O Estado de São Paulo (2020-03-19)

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A4 QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS


PARTICULARES.


ACM Neto,


prefeito de


Salvador


»Stop. “Devemos suspen-


der pautas que não sejam


prioritárias, especialmente


as que se chocam com me-


didas urgentes, como a


PEC Emergencial, que veda-
ria a contratação de tempo-

rários, novas linhas de fi-


nanciamento e subsídios”,


afirma Serra (PSDB-SP).


»Esqueça. “A reforma tri-


butária, com um cronogra-


ma de 45 dias que já era ine-


xequível, não pode ser dis-


cutida com este cenário.”


»Já está na hora. O sena-


dor pelo PSDB-SP apoiou a


aprovação do decreto de


calamidade como primeiro


passo para fortalecer o


SUS. Ele apresentou um


Projeto de Decreto Legisla-


tivo (PDL) nesse sentido


antes de o governo anun-


ciar o pedido ao Congresso.


»Porta. Serra é contra o


fechamento total das fron-


teiras. “Podemos usar nos-
sa pauta de alimentos essen-

ciais para barganhar melho-


res termos de troca para


medicamentos, suprimen-


tos médicos e outros insu-


mos básicos essenciais.”


»Tô fora. Apesar de Rodri-


go Maia ter dito publica-


mente que não participaria


da coletiva no Planalto por


causa das votações de proje-


tos na Câmara, aliados dele


disseram nos bastidores


que a ideia inicial do palá-


cio era de que ela ocorresse


no mesmo horário do pane-


laço contra o presidente


Jair Bolsonaro, à noite.


»Perigo. A avaliação é de


que o governo usaria o dis-


curso de que as manifesta-


ções seriam contra todas as
instituições, e não somente

contra o presidente. Houve


também o temor de que a


situação saísse de controle


caso houvesse uma indispo-


sição entre os chefes dos


Poderes. A Coluna não con-


seguiu falar com Maia.


»Idos de março. O primei-


ro panelaço relevante con-


tra Dilma Rousseff foi em 8


de março de 2015. É bom


Bolsonaro abrir o olho.


»Ouça-me. O ministro Tar-


císio Gomes entrou em


campo para tentar reverter


a decisão de sindicalistas


de paralisar as operações


no Porto de Santos por cau-


sa do coronavírus. Pediu


que, pelo menos, esperem
até a semana que vem.

»Alerta. A recomendação


do CNJ para que tribunais


e juízes avaliem revogar pri-


sões ou progredir regimes,


como prevenção ao corona-


vírus nos presídios, acen-


deu uma luz vermelha no


MPF e nos Estados.


»Alerta 2. O principal pro-


blema, na avaliação de


membros do MPF e secretá-


rios estaduais, é que a medi-


da é muito ampla e não se


sabe quantos presos pode-


riam se beneficiar. Nos Es-


tados, os gestores de segu-


rança temem “saidões”, e


dizem que nem sequer há


tornozeleiras eletrônicas.


»Ressaca. O prefeito de
Salvador, ACM Neto, tem

confessado a aliados o alí-


vio pelo surto do coronaví-


rus não ter ocorrido duran-


te o carnaval.


COM MARIANA HAUBERT E

MARIANNA HOLANDA.

E


x-ministro da Saúde e do Planejamento, José Serra


diz que, diante do coronavírus, é “imperativo” o


mundo “se coordenar fiscal e monetariamente”. “A


autonomia dos BCs mundiais já vinha sendo revista desde


2008 e está sendo posta em xeque por esta crise, que re-


quer ampla coordenação com a política fiscal. Não deve-


mos sequer voltar a discutir este tema antes de superá-la e


conhecermos o novo arranjo econômico”, disse à ‘Colu-


na’. “Na saúde, creio que só conseguiremos enfrentar essa


pandemia com um fortalecimento a curto prazo do SUS.”


Crise deve postergar


autonomia do BC, diz Serra


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Covid-19 atinge


primeiro chefe de


Poder. Pág. A


Davi Alcolumbre


O


presidente Jair Bolsonaro usou a primeira entrevis-


ta coletiva sobre a profunda crise do País e do mun-


do para fazer o que faz melhor: política, autopro-


moção, com meias-verdades em meio a algumas puras


mentiras. Enquanto os ministros falavam à população, Bol-


sonaro dirigia-se à tropa bolsonarista que teme perder.


