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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2020 Metrópole F3
Anvisa dá aval a 8
testes rápidos; uso
em massa é rejeitado
Mateus Vargas / BRASÍLIA
A Agência Nacional de Vigi-
lância Sanitária (Anvisa) au-
torizou ontem o registro dos
primeiros oito kits específi-
cos para diagnóstico do novo
coronavírus, que prometem
apresentar o resultado das
análises em cerca de dez mi-
nutos. O órgão não deu deta-
lhes sobre cada produto e fa-
bricante. Há cerca de dez em-
presas interessadas em en-
trar no mercado brasileiro
com dispositivos de diag-
nóstico rápido, conforme
apurou o Estado.
Uma das interessadas é a Fio-
cruz, que estima conseguir en-
tregar em até três semanas ao
governo um teste desse tipo a
partir de uma parceria com em-
presa privada. Segundo a Anvi-
sa, seis dos testes aprovados
são do tipo “ensaio imunocro-
matográfico”, que usa amos-
tras de sangue, soro ou plasma.
Outros dois são para detecção
com uso de swab, instrumento
semelhante a um cotonete que
retira amostra das vias respira-
tórias dos pacientes, da nasofa-
ringe e orofaringe. Os registros
serão publicados na quinta-fei-
ra, no Diário Oficial.
Mesmo mantendo a posição
de que testes em massa são “des-
perdício” de recursos, o minis-
tro da Saúde, Luiz Henrique
Mandetta, disse desejar que o
País consiga adquirir em três
meses até 1 milhão desses pro-
dutos para detectar o vírus em
pacientes. A conta seria uma
projeção com base na soma de
testes já encomendados com a
Fiocruz – 30 mil numa primeira
leva e mais 150 mil adiante – e
com importações de empresas
privadas. Os testes adquiridos
com a Fiocruz até agora são de
uma versão mais simples, que
tem apresentado o resultado
em até 3 dias.
A empresa MedLevansohn
deseja vender no País um teste
fabricado na China, pela empre-
sa Biotest, que promete o diag-
nóstico em dez minutos. A ideia
da empresa é, se conseguir o re-
gistro na Anvisa, trazer um pri-
meiro lote de 100 mil testes no
começo de abril e encomendar
outro de 200 mil. O dispositivo
cabe na mão e analisa amostra
de sangue do paciente.
Já a farmacêutica Roche quer
trazer ao Brasil o teste “cobas®
SARS-CoV-2”, registrado nesta
semana nos Estados Unidos de
forma emergencial. Ele pode
ser colocado em um equipamen-
to de análise clínica, da mesma
empresa, que promete verificar
1.440 amostras de pacientes em
um período de 24 horas. A em-
presa afirma que ainda conver-
sa com o governo brasileiro so-
bre como realizar o registro e
fornecimento do produto.
Por questões de sigilo indus-
trial, a Anvisa não revela o nú-
mero exato de empresas que
pretendem registrar testes no
País. O Ministério da Saúde se
reunirá hoje com companhias
que detêm a tecnologia para ne-
gociar a importação. O governo
paga R$ 98,80 por unidade do
kit fornecido pela Fiocruz. A ex-
pectativa é de que o preço caia
“consideravelmente” com tes-
tes rápidos, por exemplo, segun-
do técnicos do governo.
Parceria tecnológica. A Fio-
cruz afirma que discute uma
parceria com empresa privada
para fornecer no Brasil em pou-
cas semanas o teste rápido. A
ideia é que o resultado das análi-
ses seja apresentado em até 15
minutos. Segundo o chefe da Di-
visão de Novos Negócios de
Bio-Manguinhos/Fiocruz, Hu-
go Defendi, há “várias empre-
sas” interessadas na parceria
com o laboratório. Com a parce-
ria, a Fiocruz poderia fabricar
parte do produto e fornecer ao
governo. Com o passar do tem-
po, a empresa incorporaria a tec-
nologia do parceiro privado pa-
ra fabricar o teste todo no Bra-
sil. A expectativa é de que o pre-
ço seja bastante inferior ao tes-
te vendido hoje ao governo. Pro-
dutos como testes rápidos de
novo coronavírus, no entanto,
não são ainda encontrados na
farmácia. Apesar de o manuseio
ser considerado simples, ele
ocorre em ambiente hospitalar.
