O Estado de São Paulo (2020-03-22)

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A22 DOMINGO, 22 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


UGO


GIORGETTI


Esportes


ENTIDADES UNIDAS


Atletismo dos EUA faz


coro por nova data


A federação de atletismo dos Es-
tados Unidos (USATF, na sigla
em inglês) fez coro com a de na-
tação do país e também pediu o
adiamento dos Jogos de Tó-
quio. A entidade pressiona o Co-
mitê Olímpico dos EUA a en-
campar essa briga para alterar a
data do grande evento por cau-


sa da pandemia de coronavírus.
Só para se ter uma ideia da força
delas, as duas juntas conquista-
ram 65 pódios na Rio-2016.
“A USATF está respeitosa-
mente pedindo aos Comitês
Olímpico e Paralímpico dos
EUA que defendam junto ao
COI o adiamento dos Jogos de

Tóquio”, diz a carta assinada pe-
lo CEO Max Siegel. O documen-
to foi endereçado à Sarah Hirsh-
land, CEO do Comitê Olímpico
dos Estados Unidos.
“Este é um momento crítico
para nossos atletas treinar e
competir porque eles buscam
estar em suas melhores condi-
ções para representar nosso
país. Nosso maior objetivo é al-
cançar a excelência atlética du-
rante os Jogos Olímpicos, mas
não às custas da segurança e do
bem-estar dos nossos atletas”,
destacou o dirigente.

Siegel enfatizou que os com-
petidores estão vivendo sob for-
te estresse diante da dificulda-
de de manter suas rotinas de
treino. “Nossos atletas estão
sob muita pressão e ansiedade,
e a saúde mental e o bem-estar
deles estão entre nossas priori-
dades. A coisa mais certa e res-
ponsável a se fazer é reconhe-
cer apropriadamente o impac-
to que essa difícil situação tem
sobre nossos atletas na prepara-
ção para a Olimpíada.”
Ao tornar pública sua carta, a
federação de atletismo se junta

à de natação dos EUA. Na sexta-
feira, a entidade pediu publica-
mente o adiamento da Olimpía-
da. “Vimos o mundo de nossos
atletas virar de cabeça para bai-
xo”, escreveu o CEO da natação
nos EUA, Tim Hinchey.
Apesar dos apelos, o Comitê
Olímpico dos EUA acha que é
cedo para tomar qualquer deci-
são. “Nossas competições não
são na próxima semana, nem
em duas semanas. São em qua-
tro meses”, disse Susanne
Lyons, presidente do Comitê
Olímpico e Paralímpico.

E-MAIL: [email protected]

Radamés Lattari
Diretor executivo da CBV
“Visando a ter uma competi-
ção no mais alto nível, como
merecido, concordamos que
este não é o ano ideal”


Luiz Fernando Coelho
Presidente da CBDA
“O proposto adiamento dos
Jogos para 2021 minimizaria os
impactos que estamos sofren-
do neste momento”

Eduardo Musa
Presidente da CBSk
“Apoio a decisão do COB e re-
forço que, no momento, toda a
comunidade do skate deve per-
manecer em casa”

Maria Luciene Resende
Presidente da CBG
“Diante de toda essa incerteza,
nosso compromisso é reforçar
o pleito pelo adiamento do
evento de Tóquio”

Warlindo Carneiro Filho
Presidente da CBAt
“Neste momento, o mais im-
portante é a saúde de nossos
atletas e de toda a comunidade
atlética no mundo”

Silvio Acácio Borges
Presidente da CBJ
“O momento é de prezarmos
pelo bem-estar dos nossos atle-
tas e cuidarmos da saúde mun-
dial de forma coletiva”

O Comitê Olímpico do Brasil
(COB) anunciou que é a favor
do adiamento dos Jogos
Olímpicos de Tóquio para
2021 em razão da pandemia
do novo coronavírus que as-
sola o mundo. O evento está
marcado para começar em 24
de julho, mas muitas vozes no
meio esportivo já começam a
pedir que seja remarcado
mais para frente.
No comunicado, o COB diz
que sua posição se dá em razão
do agravamento da pandemia
da covid-19, que já infectou
mais de 300 mil pessoas em to-
do o mundo, e “pela consequen-
te dificuldade dos atletas de
manterem seu melhor nível
competitivo pela necessidade
de paralisação dos treinos e
competições em escala global”.
Paulo Wanderley, presidente
do COB, manifestou sua posi-
ção nesse momento. “Como ju-
doca e ex-técnico da modalida-
de, aprendi que o sonho de todo
atleta é disputar uma Olimpía-
da em suas melhores condi-
ções. Está claro que, neste mo-
mento, manter os Jogos para es-
te ano impedirá que este sonho
seja realizado em sua plenitu-
de”, comentou.
A sugestão do COB é de que o
evento ocorra no mesmo perío-
do que está marcado para este
ano, só que em 2021, ou seja, no
final de julho e começo de agos-
to. A entidade ressalta que a su-
gestão de adiamento da Olim-
píada “em nada altera a confian-
ça da entidade no Comitê Olím-
pico Internacional de que a me-
lhor solução será tomada”, ci-
tando exemplos de problemas
superados no passado.


