O Estado de São Paulo (2020-03-20)

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A10 Política SEXTA-FEIRA, 20 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Camila Turtelli
Patrik Camporez / BRASÍLIA


Mesmo com o Congresso es-
vaziado para evitar a propaga-
ção do novo coronavírus, de-
putados já apresentaram ao
menos 70 projetos de lei rela-
cionados à pandemia desde o
registro do primeiro caso no
País, no fim de fevereiro. A
maior parte deles, 47, é forma-
da por medidas para garantir
a saúde financeira de empre-
sas e trabalhadores, enquan-
to 19 propostas são para desti-
nar mais recursos ou ampliar
o atendimento a doentes. Há
ainda quatro proposições
que criminalizam condutas
durante a situação de crise,
como a que prevê prisão de
até oito meses para quem fin-
gir ter a doença.

Em reunião com líderes no co-
meço da semana, o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM-
RJ), definiu que os deputados só
vão votar propostas relaciona-
dos à saúde, economia e prote-
ção social durante o período críti-
co da epidemia. Qualquer assun-
to fora disso ficará para depois. A
determinação provocou uma
corrida de novos projetos.
A preocupação do deputado
Diego Andrade (PSD-MG), por
exemplo, foi aliviar as contas de
empresas de transporte de car-
gas. Ele propõe isentar o setor
da contribuição previdência so-
bre a folha de pagamento e subs-
tituí-la por uma alíquota menor
que incidiria sobre a receita bru-
ta de cada empresa.
“O Brasil é dependente do
transporte rodoviário de car-
gas. Para se ter uma ideia, nos
últimos oito anos é quase um
milhão de novos caminhões li-
cenciados em todo o País”, dis-
se Andrade, sobrinho do ex-pre-
sidente da Confederação Nacio-
nal dos Transportes (CNT),
Clésio Andrade.
Dar um refresco nos cofres de
empresários também é a inten-
ção do deputado Helder Salo-
mão (PT-ES). O petista sugere
isentar micro e pequenas empre-
sas de pagar impostos sempre
que houver situação de emer-


gência sanitária, como a atual. A
proposta vai além da medida
anunciada nesta semana pela
equipe ministro da Economia,
Paulo Guedes, que prevê sus-
pender as cobranças por três
meses, mas com a obrigação do
empresário quitar o valor retroa-
tivo após este período.
Entre os projetos apresenta-
dos até agora, alguns se repe-
tem. Seis deles são para garantir

o fornecimento de água e luz
mesmo para quem deixar de pa-
gar suas contas neste período e
para pessoas em situação vulne-
rável. Em São Paulo, o governa-
dor João Doria (PSDB) já anun-
ciou medida similar, com a sus-
pensão da cobrança de água pa-
ra a população de baixa renda.
Nas propostas voltadas dire-
tamente à saúde, ao menos dois
projetos destinam os R$ 2 bi-
lhões reservados para as campa-
nhas eleitorais para ações de
combate ao coronavírus. O va-
lor está previsto no Orçamento
para financiar gastos de candi-
datos com viagens, cabos eleito-
rais e material de divulgação.
“Não podemos admitir que o
Brasil caminhe na contramão
do combate à pandemia do coro-
navírus com um gasto no fundo

eleitoral”, afirmou o deputado
Sanderson (PSL-RS).

Prisão. A criminalização de
condutas que, no entendimen-
to dos deputados, dificultam o
combate à pandemia também
viraram projetos. O deputado
Tiago Dimas (Solidariedade-
TO) quer prisão de até oito me-
ses para quem fingir ter a doen-
ça. “Me incomoda muito a ação
dos oportunistas que espalham
situação falsa. Já tem alguns ca-
sos ocorrendo no Brasil e enten-
do que a nossa legislação tem
que ter mecanismo para punir
essas pessoas”, disse.
Na mesma linha, a líder do
PSL, Joice Hasselmann (SP),
tenta aumentar a pena de quem
cometer qualquer infração sani-
tária. “Apresentei um projeto

de lei para penas mais duras a
quem desrespeitar ordens de
cuidado sanitário em tempos
de pandemia. Já coletei assina-
turas para requerimento de ur-
gência”, afirmou Joice.
A proposta foi apresentada
quatro dias antes de Bolsonaro
ignorar orientações médicas pa-
ra ficar em isolamento e partici-
par de manifestações, no domin-
go. Ele havia tido contato com
pessoas infectadas com o vírus,
em recente viagem aos Estados
Unidos, e precisou realizar exa-
mes para saber se fora contami-
nado. Segundo Bolsonaro, dois
testes deram negativo. “O presi-
dente estaria enquadrado se a
proposta já estivesse aprova-
da”, disse Joice, que já foi líder
do governo e rompeu com Bol-
sonaro, no ano passado.