Testes. O ministro da Saúde,
Mandetta, voltou a se opor a re-
comendações da Organização
Mundial da Saúde (OMS) para
testar o máximo de casos sus-
peitos possível. “Do ponto de
vista sanitário é um grande des-
perdício de recursos preciosos
para nações”, disse o ministro
ontem. A estratégia do governo
é priorizar testes de pessoas in-
ternadas por síndromes respira-
tórias, além de realizar análises
na “rede sentinela” (que inclui
postos de saúde, pronto atendi-
mento e hospitais) de pessoas
com diagnóstico negativo para
outros vírus gripais.
Citado como caso de sucesso
no combate ao novo coronaví-
rus, a Coreia do Sul tem testado
de 10 mil a 15 mil casos diaria-
mente, segundo dados do gover-
no. Mandetta, no entanto, afir-
ma que o país asiático não pode
ser visto como referência para a
realidade brasileira. “Uma coi-
sa é ter um país como a Coreia
do Sul. É totalmente diferente
de um continente sul-america-
no. Vamos lutar, discutindo
com nossos especialistas qual a
melhor técnica que a gente po-
de usar. Os EUA estão sem kit.
Não é uma situação para se pen-
sar melhor?”, indagou.
Fabiana Cambricoli
A Secretaria Estadual da Saúde
de São Paulo confirmou ontem
mais três mortes por covid-19,
elevando para quatro o número
de óbitos registrados no País.
Como na primeira morte, con-
firmada anteontem, as três no-
vas eram de homens idosos e
com alguma doença crônica.
Eles tinham idades de 65, 81 e
85 anos. Todos foram atendi-
dos na rede privada da capital.
O paciente de 81 anos era mora-
dor do município de Jundiaí e
os demais, de São Paulo.
O primeiro morto pela doen-
ça no País tinha 62 anos e sofria
de diabete e hipertensão. Ele foi
internado no dia 14 e morreu no
dia 16. Não constava na lista de
casos confirmados nem suspei-
tos do Estado.
Pelo menos três das quatro
mortes registradas até agora
ocorreram entre pacientes in-
ternados no Hospital Sancta
Maggiore do bairro Paraíso, na
zona sul de São Paulo. O hospi-
tal faz parte de uma rede pró-
pria de centros médicos da ope-
radora Prevent Senior, focada
no público idoso. Ontem, a em-
presa informou que tem em sua
rede 55 pacientes internados
com sintomas de covid-19, dos
quais 19 já receberam resultado
positivo para o exame. Dos hos-
pitalizados, 26 estão na UTI.
Alta. Em todo o País, o núme-
ro de registros da doença pas-
sou para 428 ontem, segundo
boletim divulgado pelo Ministé-
rio da Saúde. O balanço foi di-
vulgado com atraso, após o sis-
tema de notificação passar por
problemas. Estados reclama-
ram de instabilidade.
O ministério afirmou que a
plataforma IVIS, utilizada para
atualização dos casos de corona-
vírus no País, passava por mo-
dernizações técnicas e opera-
cionais – por isso, o atraso na
atualização.
O boletim aponta que foram
137 novos casos relatados em
apenas 24 horas, alta de 47% em
relação ao balanço do dia ante-
rior, que mostrava 291. Em nú-
meros absolutos, é o maior au-
mento observado até agora des-
de que o surto teve início.
Os casos suspeitos subiram
de 8,8 mil para 11,2 mil de um dia
para o outro. A quantidade de
casos descartados se manteve
em cerca de 1.800.
