Valor Econômico (2020-03-18)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 7 da edição"18/03/20202a CADA" ---- Impressa por VDSilva às 17/03/2020@22:19:


Quarta-feira, 18 de março de 2020| Valor|A


Política


Pauta de energia do governo deve parar no Congresso


RodrigoPolito
Do Rio

Aagendade energia do gover-
no, que, após maisde um ano, ha-
via enfimcomeçado aavançar no
Legislativo,está seriamente com-
prometida, devido ao agravamen-
to do quadro provocado pela pan-
demia de coronavírus e a crise ins-
titucional aberta pelo presidente
Jair Bolsonaro com o Congresso.
Nessecenário, temas complexos
comoa privatização da Eletrobras,
mudanças na lei de partilhade
produçãodopré-saleareformado
marcolegaldosetorelétricoentra-
rão em modo de esperae,devido
às eleições municipais no segundo
semestre,podemficarpara2021.
“Vamos sentarcomo presi-
denteDavi [Alcolumbre(DEM-

AP), presidentedo Senado],para
ver o que dá para fazer”, afirmou
o senador MarcosRogério(DEM-
RO), que tem assumidoprotago-
nismonas discussõesde temas
da áreaenergética no Senado.
“Vou advogarque os temasim-
portantes paraaeconomia do
paíscontinuemsendovotados”.
Ele, no entanto,criticou o
apoiodadopor Bolsonaroa ma-
nifestações contráriasao Con-
gressoeao Judiciário,comoos
protestosocorridosno último
domingo em vários locais do
país.“Nestemomento,éimpor-
tanteconstruirpontes,enão in-
cendiarrelacionamentos”, disse.
Um sinalde reduçãodo ritmo
de trabalhodo Senado, devidoà
propagação do coronavírusfoi o
cancelamento da audiência com

o ministro de Minase Energia,
BentoAlbuquerque,previstapa-
ra esta quarta-feirana Comissão
deAssuntosEconômicos(CAE).
Na Câmara, a expectativaéa
mesma.Segundo um deputado
que participa de discussões sobre
o setor de energia na casa e que
pediu anonimato, aprevisão é
que temas do segmento não se-
jam analisados nas próximasse-
manas. “De fato, os assuntos ca-
minharam,sóque,peloqueestou
vendo para as próximasduas se-
manas,nãohaverávotaçãonomi-
nal em plenário, só o que for con-
senso.Enão devehaver trabalho
nas comissões. Não acredito que
vão analisar esses temaspelos
próximos15,20dias”,afirmou.
A Câmaradeve receber nos pró-
ximos dias oPLS 232/2016,que

prevêaberturatotaldomercado
de energiaaté 2028eabordaou-
tros temasimportantes da refor-
ma do setor elétrico.Amatéria foi
aprovadano início do mês na Co-
missãodeServiçosdeInfraestrutu-
ra (CI) –em reuniãoque contou
comapresença de Bento Albu-
querque –eaguarda apenasopra-
zo regimental parainterposição
de recursos da casa, até 20 de mar-
ço,paraseguirparaaCâmara.
O presidente da Associação Bra-
sileira dos Comercializadores de
Energia Elétrica(Abraceel),Regi-
naldo Medeiros, demonstraoti-
mismo com o trâmitedo processo
na Câmara. “Evidentemente que
essasincertezas preocupam, mas o
temaéprioritárioparaogovernoe
o Congresso”, afirmou. “Não ve-
mos umademora da tramitação

na Câmara, mas não se sabecomo
ocenáriovaisedar”, completou.
Para outroespecialista do se-
tor, que pediuanonimato, a tra-
mitação do PLS 232 na Câmara
não deveráser algo simplesede-
mandarámuitanegociaçãoen-
treosdeputados. “A tendênciaé
[a tramitação]demorar.Afinal
de contas estamosfalandode
umareformadosetorelétrico”.
Segundoele, a pautade ener-
giadogovernohaviacomeçadoa
avançarno Congressoeste ano
depois que os senadoresperce-
beramque o mercadoapoiava a
lista de itensdo governo. “Os se-
nadores perceberamque seria
politicamente ruim para eles
mantertravada a pautaantesdas
eleiçõesmunicipais”,explicou.
Para um especialista do setor,

diante do quadro atual,há baixa
probabilidadeparaavotaçãono
Senadodo projeto de repactuação
doriscohidrológico,quedestrava-
ria R$ 8 bilhões no mercado de
energia. A perspectiva é a mesma
sobre as mudanças na lei de parti-
lha de produçãodo pré-sal, em
que o governoquerreduzir o po-
der da Petrobras nos leilões,epara
a privatização da Eletrobras. “Não
acredito que o projeto de privati-
zação da Eletrobrasseja aprova-
do”, afirmouele, mesmoapóso
ministro da Economia, Paulo Gue-
des, ter dobrado a aposta em rela-
çãoàvendadocontroledaestatal.
Arepactuação do riscohidro-
lógicofoi aprovadana últimase-
manana CAEdo Senado, mas
aindadepende de ser pautada
paravotaçãonoplenário.

