Valor - Eu & Fim de Semana (2020-03-20)

(Antfer) #1
Sexta-feira,20demarçode2020| Valor| 33

É TUDOVERDADE


Festival


começa no


digital


Àsvésperasdesua


realização, o É Tudo


Verdadereformulaseu


programaoriginal,diante


derestrições:naprimeira


etapa,a partirdeste mês,


ocorre umamostra


on-line;emsetembro, a


segundafaseapresentará


a vigorosaprodução


inéditaselecionada.


PorAmirLabaki


DIVULGAÇÃO

“QuandoasLuzes dasMarquisesSeApagam”relembra a Cinelândiapaulistana

Apandemiadocoronavírus
(covid-19)desafiaossistemasdesaúde
doBrasilemundoafora,assimcomo
reformulanossocotidianoeprejudica
deformaespecialaindústriado
entretenimentoeaeconomiacriativa.
Àsvésperasdesuarealização,oÉTudo
Verdade-FestivalInternacionalde
Documentáriosreformulouseu
programaoriginal,diantedas
restriçõesradicaisdemobilidadeedo
fechamentodassalasdecinemae
centrosculturaisemsuassedesemSão
PauloenoRiodeJaneiro.
Em sintonia com seus
patrocinadores e parceiros,o festival
vai desenvolver-seem duasetapas.A
primeira, no período originalmente
programado entrefim deste mês e
iníciode abril,acontecerá sob a
formade um festival digital,
ampliandoas mostrason-line
inicialmente já agendadas. Em
setembro próximo, a segunda fase
apresentará a vigorosaprodução
inéditaselecionadapara as mostras
competitivasbrasileira e internacional
e programasfora de concurso.
A partirde meadosda próxima
semanajá será possível conferirdois
ciclosespeciais on-line programados
em parceria com o Itaú Culturale
Spcine.À luz da efeméridedos 25
anosdo É Tudo Verdade, ambos
dialogamcom a históriado festivalao
mesmotempoem que abordam

questões essenciaisda cultura
audiovisualde nossos tempos.
A mostraon-lineno site do Itaú
Cultural(www.itaucultural.org.br)
tornou-se ainda maisoportuna.Seu
temaé exatamenteas mudanças
contemporâneas na experiência
cinematográfica.Como fechamento
das salasde projeção para o combate
da pandemia,frisando nossaabsoluta
solidariedadecom seus responsáveis e
funcionários,inviabiliza-se a “situação
cinema”, isto é, a tradicionalrelação
públicaentreos espectadoresque
partilhamum filmenumasala escura.
Nadatão radicalpoderiaser
previsto nos cincodocumentários
nacionais selecionados,mas estãoem
focosas variadascrisesno setor, assim
comoas mudançastantode hábitos
quantona área técnica.
Em “Quandoas Luzesdas Marquises
Se Apagam” (2018), Renato Brandão
reconstitui a ascensãoe queda da
Cinelândiapaulistana,o elegantee
popularcircuitode salasde cinemade
rua, desenvolvido sobretudoentreos
anos 1930 e 1950e hoje virtualmente
liquidado, com a migraçãode parte
das telas para os shopping-centers.
Um fenômeno similarencontra-se
em “Cinemagia- A História das
Videolocadorasde São Paulo”(2017),
de AlanOliveira,mas abordandoa
saga posterior de um temploperdido
da cinefilia:a videolocadora,nossas

pequenas cinematecas de bairro
varridas do mapapela oferta
audiovisual via internet.
Dois filmesretratamesforços
pessoaiscontraa corrente.Em “Cine
Mambembe - O CinemaDescobreo
Brasil”(1999),Laís Bodanzky e Luiz
Bolognesidocumentam o batismoou
a reconexãocom a experiência
cinematográfica dos frequentadores,
aqui no Nortee Nordeste, das
projeções de filmesem espaçosnão
convencionaiscom que por maisde
uma décadapercorreramo país.
Já “CineSão Paulo”(2017), de
RicardoMartensen e Felipe Tomazelli,
acompanha minuciosamentea
batalha pela reforma e reaberturade
um secularcinemaem Dois Córregos,
no interior de São Paulo, pelo
apaixonadoempenhode seu
donoseptuagenário, seu Chico,
um personagemque parece
herdadode um antigoclássico
do neorrealismoitaliano.
A mesmapaixão pelosfilmese
similarcarisma revelam-se nos
protagonistas anônimos de
“O Homemda Cabine”(2008), de
Cristiano Burlan. São eles operadores
cinematográficos, flagradosnos
últimosmomentosda projeção
de filmes em celuloide, antesda
radicalconversão dos circuitosà
tecnologiadigital.
A curadoria exclusiva para os dez
títulosdo ciclono SpcinePlay
(www.spcineplay.com.br)propõeum
pioneirobalançoda contribuição dos
documentários dirigidospor
mulheres no últimoquarto
de século, comoespelhado
pela seleçãodo festival.
Pegadasestéticasdasmaisdistintas
revelam-seemobrasessenciaisdetrês
geraçõesdediretoras,começandopela
desbravadoraHelenaSolberg
(“CarmenMiranda-BananasIsMy
Business”,1995),saudandoageração
reveladaaindanosanosárduosda
décadade1980comcineastascomo
SandraWerneck(“MexeuComUma,
MexeuComTodas”,2017)atéchegar
aosnovostalentosafirmadosjáneste
séculoXXII,comoAndreaPasquini
(“OsMelhoresAnosdeNossasVidas”,
2003)eMaríliaRocha(“Aboio”,2005).
Mesmoumciclocomodobrode
títulosseriainsuficiente.■

AmirLabakié diretor-fundadordo
É TudoVerdade—Festival Internacional
deDocumentários.

E-mail:[email protected]
Sitedofestival:
http://www.etudoverdade.com.br


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