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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 19 DE MARÇO DE 2020 Política A
Felipe Frazão / BRASÍLIA
O embaixador da China no Bra-
sil, Yang Wanming, usou as re-
des sociais ontem para exigir re-
tratação do deputado Eduardo
Bolsonaro (PSL-SP), que mais
cedo postou mensagem em que
culpa o país pela pandemia do
novo coronavírus.
Wanming disse que o filho do
presidente Jair Bolsonaro “con-
traiu vírus mental” ao voltar de
Miami, feriu a relação amistosa
com o Brasil e “precisa assumir
todas as suas consequências”.
“Suas palavras são um insulto
maléfico contra a China e o po-
vo chinês”, disse o embaixador.
“Além disso, vão ferir a relação
amistosa China-Brasil.”
O embaixador publicou uma
sequência de mensagens de re-
púdio à atitude de Eduardo e
acionou o chanceler Ernesto
Araújo e o presidente da Câma-
ra, Rodrigo Maia (DEM-RJ). “A
parte chinesa repudia veemen-
temente as suas palavras, e exi-
ge que as retire imediatamente
e peça uma desculpa ao povo
chinês”, afirmou.
No Twitter, Eduardo republi-
cou a mensagem de outro usuá-
rio que escrevera: “A culpa pela
pandemia de coronavírus no
mundo tem nome e sobreno-
me. É do Partido Comunista
Chinês”. E ainda acrescentou
uma comparação com o desas-
tre nuclear de Chernobyl e dis-
se que o governo Xi Jinping, cha-
mado por ele de “ditadura”, es-
condeu a epidemia.
“Substitua a usina nuclear pe-
lo coronavírus e a ditadura so-
viética pela chinesa. Mais uma
vez uma ditadura preferiu es-
conder algo grave a expor, ten-
do desgaste, mas que salvaria
inúmeras vidas. A culpa é da Chi-
na e liberdade seria a solução”,
escreveu o deputado.
Eduardo Bolsonaro preside a
Comissão de Relações Exterio-
res e Defesa Nacional da Câma-
ra. O deputado é declaradamen-
te fã do presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, que ha-
via se referido ao coronavírus
como “vírus chinês”.
A China é o principal parceiro
comercial do Brasil e trava uma
disputa comercial com os Esta-
dos Unidos como principal po-
tência econômica global. A em-
baixada desqualificou os conhe-
cimentos deputado em política
externa. “Lamentavelmente,
você é uma pessoa sem visão in-
ternacional nem senso comum,
sem conhecer a China nem o
mundo. Aconselhamos que não
corra para ser o porta-voz dos
EUA no Brasil, sob a pena de tro-
peçar feio.”
Adriana Ferraz
O Estado começa a publicar a
partir do próximo domingo
uma série de pesquisas de inten-
ção de voto para a Prefeitura de
São Paulo feitas em parceria pe-
lo jornal, Ibope e Associação Co-
mercial de São Paulo. Serão pro-
duzidas e divulgadas seis enque-
tes mensais até o início da cam-
panha eleitoral, em agosto.
Serão testados no eleitorado
paulistano nove potenciais can-
didatos ao cargo de prefeito da
maior cidade da América Lati-
na, dona de um orçamento supe-
rior a R$ 68 bilhões. Os nomes,
no entanto, poderão mudar de
acordo com as alianças partidá-
rias formadas no período.
Até agora, já anunciaram dis-
posição em participar do pleito
o atual prefeito, Bruno Covas
(PSDB), o ex-governador Már-
cio França (PSB), a deputada fe-
deral Joice Hasselmann (PSL),
o deputado estadual Arthur do
Val (Patriota) e os ex-secretá-
rios municipais Andrea Mata-
razzo (PSD) e Filipe Sabará (No-
vo), além do candidato à Presi-
dência em 2018 pelo PSOL, Gui-
lherme Boulos.
No PT, a articulação é para
que o ex-prefeito e candidato
derrotado na disputa ao Planal-
to em 2018, Fernando Haddad,
aceite tentar retornar ao cargo
neste ano. Já o MDB vive a ex-
pectativa de lançar o apresenta-
dor de TV José Luiz Datena.
Além da preferência do elei-
torado, as pesquisas vão levan-
tar quais as principais deman-
das da população em relação
aos serviços públicos, como os
de saúde, educação, segurança
e mobilidade urbana.
Para o presidente da Associa-
ção Comercial de São Paulo, Al-
fredo Cotait, o prefeito atua co-
mo uma espécie de síndico da
cidade e, portanto, deve conhe-
cer bem os seus problemas e ter
competência para encaminhar
as soluções necessárias. “Dife-
rentemente da eleição de 2018,
marcada pelo ‘não’, essa tem
que ser a eleição do ‘sim’. Que-
remos escolher um candidato
qualificado para enfrentar os
problemas da cidade, que são
muitos.”
