O Estado de São Paulo (2020-03-20)

(Antfer) #1

SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


2.

ACHADOS


NA NOITE...


CORONAVÍRUS


“Namastêee!”, diz o empresá-
rio cultural Fábio Porchat
(sim, o pai do humorista) ao
cumprimentar, com um toque
de cotovelo, o galerista Ricardo
Camargo. A cena, que aconte-
ceu na noite de quarta-feira –
enquanto a maioria da cidade
quarentena –, se repetiu algu-
mas vezes, com variações de
gestos, nunca tocando as
mãos. Foi na abertura da exposi-
ção Coleção de Um Artista.

“Desde que a gente se proteja,
está tudo bem. Não dá pra en-
trar no clima de pânico, tá to-
do mundo muito em pânico.
Tá um saco ligar a televisão.
Convite eu mandei pra mais de
mil pessoas, mas sei que pouca
gente vem. E você vê, tem
música tocando porque na gale-

ria sempre tem música ambien-
te, mas não é porque eu quero
fazer festa! Ninguém vai desres-
peitar nenhuma lei, óbvio. Mas
minha escola é essa, de receber
pessoas”, dizia Ricardo, que, se
não houver proibição, preten-
de deixar a exposição aberta
até dia 9 de abril.

De fato, o clima não era de fes-
ta – apesar das belas obras em
exposição, como trabalhos de
Mira Schendel e Alfredo Volpi,
pertencentes ao acervo do ar-
tista plástico Tuneu. Na entra-
da, em cima de uma mesa,
eram mantidos um grande fras-
co de álcool gel e um punhado
de máscaras – dispensadas pe-
los poucos convidados. Diferen-
temente dos seguranças e dos
garçons, que circulavam todos
de máscaras enquanto serviam
uísque, vinho e pedaços de piz-
za cortados em bandejas.

“Eu pensei: vou chegar e sair,
mas estou aqui até agora!”, di-

zia a jornalista Vanda Furlanet-
to, uma das convidadas, entre
uma taça de vinho e outra.
“Também estou aflita de só ter
que ficar em casa e gosto mui-
to de arte! Amor, eu estou nas
mãos de Deus”.

Para o artista plástico Guilher-
me Werneck, companheiro de
Tuneu, o brasileiro é um povo
vaidoso e ainda se sente cons-
trangido de usar máscaras. Ele e
Tuneu – que colocaram as más-
caras só para o clique acima –
se dividem entre São Paulo e a
cidade de Pariquera-açu, no Va-
le do Ribeira, e estavam na dúvi-
da se viriam à abertura ou não,
mas foram convencidos por
uma mensagem do galerista.
“Ele disse que manteria a aber-
tura e seria o único galerista a
fazer isso. Achei a ousadia legal,
foi um turning point. É um pe-
ríodo difícil, mas depois dessa
destruição, tenho certeza que
vai vir coisa boa. Precisamos
rever valores”. /MARCELA PAES

Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]
Sofia Patsch [email protected]

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4.

Aula no sofá


O telefone de Francisco Cam-
pera , diretor da Fundação Ro-
quette Pinto, não para. Motivo?
A TV Escola está abrindo toda
sua estrutura para tentar aten-
der estados e municípios cujas
escolas estão fechadas. Ontem,
ele enviou ofício ao ministro
Abraham Weintraub , com
quem pode ter uma conversa
nos próximos dias.

O carro chefe é o programa Ho-
ra do Enem , com videoaulas de
todas as matérias. A TV tem
mais de 200 horas de conteúdo
inédito e a equipe já começou a
pedir que prefeituras enviem ví-
deos para a triagem e posterior
reprodução. Um facilitador é
que a TV Escola, além do canal
aberto, pode ser acessada tam-
bém pelo Facebook e Youtube.
Dois dos maiores entusiastas
do canal público são Regina
Duarte e Carlos Vereza.

Haja paciência


Novo golpe de WhatsApp circu-
la em SP e no Rio, usando o co-
ronavírus como mote. Bandi-
dos enviam mensagem aos
usuários do app e oferecem
atendimento em domicílio de
alguns hospitais para fazer tes-
te da doença. Depois, marcam
hora para assaltar a casa dos
“pacientes”.

1.

WI

LTON JUN

IOR/ESTADÃO

FOTOS DENISE ANDRADE/ESTADÃO

3.


  1. Patricia Lee – na
    foto com Ricardo
    Camargo – que abriu
    sua galeria para a
    exposição Coleção de
    Um Artista.
    2. Guilher-
    me Werneck e Anto-
    nio Carlos Tuneu. 3.
    Fabio Porchat. 4. Van-
    dinha Furlaneto. 5.
    Claudio Tozzi. Anteon-
    tem, nos Jardins.


5.

Gap de crédito...


O pacote de medidas anun-
ciadas essa semana começa a
endereçar o problema econô-
mico gerado pelo coronaví-
rus. “O governo não precisa
estourar teto de gastos, não é
isso. É pegar o dinheiro que
ele tiver para comprar o teste
do vírus, abrir mais espaços
nas UTIs e ajudar quem tiver
morrendo de fome”. Segun-
do o respeitado economista
Affonso Celso Pastore, tam-
bém estão no caminho certo
as ações que os bancos cen-
trais no mundo estão toman-
do para evitar um ‘crunch’ de
crédito.

“Quando empresas param
de vender, param de funcio-
nar, continuam a ter que pa-
gar dívidas. Tem que se im-
plementar um modo de rolar
esse tipo de inadimplência”.

Crédito 2


Mesmo renegociando dívi-
das, facilitando crédito, a re-
cessão virá forte no mundo in-
teiro, segundo o ex-presiden-
te do BC. “Não há o que fazer
contra isso: você só pode mi-
nimizar esse efeito, mas não
tem como impedi-lo”.

“O gap de crédito não me pare-
ce tão grande, existe sim falta
de capital de giro”. Mais para
frente, vê uma crise de oferta?
“A oferta já parou. Isso come-
çou com um choque de oferta,
porque você tinha o mundo in-
tegrado em cadeias de supri-
mento e cadeia é como uma
corrente, quando você quebra
um elo, ela para de funcionar”,
explica Pastore.

Oferta


A indústria no mundo estava
integrada em cadeias globais
de suprimento e quando a
China parou, ela parou toda
a indústria. “Esse foi o cho-
que inicial de oferta. O fato,
somado às reações das pes-
soas de quarentena, gera pro-
pagação do choque de ofer-
ta. A consequência é a queda
de demanda”.

Oferta 2


Por outro lado, “não adianta
hoje baixar os juros para aque-
cer a demanda. As pessoas não
vão sair consumindo mais por
causa disso” Para o economis-
ta, o somatório de fatos acaba
paralisando oferta e demanda.
“Em situações assim, ações
típicas de banco central como
a de reduzir juros, etc... têm efi-
cácia muito limitada.

“A melhor forma de fazer com
que as pessoas se defendam de
uma crise inédita é passar toda
informação possível sobre a
gravidade do problema”.

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C2 Caderno 2 SEXTA-FEIRA, 20 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO

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