O Estado de São Paulo (2020-03-20)

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O ESTADO DE S. PAULO
20/3/2020 A 26/3/2020 paladar

Compre de


quem faz


Artesanal. Atelier do Sabor e outros produtores usam redes sociais para vender após cancelamento de feiras


Após cancelamento de feiras deixar produtores


com excedente, redes de apoio ajudam nas vendas


Cintia Oliveira / ESPECIAL PARA O ESTADO


D


esde o mês passado,
as irmãs Ana Alice
Sampaio e Tiz Amaral
Dias da Silva, da mar-
ca Atelier da Terrine,
já estavam trabalhan-
do a todo vapor, para
produzir a sua clássica receita de inspi-
ração francesa, que dá nome à marca.
Assim como a terrine, a mousse de foie
(à base de fígado de galinha) e o patê de
campagne (feito com fígado de galinha
e carne de porco) são feitos artesanal-
mente pelas duas, que precisam traba-
lhar dobrado para dar conta do movi-
mento da Feira Sabor Nacional, even-


to gastronômico que reúne cerca de 90
produtores artesanais na capital pau-
lista e recebe um público de 8 mil pes-
soas em um único fim de semana.
Realizado desde 2016, o evento ti-
nha sua primeira edição do ano marca-
da para o fim de semana passado, mas
foi cancelado depois da proibição da
Prefeitura de São Paulo de eventos
com mais de 500 pessoas. “Já estáva-
mos com a estrutura montada quando
recebemos a notícia. Foi um baque pa-
ra todos nós”, lamenta José Roberto
Giffoni, um dos organizadores.
Embora tenham ficado com o prejuí-
zo, gerado pela locação de mobiliário,

tendas e geradores, Giffoni conta que
vai transformar o investimento dos
produtores em créditos para participa-
rem da próxima edição – ainda sem da-
ta. Por outro lado, produtores como
Ana e Tiz se viram numa situação deli-
cada, já que ficaram com um estoque
excessivo de produtos artesanais pere-
cíveis e sem o seu principal canal de
vendas – as feiras gastronômicas. “O
que nos resta agora é anunciar
nas redes sociais e reduzir
ainda mais nossa margem
de lucro, para conseguir
vender o estoque exce-
dente”, lamenta Ana.

Rede do bem. Sensibiliza-
da com o apelo dos produ-
tores nas redes, no último
sábado, a chef consultora Ligia
Karazawa começou a divulgar em
seu Instagram (@ligiaka) contatos de
vários deles em suas redes sociais. “É
uma situação trágica. Muitos desses ne-
gócios são pequenos e essas famílias
não têm outra fonte de renda que não
sejam esses eventos”, afirma ela.
Outra feira cancelada foi a Fair&Sa-
le, que reúne pequenos produtores de
vários segmentos – entre eles, a alimen-
tação – e estava programada para o últi-
mo domingo. “Muitos expositores já
tinham feito um estoque para vender
na feira e começamos a receber mensa-

gens de gente tentando escoar a produ-
ção pelas redes”, explica Daniella
Acor, criadora da evento.
A partir do apelo dos expositores,
ela teve a ideia de reunir essas informa-
ções em uma plataforma chamada
Contagiante.me (contagiante.me/),
em que o público tem a oportunidade
de conferir a lista de produtores, des-
crição dos produtos e os contatos para
adquiri-los. Desde domingo, Daniella
recebeu cerca de 400 inscrições, sen-
do que um terço deles é formado por
produtores da área de alimentação. Li-
gia, por sua vez, pretende continuar di-
vulgando conteúdos sobre esses pro-
dutores em suas redes sociais. “Nós te-
mos de seguir com essa rede de apoio”,
acredita ela.
Tão amargo quanto um chocolate
com altas porcentagens de cacau, só
mesmo o encerramento um dia antes
do previsto do Chocolat Festival, edi-
ção paulistana do evento com sede em
Ilhéus (BA), que reúne toda a cadeia
produtiva do cacau. Embora os
workshops e palestras tivessem entre
70% e 90% de público, os visitantes da
feira não chegaram a 20%, compara-
dos ao público do ano passado. “Quan-
do anunciamos o cancelamento do últi-
mo dia, os expositores sentiram um
misto de tristeza e alívio”, conta o orga-
nizador da feira, Marco Lessa. Por con-
ta disso, Lessa antecipou o projeto
Choc.store, uma loja virtual que ele
iria lançar apenas em julho, durante a
Chocolat Bahia Festival, em Ilhéus
(BA). “A página vai funcionar como
um marketplace, ou seja, um canal de
vendas em que as marcas de chocolate
poderão vender os seus produtos pa-
ra o Brasil inteiro”, diz ele.

Luz no fim do túnel. De-
pois que recebeu a notí-
cia do cancelamento da
feira Sabor Nacional, Re-
nato Chvindelman se
viu com um estoque de
mais de mil cookies produ-
zidos para o evento. “Em
um primeiro momento, me ba-
teu o desespero, mas depois eu pen-
sei: não posso ficar chorando sobre os
cookies. Eu tenho de agir”, lembra
ele. Na mesma tarde, Chvindelman re-
solveu abrir a garagem da sua produ-
ção, em Moema, para vender os
cookies, e convidou alguns produto-
res para acompanhá-lo. Como a rua se
chama Divino Salvador, a iniciativa
foi batizada como Divina Garagem.
“Eu consegui vender todo o meu esto-
que e tive de produzir um pouco mais
para dar conta do movimento no do-
mingo”, conta ele.

Mobilização.
Organizadores e
chefs ajudam na
divulgação nas
redes sociais

ATELIER DE TERRINE
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