O Estado de São Paulo (2020-03-20)

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A2 Espaçoaberto SEXTA-FEIRA, 20 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Toshiya Fujita deseja apenas
que alguém tome uma decisão
já. Fujita, diretor de uma ataca-
dista de artigos de couro em
Tóquio, quer saber quantos
chaveiros olímpicos deve en-
comendar. Como centenas de
gerentes de empresas no Ja-
pão, ele está sem saber se vão
ou não autorizar a realização


da Olimpíada mesmo com a
pandemia da covid-19. Atle-
tas, especialistas e pessoas co-
muns no Japão estão convenci-
dos de que os Jogos não de-
vem ser realizados. Mas os or-
ganizadores e o COI insistem
que o show tem de continuar.

http://www.estadao.com.br/e/olimpiada

N


ão é fácil escrever arti-
gos em tempos de pan-
demia. Os fatos são di-
nâmicos e nos ultrapassam.
Eles são graves e tornam irre-
levantes os nossos critérios de
importância.
Romances como A Peste , de
Camus, apesar de escrito em
1947, conseguem tratar de te-
mas universais como solidarie-
dade e sentimentos mesqui-
nhos envoltos na condição hu-
mana. Era interessante e até ri-
sível a velha tese da teoria do
caos: tudo no universo está in-
terligado e o bater de asas de
uma borboleta altera o mundo.
Se se substituir a borboleta por
um morcego que acabou comi-
do por um pingolim, por sua
vez comido por um homem,
foi um bater de asas que não só
alterou o mundo, mas o fez de
forma profunda e definitiva.
Quem diria que somos tão
frágeis e toda a arrogância da ci-
vilização humana não é mais
que ilusão passageira. Não há
tanto espaço para lamenta-
ções. É preciso definir o que im-
porta. Claro que o fato de o pre-
sidente da República ser um ig-
norante tem um peso. Isso será
resolvido a seu tempo. No mo-
mento é preciso esquecê-lo em
nome do essencial: que fazer?
As fronteiras estão se fechan-
do na Europa e na América La-
tina. Vamos fechar as nossas?
Todos os casos vieram da Eu-
ropa e dos EUA. Algumas fron-
teiras que conheço são bastan-
te porosas. Mesmo fechando-
as, vai passar muita gente.
A primeira é a fronteira com
a Venezuela, em Pacaraima. O
sistema de saúde bolivariano
entrou em colapso há muito
tempo. Com isso tensiona a Co-
lômbia e o Brasil. Roraima está
no limite. Quando vejo cente-
nas de pessoas atravessando a
fronteira colombiana usando
máscaras, imagino que muitos
virão também para o Brasil.
A Venezuela ainda não foi
atingida seriamente pelo coro-
navírus. Mas o simples aumen-
to do fluxo, neste momento,
merece atenção especial. An-
tes da Operação Acolhida e da
organização de abrigos, as con-
dições sanitárias nas ruas de

Pacaraima eram preocupan-
tes. Mesmo com abrigos, ain-
da havia muita gente na rua.
Outra fronteira porosa é
com a Guiana Francesa. É fácil
atravessar o Rio Oiapoque. Os
franceses já fecharam o comér-
cio. Que tipo de controle o la-
do brasileiro pode instalar? São
regiões distantes e o vírus ain-
da não apareceu com força por
lá. Há tempo de preparação.
O coronavírus precipitou
um movimento que já era irre-
versível: a passagem para o vir-
tual. O ministro Mandetta
afirmou que iria usar a teleme-
dicina. Isso é essencial até na
vida cotidiana dos brasileiros.
Em tempo de pandemia, en-
tretanto, abrem-se muito
mais possibilidades do que
simples contato virtual entre
médico e paciente.
No Brasil há 235 milhões de
smartphones em uso. Sua exis-

