O Estado de São Paulo (2020-03-20)

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F4 Metrópole SEXTA-FEIRA, 20 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Márcia De Chiara


A partir de hoje, parte do co-
mércio de São Paulo, incluin-
do lojas em shoppings, será fe-
chada para conter a dissemi-
nação do coronavírus. A deci-
são veio por meio de decreto
da Prefeitura de São Paulo.
Segundo estimativa da Feco-
mércio-SP, 117 mil lojas serão
afetadas com a medida.

Bares, padarias e restauran-
tes poderão abrir, mas com re-
forço nas regras de higiene. Nes-
ses locais, será necessário obe-
decer ao espaçamento mínimo
de 1 metro entre as mesas, ofere-
cer gratuitamente álcool em gel
para os clientes, reforçar a lim-
peza e distribuir informações
sobre a covid-19. Também será
possível que estabelecimentos
possam funcionar por meio do
sistema de delivery. A determi-
nação é válida até 5 de abril.
Pelo menos 200 shopping
centers do País já trabalham
com horário de funcionamento


reduzido ou até estão fechados
por causa do novo coronavírus,
segundo levantamento da Asso-
ciação Brasileira de Shopping
Centers (Abrasce). É um pouco

mais de um terço do total dos
empreendimentos em opera-
ção. O setor de shoppings movi-
mentou no ano passado R$ 192
bilhões e respondeu por 2,7%

de toda a riqueza gerada na eco-
nomia brasileira e 15% das ven-
das do varejo. Só o Estado de
São Paulo reúne cerca de 180
empreendimentos de um total
nacional de 577.
Além dos shoppings, o comér-
cio de rua também não poderá
funcionar em São Paulo. Nas
contas de Ivo Dall’Acqua Ju-
nior, vice-presidente da Feco-
mércio-SP, entre shoppings e
comércio de rua, 117 mil lojas
serão afetadas por essa medida.
Esses estabelecimentos empre-
gam 353 mil pessoas.
Para atenuar a crise, o Sindica-
to dos Comerciários de São Pau-
lo fechou acordo com sindica-
tos patronais, dos lojistas e do
setor de materiais de constru-
ção, e com a Fecomércio-SP pa-
ra que as horas paradas durante
o período de crise sejam acumu-
ladas em um banco de horas e
compensadas posteriormente.
“É o primeiro acordo no País
para garantir o emprego”, diz o
presidente do Sindicato dos Co-
merciários de São Paulo e da
União Geral dos Trabalhadores
(UGT), Ricardo Patah. “Não te-
mos condições de deixar os em-
pregados sem salários agora”,
lembra o vice-presidente da Fe-
comércio-SP. Entidades do co-
mércio varejista não sabem ava-
liar qual será o impacto dessa
paradeira no setor. “Todo mun-
do vai perder, será um baque
nas vendas de março”, diz o eco-
nomista-chefe da Confedera-
ção Nacional do Comércio
(CNC), Fabio Bentes.

Online. Uma das saídas para as
lojas virarem o jogo é apostar
nas vendas online. Apesar de
ter crescido rapidamente nos úl-
timos anos, o e-commerce re-

presenta hoje menos de 5% do
faturamento total do varejo.
Para o presidente da Câmara
Brasileira de Comércio Ele-
trônico, Leonardo Palhares, a
ampliação dos negócios online
por causa da crise deve ser mais
rápida nos extremos: entre
grandes varejistas que já inves-
tem pesado nesse segmento e
também entre os pequenos,
que vendem por meio de shop-
pings virtuais. Já a virada de cha-
ve para empresas de médio por-
te deve ser mais complicada.
O Magazine Luiza começou a
vender com frete grátis desde
quarta-feira produtos ligados
ao coronavírus (álcool em gel,
nebulizadores). De carona, tam-
bém dá frete grátis para outros
itens cujo valor da venda seja
superior a R$ 99. Procurada, a
rede não informou sobre fecha-
mento das lojas físicas.
A Via Varejo, dona da Casas
Bahia e do Ponto Frio, informa
que terá um plano de contingen-
ciamento para o fechamento de
lojas e campanhas para vendas
online com frete grátis.
Na contramão, a Leroy Mer-
lin lidera um movimento para
obter a chancela de “caráter es-
sencial” e de “primeira necessi-
dade” a fim de que as lojas não
sejam fechadas. Alain Rycke-
boer, CEO da Leroy Merlin no
Brasil, disse ao Estado que na
França, Itália e Polônia as lojas
de materiais de construção não
foram fechadas porque foi reco-
nhecido o fato de que esses esta-
belecimentos vendem itens
básicos para a moradia, além de
produtos como luvas, máscaras
e álcool em gel. A empresa en-
viou pedido ao governo federal
e às autoridades estaduais e mu-
nicipais para continuar aberta.

