8 |SEMINÁRIO INTERNACIONAL SESI DE EDUCAÇÃO| São Paulo, 18 de março de 2020
Este material é produzido pelo Media Lab Estadão com patrocínio do Sesi.
vieram para ficar
Marcela Brito Robles, a jovem
que mora no interior paulista e joga
vôlei, vai competir na FFL (First
LegoLeague)pelaprimeiravez,com
a Equipe Thunderbóticos, composta
portrêsmeninas.Elascriaramopro-
jeto Slice Garden (fatia de jardim),
uma espécie de telhado verde feito
com fibra de coco e terra vegetal,
que, além de enfrentar o problema
de falta de vegetação, também gera
economia e suaviza a temperatura
ambiente em até 7
o
C. Processo que
reduz o uso de ventiladores e condi-
cionadores de ar.
Animada, Marcela mostra que
participar de uma competição de
robótica vai muito além do envolvi-
mento com matemática, que, aliás, é
sua disciplina favorita. “O tema nos
fez olhar para o mundo com outros
olhos, entender o porquê das coisas
e o que eu, como cidadã, posso fazer
para melhorar e resolver os proble-
mas”, diz a estudante.
Apaixonada por ciência e inova-
ção e vencedora de muitos torneios,
Joyce Sapucaia de Lima Alves, 17
anos, estuda na escola Sesi Cam-
bona, em Maceió, Alagoas. Mais
experiente, Joyce, que já participou
inclusive de fases internacionais
de algumas competições (Estados
Unidos e Uruguai), também com-
petiu este ano, mas na FTC (First
Lego Challenge), outra modalidade
existente no Festival. A realidade
de Joyce nos laboratórios é diferen-
te da de Marcela, pois ela está em
uma equipe com cinco integrantes,
na qual é a única menina. “É uma
questão histórica, infelizmente a
sociedade nos trata como as me-
nininhas que devem ficar em casa,
lavar os pratos e cuidar dos irmãos.
Isso gera um retrocesso quanto
Entre os 665 jovens que competiram
com robôs Lego no Festival Sesi
de Robótica, quase metade
são meninas de 9 a 16 anos
Ana Carolina tem 17 anos,
moranoDistritoFederal,ado-
ra filmes de ação e de prin-
cesa (a preferida é Mulan), é
evangélica e canta e dança
na igreja. Começou a namorar
este ano, pensa em casar e ter
filhos. Enquanto Kalyane vive
em Candeias, na Bahia, tem 21
anos, além de ser apaixonada
pela sérieFriends, compra o
que vê pela frente sobre a sé-
rie e é louca por praia.
Um pouco mais ao norte, Joyce
vive em Alagoas, tem 17 anos e gosta
de dançar e assistirGreysAnatomy,
que aliás foi a sua primeira inspiração
para a escolha da futura profissão: ela
quer ser médica. No interior do Su-
deste, Marcela tem 15 anos, mora em
Rio Claro, São Paulo, gosta de jogar
vôleiesaircomseusamigos.
As histórias dessas estudantes,
e de outras mais de 300 meninas
cheias de sonhos, se entrelaçam pela
maior paixão que carregam e têm em
comum: a robótica, aliada à ciência,
tecnologia e inovação. Poucos ima-
ginam que essas jovens cientistas
dedicam 15 horas por dia aos seus
estudos, que lutam pelo direito de
gostar e serem boas em disciplinas
da área de exatas e de estar onde
sempre quiseram estar. Pode ser nos
laboratórios construindo e progra-
mandorobôs,nassalasdeauladeen-
genharia ou ciências da computação
ou então nas arenas operando robôs,
lugares indevidamente considerados
como masculinos.
TELHADOVERDE
No primeiro fim de semana de
março, elas estiveram entre as 167
equipes que participaram do Festival
SesideRobótica,noPavilhãodaBie-
nal,noParquedoIbirapuera.Partici-
pando de alguma maneira, seja como
competidoras ou técnicas de equipe
de garagem, em projetos inovadores
desenvolvidos dentro da temática
City Shaper (cidades inteligentes e
sustentáveis). Para Stella Hiroki, es-
pecialista em cidades inteligentes, a
participação das jovens é fundamen-
tal.“Interessantemostrardentrodos
torneios que tecnologias não são
neutras, que precisam ter a visão das
mulheres,umgrupopluralvaienxer-
gar demandas mais realistas.”