Outro objetivo das pesqui-
sas, de acordo com Cotait, é ava-
liar o desempenho dos pré-can-
didatos na fase anterior à cam-
panha. “Vamos poder acompa-
nhar a evolução desses cotados
à disputa. Quem entra, quem
sai e como chegam à eleição.”
Diretora-geral do Ibope,
Márcia Cavallari afirmou que
as pesquisas testarão nomes
que já se apresentaram como
pré-candidatos ou que repre-
sentam partidos com mais tra-
dição. Segundo ela, no caso do
PT, por exemplo, que deve pas-
sar por prévias para escolha do
candidato, a primeira pesquisa
trabalhou com o nome do ex-
secretário Jilmar Tatto. “Esta-
tísticas do próprio partido mos-
tram que ele tem mais chance
de ser o indicado, mas isso po-
de mudar se o cenário for outro
no mês que vem.”
O primeiro levantamento se-
rá resultado de entrevistas reali-
zadas entre anteontem e hoje
em todas as regiões de São Pau-
lo, com 1.001 pessoas.
Apoio. As pesquisas também
darão uma mostra da influên-
cia que os padrinhos políticos
poderão exercer neste ano. Fo-
ram incluídas nas entrevistas
perguntas sobre apoiadores
dos cotados para a disputa, co-
mo, por exemplo, o presiden-
te Jair Bolsonaro (sem parti-
do) e o governador João Doria
(PSDB). Após sair do PSL, Bol-
sonaro não declarou apoio for-
mal a nenhum nome. Já Doria
defende a reeleição de Covas.
Fernanda Boldrin
O modelo de mandato coleti-
vo, em que a cadeira parla-
mentar é assumida por um
grupo em vez de um indiví-
duo, inaugurado em 2016, ga-
nha adeptos para a corrida
eleitoral de outubro. Novas re-
gras levaram dirigentes parti-
dários, do PSOL ao DEM, a
abraçar a iniciativa, que ainda
não tem previsão legal, mas já
é debatida por políticos de di-
ferentes posições interessa-
dos em se lançar no pleito.
A partir deste ano, os parti-
dos não poderão mais se coli-
gar na disputa por cargos pro-
porcionais, como o de verea-
dor. Isso impede que legendas
peguem carona em “puxado-
res de voto” de outros parti-
dos, uma vez que a votação de
cada sigla será contabilizada in-
dividualmente.
A mudança abriu espaço para
maneiras alternativas de viabili-
zar nomes nas urnas, como as
candidaturas coletivas. Ao jun-
tar na mesma chapa pessoas
com bases de votação distintas,
o modelo condensa capital elei-
toral de candidatos de diferen-
tes territórios e perfis sociais.
Para a cientista política da
FGV-Brasília Graziella Testa, a
prática traz alguns riscos.
“Acho que o primeiro ponto é a
questão de quem vai ser cabeça
de chapa (candidato oficial), e o
segundo ponto é o risco de isso
ser uma maneira de burlar a
quantidade de verba eleitoral
que obrigatoriamente iria para
mulheres. Se essas mulheres
têm outros homens dentro de
sua chapa, temos que pensar se
o espírito da norma está sendo
cumprido”, afirmou.
A primeira experiência reco-
nhecida no Brasil foi o mandato
coletivo de Alto Paraíso de Goi-
ás. O grupo de cinco covereado-
res, que se diz “ecofederalista”
e antipartidário, foi eleito em
2016 pelo PTN, atual Podemos.
O formato também foi utiliza-
do nas eleições de 2018 para al-
çar ativistas a cadeiras do Legis-
lativo estadual.
O movimento Bancada Ati-
vista se elegeu para a Assem-
bleia Legislativa do Estado de
São Paulo (Alesp) e o movimen-
to Juntas conquistou uma cadei-
ra na Assembleia Legislativa de
Pernambuco (Alepe).
Agora, esses grupos têm re-
cebido ligações de pessoas inte-
ressadas em replicar o modelo,
sobretudo no interior. O Jun-
tas está organizando uma carti-
lha para explicar como a estru-
tura funciona. “Essa coletivida-
de se dá nos processos de toma-
da de decisão, na divisão de res-
ponsabilidades, na equivalên-
cia dos salários e na representa-
ção”, diz a cartilha.
Informal. A prática, no entan-
to, ainda não é regulamentada
pela Justiça Eleitoral. Embora
na campanha seja anunciado
um coletivo, na hora da votação
só aparece a foto de uma pessoa
nas urnas – o candidato oficial,
que, se eleito, é quem pode vo-
tar em projetos, falar em plená-
rio e ser remunerado pelo car-
go. Além disso, nenhum disposi-
tivo legal garante que o manda-
tário siga a estrutura coletiva
prometida.
