Metrópole
SP manda fechar lojas e shoppings;
mercados e farmácias ficam abertos
NILTON FUKUDA / ESTADÃO
De portas fechadas. Shopping Pátio Paulista vazio ontem à tarde: decisão do governo estadual e da Prefeitura foi criticada pelo Sindicato dos Comerciários
NOS MERCADOS,
PRODUTOS JÁ
ESTÃO ESCASSOS
Bruno Ribeiro
Em decreto inédito, a Prefei-
tura de São Paulo determi-
nou o fechamento do comér-
cio de toda a cidade para ten-
tar retardar o avanço do novo
coronavírus. Lojistas estão
proibidos de atender presen-
cialmente o público por 15
dias, a partir de amanhã. Lo-
cais que tenham como reali-
zar entregas poderão funcio-
nar. A medida não vale para
farmácias, mercados, feiras li-
vres, lojas de conveniência e
postos de combustível, entre
outros estabelecimentos. Ba-
res, padarias e restaurantes
poderão funcionar, mas com
regras adicionais de higiene.
A capital paulista já teve qua-
tro mortes pelo novo coronaví-
rus. A decisão foi tomada pelo
prefeito Bruno Covas (PSDB)
após contatos com lojistas de
regiões como a Rua 25 de Março
e de outras associações. A nova
regra é um complemento ao de-
creto de emergência publicado
na segunda-feira. Esse decreto
permite à Prefeitura ainda fazer
compras urgentes sem licitação
e a confiscar bens e serviços em
prol da saúde pública.
Casas noturnas, salões de fes-
tas e espaços de eventos tam-
bém deverão permanecer fecha-
dos até 20 de abril. A gestão Co-
vas não descarta que o período
seja prorrogado, a depender da
evolução do surto.
Há dúvidas ainda sobre a pres-
tação de serviço. Técnicos da
Prefeitura informaram que a
medida excluiria serviços, citan-
do agências bancárias, mas o de-
creto não traz essa exceção –
mas há brecha para alterações
nos setores afetados, que serão
definidas pelas secretarias de
Governo, Saúde e Desenvolvi-
mento Econômico.
A fiscalização será feita pelas
subprefeituras, que aplicarão
sanções nos estabelecimentos
como se estivessem funcionan-
do sem alvará. As subprefeitu-
ras também devem suspender,
a partir de amanhã, as licenças
de trabalho de todos os vende-
dores ambulantes da cidade.
Bares, padarias e restauran-
tes abertos terão de cumprir re-
gras adicionais: espaçamento
mínimo de 1 metro entre as me-
sas, oferta gratuita de álcool em
gel a clientes, reforçar a limpe-
za e distribuir informações so-
bre a covid-19, a serem defini-
das pela Prefeitura. Segundo o
Município, o esforço é para
manter as pessoas em casa, evi-
tando infecções e o colapso nos
sistemas de saúde.
Estado. O decreto foi publica-
do horas após o governador
João Doria (PSDB) anunciar re-
comendação para que shop-
pings das 39 cidades da Grande
São Paulo fechassem as portas.
A recomendação não tinha for-
ça de lei e valeria para segunda-
feira. A ação de Covas atropelou
a medida de Doria.
Prefeitura e Estado foram
questionados sobre eventual
descompasso. “As medidas das
duas esferas são complementa-
res e dinâmicas, com possibili-
dade de revisão a qualquer mo-
mento, de acordo com a gravida-
de da situação”, diz a gestão Do-
ria, em nota. Ainda segundo o
Estado, “governador e prefeito
conversaram por telefone an-
tes dos anúncios da manhã e da
tarde e não há “atropelo”, mas
ação coordenada. A Prefeitura
disse que a resposta valeria para
as duas esferas do Executivo.
Reação. As medidas foram cri-
ticadas pelo presidente do Sin-
dicato dos Comerciários de São
Paulo, Ricardo Patah. Ele diz
não ser contrário a medidas que
preservem a saúde das pessoas,
mas defende mais negociação
para evitar risco de redução de
salários e desemprego.
A Associação Brasileira de Lo-
jistas Satélites teme por grande
colapso, com falência de empre-
sas. A entidade já se organiza pa-
ra pedir moratória a donos de
shoppings, além da isenção do
aluguel ou cobrança equivalen-
te ao porcentual de vendas.
Outros governos decretaram
o fechamento de serviços não
essenciais, entre eles Belo Hori-
zonte e o Estado de Santa Cata-
rina. O governo catarinense ve-
tou, ainda, a entrada de novos
hóspedes no setor hoteleiro e a
circulação de veículos de trans-
porte coletivo urbano munici-
pal, intermunicipal e interesta-
dual. / COLABORARAM MARIANA
DURÃO e MÁRCIA DE CHIARA
ABC paulista
vai suspender
transporte
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Márcia De Chiara
Giovanna Wolf
A
corrida do brasileiro
ao supermercado para
fazer estoques de ali-
mentos e itens de higiene e
limpeza, por causa do novo
coronavírus, já provoca a fal-
ta de alguns produtos nas lo-
jas, especialmente de merca-
dorias básicas. O índice de fal-
ta de itens nas prateleiras dos
supermercados chegou a
11,3% no sábado em cerca de
20 mil lojas do País, segundo
uma pesquisa obtida pelo Es-
tado e feita pela Neogrid, em-
presa de tecnologia que moni-
tora os pedidos do varejo pa-
ra a indústria.
