Valor - Eu & Fim de Semana (2020-03-20)

(Antfer) #1

20 |Valor|Sexta-feira,20demarçode


ARTIGO


China,


Brasile


outros


contextos


Atualpolíticaexterna


brasileira é dominadapor


umaposiçãoinfantile


ingênuadepensaros


EUA comoumaredenção.


Nãopodemosadotar


posicionamentode


entregacega. Por


Roberto Giannetti da


Fonseca, para o Valor


“Theworldturnsandtheworldchan-
ges...”T.S.Eliot


textoumconjuntodereflexõessobreo
etosbrasileiroemcontrastecomo
chinês,oprocessodedesenvolvimento
econômicoesocialdecadaumdosdois
países,especialmenteaimportânciado
meiourbanoparaainserção
internacionaldoBrasil,emparceria
estratégicacomaChina,noambiente
danovaeconomia.
Diantedaabrangênciadotextode
Yang,li,surpreso,areaçãodoItamaraty
publicadanaediçãodasemanapassada
doValor,sobaformadeartigoassinado
pelodiplomataAlbertoCoelhoFonseca,
responsávelpelagestãoestratégicado
gabinetedoministrodasRelações
Exteriores.CuriosareaçãoadoMinistério
dasRelaçõesExteriores(MRE)aodecidir
seposicionarsobreumensaiode
reflexõeslivrescomtemasamplosde
políticaspúblicas.Supõe-sequeoMRE,
ouochanceler,sesentiuatingidopelas
conjecturascontidasnotextooriginal.
Naverdade,oamploescopotemáticoe
oarcotemporaldacríticacontidano
textodeYang,queenvolvediferentes
períodosegovernosaolongodedécadas,
jácumpriuumbompapelaoprovocar
umposicionamentooficial.Lamenta-se
apenasqueoMREassumiuumaatitude
defensivaereducionistaaocriticaro
ensaioexclusivamentepelaótica
burocráticaesemrealmentebuscar
entenderaabrangênciadoensaio.
Dadoqueareaçãogovernamentalfoi
feita,comentareientão,pelaimportância
dodebatedemocrático,oselementosde
seuconteúdo,umavezquecarregam
informaçõesrelevantesacercadavisãode
mundodoatualgovernoemepermitem
assimcompartilharcomoleitorastantas
indagaçõesque,àluzdaforçaoriginaldo
ensaiodeYang,otextoburocráticodo
Itamaratymesuscita.
Arespostadogoverno,comoeradese
esperardequalquerposicionamento
institucional,éfirmeecarregadade
certezasoficiais.Nãopoderiaser
diferente.Numarespostainstitucional,é
naturaleimperativoqueopoderpúblico
semanifestedemaneirainequívoca,
decididaeperemptória.Mastamanha
convicçãodeinfalibilidade,embora
incisiva,nãodeixade,aomesmotempo,
gerardúvidas,anteaestreita
compreensãoqueotextoministerial
demonstroucarregar.
AcríticadeCoelhoFonseca,escritana

subservientedeumaaproximaçãocom
osEUA:“OqueébomparaosEstados
UnidosébomparaoBrasil”.
Aanálisedopresenteparece
igualmenteturva.Otextoseiniciacom
umenaltecimentodosresultadosdo
recenteencontroTrump-Bolsonaroe
prosseguecomafirmaçãodeque“éuma
relaçãoespecial(...)queoBrasilhoje
buscaconsolidarcomosEUA,aindaque
comquase 50 anosde atraso”(grifomeu).É
nestaafirmaçãoresolutadodiplomata
queresideaprecariedadecentralparao
leitorrefletirporsimesmo:1.Nãoestará
oatualchancelerapenasrepetindoalgo
tentadováriasvezesereiteradamente
fracassadonopassado?;2.Considerando
esses“quase50anosdeatraso”, nãoseria
maissábiobuscarmosoutrasparcerias
considerandoque(a)oeixodepoder
mundialsedeslocadeformaevidente
paraaÁsiae(b)fomoshistoricamente
preteridosemdiversasocasiõespelos
EUA?;3.Tudoindicaqueaatualdireção
doItamaratynãosedeucontaouprefere
omitirdequeomundomudou
profundamentenestascincodécadas.
E,olhandocriticamenteasposiçõesda
diplomaciabrasileiraeamericanahoje,
nadadoqueestáemjogoparece
constituirummovimentoequiparávela
umaaçãodealtaestratégia.Nesse
contexto,talvezasquestõessobreas
quaisdevamosrefletirsejamasseguintes:
—Seráqueosacenosdecontrapartida
queaadministraçãoTrumpnosfazsão
dealgumarelevânciatransformadora?
Dequevale,porexemplo,umstatusde
aliadoextra-Otanquando,dopontode