tência abre inúmeras oportuni-
dades criativas. Na China e na
Coreia do Sul os aplicativos
monitoram a temperatura dos
usuários. Em Israel os pacien-
tes em casa também estão sen-
do monitorados.
O complexo processo de va-
cinação anual contra a gripe po-
deria ser feito com mais segu-
rança com o uso de aplicativos.
Seria mais fácil saber os pontos
de vacinação, farmácias incluí-
das, e até sua disponibilidade
momentânea, isto é, o número
de pessoas na fila. Apesar dos
transtornos das fake news , do
distanciamento físico das pes-
soas, o mundo virtual oferece
muitas possibilidades de ajuda.
Naturalmente, o governo – a
parte do governo que conside-
ra o coronavírus um problema


  • busca saídas. Mas o poten-
    cial criativo da sociedade nes-
    se campo é muito maior. Co-
    mo canalizá-lo e extrair suas
    possibilidades é tarefa a ser
    pensada. No momento, o po-
    tencial está concentrado em
    convencer as pessoas de que


estamos diante de uma situa-
ção muito séria. Isso está sen-
do feito também pela impren-
sa séria e pelos cientistas que
aparecem nela.
Outra questão, que deveria
interessar à esquerda, é a desi-
gualdade de riscos. Nem todos
podem isolar-se. Nem todos
podem lavar as mãos. Já men-
cionei o problema do sanea-
mento em artigo aqui, no Esta-
dão , que procurava pensar
além do coronavírus. Não há
tempo para resolver o proble-
ma do saneamento em médio
prazo, quanto mais no auge de
uma crise. Mas parte do dinhei-
ro que se vai gastar deveria ser
usada para garantir água limpa
às comunidades que não a
têm. E álcool gel gratuito.
Da mesma forma, enquanto
o transporte de massas estiver
funcionando será necessário
um debate sobre a redução dos
riscos entre os usuários. Novos
horários, aumento de frequên-
cia da limpeza, limitação do nú-
mero de passageiros, distribui-
ção de álcool gel, há um longo
caminho para reduzir os riscos
dos que precisam trabalhar.
Aliás, a discussão sobre o
emprego do dinheiro de ajuda
do governo deveria ser mais
ampla. Em quase todos os paí-
ses há um destaque para ajuda
às pequenas empresas. Nos
EUA prevê-se um cheque de
mil dólares para cada pessoa.
Em vez de estarem discutin-
do se o dinheiro do Orçamen-
to vai para o governo ou para o
Congresso, o único tema possí-
vel hoje é admitir que ele deve
ser todo dirigido ao combate
ao coronavírus e como será dis-
tribuída a parte destinada a
atenuar os efeitos negativos
na economia.
O mundo político brasileiro
está diante de um grande desa-
fio. Não importa a plataforma
em que se vai mover, o funda-
mental é que tente dar respos-
tas. Incluída a única pergunta
sensata que Bolsonaro conse-
guiu formular em toda esta cri-
se: como amparar os trabalha-
dores informais.

]
JORNALISTA

Coronavírus também vai
fazer com que o Ceará flexi-
bilize o bafômetro.

http://www.estadao.com.br/e/detran

OLIMPÍADA


Os Jogos de Tóquio vão acontecer?


Fornecedora oficial da F
vai descartar pneus que se-
riam utilizados no GP da
Austrália, que foi cancelado
por causa do coronavírus.

http://www.estadao.com.br/e/f

l“Eduardo mostrando que o clã presidencial está mais preocupado em
atiçar um punhado de fanáticos do que proteger a vida dos brasileiros.”
JEFERSON NASCIMENTO

l“Existe uma diferença enorme entre falar com seus amigos o que
acha ser verdade e postar em redes sociais como se fosse a verdade.”
JOICE FERNANDES

l“A China continua cerceando a liberdade de informação, expulsan-
do jornalistas estrangeiros e censurando redes sociais.”
VICENTE ALMEIDA

l“A China é um dos grandes parceiros comerciais do Brasil, um Esta-
do fundamental para a economia mundial, uma cultura milenar.”
MAURÍCIO BENEDITO

