Escrever sob demanda é sempre uma tarefa árdua, visto que nem sempre sabemos se
conseguiremos cumprir com a expectativa daqueles que nos delegam tal missão. No
entanto, no presente caso, a escrita não é apenas árdua, mas também muito
prazerosa, pois é uma honra poder participar desse momento tão importante para o
Coletivo La Noche é Cênica e, consequentemente, para a arte viva que pulsa em
Ribeirão das Neves. Dessa forma, sem mais delongas, mas com o mesmo frio na
barriga de quem tropeça na folha pela primeira vez, escrevo essa apresentação.
Parto, para isso, de uma lembrança não muito distante, de uma época em que era
comum concordar com amigos de outras cidades sobre a escassez de atividades
culturais que envolvessem a juventude e fizessem de Ribeirão das Neves mais do que
uma cidade dormitório. Uma época em que era comum pegarmos ônibus rumo à
capital para estarmos em contato com a arte viva que brotava de corpos rebeldes
dispostos a escreverem um novo final para o tão já batido roteiro excludente que
insistia e, ainda insiste, em querer dizer que à periferia nada cabe, a não ser o descaso.
Desse tempo, guardo a lembrança dos encontros com tantas potências artísticas
nevenses em apresentações fora da cidade, e pude reencontrar muitas delas aqui em
Ribeirão a partir da organização de alguns coletivos que foram, e são,
importantíssimos para a nossa cultura, como é o caso do La Noche é Cênica. Um
coletivo que desde o seu início se mostrou preocupado em unir as diversas
representações da arte autoral de Ribeirão das Neves, possibilitando, assim, o
fortalecimento de um campo artístico vivo e potente.
O Coletivo nasceu, cresceu e completa agora seus seis anos, como um rio que nunca é
o mesmo, mas que sabe que a sua força estará sempre no movimento e na união com
outros rios. Esse material é mais um afluente do La Noche é Cênica, e é um prazer
trafegar por ele.
Chicão