A

olerobrilhanteelúcido
ensaiointitulado“Oqueo
BrasilquerdaChina?”,de
PhilipYang,publicadono
Valorem14defevereiro,foipossível
realizarumaintensareflexãosobreo
conjuntodepolíticaspúblicasqueem
sintoniacomempreendedores
privadospoderiamcertamenteajudar
opaísasairdoembotamento
econômicoemqueseencontranas
últimasdécadas.Deinícioaofimdesse
longoensaio,comfortecomponente
dasuaexperiênciapessoale
profissional,oautorperpassaemseu
textoumsentimentodeperplexidade,
incômodo,inquietaçãoe,sobretudo,
dedúvidaemrelaçãoaonossofuturoe
aoscursosdeaçãopossíveiscom
relaçãoàscidades,aosinvestimentos
públicoseprivados,aopapelda
diplomacia,aossímbolosenarrativas
quepodemnosunircomouma
sociedadecoesaemoderna.
Nãosetratou,portanto,deumartigo
depolíticaexternaemsi.Compõeo


formadepromoçãodaspolíticaslevadas
aefeitopelogovernoBolsonaro,está
divididaemduaspartes.Naprimeira,o
textocomentaasrelaçõesBrasil-EUAa
partirderegistrodeumsupostosucesso
daaproximaçãocomWashington
empreendidapeladiplomaciaexternado
atualgoverno.Naparteseguinte,para
refutarcríticadeYangàpolíticabrasileira
paraaChina,passaemrevistaosdiversos
eventosrecentesqueteriamconfigurado
uma“parceriaestratégicabilateral”com
oschineses.Tomoestaoportunidade
paracomentaressesdoistemas.
Aansiedadedefensivado
representantedoItamaratyparece
prejudicaroudistorcerasualeiturado
passado,dopresentecomodas
tendênciasdofuturo.Quantoaopassado,
escapaaCoelhoFonsecaquea
aproximaçãocomosEUAdeixoude
acontecernãopornossafaltadevontade,
masporquefomosrecorrentemente
preteridospelosEUA.Foiassim,por
exemplo,quandoWashingtondeu
prioridadeaoutrostemasdaagenda
internacional,sobretudonosderivados
dalongínquaGuerraFriadoséculoXX,
comonosconflitosdoOrienteMédio,nos
quaistivemospapelmarginalemfunção
denossacondiçãogeopolíticaperiférica,
conformenosrecordaYangnoseu
enfáticoensaio.
Por pertencer a uma instituiçãoque
tem a obrigaçãode prezar pela defesa
de interesses permanentes da nação, é
estranho da parte do diplomata
Coelho Fonseca desconhecer os
esforços do passado, mesmoque
incompletos, ao afirmarque “foi-se
meioséculo de experimentosde
política externa que pouco rendeuao
país em termosde resultados
concretos de prosperidadee qualidade
de vida para o cidadão comum”.
Sabemostodosque,nopassado,a
buscaderelacionamentopreferencial
comosEstadosUnidossófoi
abandonadapeloBrasilquando
constatamosquetaldesejonãoera
compartilhadoporWashington.Como
emqualquerrelacionamento,uma
parceriaenvolveaomenosduas
vontades.Nãopodemosesquecera
célebrefrasedeJuracyMagalhães
(1905-2001),ex-embaixadordoBrasil
emWashingtonedepoischanceler,que
expressouabuscadesesperadae

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