Comissão aprova MPdo


Contrato Verdee Amarelo


RenanTr uffi
De Brasília

O CongressoNacionalapro-
vou ontem, na comissãomista,a
medidaprovisória (MP)do cha-
madoContratoVerde e Amare-
lo, que reduzobrigaçõespatro-
nais da folha de pagamento pa-
ra a contrataçãode jovens,com
idadeentre 18 a29anos,que
aindanão tiveram oprimeiro
empregoformal.
A propostafoi aprovada com
oParlamento esvaziado,emfun-
ção da disseminação dos casos
de coronavírus,oque geroucrí-
ticas e protestos da oposição.
Comooprograma foi instituí-
do por medidaprovisória, o tex-
to precisado aval do Congresso
até 20 de abril paraque entre
em vigordefinitivamente.Para
isso,aindatem de ser validado
tanto no plenário da Câmara
dos Deputados comono Senado
no períododo próximomês. Ca-
so isso não aconteça, a MP expi-
ra e tem seus efeitossuspensos.
Durante a discussão,foi apro-
vadaumaemendaquetornanula
qualquerconvenção coletiva ou
acordo trabalhista que suspenda
o pagamento do vale-transporte.
O dispositivo havia sido sugerido
pelo senadorAcir Gurgacz (PDT-
RO),mas acabou não sendo in-
corporadopelo relator da MP, de-
putadoChristinoÁureo(PP-RJ).
O líderdo DEMno Senado,
RodrigoPacheco(DEM-MG),de-
cidiu, então, reapresentaressa
sugestãona votaçãodos desta-
ques-— recursoutilizadopara
votarseparadamente parteda
proposição -— e a maioriado co-
legiadooptoupor incorporaro
textoda emenda à proposta.
Comojustificativa, o senador
do PDT escreveuque a proposta
apresentada “dará aproteção

necessáriaa este direito social
do trabalhador”. A mudança
contrariaorientaçãoda equipe
econômica, que defendiaa ma-
nutençãodo parecerelaborado
por Áureo.
A pressada base do governoe
de congressistas favoráveis ao
texto irritou a oposição.Isso
porque a votaçãofoi mantida
mesmocomváriosparlamenta-
res ausentes das atividades legis-
lativas. O que eles argumentam
é que os essescongressistas não
puderam comparecer àsessão
por estaremno grupode risco
do coronavírus.
Na semana passada, o Con-
gressopublicou ato que prevêo
afastamento do trabalho por 14
dias do senadorou do colabora-
dor que, mesmosem apresentar
sintomasda doença, tenhatido
contatopróximocompessoasin-
cluídas nos casossuspeitos ou
confirmadosdadoença.
“Estamosvivendoumasitua-
ção excepcional. EssaMP retira
direitos dos trabalhadores. A
economia precisaque bilhõesde
reais sejaminjetados. Eaí agente
procuraaprovar,descumprindo
normasbaixadaspelopróprio
presidentedo Congresso, uma
reforma que flexibiliza direito
dos trabalhadores”,criticouolí-
der da oposição,senadorRan-
dolfeRodrigues(Rede-AP).
PartidoscomoPT, PSB eRede
Sustentabilidade queriamatra-
sar aaprovação do textopor ar-
gumentaremque a MP também
buscaflexibilizar direitostraba-
lhistas. A comissão mistapode
funcionar, no entanto, com o
aval do próprio presidentedo
Congresso, Davi Alcolumbre
(DEM-AP).Todas as outrasses-
sões foram canceladasparaevi-
tar a difusãodo vírusdentrodo
Parlamento.