“Todo dia a gente acorda e
reza para que a Monica não te-
nha mudado de ideia. O man-
dato é dela. Se ela quiser nos
demitir a todos, ela pode”, dis-
se a codeputada Raquel Mar-
ques, da Bancada Ativista, em
tom de brincadeira.
Na visão de Raquel, há dois
grupos de candidaturas coleti-
vas ganhando força. “Tem o de
pessoas que se encontram na lu-
ta, na sociedade, e acham que
entrar na política é uma boa.
Tem também os organizados
pelos partidos, com casamento
arranjado entre pessoas de mé-
dio perfil para torná-los poten-
tes nas eleições”, afirmou ela.
Se na origem o modelo de
mandato coletivo era prerroga-
tiva da esquerda, agora a prática
se espalha no espectro ideológi-
co. No Recife, a candidatura de
cinco líderes populares da co-
munidade de Coque será acolhi-
da pelo DEM.
A iniciativa surgiu dos mili-
tantes. “Nos procuraram e nós
abrigamos eles como filiados”,
afirmou o presidente do diretó-
rio do DEM de Pernambuco,
Mendonça Filho. “Com o fim
das coligações, a elegibilidade
de um candidato se torna mais
complexa. Precisa de mais vo-
tos e preencher o quociente
eleitoral. Juntar forças torna
mais factível atingir a meta”,
disse ele.
Em resolução da Executiva
Nacional, o PT também incenti-
va a prática. “Disputaremos a
eleição para vereadores e verea-
doras sem a possibilidade de co-
ligações proporcionais. Isso de-
mandará maior esforço e criati-
vidade do nosso partido, o que
inclui debater os mandatos cole-
tivos, rodízios com suplentes e
outras formas alternativas para
incentivar o maior número de
candidaturas”, diz o texto.
A legenda já conta com uma
pré-candidatura coletiva de
professores em Valinhos (SP) e
com outra em Porto Alegre, or-
ganizada por cinco jovens. Ca-
da um deles é de uma zona da
cidade – são duas mulheres e
três homens, entre os quais
dois são negros e três são da pe-
riferia.
Mulheres. O PSOL também já
abriga pré-candidaturas coleti-
vas em São Paulo e em Manaus,
e a Rede tem discutido o tema
internamente. Em Maceió, a de-
putada estadual Jó Pereira
(MDB) organiza a promoção do
modelo para potencializar a pre-
sença de mulheres no pleito.
Filiada ao Novo, a médica Ro-
berta Grabert está no processo
seletivo da legenda para dispu-
tar a vereança. Ela diz que “ama-
ria” lançar uma candidatura co-
letiva, mas sua sigla não encam-
pa a ideia. O Estado procurou
todos os partidos com represen-
tação no Congresso para falar
sobre o tema. Dos treze que re-
tornaram, o Novo foi o único
que se colocou contra o forma-
to. “O Novo não terá (candidatu-
ras coletivas) e não acredita nes-
te modelo”, afirmou a assesso-
ria do partido.
Embaixada da China rebate Eduardo sobre coronavírus
‘Estado’ divulga série
de pesquisas sobre
disputa à Prefeitura
lCritérios
PANDEMIA DO
CORONAVÍRUS
GABRIELA BILO / ESTADÃO - 17/12/
Postagem. Eduardo Bolsonaro culpou China por pandemia
l ‘Evolução’
“Vamos poder acompanhar
a evolução desses cotados
à disputa pela Prefeitura.
Quem entra, quem sai
e como chegam à
eleição.”
Alfredo Cotait
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO
COMERCIAL DE SÃO PAULO
Levantamentos feitos em
parceria pelo jornal, Ibope
e Associação Comercial
de SP serão publicados
a partir de domingo
Mandato coletivo
ganha adeptos do
PSOL ao DEM
Proposta, que ainda não tem regulamentação da Justiça Eleitoral,
passa a ser considerada como alternativa para o fim das coligações
CARLOS EZEQUIEL VANNONI / ESTADÃO - 2/03/
“O primeiro ponto é a
questão de quem vai ser
cabeça de chapa
(candidato oficial),
e o segundo é o risco de
isso ser a maneira de burlar
a verba eleitoral que
obrigatoriamente iria
para mulheres. Se essas
mulheres têm outros
homens na chapa, temos
que pensar se o espírito
da norma está sendo
cumprido.”
Graziella Testa
CIENTISTA POLÍTICA
Novidade. Parlamentares do movimento Juntas, que conquistou vaga na Assembleia Legislativa de Pernambuco em 2018; modelo pode ser replicado