Educação do Sesi
A cidade
somos nós,
a inteligência é
nossa. Estamos
preparados
para nos
encontrar?”
Beatriz Goulart
Arquiteta
Precisamos
melhorar
muito nossa
relação com
os lugares que
escolhemos
para morar”
Roberto Andrés
Professor da UFMG
Como a tecnologia, dentro de um
contexto amplo, está ajudando a tornar
os centros urbanos mais próximos das
pessoas, para melhorar a vida de todos
Debate mostra
exemplos de
cidades
conectadas