Na questão central, sobre a liderança do chefe de Estado


e o exemplo que precisa dar à sociedade, o presidente vol-


tou a fingir que o grande problema de seu contato com ma-


nifestantes, no domingo, foi o risco de ele se contaminar.


O presidente também classificou manifestações como


“expressões da democracia” e aproveitou para convocar


apoiadores para fazer panelaço pró-governo e para praticar
seu esporte favorito: atacar e tentar desqualificar a mídia.

Depois de voltar a negar todas as evidências e dizer que


os vídeos de convocação da manifestação do dia 15 divulga-


dos pela colunista Vera Magalhães eram de 2015, o presi-


dente se esqueceu de que tornou a estimular o movimento


no sábado, 7/3. Jurou que nunca convocara manifestação


nenhuma, assim como jurou que nunca atacou o Congres-


so. Há um fosso entre a realidade e o que o presidente diz.


Bolsonaro reclamou que o brasileiro não tem cultura de


prevenção e pediu a todos para seguirem “os preceitos” do


Ministério da Saúde. Só que ele próprio nem previu ou preve-


niu coisa nenhuma, insistindo que o coronavírus era “fanta-


sia” e “histeria” da mídia, nem seguiu os “preceitos” das auto-


ridades de saúde ao sair do isolamento e colocar apoiadores


em risco. É a tal história: “faça o que eu digo, não faça o que


eu faço”. O presidente continua numa realidade paralela.


Jairo Nicolau


Presidente não


seguiu orientações


médicas em coletiva


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Entre meias-verdades


e puras mentiras


]


ANÁLISE: Eliane Cantanhêde


BOMBOU NAS REDES!


»CLICK. Para analistas,


os panelaços traduzem a


insatisfação de parte da


população com Jair Bol-


sonaro no combate ao


coronavírus: foram mais


intensos no Rio e em SP.


DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

BRASÍLIA


RIO


SÃO PAULO


Pelo segundo dia consecuti-


vo, o presidente Jair Bolsona-


ro foi ontem alvo de protes-
tos nas principais cidades do

País. Moradores de ao menos


22 capitais fizeram panelaços


contra o presidente. Marca-


dos inicialmente para as


20h30, os atos ocorreram ao


longo do dia, enquanto Bolso-


naro fazia aparições públicas


para falar sobre medidas de


combate ao coronavírus.


Desde o início da tarde, o pre-


sidente tentou neutralizar o


efeito do protesto contra seu go-


verno. Nas redes sociais e em


entrevista coletiva, Bolsonaro


divulgou a existência de outro


panelaço, às 21h e a favor do seu


governo. Houve registros de


mobilização pró-Planalto em


pelo menos oito capitais até a


conclusão desta edição.


Depois de passar dias minimi-


zando o impacto do coronaví-


rus, Bolsonaro tentou demons-
trar que está no comando do en-

frentamento da pandemia. Ao


lado de oito ministros, todos


usando máscaras brancas, o pre-


sidente afagou o Legislativo e o


Judiciário, disse que vê um mo-


mento de “grande gravidade”,


mas não admitiu ter errado


quando, no domingo, foi ao en-


contro de apoiadores que se


aglomeraram diante do Palácio


do Planalto. Sua participação


nos atos do dia 15 rendeu críti-


cas de políticos e médicos.


Auxiliares do Planalto disse-


ram que o saldo do dia foi negati-


vo. Os panelaços foram vistos


internamente como consequên-


cia de um “erro político” de Bol-


sonaro na condução da crise. A


avaliação é de que o presidente


demorou a reconhecer o proble-


ma e passou a impressão de que


foi contra o sentimento da
maioria da população.

Foram registrados panelaços


em São Paulo, Rio de Janeiro,


Brasília, Salvador, Vitória, Belo


Horizonte, Porto Alegre, Ma-


ceió, Natal, São Luís, João Pes-


soa, Fortaleza, Recife, Belém,


Florianópolis, Goiânia, Natal,


Aracaju, Teresina, Curitiba, Pal-


mas e Boa Vista.


Antes que as manifestações


ocorressem, Bolsonaro classifi-


cou o panelaço como um movi-


mento “espontâneo” e uma “ex-


pressão da democracia”. Lem-


brou que também haveria mani-


festação a favor do governo. Os


atos foram registrados em São


Paulo, Rio de Janeiro, Brasília,


Goiânia, Salvador, Belo Hori-


zonte, Florianópolis e Maceió.