André Borges / BRASÍLIA

O


letreiro pendurado
pela instituição Nar-
cóticos Anônimos,
na fachada de um pequeno ca-
sebre espremido entre ou-
tros da Asa Sul, centro de Bra-
sília, traz um alento a pes-
soas que sofrem com a depen-
dência química. “Problemas
com drogas? Se você quiser
parar, podemos ajudar.” A
porta pichada, porém, já está
fechada há dias. E não há data
para reabrir.
A miríade de danos causa-
dos pelo novo coronavírus
também chegou a um dos
mais essenciais programas

de apoio a pessoas que lutam
para se livrar das drogas. Os Nar-
cóticos Anônimos, instituição
sem fins lucrativos que há déca-
das ajuda pessoas a se livrarem
do vício, atende mais de 21 mil
pessoas por semana. São 4,5 mil
reuniões presenciais. Cada um
dos 1.660 grupos formados em
todo o País reúne 12, 13 pessoas.
Tudo é mantido com doações
dos próprios frequentadores,
sem nenhuma obrigatoriedade.
A maior parte desses encontros
foi suspensa e a tendência é de
que tudo pare.
O dano é inestimável. As reu-
niões presenciais são parte es-
sencial do processo de recupera-
ção dos usuários de drogas, por-

que são elas que permitem a tro-
ca de experiências entre as pes-
soas, suas histórias de vida e
seus exemplos de superação.
A paralisia também atinge de-
pendentes do álcool. Há duas se-
manas, as portas começaram a
se fechar em boa parte das salas
dos Alcoólicos Anônimos, que
prestam serviços essenciais de
apoio a dependentes que que-
rem se livrar do vício. A institui-
ção sem fins lucrativos tem
mais de 5 mil grupos formados
pelo Brasil. Ocorre que grande
parte de suas salas está localiza-
da em igrejas ou escolas, luga-
res que estão fechado em quase
todo o País.
Em Brasília, relata o membro
dos Alcoólicos Anônimos, P.A,
identificado apenas por suas ini-
ciais, são pelo menos sete locais
que funcionam dentro de esco-
las e igrejas. Todos foram fecha-
dos há duas semanas, como é o
caso do grupo Santo Antônio,
que sempre se reúne às segun-
das e quintas-feiras, na Escola
de Classe 314 Sul.
“A escola fechou, não temos
como funcionar. Em alguns Es-
tados, como o de Pernambuco,
a situação é mais complicada,

porque a maioria das reuniões é
feita dentro de áreas de muitas
escolas e igrejas. Tudo parou.
Só aqueles que estão em locais
alugados é que estão funcionan-
do. Mesmo assim, foram reduzi-
das as cadeiras que são usadas
nas salas, para manter maior dis-
tância entre as pessoas”, diz ele.
Nos Narcóticos Anônimos, a
preocupação maior está con-
centrada nos recém-chegados.
Em situações normais, as pes-
soas são incentivadas a partici-

par do maior número possível
de reuniões presenciais nos pri-
meiros três meses de tratamen-
to, que é a fase mais crítica de
abstinência.

Online. Todos buscam uma al-
ternativa para não parar. Ainda
que a distância, os Narcóticos
Anônimos têm procurado uma
forma de manter seus encon-
tros. “Começamos a fazer reu-
niões online para reunir as pes-
soas”, diz L.B., que apoia as

ações de relações públicas da
instituição.
Como muitos moderado-
res nunca tinham usado o
meio digital, eles estão sendo
treinados para realizar as reu-
niões pela internet. Voluntá-
rios que conhecem o desen-
volvimento de aplicativos es-
tão apoiando a criação de sa-
las de bate-papo, para que as
pessoas possam acessar o si-
te dos Narcóticos Anônimos
e entrarem nas reuniões.
“Fazemos parte da socieda-
de e temos a responsabilida-
de de contribuir com a parali-
sação das reuniões presen-
ciais, porque sabemos o que
está se passando. Por isso,
buscamos uma alternativa
para oferecer algo que é fun-
damental para muita gente”,
diz L.B.
Na internet, os Narcóticos
Anônimos passaram a divul-
gar um cronograma com ho-
rários de suas reuniões vir-
tuais. Os usuários têm acessa-
do. São encontros sobre so-
brevivência e pedidos de aju-
da, neste momento ainda
mais difícil. É um trabalho
que não pode parar.

