Valor - Eu & Fim de Semana (2020-03-20)

(Antfer) #1
Sexta-feira,20demarçode2020|Valor| 9

“Autoridadesestão
lutando comas
políticasdeontem
parareforçara
confiançafinanceira
contra umacriseque
é diferente”,diz
Richard Kozul-Wright,
daUnctad

trais,em particular,tentamenfrentaressa
criseduplacomas ferramentasque pos-
suem.Elas incluem a políticamonetária,
com medidascomoareduçãoda taxa bási-
ca de juros,e apolíticafiscal,como au-
mentode gastospúblicos,por exemplo.E
as autoridades dos paísesdesenvolvidos
não estãoeconomizandonessasações.Ao
contrário. Nãopor acaso,otermo “sem
precedentes”dominouo noticiáriointer-
nacional nas últimassemanas.
Na Alemanha,cujasfronteirasforamfe-
chadasno últimodomingo,oministrodas
Finanças,Olaf Scholz,usouo termo“bazu-
ca” para definiro tipo de impactoque bus-
cava com um conjuntode iniciativasado-
tadasparacontera crise.O país prometeu
“dinheiro ilimitado”àsempresasde todos
os portes,cuja atividadefosseatingidape-
lo novocoronavírus.Os empréstimos serão
feitospeloKfW,ob ancoestatalde desen-
volvimento. Oministroda Economia, Peter
Altmaier, observouque, pelo porte,as me-
didasnão encontram“paralelona história
do pós-guerrado país”.
O orçamentoalemãogaranterecursos
de€460 bilhõesaoKfW, mas outros€ 93
bilhõesforamacrescidosao bolo,amplian-
do o poderde fogodo bancopara maisde
€550 bilhões.“Issoé apenaso começo”,
disseAltmaier. “As açõesde fato surpreen-
dem”,afirmao economistaJosé JúlioSen-
na. “Principalmente,em se tratandode um
país pouquíssimoafeitoaabrir mão de um
extremo rigor fiscal.”Na França, outro
exemplo,ogovernoanuncioupolíticasfis-
cais de “guerra” para enfrentar a covid-19.
Se os alemãesScholze Altmaierusaram
uma bazucacontraa pandemia, o america-
no JeromePowell,presidente do Federal
Reserve(Fed), obancocentraldos Estados
Unidos,disparouum míssilna caladado
domingo, dia 15. Em umaaçãocoordena-
da com presidentes de grandes bancos
centrais, Powellcolocousobrea mesao
maiorpacotede estímulosque se viu desde
a crisefinanceirainternacional,em 2008.
Os jurosde políticamonetáriaforamredu-
zidosparao intervaloentrezero e 0,25%e
estavam entre1% e1,25%.O FederalReser-
ve prometeuaindacomprarUS$ 700 bi-
lhõesem títulos.Serãopelo menosUS$ 500
bilhõesem títulos do Tesouroe US$ 200 bi-
lhõesem títuloslastreadosem hipotecas.
Ocorreque, nembazucas,nemmísseis
foramsuficientesparaapaziguaro pânico
que dominouo mercadonas últimasse-
manas.O programa anunciadopeloFed,
batizadode “quantitative easing”, ou
afrouxamentoquantitativo, na verdadete-
ve efeitocontrário. Ele provocouum desas-


tre de proporçõeshistóricasnas bolsas.Por
quê?“A açãodo Fed, tomada de maneira
incomumem umatardede domingo, pa-
rece ter sido interpretadacomoum sinal
de que as coisasestavam muitopioresdo
que havia sidoindicadoanteriormente”,
diz Kozul-Wright,da Unctad.“As autorida-
des estãolutandocomas políticasde on-
tem parareforçaraconfiança financeira
contrauma crise que é diferente.”
Alémdomais,observaJoséJúlioSenna,as
ferramentas dos bancoscentrais,em parti-
cularasdepolíticamonetária,esbarramem
limitescadavez maisnítidos.Isso tem a ver
com as margensapertadasparaa redução
das taxasbásicasde jurosnas economias
avançadas,principalmentena zonado eu-
ro.Mas tambémcom mudançasestruturais
da economia ao longoda últimadécada.
Sennaacrescentaque medidasfiscaisou
monetáriasnão podemaindaconsertarca-
deiasde suprimentofraturadas,nemlevar
compradoresde voltaaos shoppingsou tu-
ristasahotéiseaviões.“Essaspolíticasnão
são ruins”,afirma.“Masnão são adequadas
paraomomentoatual.”
Barry Eichengreen observaque todosos
instrumentos tradicionaisdevemser usa-
dos, mas o foco das atençõesprecisase vol-
tar paraoutrocampo. “Hoje,as medidas
maisimportantesparaapoiaraeconomia
estãorelacionadasà saúde”, diz o econo-

mistaamericano. “O gerenciamentodas
consequências adversas, diminuindo a
propagação da infecção,proporcionará
tempopara que oclima maisquentepossa
ajudaraatenuaracrise,principalmente
nos EstadosUnidos ena Europa,e modali-
dadesde tratamentomédicomaiseficazes
possamser desenvolvidas.”
Outros analistas, como Mohamed
El-Erian,tambémapontamque a econo-
mia vai se reerguerno momentoem que as
autoridadesde saúdegarantirem às pes-
soas que onovo coronavírusfoi contidoea
imunidadeàdoençaque ele causa,a co-
vid-19,aumentou.Nessecaso, a recupera-
ção podeser rápida,mas aindaassimnão
deveser instantânea.Em suma,oprincipal
campode batalhaé a saúde.
Aindaassim,frisam os especialistas,é
importantequeos governostentemevitar
que uma crise transitória(por maisgrave e
complexaque seja, sabe-seque será supe-
rada)se transformeem um problemaper-
manente.Oobjetivo, portanto,éc ombater
ovírus e não ter de lidarno segundose-
mestredesteano comfábricas fechadas e
um númeroaindamaiorde trabalhadores
desempregados.
E essa não tem sidotarefasimples.Ao
longodestasemana,váriosfocosdeestresse
deterioraram as expectativasdo mercado.
Um delesfoi ofato de ocoronavíruster

SALVATOREDI NOLFI/KEYSTONE VIAAP

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