Maia excluivendadaEletrobras depauta


MarceloRibeiro
De Brasília

Opresidenteda Câmara,Ro-
drigoMaia(DEM-RJ),emreunião
comlíderespartidários,demons-
trou irritaçãocom a equipeeco-
nômicado governoechegoua
gritarcom o líder do presidente
Jair Bolsonarona Casa, MajorVi-
tor Hugo(PSL-GO).Cobroume-
didas concretas eafastou a possi-
bilidadedeapropostadeprivati-
zaçãodaEletrobrasavançar.
Maia conseguiu emplacar o
projetoque permitirá votações
remotasapartir da próxima se-
mana eoutrastrês propostasre-
lacionadas à área de saúde:libe-
raçãodo remanejamentode R$ 6
bilhões de fundos de saúdepara
ocombateà doença,aproibição
da exportação de itensconside-
rados essenciaispara enfrentar o
víruseaderrubada de uma por-
tariada AgênciaNacionalde Vi-
gilânciaSanitária(Anvisa)que
restringiaa comercializaçãode
álcool 70%. O produtoéuma al-
ternativaao álcool gel, item utili-
zadoparaahigienizaçãoe que
estáemfaltanomercado.
Antesdasvotações,Maiaseen-
controucomlíderespartidários
eprotagonizou doisenfrenta-
mentos.Um comVitorHugoe
outrocom o deputadoOsmar
Terra (MDB-RS),ex-ministroda
Cidadania.Ambossão aliadosde
BolsonaronoCongresso.
Segundoo apurouoValor,o
líder do governona Câmara foi o
primeiro alvo da ira de Maia. Vi-
tor Hugopassouaos participan-
tes da reunião um recado do mi-
nistroda Economia,Paulo Gue-
des, sugerindo que o projetoque
tratada privatização da Eletro-
bras fosseincluídoentre as ações
de combate ao vírus.Opresiden-
te da Câmarareagiuenergica-
mente,chamandodeirresponsa-
bilidade fazer“chantagemcom a

privatizaçãodaEletrobras”.
Pouco depoisfoi avez de Terra
ser criticadopor causade seu ali-
nhamentocom Bolsonarona de-
fesade que as precauções ao
avançodo vírussão “exageradas”
ede que aquarentenaé“desne-
cessária”.“Espero que todosos lí-
deresdos demais países no mun-
doestejamerradosequeogover-
no Bolsonaro seja o únicocerto”,
disseMaia.
Em outro momentode atrito
com Vitor Hugo,Maia foi chama-
do de “ditador”pelo líder do go-
vernonaCâmara.Segundolíderes,
opresidente da Câmara nãotitu-
beouerespondeu:“Éoseuchefe”.
Apósa reunião, o presidente
da Câmaraadotouum tom mais
pacificador.Defendeuque ogo-
vernojá deveriater estabelecido
o fechamentode fronteiras e a
restriçãode voosinternacionais.

“Acho que o governojá deveria
ter fechadoas fronteiras, acho
que já deveriater restringidoos
voosinternacionais, já deveria
ter restringidoa circulaçãodas
pessoas,principalmentenos Es-
tadosondeaprojeçãoé de pro-
blemasmaiores, comoos Esta-
dos do Rio de São Paulo.Mas es-
tas posiçõessão comandadaspe-
lo Poder Executivo”, afirmou em
entrevistacoletiva.
Em reuniõesreservadas, parla-
mentaresclassificaramo pacote
de medidas de Guedes como
“modesto” e disseramque ações
adicionais precisarãoser imple-
mentadas.
Maiadisse aindaacreditarque
ogovernovaiproporaampliação
dos gastos públicos eaalteração
dametafiscal,comoformadega-
rantirrecursosparaocombateao
coronavíruseevitar aparalisação

daeconomiaduranteacrise.
“O governojá deveriater pen-
sadoempolíticaspúblicas,como
aampliaçãodo gastopúblico,
comotodosos paísesvêm fazen-
do.Achoqueéinevitávelquea
reduçãodo danona economia
seja garantidapelo Estadobrasi-
leiro. Não há saída,não há outra
saída,principalmenteporquea
arrecadaçãofederal vai cair, dos
Estadosvai cair,dos municípios
devecair”, disseMaia.“Ogoverno
federalprecisatomaressasdeci-
sões,que eu esperoque ocorram
nos próximosdias ou nas próxi-
mas semanas. Terão no Parla-
mentototal apoiopara que essas
matériaspossamser aprovadas
de forma urgente.Mudança de
metaentreoutrostemasque são
fundamentaisparaque agente
garantaa manutençãoda execu-
çãodoOrçamento”, completou.

ExecutivoPresidentepediupara“nãoseapavorarem”eafirmouestarpreocupadocomaquestãohumanitária


Bolsonaro muda tom e busca protagonismo


Fa bioMurakawa e MatheusSchuch
De Brasília

No dia em que foi confirmadaa
primeira mortepela covid-19 no
país, o presidenteJair Bolsonaro
decidiu assumir um papelde pro-
tagonismo na crisecausada pelo
coronavírus. Embora continue di-
zendoquenãohámotivopara“pâ-
nico”e“histeria”—pelamanhã,em
entrevista à Rádio Tupi, do Rio de
Janeiro, ele disse queapandemia
era colocada “comose fosseo fim
do mundo”—Bolsonaro anunciou
de tarde medidas concretas, como
ofechamento da fronteira com a
Venezuela e iniciativas para ajudar
empresas e trabalhadores em si-
tuaçãoinformal.
Ànoite,ocasiãoemquerecebeuo
resultadonegativode seunovoteste
de coronavírus, opresidente solici-
touao Congressooreconhecimento
doestadodecalamidadepúblicaaté
ofimdoano(vermatériaA5).Opre-
sidente prometeu fazerentrevistas
coletivascomtodooseuministérioe
com os chefesdos demais Poderes
hojeparafalarsobreadoença.