Deputado é investigado


na Lava Jato sob


suspeita de favorecer


negócios da Odebrecht
e da Andrade Gutierrez


LEOPOLDO SILVA/AGÊNCIA SENADO

Luiz Vassallo


Em relatório, a Polícia Federal
(PF) afirmou que o deputado
Aécio Neves (PSDB-MG) rece-
beu R$ 65 milhões em propina
das construtoras Odebrecht e
Andrade Gutierrez, entre 2008
e 2011, “sendo parte relevante
desta quantia fora do período
eleitoral”. No documento, en-
tregue ao relator da Operação
Lava Jato no Supremo Tribunal
Federal (STF), ministro Edson
Fachin, o delegado Bernardo


Guidali menciona crimes de
corrupção passiva e de lavagem
de dinheiro.
A partir desse documento so-
bre as investigações, cabe à Pro-
curadoria-Geral da República
decidir se denuncia Aécio ou se
envia os autos à primeira instân-
cia, pois os fatos são anteriores
ao atual mandato do deputado.
Também foi atribuído crime de
lavagem de dinheiro ao ex-dire-
tor de Furnas Dimas Toledo e
ao empresário Alexandre Ac-

cioly, apontados como supos-
tos intermediários da propina.
De acordo com a PF, os paga-
mentos foram uma “contrapar-
tida pela influência sobre o anda-
mento dos negócios da área de
energia desenvolvidos em par-
ceria pelas construtoras, nota-
damente sobre a Cemig, compa-
nhia controlada pelo governo
de Minas Gerais, e Furnas, subsi-
diária da Eletrobrás”. Entre es-
ses negócios estão “os projetos
do Rio Madeira, como as Usinas
Hidrelétricas de Santo Antônio
e Jirau, em Rondônia”. Aécio foi
governador de Minas de janeiro
de 2003 a março de 2010.

Valores. A PF afirma que, da
Odebrecht, Aécio recebeu R$
30 milhões, sendo R$ 28,2 mi-
lhões em espécie. Outra parte

teria sido paga por meio de con-
tas de empresas offshores no ex-
terior. Já a Andrade Gutierrez,
conforme o relatório, repassou

ao tucano R$ 35 milhões, por
meio de investimentos em hol-
ding que tem Accioly como só-
cio-proprietário.

Paulo Roberto Netto


A Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça (STJ) ne-
gou recursos apresentados pe-
las defesas de dois empresários
condenados a indenizar as famí-
lias que viviam em imóveis atin-
gidos pelo acidente aéreo que
matou o ex-governador de Per-
nambuco Eduardo Campos du-
rante a campanha presidencial
de 2014. A queda da aeronave,
no dia 13 de agosto, atingiu edifí-
cios residenciais do bairro do


Boqueirão, em Santos (SP).
Os condenados, João Carlos
Lyra e Apolo Santana Vieira,
eram da empresa responsável
pelo jatinho que conduzia Cam-
pos. De acordo com o STJ, os
dois empresários não apresen-
taram argumentos suficientes
para negar a propriedade ou ex-
ploração da aeronave, o que po-
deria impedir a responsabiliza-
ção da empresa pelos prejuízos
causados pelo acidente.
O Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJ-SP) condenou os em-

presários, em segunda instân-
cia, ao pagamento de R$ 113 mil
em indenizações por danos ma-
teriais a quatro proprietários de
um dos imóveis atingidos, além
de outra indenização, de R$ 10
mil, a cada um, a título de repara-
ção por danos morais. Esse últi-
mo valor foi reduzido para R$ 5
mil pelo STJ.
Na decisão, a relatora do ca-
so, ministra Nancy Andrighi,
afirmou que os empresários
eram, ao menos, exploradores
do jatinho – o que já justificaria,
segundo ela, sua responsabilida-
de segundo o Código Brasileiro
da Aeronáutica.
Explorador é o termo usado
para a empresa ou pessoa física
que detém licença de conces-

são de serviço aéreo. De acor-
do com a lei, mesmo sem ser
o proprietário do jatinho, o
explorador também tem res-
ponsabilidade sobre qual-
quer dano ocasionado por
acidentes.
A ministra destacou que a
eventual revisão da decisão
da Justiça paulista exigiria
reexame de provas, vedada
pelo STJ.
Acompanharam a relatora,
de forma unânime, os minis-
tros Paulo de Tarso Sanseve-
rino, Ricardo Villas Bôas Cue-
va, Marco Aurélio Bellizze e
Moura Ribeiro.
A reportagem não conse-
guiu contato ontem com as
defesas dos empresários.