São Paulo continua sendo o
líder de casos, com 240 infec-
ções confirmadas. Rio e Distri-
to Federal aparecem em segui-
da no ranking, com 45 e 26 regis-
tros, respectivamente. Outros
14 Estados já registraram ao me-
nos um paciente contaminado
pelo novo coronavírus.
Dos 240 casos confirmados
em São Paulo, 214 foram regis-
trados na cidade de São Paulo.
Os municípios de São Caetano
do Sul e Santo André têm seis
casos cada uma. São Bernardo
registra três infecções. As se-
guintes cidades têm um caso ca-
da: Osasco, Ferraz de Vasconce-
los, Cotia, Barueri, Guarulhos,
Mauá, Santana de Parnaíba, São
José dos Campos, Campinas,
São José do Rio Preto e Jaguariú-
na. Com as confirmações nes-
ses últimos quatro municípios,
a secretaria registra pela primei-
ra vez casos da doença em muni-
cípios do interior paulista.
Três novas vítimas
têm o mesmo perfil
da primeira: idosos;
interior tem pela 1ª vez
registros confirmados
202 mil
pessoas foram infectadas em
todo o mundo, conforme dados
da Universidade Johns Hopkins.
8.008
mortes já foram reladas.
SP tem 3 novas mortes pela doença; óbitos no País vão a 4
lNúmeros
Novos kits podem oferecer resultados para a doença em até dez
minutos; ministro volta a se opor à OMS e defende menos análises
“Do ponto de vista
sanitário é um grande
desperdício.”
Luiz Henrique Mandetta
MINISTRO DA SAÚDE, SOBRE O USO DE
TESTES EM MASSA
lDesperdício
O Cristo Redentor recebeu às 20
horas desta quarta-feira a proje-
ção de mapas de continentes e
bandeiras dos mais de 150 países
com casos confirmados de corona-
vírus. Durante o ato, o arcebispo
do Rio, cardeal dom Orani Tem-
pesta, e o reitor do Santuário Cris-
to Redentor, padre Omar Raposo,
rezaram o pai-nosso.
O Cristo em uma
oração contra a
pandemia
WILTON JUNIOR/ESTADÃO
Hospitais adiam
cirurgias para
liberar leitos
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
José Maria Tomazela
SOROCABA
Hospitais e operadoras de planos
de saúde estão adiando cirurgias
e procedimentos não urgentes
para deixar os leitos hospitalares
livres para os prováveis pacien-
tes do coronavírus. De acordo
com a Federação dos Hospitais
do Estado de São Paulo (Fe-
hoesp), as instituições já suspen-
dem atendimentos ambulato-
riais e “reservam energias” para
prover a infraestrutura de capaci-
dade máxima para atender à de-
manda. Conforme a entidade, a
suspensão de cirurgias eletivas
atende à recomendação do Minis-
tério da Saúde. Os procedimen-
tos estão sendo remarcados.
De acordo com a Associação
Brasileira de Planos de Saúde
(Abramge), a situação do coro-
navírus no Brasil saiu da fase de
contenção (foco para evitar a
transmissão do vírus) e passou
para a fase de mitigação, quan-
do as ações e medidas têm o ob-
jetivo de evitar a ocorrência de
casos graves e óbitos.
Se o beneficiário do plano de
saúde tiver dúvida, a recomenda-
ção é de que, antes de se dirigir a
um pronto-socorro ou pronto
atendimento, entre em contato
com sua operadora. A Abramge
lembra que o exame de detecção
do coronavírus é coberto para to-
dos os beneficiários de planos
de saúde, sendo indicado somen-
te para casos graves que necessi-
tam de internação. Além dos hos-
pitais públicos, clínicas e hospi-
tais privados estão reduzindo a
visita a pacientes para prevenir a
disseminação do vírus.
O Conselho Regional de
Odontologia de São Paulo
(Crosp) recomendou ontem
aos profissionais de saúde bucal
que priorizem o atendimento
odontológico de urgência e
emergência, diante do aumento
de casos confirmados e registro
de mortes pelo coronavírus.
Hospitais denunciam preços abusivos. Pág. F4 }