“A minhamensagemépara
que nãose apavorem.Nós vamos
terquepassarporessaonda.Ago-
ra, se o pânico chegar no meio da
população, tudofica pior.Nós es-
tamos preocupadoscom aques-
tão humanitária, de vidas. Mas
tambémcomaquestãoeconômi-
ca”, disseo presidente, ao chegar
ontemaoPaláciodaAlvorada.“Se

oBrasil pararvai ser o caos. Vai
morrermuitomaisgentefrutode
uma economiaque não andado
quedoprópriocoronavírus.”
Bolsonaro disse que está“na
pauta” umaajudaàs companhias
aéreas, afetadas pela pandemia,
que deve ser anunciada pelo mi-
nistrodaEconomia,PauloGuedes.
“Fica muitomaiscaro se vocênão

colaborar [comas empresas]. De-
missões virãoe quando tem de-
missãotodomundoperde”, disse.
Ele tambémafirmouque o mi-
nistro estudauma ajudaaosinfor-
mais.“O Paulo Guedes falou para
mimhojeque a economia infor-
mal, quem vive da informalidade,
teria uma ajudapor algum tempo.
Seria uma espécie de um voucher”,

contou. “Está faltandodefinir o
montante ecomoé quevocê vai
organizar esse pagamento. Essa
possibilidadeestánamesa.”
Um dos ministros maispróxi-
mos de Bolsonaro, JorgeOliveira
(Secretaria-Geral), disse aoValor
que o governoadotarámedidas
maisrestritivasconformeoavanço
daepidemianopaís.Mas,segundo
ele, ogoverno agirá“com raciona-
lidade” paraenfrentaracrise.
O governo tem à mesauma difí-
cil escolha:paralisar aeconomia
para assegurar que o vírusnão se
espalhe, comotem feito a Europa;
ou adotar medidas menos drásti-
cas —oque preservaria empregos,
mas poderia levar a uma sobrecar-
ga do sistema de saúde. “Nossaop-
ção é sempre por salvar vidas”, res-
pondeu o ministro,sobre qual se-
ria a escolha do governo. “Masnós
precisamosserracionais.”
Oliveira defendeuque não é o
momentode ordenarque apopu-
lação entre em quarentena ou que
aeroportossejamfechados.
Disse ainda quetrabalharia na
noite de ontem no decretoque le-
vará ao fechamentoda fronteira
com a Venezuela. Será interrompi-
do apenasotrânsitode pessoas,
não de mercadorias. Cerca de 500
refugiados venezuelanos entram

por dia no país pelafronteira com
Pacaraima(RR).“O fechamento da
Venezuela éuma medida de cará-
ter sanitário.Não tem relação com
acrise”, afirmouoministro.
Bolsonaro marcou para as
14h30 de hoje uma entrevista co-
letiva com todo oseu ministério. E
afirmouqueestá costurandotam-
bémumaumencontrocomchefes
deoutrospoderes,às20h30.
Ele disse já ter falado a respeito
com o presidente do SupremoTri-
bunal Federal (STF),Dias Toffoli.
Tambémseriam convidados opre-
sidente do Tribunal de Contas da
União (TCU),José Múcio, o procu-
rador-geral da República, Augusto
Aras, eos presidentes da Câmara,
Rodrigo Maia(DEM-RJ), eDavi Al-
columbre(DEM-AP).
“É para a gente demonstrar ato-
dosvocêsqueestamosunidospara
combaterobomcombateemuma
causa comum,que é a questãodo
vírus,que vai chegar,jáchegou,
masnãohámotivoparapânico.”
Enquanto o presidenteestendia a
mãoaoCongresso,seufilho01,ose-
nador Flavio Bolsonaro (semparti-
do-RJ),usavaoTwitterparacriticaro
presidente da Câmara. “Cabe confir-
mar com o TSE se Rodrigo Maiafoi
eleitodeputadofederaloupresiden-
tedoBrasil”,escreveuFlavio.

ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

Bolsonaro: “oPauloGuedesfaloupara mimhojequequemvive dainformalidadeteriaumaajudaporalgumtempo”

MICHELJESUS/CAMARA DOSDEPUTADOS

Maia:emdiscussãocomVitorHugo,foi chamadode“ditador”edevolveuaolíderdogoverno:“éseuchefe”

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