“Qualquer movimento por par-


te da população, eu encaro co-


mo expressão da democracia”,


afirmou o presidente.
Embora tenha moderado o

discurso, Bolsonaro afirmou on-


tem que não descartava pegar


“um metrô lotado em São Pau-


lo” ou uma “barca no Rio de Ja-


neiro”, na travessia até Niterói,


para mostrar que está “ao lado


do povo.” O Ministério da Saú-


de recomenda, no entanto, que


as pessoas evitem aglomera-


ções para não se contaminar.


“Não é demagogia ou populis-


mo, (mas, sim) demonstração


de que estou ao lado do povo na


alegria e na tristeza”, afirmou.


A mudança de tom de Bolso-


naro também atende a interes-


ses políticos. Enquanto ele con-


tinuava insistindo que a pande-


mia tinha como o pano de fun-


do uma “luta pelo poder”, Alco-


lumbre e os presidentes da Câ-


mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),


e do Supremo Tribunal Federal


(STF), Dias Toffoli, se organiza-


ram para apresentar medidas.


Maia não compareceu a uma


reunião no fim da tarde, convo-


cada por Bolsonaro. “O presi-


dente nos convida para conver-


sar, queremos organizar a pau-


ta e com isso poder avançar no


diálogo objetivo que construa


soluções para os brasileiros.


Não é apenas uma pauta para


fotografia”, disse Maia. O único


presente ao encontro foi Toffo-
li, já que Alcolumbre está com

coronavírus (mais informações


na pág. A6).


Poder. Em meio à crise do co-


ronavírus, Bolsonaro assiste a


uma redução de apoio em sua


base política e nas redes sociais.


O comportamento do presiden-


te tem gerado críticas até entre


aliados do Palácio do Planalto.


Em caráter reservado, parla-


mentares da base governista


disseram que o presidente erra


ao minimizar o vírus e temem a


repercussão que isso pode ter


entre eleitores de direita. Parla-


mentares bolsonaristas ouvi-


dos pela reportagem revelaram


temor com o isolamento políti-


co do presidente.


Além disso, um estudo elabo-


rado pela Diretoria de Análise


de Políticas Públicas da Funda-


ção Getulio Vargas (DAPP-
FGV) mostra que, desde a últi-

ma quinta-feira, a base pró-Bol-


sonaro no Twitter perdeu meta-


de do espaço na rede no debate


sobre coronavírus. O grupo


que, no último dia 12, reunia


12% das interações, caiu para


6,5% até anteontem. Houve


também crescimento na partici-


pação de temas ligados a Maia e


Alcolumbre, com posiciona-


mentos em defesa de esforços


pragmáticos para a redução do


impacto futuro da pandemia no


Brasil. / JUSSARA SOARES, JULIA


LINDNER, ANDRÉ BORGES, DANIEL

WETERMAN, PAULA REVERBEL,

PEDRO VENCESLAU e TIAGO AGUIAR

Vinte e duas capitais têm


panelaço contra Bolsonaro


Infectado, general esteve com equipe ministerial. Pág. A6 }


“No Rio, os mesmos bairros que soltaram fogos na


vitória do segundo turno agora batem panelas. Acho


que já temos muitos fogueteiros arrependidos.”


Cientista político


lO “tira e põe” de máscaras pro-


tagonizado pelo presidente Jair


Bolsonaro e alguns ministros


ontem, durante a coletiva de im-


prensa, não está de acordo com


orientações médicas, afirmaram


infectologistas ouvidos pelo Esta-


do. Parte dos integrantes do go-


verno tirava a máscara quando ia


falar ao microfone. “Quando você


faz isso, permite, mesmo não tos-


sindo ou espirrando, que as se-


creções eliminadas na fala se


dispersem”, disse o infectologis-


ta André Giglio Bueno.


Em alguns momentos, o presi-


dente colocou a mão na super-


fície da máscara, atitude não re-


comendada pelos médicos. Ou-


tro problema, apontaram os espe-


cialistas, foi a pequena distância


entre os ministros. Segundo Pau-


lo Olzon, infectologista da Uni-
fesp, porém, a máscara é mais

um lembrete para não passar a


mão no rosto. / BIANCA GOMES


DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Apesar de fazer aceno a Congresso, presidente mantém tom político na condução da crise,


aparece com máscara em coletiva e diz não descartar pegar ‘metrô lotado em São Paulo’


Proteção. Presidente Jair Bolsonaro participou de duas entrevistas coletivas ontem; na primeira, levou ministros do governo

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