COMENTÁRIOS


CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Novo conceito proposto pe-
los clubes de futebol da Es-
panha pretende tornar as
sessões de treinamento
mais eficientes.

http://www.estadao.com.br/e/futebol

Espaço Aberto


A


agricultura brasileira é
movida a ciência. Pou-
cos países podem afir-
mar o mesmo. Em pouco me-
nos de cinco décadas o Brasil
saiu da situação de importa-
dor para se tornar num dos
maiores exportadores de ali-
mentos, fibras e bioenergia do
mundo. É uma história de su-
cesso, uma saga que todos os
brasileiros, no campo e na cida-
de, devem conhecer. É motivo
de orgulho neste 20 de março,
em que comemoramos o Dia
Mundial da Agricultura.
Com ciência, nas últimas cin-
co décadas incrementamos a
produção de grãos em cinco ve-
zes, com aumento correspon-
dente de apenas duas vezes a
área plantada. Elevamos a pro-
dução de leite de 5 bilhões para
35 bilhões de litros. Aumenta-
mos a produção de trigo e mi-
lho em 250% e a de arroz em
mais de 300%. A cafeicultura
quadruplicou a produtividade
nos últimos 25 anos. E a produ-
ção de carne de frango deu um
salto magnífico: cresceu prati-
camente 65 vezes, saindo de
200 mil toneladas na década
de 1970 para 13 milhões de to-
neladas em 2018.
A transformação não aconte-
ceu por acaso. Foi fruto de ro-
busto investimento em ciên-
cia, tecnologia e inovação, da
parceria entre o setor público
e o privado. Com ciência trans-
formamos um passivo, os cer-
rados, com vegetação retorci-
da e solos ácidos e pobres,
num dos maiores ativos do
País. Celeiro de grãos, frutas,
hortaliças e proteína animal,
em 2019 os cerrados entrega-
ram mais da metade da produ-
ção de grãos e cana-de-açúcar
do Brasil.
Com ciência tropicalizamos
grãos, como soja e trigo, forra-
geiras africanas e gado euro-
peu e indiano. A produção de
trigo nos trópicos é inédita e já
ocupa 130 mil hectares dos cer-
rados brasileiros. Pode chegar
a 2 milhões de hectares e tor-
nar o Brasil autossuficiente na
produção do grão.
Com ciência desenvolve-
mos novas raças bovinas, co-
mo a girolando, tão produtivas


quanto as europeias e mais
adaptadas aos trópicos. Foi
também com ciência que o
Brasil criou uma plataforma
de produção agropecuária sus-
tentável, com tecnologias co-
mo o plantio direto, a fixação
biológica de nitrogênio, o con-
trole biológico e a intensifica-
ção sustentável, com produ-
ção de grãos, proteína animal
e florestas numa mesma área.
Os sistemas integrados já ocu-
pam 15 milhões de hectares.
A fixação biológica de nitro-
gênio economiza para o País,
anualmente, algo em torno de
US$ 13 bilhões, que deixam de
ser gastos com adubos nitroge-
nados, sobretudo importados.
É um verdadeiro ovo de Co-
lombo. De quebra, contribui
para que aproximadamente 60
milhões de toneladas equiva-
lentes de CO2 deixem de ser
emitidas na atmosfera. Em

2019 o segundo ovo de Colom-
bo foi lançado pela Embrapa: o
BiomaPhos, um bioinsumo
que atua sobre o fósforo apri-
sionado nos solos, tornando-o
disponível para as plantas. O
produto, que vem sendo pes-
quisado há 17 anos, já foi testa-
do em mais de 300 áreas agrí-
colas no País. Para o milho
trouxe elevação de produtivida-
de da ordem de 10%. Vai contri-
buir para termos mais alimen-
tos à mesa. E possibilitar que o
Brasil importe menos fosfato.
O agro brasileiro é o setor
mais competitivo e disruptivo
da economia brasileira. É tam-
bém um dos que menos rece-
bem subsídio governamental.
Responde por 21% do PIB, um
quinto de todos os empregos e
quase metade das exportações
brasileiras. Alimentamos um
em cada cinco habitantes do
planeta e fazemos isso de for-
ma sustentável: protegemos,
preservamos ou conservamos
66,3% da vegetação e das flo-
restas nativas. Os produtores
preservam um quarto do terri-