PORTAS ABERTAS PARA AS MULHERES
Robótica está cada vez mais atraindo jovens meninas em todo o Brasil
No Brasil...
Na modalidade First Lego
League, do Festival de Robótica
doSesi,há:
- 100 equipes inscritas
- 665 jovens na competição
No mundo
Estudo internacional da
First (For Inspiration and
Recognition of Science
and Technology),
entidade que organiza
torneios de robótica
pelo mundo, mostra
o peso que as jovens
desempenham
45,7%
são meninas
entre 9 e 16 anos
59%
das meninas que
trabalham com
robô na escola
têm interesse em
cursarciênciasda
computação ou
engenharia no nível
superior
12%
das alunas que não
estudam robótica
pensam em engenharia
Universitárias
superam
vários desafios
Histórias vencedoras demandam
mais do que esforço pessoal das
alunas. Kalyane Klys Alves dos San-
tos tem 21 anos, estuda Engenharia
Química na UFBA e é a única mulher
da sua turma. Entrou no Sesi no pri-
meira ano, em Candeias, que ficaa
40 km de Salvador. Um ano depois
começou a ter aulas de robótica,
o que lhe trouxe muita motivação
para pesquisar e estudar, além de
muitos prêmios. Uma das primeiras
referências de Kalyane foi a profes-
sora Aline Cruz, que passou a incen-
tivá-la, da mesma forma que ocorria
dentro de casa, com a mãe. “Desde
o início, a minha ideia de robóticaé
vinculada à imagem de uma mulher,
a Aline. As aulas eram fantásticas,
sem diferença entre meninos e me-
ninas”, afirma Kalyane.
Não é só a jovem da Bahiaque
tem a fala carregada de emoção ao
lembrar de quando entrou na esco-
la e de tudo o que conquistou. Aline
Cruz, atual coordenadora pedagógi-
ca do Sesi Candeias, ficou surpresa
ao ser lembrada com tanta impor-
tância pela aluna. “Nós, educadores,
não temos noção do quanto somos
capazes de influenciar os alunos.”
Assim como Kalyane, Ana Caro-
lina de Moraes Baia está estudan-
do engenharia, no Distrito Federal,
onde também é a única menina no
curso de elétrica e eletrônica. Ela
atribui muito do que é hoje à robó-
tica. Aos 17 anos, além de cursar a
faculdade, trabalha no departamen-
to de inovação de uma empresa de
segurança de rede (área de TI) como
a única mulher da equipe. No seu
dia a dia, ela coloca em prática mui-
tas dinâmicas e valores aprendidos
nas salas de aula e nos laboratórios
do Sesi, onde estudou.
“Não fico desconfortávelnem
sinto que estou no lugar errado, mas
vejo que algumas pessoas não acre-
ditam em uma menina tão novae
delicada fazendo engenharia”, afirma
Ana Carolina, que está na robótica
desde os 10 anos.
ao desenvolvimento da menina na
ciência e tecnologia, principalmen-
te aqui no Nordeste. Eu disse não
para tudo isso e ingressei num time
de robótica, o que mudou a minha
vida”, afirma a estudante.
Para José Júnior, professor de
tecnologia educacional do Sesi
Canaã, de Goiânia, Goiás, ter um
número equilibrado de meninas e
meninos nos laboratórios é muito
rico. Segundo Júnior, o número de
jovens vem crescendo ano a ano e
também o comportamento delas
diante das equipes está mais madu-
ro. “Antes elas se dedicavam apenas
aos projetos de pesquisa, hoje estão
construindo robôs. As meninas são
muito organizadas com processos e
materiais e responsáveis, mas ainda
não chegam ao ambiente escolar tão
abertasàrobótica,umarealidadeque
deve mudar”, avalia Júnior.
Participação feminina cresce nos times de robótica;
Joyce Alves (nas duas fotos à esquerda) e Marcela
Robles (alto, à direita) estão entre as competidoras
Arquivo Pessoal
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