“Quando passa de 10% já é
considerado muito alto”, afir-
ma o vice-presidente da em-
presa e responsável pelo estu-
do, Robson Munhoz. O execu-
tivo destaca que a trajetória
ascendente reflete o pânico
que houve na população nos
últimos dias para fazer esto-
ques. Em épocas normais, a rup-
tura, como é chamada a falta de
produtos pelos supermerca-
dos, varia entre 7% e 8%. Mu-
nhoz destaca que não há desa-
bastecimento no varejo, mas
um descompasso entre a veloci-
dade de vendas nas lojas e a lo-
gística para transferir estoques
dos centros de distribuição pa-
ra pontos de venda.
A pesquisa mostra que, de
uma cesta de 28 itens mais ven-
didos e escassos, o antisséptico
para mãos foi o campeão: as ven-
das cresceram 630,5% em mar-
ço ante janeiro, os estoques caí-
ram quase pela metade (47%) e
o índice de falta do produto na
loja chegou a 31% no fim de se-
mana. No mesmo período, as
vendas de álcool aumentaram
322,7%.
No caso do papel higiênico,
as vendas dobraram de feverei-
ro para março e a falta chega a
10%. Alimentos básicos, como
leite em pó, longa vida, açúcar e
massas, também estão na lista
dos mais procurados e enfren-
tam escassez.
E o medo dessa escassez tem
mudado os hábitos dos consu-
midores. “Normalmente não fa-
ço estoque: compro o suficien-
te para o mês. Mas estou preocu-
pada com a questão do reabaste-
cimento nas grandes redes de
supermercados”, diz a fisiotera-
peuta Valéria Ferreira dos San-
tos, de 41 anos, que já foi nesta
semana três vezes às compras,
gastou quase R$ 2,5 mil e refor-
çou itens básicos, como óleo,
molho de tomate, artigos de hi-
giene e limpeza.
O Estado percorreu hiper-
mercados e constatou a escas-
sez dos produtos apontados pe-
la pesquisa e de outros nas pra-
teleiras do Big e do Carrefour.
Limite. No Extra, há cartazes
informando o limite de compra
de unidades por pessoa para
itens como feijão, arroz e leite.
O Grupo GPA, dono das bandei-
ras Extra e Pão de Açúcar, infor-
mou, por meio de nota, que
desde terça estabeleceu um
limite de unidades vendidas
por cliente para itens de hi-
giene pessoal e alimentos de
primeira necessidade e infor-
mou que a partir de hoje terá
atendimento exclusivo para
clientes com mais de 60
anos. O Grupo BIG esclare-
ceu que “o abastecimento de
suas lojas está normalizado,
mesmo com o aumento do
fluxo de clientes”. O Carre-
four não se manifestou.
Procura tem crescido, principalmente por itens
básicos, como papel higiênico, leite e açúcar
O Consórcio Intermunicipal
Grande ABC, que reúne prefei-
tos da região, decidiu ontem
suspender a circulação de ôni-
bus municipais, a partir do dia
29 de março, por tempo indeter-
minado. As cidades que terão o
serviço alterado serão Santo An-
dré, São Bernardo do Campo,
São Caetano do Sul, Diadema,
Mauá, Ribeirão Pires e Rio Gran-
de da Serra, que têm represen-
tantes no consórcio.
Somente veículos do sistema
de transporte público munici-
pal devem parar – a medida não
abrange aqueles que são de res-
ponsabilidade do governo do
Estado. As frotas já foram redu-
zidas ontem. Segundo o presi-
dente do consórcio, Gabriel Ma-
ranhão, a posição geográfica exi-
ge esse tipo de medida. As cida-
des estão próximas de áreas de
grande movimentação, como o
Aeroporto de Guarulhos e o Por-
to de Santos.
Cada prefeito deve editar um
decreto sobre a situação de
emergência. E o transporte de
funcionários que prestam servi-
ços essenciais deverá ser garan-
tido por meio da contratação de
linhas particulares, segundo
Maranhão. A medida é para re-
duzir a circulação de pessoas e
conter o avanço do coronavírus
na região. / AGÊNCIA BRASIL
AS MUDANÇAS
Malafaia contraria recomendação e diz que não vai reduzir cultos. Pág. F2}
MARCIA DE CHIARA / ESTADÃO
Estoque. A fisioterapeuta Valéria Ferreira dos Santos foi ao mercado três vezes na semana
Abastecimento
lLojas fechadas no Rio
Administradoras de shoppings do
Rio fecharam os centros de com-
pras ontem. Shopping Leblon, Via
Parque, Bangu Shopping, Barra
Shopping, Village Mall e New
York City Center não abriram.
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l Comércio fechado
A medida é para o comércio de
São Paulo com atendimento pre-
sencial. Casas noturnas e salões
de festas também deverão ser
fechados.
l Prazo
A regra vale a partir desta sexta-
feira, durante 15 dias. Casas no-
turnas deverão ficar fechadas até
20 de abril.
l Exceções
O fechamento não vale para esta-
belecimentos como farmácias,
mercados, quitandas, peixarias,
feiras livres, lojas de conveniên-
cia, distribuidoras de água e gás,
padarias, bares, lanchonetes e
postos de combustível.
l Regras adicionais
Bares, padarias e restaurantes
terão de cumprir regras adicio-
nais: espaçamento mínimo de 1
metro entre as mesas, oferta gra-
tuita de álcool em gel aos clien-
tes, reforçar a limpeza e divulgar
informações sobre a doença.
Medida passará a valer a partir de amanhã em toda a cidade e incluirá também casas noturnas; já bares e restaurantes poderão abrir
desde que sigam regras como espaçamento mínimo entre mesas. Estabelecimento que descumprir a norma está sujeito a multas
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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2020 F1