O Estado de São Paulo (2020-03-18)

(Antfer) #1

4 |SEMINÁRIO INTERNACIONAL SESI DE EDUCAÇÃO| São Paulo, 18 de março de 2020


EstematerialéproduzidopeloMediaLabEstadãocompatrocíniodoSesi.


ARTIGOARTIGOARTIGO


Entrevista


DéboraGarofalo,


especialista da Secretaria de Educação de


São Paulo e finalista do Global Teacher Prize


Robôs e sucatas


dão um novo


sentido à escola


É possível


ensinar


tecnologia


com poucos


recursos”


Muitos já


buscam


soluções


para


problemas


reais”


Educar para crescer


Por Robson Braga de Andrade*


A qualidade da educação


brasileira é um dos mais sé-


rios obstáculos ao aumento


da competitividade da eco-


nomia nacional e da pro-


dutividade dos nossos tra-


balhadores. Os países mais


competitivos no cenário mun-


dial têm, em comum, o bom


nível educacional de suas po-


pulações. Alguns, como a Co-


reia do Sul e a Irlanda, fizeram


uma revolução no ensino nas


últimas gerações, com nítidos


reflexos no potencial de cres-


cimento sustentado.


O Brasil terá imensas difi-


culdades para se desenvolver


se não investir, de forma con-


sistente e duradoura, na edu-


cação de crianças e jovens.


Essa aposta no futuro não


se dá só com mais dinheiro,


mas também com a melhora


da qualidade das aulas, da


gestão escolar e do material


didático, além do aperfeiçoa-


mento curricular e da valori-


zação dos professores. Sem


educação de qualidade, a ci-


dadania integral é quase im-


possível de ser alcançada.


Instituição modelo no sis-


tema educacional brasileiro,


o Serviço Social da Indústria


(Sesi) adotou uma proposta


curricular arrojada, com foco


no estímulo à capacidade de


tem sido demonstrado pelas


soluções inovadoras apre-


sentadas a cada temporada,


muitas com potencial im-


pacto na vida real – seja um


chiclete para astronautas ou


projetos que buscam resol-


ver problemas de enchentes


e inundações nas cidades.


Além dos grandes re-


sultados conquistados em


torneios internacionais no


Festival Sesi de robótica,


realizado de6a8demarço


em São Paulo, esses estu-


dantes são prova do poder


transformador que a robó-


tica exerce no aprendizado


enoengajamentodejo-


vens com as competências


do século 21. Eles já deram


grandes passos para se pre-


parar para a produção con-


temporânea, marcada pela


velocidade vertiginosa das


mudanças tecnológicas, que


exige aprendizado constan-


te, capacidade de adapta-


ção, criatividade e inovação.


No discurso político, a


educação sempre foi priori-


dade, raramente posta em


prática no País. Após a re-


forma do ensino médio, essa


realidade começou a mudar.


A indústria espera que a ên-


fase na melhora da qualida-


de do sistema educacional


não pare por aí. O Brasil tem


uma capacidade de reação


proporcional ao tamanho de


seus problemas. A batalha


por uma educação de qua-


lidade, base para a melhora


da competitividade, o cres-


cimento sustentado da eco-


nomia e a plena cidadania,


certamente será vencida.


*Presidente da Confederação Nacional a


Indústria (CNI)


ARTIGO


Em 2015, Débora Garofalo


criou um projeto de robótica para


trabalhar com seus alunos do 6º ao


9º anos da Escola Almirante Ary


Parreiras, na Vila Babilônia, um


bairro carente próximo ao aeropor-


to de Congonhas, na zona sul da ci-


dade de São Paulo.


“Meu objetivo era utilizar a


questão do meio ambiente para aju-


dar a transformar a realidade dessa


comunidade, que é carente e sofre


com altas taxas de violência”, diz a


professora. Usando objetos de pa-


pelãoeplásticoretiradosdolixo,ela


passou a ensinar conceitos básicos


deprogramação(Matemática),aim-


portância da preservação ambiental


(Ciências), o passado (História) e


o presente (Geografia) do bairro.


E deu impulso a uma reviravolta no


dia a dia daqueles meninos e meni-


nas. “Muitos não viam sentido nos


conteúdos trabalhados em sala de


aula e, de repente, passaram a en-


tender a importância da escola para


avidadetodosnós.”