tório brasileiro dentro das pro-
priedades rurais, sem recebe-
rem nada por isso.
Com uma agricultura movi-
da a ciência garantiremos o fu-
turo e a segurança alimentar
da população brasileira e mun-
dial. É no banco genético da
Embrapa, localizado em Brasí-
lia, o quinto maior do mundo,
que estão armazenadas mais
de 120 mil amostras de ani-
mais, plantas e microrganis-
mos, vindos de todas as partes
do mundo. Há espaço para
700 mil amostras. Uma verda-
deira arca de Noé. É lá que bus-
caremos variabilidade genéti-
ca para enfrentar novas pragas
e doenças que poderão atacar
plantações e animais em solo
brasileiro. É uma questão de
segurança nacional.
Nos próximos dez anos os
desafios serão diversos e com-
plexos. Em 2030 teremos 8,
bilhões de pessoas. A deman-
da por alimentos aumentará
35%, enquanto a de energia e
água crescerá 40% e 50%, res-
pectivamente. Precisaremos
de mais conhecimento, mais
ciência e tecnologia. Edição ge-
nômica, gestão de riscos, agri-
cultura digital, intensificação
sustentável, bioinsumos e os
microbiomas são temas que es-
tarão no centro da agenda da
ciência agrícola da próxima dé-
cada. A conectividade no cam-
po será crucial para que avan-
cemos de forma consistente.
Hoje, segundo dados do IBGE,
mais de 70% das propriedades
rurais não têm acesso à inter-
net. A China já tem 95% do seu
território conectado. Os EUA
avançam a passos largos. A au-
sência de conexão no campo
pode atrasar o desenvolvimen-
to e reduzir a competitividade
do agro brasileiro.
A ciência moveu a agricultu-
ra nas últimas cinco décadas.
Seguirá tendo papel central na
modernização do agro e no au-
mento da capacidade de pro-
dução, competitiva e sustentá-
vel, da agricultura brasileira.

]
PRESIDENTE DA EMPRESA
BRASILEIRA DE PESQUISA
AGROPECUÁRIA (EMBRAPA)

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO
MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO
MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA
NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIA

CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR:
FALE COM A REDAÇÃO:
3856-
[email protected]
CLASSIFICADOS POR TELEFONE:
3855-
VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL:
3950-
DEMAIS LOCALIDADES:
0800-014-
VENDAS CORPORATIVAS: 3856-

VELOCIDADE
Pirelli queimará 1.
pneus de Fórmula 1

Clubes investem em
‘cidade esportiva’

COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:

JON NAZCA/REUTERS VALLADOLID

]
Celso L. Moretti


Tema do dia


Russo é apontado como
uma ameaça à sociedade e já
foi acusado de vandalismo.

http://www.estadao.com.br/e/pedra

Agricultura


movida a ciência


Alimentamos um em
cada cinco habitantes
do planeta e o fazemos
de forma sustentável

Um vírus


mudando o mundo


A covid-19 precipitou
um movimento que
já era irreversível: a
passagem para o virtual

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
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FAX: (11) 3856-
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SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO).
ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


‘Jamais ofendi o povo


chinês’, diz Eduardo


Bolsonaro


Deputado federal culpou país asiático
pelo coronavírus, mas recuou após a
repercussão negativa das declarações

]
Fernando Gabeira

ARIS MESSINIS/EFE ESPANHA

No estadao.com.br


TRÂNSITO

Detran vai liberar
CNH vencida no Rio

VANGUARDA

Pavlensky, o artista
‘pedra no sapato’
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