Doria pede fim de


culto e Igreja terá


missa sem fiéis


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


AS MUDANÇAS

Efeito colateral

Bruno Ribeiro

O governador de São Paulo,
João Doria (PSDB), solicitou
ontem que igrejas e templos
não realizem mais missas e cul-
tos. A Igreja Católica já come-
çou a adotar a solicitação. Doria
também anunciou a suspensão
da cobrança de tarifa de água pa-
ra a população de baixa renda,
que paga a tarifa social, e de tri-
butos da dívida ativa estadual
para todos os devedores.
“Não promovam mais presen-
cialmente missas e cultos reli-
giosos de qualquer natureza”,
afirmou Doria. Ainda na tarde
de ontem, a Diocese de Santo
Amaro, na zona sul, determi-
nou que os sacerdotes passem a
celebrar missas sem fiéis. E sus-
pensam atividades com aglome-
ração de pessoas. Mas a medida
deve sofrer resistência de gru-
pos evangélicos. Nesta semana,
o pastor e líder da igreja pente-
costal Assembleia de Deus Vitó-
ria em Cristo, Silas Malafaia,
afirmou, em vídeo publicado
em seu canal no YouTube, que
não vai diminuir o número de
cultos nem fechar igrejas.

Outras ações. Em outra medi-
da válida para o Estado, Doria
afirmou que a Fundação Pro-
con fará blitze para evitar que
comerciantes vendam álcool
em gel a preços abusivos. “Fare-
mos ações com a Polícia Civil”,
afirmou o presidente da funda-
ção, Fernando Capez.

Rio suspende


transporte por


ônibus e avião


Icaraí vazia.
Praias de
Niterói foram
interditadas
pela prefeitura

Covid fica ativa em superfícies por horas – e dias. Pág. F5 }


l Comércio fechado
O decreto determina o fechamen-
to do comércio de São Paulo. A
medida vale para lojas com aten-
dimento presencial. Casas notur-
nas e salões de festas também
deverão permanecer fechados.

l Prazo
A regra de fechamento vale a par-
tir desta sexta, durante 15 dias.

l Exceções
O fechamento não vale para esta-
belecimentos como farmácias,
mercados, quitandas, peixarias,
feiras livres, lojas de conveniên-
cia, distribuidoras de água e gás,

padarias, bares, lanchonetes e
postos de combustível.

l Regras
Bares, padarias e restaurantes
abertos terão de cumprir regras
adicionais: espaçamento mínimo
de 1 metro entre as mesas, ofer-
ta gratuita de álcool em gel para
seus clientes, reforçar a limpeza
e distribuir informações sobre a
covid-19.

l No Estado
Há recomendação de fechamen-
to, por parte do governo do Esta-
do, de igrejas e templos, além de
academias de ginástica.

DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

Paralisação. Na Asa Sul, em Brasília, NA fechou as portas

SP fecha comércio


hoje; medida deve


afetar 117 mil lojas


Shoppings e lojas de rua não poderão abrir na capital até o dia 5 de


abril; já bares e restaurantes terão de cumprir regras de higiene


GRUPOS DE APOIO


A DEPENDENTES


ESTÃO SOB RISCO


Narcóticos e Alcoólicos Anônimos têm atividade


suspensa em várias sedes e podem até parar


WILTON JUNIOR / ESTADÃO

Fábio Grellet / RIO


O governador do Rio, Wilson
Witzel (PSC), proibiu por 15
dias, a partir de zero hora do sá-
bado, o transporte de passagei-
ros, por terra e ar, entre o Esta-
do do Rio e São Paulo, Minas,
Espírito Santo, Bahia, Distrito
Federal. A medida também atin-
ge todos os Estados em que a
circulação do coronavírus esti-
ver confirmada ou sob situação
de emergência decretada.
O decreto publicado ontem
atinge até a ponte aérea Rio-São
Paulo, que será suspensa. Wit-
zel também suspendeu o trans-
porte intermunicipal de passa-
geiros entre as cidades da re-
gião metropolitana e a capital.
A restrição não se aplica a
trens e barcas. Para atender a
serviços essenciais, operarão
com restrições definidas pelo
governo. A regra não se aplica
aos carros particulares.
A partir de sábado também se-


rá proibido, por 15 dias, o desem-
barque de passageiros oriundos
de outros países. Nenhum
avião vindo do exterior poderá
deixar ninguém no Rio. Assim

como a regra sobre os voos na-
cionais, essa medida também
depende de ratificação pela
Agência Nacional de Aviação Ci-
vil (Anac).

Praias. O decreto determina
ainda que por 15 dias, já a contar
desta quinta-feira, está proibi-
do ir à praia, lagoa, rio ou pisci-
na pública. Bares, restaurantes

e lanchonetes estão proibidos
de funcionar, a não ser que este-
jam dentro de hotéis ou alber-
gues. Veta-se ainda eventos e
atividades com a presença de

público, de shows a festas parti-
culares em salões. Em Niterói,
na região metropolitana, a pre-
feitura começou ontem a inter-
ditar o acesso às praias.
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