Justiça nega


domiciliar a


Sérgio Cabral


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Indenização a atingidos por


avião de Campos é mantida


l Justificativa ÁREAS

De 70 propostas para combater coronavírus, 47 são para manter saúde financeira de companhias e 19 para ampliar atendimento médico


O ex-governador do Rio Sérgio
Cabral (MDB) usou a crise do co-
ronavírus como argumento pa-
ra pedir à Justiça sua transferên-
cia para prisão domiciliar. On-
tem, o juiz federal Fábio Souza,
do Tribunal Regional Federal da
2.ª Região, negou a solicitação.
A defesa apontava que o ex-
governador segue preso há
mais de três anos, mesmo de-
monstrando “comportamento
exemplar na cadeia” e tendo fir-
mado acordo de delação com a

Polícia Federal. E afirmou que a
crise causada pelo coronavírus
será “de grandes proporções” e
que não há “presídio compatí-
vel com a condição pessoal”.
O magistrado entendeu que
ainda não há dados concretos
sobre a disseminação do vírus
nas unidades prisionais do Rio,
em especial naquela em que Ca-
bral está custodiado, Bangu 8.
Além disso, afirmou o juiz, “ain-
da continuam presentes os pres-
supostos em que foi baseado o
decreto de prisão preventiva”.
A decisão foi proferida durante
o plantão do Judiciário.
O ex-governador do Rio foi
condenado em diversos inquéri-
tos e acumula penas que che-
gam a 282 anos de prisão.

Sistema de saúde da Venezuela pode entrar em colapso com coronavírus. Pág. A12 }


l Defensor de Aécio Neves, o
criminalista Alberto Zacharias
Toron afirmou que as conclusões
do relatório da PF são “absur-
das”. Segundo ele, a obra investi-
gada “era de responsabilidade
do governo federal, ao qual o en-
tão governador fazia oposição, e
foi realizada em Rondônia, sem
qualquer relação com o governo
de Minas”. “As fantasiosas con-
clusões são baseadas em dela-
ções espúrias”, disse Toron.
A defesa de Alexandre Accioly
disse que “provará cabalmente
ao Ministério Público e ao Poder
Judiciário que Accioly nunca in-
correu em qualquer prática ilíci-
ta.” A defesa de Dimas Toledo
não foi localizada. Odebrecht e
Andrade Gutierrez, cujos executi-
vos fizeram delação, disseram
colaborar com a investigação.

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 10/7/

Aécio recebeu R$ 65 milhões em


propina de construtoras, diz PF


Defesa. Advogado de Aécio diz que acusação é ‘fantasiosa’

“Não podemos admitir
que o Brasil caminhe
na contramão do combate
à pandemia do
coronavírus”
Sanderson (PSL-RS)
Deputado federal

Câmara foca em projetos para empresas


l Economia
De 70 projetos relacionados ao
coronavírus apresentados na Câ-
mara, 47 são da área econômica,
o que representa 67% do total.

l Saúde
No setor da saúde, os deputados
federais já apresentaram 19 pro-
jetos de lei vinculados à pande-
mia (27% do total).

l Criminal
Até ontem, quatro projetos (6%
do total) da área criminal haviam
sido propostos pelos deputados
na esteira do avanço do coronaví-
rus no País.

NA WEB


Documento.
Leia o relatório
da Polícia Federal

estadao.com.br/e/pfaecio
6

Defesa afirma que


relatório é ‘absurdo’


Senado


testa


votação


remota


Para evitar a
presença “físi-
ca” de senado-
res nas ses-
sões, a Casa
testa aplicativo
que permite a
votação remo-
ta (por celular)
de projetos.
Uma sessão
com o uso do
aplicativo, hoje,
será presidida
por Antonio
Anastasia
(PSD-MG).
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