O projeto robótica com Sucata,


Promovendo a Sustentabilidade ga-


nhou corpo, foi sendo aperfeiçoado


e passou a ser premiado nacional


e internacionalmente. Ficou, por


exemplo, entre osfinalistas do Glo-


bal Teacher Prize, considerado o


Nobel dos professores.


Tanto reconhecimento fez com


que Débora assumisse, em junho


de2019,ocargodeassessoraespe-


cial de tecnologias da Secretaria da


Educação do Estado de São Paulo.


Seu principal desafio: implementar


a disciplina de tecnologia nas esco-


las da rede, que tem mais de 2 mi-


lhões de estudantes.


Que papel a tecnologia pode de-


sempenhar nas escolas, levando


em conta dificuldades (financei-


ras e estruturais) da rede pública?


A tecnologia é propulsora da


aprendizagem. Muitas pessoas


acham que ensinar usando tecnolo-


gia exige muita estrutura e conecti-


vidade.Masépossívelfazerumbom


trabalhocommenosrecursos.Basta


ter interesse pelo tema para ver que


é possível desenvolver muitos pro-


jetos “plugados” (com aparelhos)


e “desplugados” (com ênfase no


território educativo). Dou como


exemplo minha própria experiên-


cia. Ao trabalhar com programação,


nunca os meninos iam direto para


o computador. Sempre é preciso


começar com vivências. E ativida-


des que façam sentido para todos.


É a mesma lógica da cultura maker.


Não é necessário ter tudo de mais


moderno. Acho importante romper


esse paradigma.


Como está sendo a experiência


na Secretaria da Educação para


multiplicar seu projeto e chegar a


muito mais professores e alunos?


Temos a maior rede da América


Latina, quase 2,5 milhões de estu-


dantes, e a experiência está sendo


fantástica. O primeiro passo, ainda


em 2019, foi produzir uma base


teórica,emconjuntocomosprofes-


sores, de forma colaborativa. Esse


documento norteador é a diretriz


curricular. Em seguida, passamos


a construir materiais com exemplos


concretos de como os professores


podem conduzir esse trabalho em


sala de aula. O volume 1, para o pri-


meirobimestre,jáfoidistribuído.O


ciem aprendizagem diferenciadas


e pensem em soluções para os pro-


blemas que eles têm de resolver. Os


eventos tiram os jovens da passivi-


dadeeoscolocamnocentrodopro-


cesso de ensino e aprendizagem.


Que aprendizados a robótica traz


para professores e alunos?


O mais importante é entender


que é possível fazer muito, mesmo


com poucos recursos. E que isso


ajuda a construir uma escola de


qualidade e equidade, mesmo em


comunidades mais simples. Meu


trabalhomostrouquequandoagen-


te olha para questões sociais (como


a reciclagem de lixo) é possível dar


vida ao ensino de robótica.


2 está quase pronto, e estamosfina-


lizando os volumes 3 e 4. Em para-


lelo,estamostrabalhandoaquestão


da estrutura necessária para desen-


volver boas atividades. Outra frente


de ação é a formação dos educado-


res. Oferecemos cursos para 100


mil pessoas, que hoje têm especia-


lização em tecnologia. É muito bom


ver que professores e alunosestão


engajados, entendendo a importân-


cia de fazer isso na escola. Muitos


já produzem inteligência artificial


e buscam soluções para problemas


reais, como o combate à dengue.


Qual a importância de participar


de eventos de robótica?


Permitir que estudantes viven-


Débora


Garofalo,


fundadora


do projeto


robótica


com Sucata


pensar e aprender e nas ino-


vações ligadas ao cotidiano. O


Sesi possui 501 escolas orien-


tadas às exigências do novo


mundo do trabalho, com me-


todologias inovadoras, inclu-


sive nas áreas chamadas de


STEAM (Ciência, Tecnologia,


Engenharia, Arte e Matemáti-


ca, no acrônimo em inglês).


Em todas as unidades do


Sesi, a robótica está presen-


te. Por estimular o traba-


lho em equipe, a pesquisa,


o raciocínio e a solução de


problemas, essa ferramenta


pedagógica tem mostrado


o seu poder transformador


no processo de aprendizado


de milhares de jovens. Isso

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