Valor - Eu & Fim de Semana (2020-03-20)

(Antfer) #1

16 |Valor|Sexta-feira,20demarçode


GALERIA


ROBERTO CASIMIRO/FOTOARENA/AGÊNCIA O GLOBO

Uip como governador JoãoDoriaem coletiva sobre o coronavírus

Em 1996 como entãogovernador MárioCovas na abertura da Casada Aids

Coma mulher,a socióloga MariaTeresa, em evento da CasaHope

BRUNOPOLETTI/FOLHAPRESS

ORMUZDALVES/FOLHAPRESS

Na possecomosecretáriode Saúdedo governo Alckmin, em 2015

CLAUDIO BELLI/VALOR

to.NoIrã,“sabichões”dainternetanunciaram
que beber álcool puroera um santoremédio
para acura da moléstia. Resultado:218 pes-
soas foram hospitalizadas e 44 morreramin-
toxicadas. Umafotografia com corpos de chi-
neses mortos espalhadospelasruas foi am-
plamente compartilhada. “Quem olhase de-
sespera.Aspessoasentramempânico.”
Háaindaomovimentoantivacinas,apon-
tado comoum dos responsáveis pelo recen-
te ressurgimentode casosde sarampo,que
voltarama crescer. Adoençapodedeixarse-
quelase causara morte.“É um desastre.É
imperdoável.” Sua voz é tão baixa,quasease
perdernoburburinhodosalão,oquenosle-
vouabuscarumamesamaisafastada.
Depois de acomodar-se, Uip retomouo fio.
As complicações da covid-19têm afetado so-
bretudoos idosos.Entre as pessoascommais
de 80 anos, a letalidadepodepassar de 15%.
No caso dos jovens, ataxa é menordoque
0,5%.Pelos seus cálculos,20% dos infectados
terãoque ser hospitalizadose 5% vão precisar
de cuidado em UTI. “Hospital ésó para quem
tiver doença grave,senãovocê congestionae
desestrutura todo o sistema de saúde e coloca
maisgenteemrisco”,advertiu.
AChinaconstruiuum hospitalem dez
dias paradar contados doentes.Na Itália,
até agorao segundopaís maisafetadoeem
quarentenapor causada pandemia,faltam
leitos.Os médicostêm trabalhadono limite
e têm que escolherquemvai morrere quem
vai viver.Estamospreparados?“SãoPaulo
tem 101 hospitaisestaduais.Sabequantos
no Rio de Janeiro?Zero!No Rio Grandedo
Sul? Dois.Não é por isso que não vai ter difi-
culdadesemSãoPaulo,tudotemlimite,não
existesistemanomundoquedêconta.”
Oinfectologistaé um ferrenhodefensor
do SistemaÚnicode Saúde(SUS),conside-
rado por ele o maiormodelode inclusãodo
país. “Sou fã. Temproblemas,falta de finan-
ciamento,oac esso édifícil, mas tem hospi-
tais públicoscom trabalhode arrepiar.
QuemcriticaoSUSéporquenuncafoi.”
O garçom apareceu comcarpaccio de
funghi,saladadealcachofraedadinhosdeta-
piocaeavisouqueeramcortesiadeBelarmino
Iglesias Filho, dono do restaurante. Depois de
esticar obraço paraespetar um dadinho de
tapioca, omédico falou sobresua preocupa-
ção com aproteção dos profissionais da saú-
de. Os sintomas eas complicações do novoví-
russãomaiscomunsempessoasacimados
anos.Emboramaissuscetíveisacomplicações
causadaspelovírus,osmaisvelhossãoosmais
experientes,portanto a ideia é protegê-los,
não afastá-losdo trabalho.No EmílioRibas,
disse,médicos com idadeacimados 55 anos
representam45%doquadro.

“Aívocêfazoquê?Colocaapenasosjovens?
Mas e quando eles ficarem doentes? Porisso
digo:asmedidasparaconterapandemiapre-
cisam ser muitobem elaboradas.” Dados re-
centes da OMSindicam taxa de letalidade de
2% a3% dos casosconfirmados.O infectolo-
gista disseacreditar que essesnúmeros são
menores, já que milhares de pacientesporta-
doresassintomáticos ou com sintomas leves
simplesmentenão entram nas estatísticas. “É
durode transmitir isso para as pessoas, mas
tem que ter uma noçãoexata do tamanho do
que você está enfrentando.Claro que qual-
quermorteéindesejada,masnoatualcontex-
tosãodadosimportantes.”
Uiprecomendaquenaaplicaçãodosnovos
testesseja dadaprioridadeadoentes graves,
às clínicas Sentinela, aos profissionais de saú-
de eaos pesquisadores. Testarindiscrimina-
damente as pessoas, disse,além de represen-
tar um gastoexcessivode recursos públicos,
não teria muita utilidade. “O que mudatestar
todomundosenapráticanãotemcura?”
AOMS pediu,na segunda-feira,testespa-
ra todosos casossuspeitosde coronavírus.
Aentidadeafirmaquetestesemlargaescala
aindasãoamelhoralternativaparacontera
disseminaçãodo novocoronavírus.“A de-
claraçãoda OMSfoi surpreendente”, afir-
mouUip, poucoantesde entrarem uma
reuniãocom um grupode especialistaspa-
ra discutir comoo Brasillidariacom a ques-
tão. “No mundoideal,o recomendadoé fa-
zer testescom todomundoe isolarem hos-
pitais,masnomundorealnãoépossível.”
Calcula-se que de 40% a 45% da popula-
ção mundial será infectada,mas épreciso
lembrar, observouUip, que ahistórianatu-
ral da doençaserá modificada assimque
surgiremremédios evacinas.Os primeiros
medicamentosdevemchegarno iníciode
maioepodemou não ser efetivos;já as va-
cinas,em cercade um ano e meio.
“Oquequerodizeré:semprefoiassim.Você
vaiteressaepidemia,elavaidurarporvoltade
quatro,cincomeses,vaiarrefecerporquevocê
esgotaapopulaçãosuscetível.Amaioriasein-
fectaeficaresistenteaovírus.Issonãoquerdi-
zer que não vão surgir outras epidemias.Esta-
mos distantesde descobrir umavacinaque
previnacontratodososvírus.”
Em meioàcrise, pesquisadores brasileiros
daUniversidadedeSãoPaulo(USP)edoInsti-
tuto Adolfo Lutz, de São Paulo, decifraram a
sequência genética do novocoronavírus en-
contrado em amostra de paciente brasileiro
infectadoedisponibilizaramadescobertapa-
ra oresto do mundo. Em entrevista publicada
noValor,oministro da Saúde,LuizHenrique
Mandetta, disseque o Brasilnão participará
do desenvolvimentoda vacina. Qual sua posi-

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