As sextas-feiras do Estadão turbinadas com um super caderno
Bora sextar com o Estadão!
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O caderno Sextou!, toda sexta.
casa divirta-se paladar viagem
ImagensIlustrativas
Adriana Del Ré
Há tempos, não se viam na Globo
novelas de tão boa qualidade e
com elencos tão afiados, exibi-
das simultaneamente nas faixas
das 18h, 19h e 21h. Mas duas atri-
zes, em especial, têm chamado a
atenção de crítica e público por
suas interpretações. Os telespec-
tadores, aliás, reagem em tempo
real na internet às cenas de am-
bas que vão ao ar. As mais dra-
máticas inevitavelmente virali-
zam, e os perfis oficiais nas redes
sociais de Regina Casé e Gloria
Pires são inundados de elogios e
exaltação a suas atuações. São
duas protagonistas em momen-
tos especiais de suas carreiras.
É provável que não haja prece-
dentes na teledramaturgia bra-
sileira de duas atrizes se desta-
carem tanto e ao mesmo tem-
po. Coincidência ou não, Regi-
na e Gloria vivem, respectiva-
mente, em Amor de Mãe e Éra-
mos Seis, duas mães amorosas,
sofredoras, batalhadoras. E que
viram leoas quando o assunto
são seus filhos. Talvez seja aí o
ponto-chave dessa adoração do
público pelas personagens Lur-
des, de Regina Casé, e Lola, de
Gloria Pires – e, claro, pelo tra-
balho de suas intérpretes, pois,
caso contrário, nem os papéis
mais bem elaborados pelos no-
velistas se sustentariam com in-
terpretações medianas.
Lurdes e Lola são submetidas
constantemente às dores da vi-
da, do tal “padecer no paraíso”.
Daí a identificação coletiva com
as personagens. De empatia, de
se colocar no lugar delas. Afinal, a
audiência das novelas é formada
por mães, por quem tem mãe ou
mesmo por uma figura que tem
essa representação no núcleo fa-
miliar. São duas mães protagonis-
tas que passam por situações ve-
rossímeis, de perdas, de sofri-
mento, de amor.
Trama das 9, Amor de Mãe fez
Regina Casé voltar às novelas
após 18 anos. Invariavelmente re-
lacionada à comédia quando o as-
sunto é TV, Regina mergulha na
personagem Lurdes, mesclando
drama e também leveza. Cons-
truída pela atriz a partir de suas
vivências Brasil afora, Lurdes é a
representação da mãe nordesti-
na, que enfrenta Golias, um a um,
protegendo os próprios filhos de-
baixo das asas e acolhendo filhos
postiços, quando assim for preci-
so. Lurdes saiu de Malaquitas, ci-
dade fictícia no Rio Grande do
Norte, com três filhos, rumo ao
Rio, e ainda adotou um bebê
abandonado no meio da estrada.
Ela também é aquela mãe que
não desistirá nunca de encontrar
o filho desaparecido. Domênico
(que já se sabe que é o persona-
gem de Chay Sue-
de) foi vendido pe-
lo pai quando ain-
da era criança e
Lurdes, para se de-
fender, mata o ma-
rido, o que a obri-
ga fugir de Malaquitas. Localizar
o filho é sua missão de vida, mes-
mo após 26 anos. Você já viu ou
ouviu falar de uma mãe assim. Co-
mo não se identificar com ela?
Regina foi responsável por es-
trelar algumas das cenas mais co-
mentadas da novela, como quan-
do Lurdes estava ao lado da filha
Camila (Jéssica Ellen), que, na
cama do hospital, fala para a mãe
sobre o cansaço de ser sempre
forte por ser pobre, mulher e ne-
gra num país racista. Ou quando
Lurdes se despe-
de da mãe em seu
leito de morte. Fo-
ram momentos
intensos, em que
Lurdes distribuiu
palavras de aco-
lhimento e afeto.
Como Lola, Gloria Pires garan-
tiu também grandes cenas na no-
vela das 18h, Éramos Seis. Mãe de
quatro filhos e mulher de Júlio
(Antonio Calloni), Lola tem a vi-
da marcada por tragédias, mas,
pelos filhos, mantém a altivez e a
ternura. E Gloria, grande atriz
que é, consegue imprimir nuan-
ces que a personagem pede – e
aquela força das mães para se-
guir em frente enquanto o mun-
do desaba ao redor.
Ao longo da trama, Lola vai
perdendo, um a um, membros
de sua família: morrem o marido
e seu adorado filho Carlos (Dani-
lo Mesquita); seus outros filhos,
Isabel (Giullia Buscacio) e Juli-
nho (André Luiz Frambach),
saem de casa; Alfredo (Nicolas
Prattes) foge para os EUA após
cometer um assassinato. E ela se
vê sozinha em sua casa, conquis-
tada a duras penas.
Um dos momentos mais emo-
cionantes de Gloria na novela foi
a cena da morte de Carlos. Foi
uma interpretação tocante, de-
vastadora. E a atriz foi aclamada
pelo público. Quem não se emo-
cionou com a perda dessa mãe?
Éramos Seis chega ao final no
dia 27, mas ainda é possível con-
ferir os últimos capítulos de Glo-
ria em cena. Já Amor de Mãe será
exibida até este sábado, 21 – por
causa do coronavírus, as grava-
ções foram interrompidas e a no-
vela ficará fora do ar, sendo subs-
tituída por Fina Estampa.
Se estivéssemos em
Hollywood, e Amor de Mãe e Éra-
mos Seis fossem filmes, Regina
Casé e Gloria Pires teriam gran-
des chances de concorrer ao Os-
car. E, quem sabe, conquistar a
estatueta.
Regina e
Gloria: elas
merecem
o Oscar
Gloria Pires. Como Lola: uma vida marcada por tragédias
PÚBLICO SE
IDENTIFICA
COM AS HISTÓRIAS
DESSAS DUAS MÃES
FOTOS REPRODUÇÃO/GLOBO
TV. As atrizes vivem grandes momentos da
carreira, em ‘Amor de Mãe’ e ‘Éramos Seis’
Regina Casé. Como Lurdes: mãe nordestina e acolhedora
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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2020 Caderno 2 C3