“O COI já passou por proble-
mas imensos anteriormente, co-
mo nos episódios que culmina-
ram no cancelamento dos Jo-
gos de 1916, 1940 e 1944, por cau-
sa das Guerras Mundiais, e nos
boicotes de Moscou-80 e Los
Angeles-84. A entidade soube ul-
trapassar estes obstáculos, e ve-
mos a Chama Olímpica mais for-
te do que nunca. Tenho certeza
de que o Thomas Bach, atleta
medalha de ouro em Montreal-
76, está plenamente preparado
para nos liderar neste momen-
to de dificuldade”, reforçou
Paulo Wanderley.

Para evitar a propagação do
coronavírus, o COB cancelou
eventos públicos e preparató-
rios para os Jogos de Tóquio e
determinou o fechamento total
do CT Time Brasil. Vários even-
tos esportivos de grande apelo
foram adiados em razão da co-
vid-19, casos da Copa América e
Eurocopa, por exemplo, tor-
neios transferidos para 2021.
Apesar da tendência no espor-
te mundial, o COI continua ban-
cando os Jogos de Tóquio na da-
ta programada. Thomas Bach,
presidente da entidade, expli-
cou as razões pelas quais a pos-

tura de não mexer com a progra-
mação dos Jogos de Tóquio é
mantida. Segundo o dirigente,
um cancelamento está fora de
cogitação e até mesmo adiar em
alguns meses ou para 2021 não
entrou na pauta.
“É claro que estamos conside-
rando muitos cenários distin-
tos, mas somos diferentes de ou-
tras organizações esportivas e
ligas profissionais porque a
Olimpíada está a quatro meses
e meio de distância. Essas orga-
nizações estão sendo ainda
mais otimistas do que nós, por-
que adiaram seus eventos até

abril ou o final de maio. Já nós
estamos falando do final de ju-
lho”, comentou, em entrevista
ao New York Times.
Ele explica que a pandemia
de coronavírus, que tem afeta-
do muitos países, coloca incer-
teza no movimento olímpico,
mas garante que por enquanto
nada será alterado. “Ninguém
consegue dizer hoje quais serão
os desdobramentos dentro de
mais de quatro meses. Portan-
to, não seria responsável estabe-
lecer agora uma data para to-
mar uma decisão, já que isso se
basearia em especulação.”

Olimpíada de Tóquio. COB sugere que competição seja realizada apenas em 2021 por causa da pandemia do novo coronavírus


estadao.com.br/e/dybala

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


POTÊNCIA

O


futebol paulista precisava
interromper definitivamen-
te suas atividades. Poderia
terminar de cabeça baixa com um
jogo insípido, com alguma partida
melancólica, sem torcida e sem pú-
blico. O acaso decidiu de outra ma-
neira. O Campeonato Paulista de
2020 interrompeu suas atividades
em grande estilo, com um clássico
de intensidade impensável, com to-
dos os ingredientes dos grandes
clássicos.
Quando se pensa em clássico,
aliás, vem sempre à mente os mes-
mos jogos, envolvendo quase sem-

pre as mesmas torcidas. Poucos se lem-
bram de outros clássicos, mas eles exis-
tem. Espalhados pelo Brasil, se man-
têm vivos e rivalizam com os grandes
clássicos das grandes metrópoles.
Bem perto de nós, aqui no interior
paulista, temos uma das maiores rivali-
dades do País, com jogos épicos no de-
correr de suas histórias, que não per-
dem para nenhum Palmeiras x Corin-
thians em intensidade e significado pa-
ra suas torcidas. Falo de Guarani x Pon-
te Preta.
Pois bem, no meio disso tudo, do me-
do, da insegurança, da perplexidade e
sentimento de abandono que atinge to-

do o País, esses dois clubes protagoni-
zaram um espetáculo que vai se conser-
var, talvez por longo tempo, na lem-
brança das torcidas como a mais digna
despedida que o futebol paulista pode-
ria oferecer. O clássico que não deveria
ser jogado, o clássico do luto, o clássico
solitário, longe do público, o clássico
das despedidas, a cerimônia do adeus
do futebol interrompido.
Foi, ao contrário, um clássico como
não se via há muito tempo, para uma
invisível torcida que parecia estar lá,
lotando o Brinco de Ouro. Se não hou-
ver mais futebol, os torcedores de Gua-
rani e Ponte levarão para sempre em
suas retinas fatigadas esse jogo épico,
com todos os ingredientes das celebra-
ções em momentos decisivos.
Houve de tudo o que compõe um
clássico. A Ponte vencia por 2 a 0 até o
fim do primeiro tempo. Um jogo pega-
do, tumultuado, mas bem jogado, com
chances dos dois lados. O segundo
tempo terminou com a virada espeta-
cular do Guarani. O segundo gol, o de

empate, foi uma jogada de grande sofis-
ticação e a Ponte quase marca um gol
também antológico. O jogo terminou
com a vitória do Bugre e briga entre os
jogadores. Em vez de despedida lacri-
mosa, briga. Como nos bons tempos.
Como um jogo dessa qualidade se
deu em momento tão inesperado? É
como se a vida, que vai ressurgir sem
dúvida, desse uma derradeira mensa-
gem de esperança através do futebol e
deixasse como que uma promessa de
futuro. As maiores tragédias trazem
consigo brechas através das quais é
possível espreitar e vislumbrar coisas
mais agradáveis, pelo menos por mo-
mentos. Guarani e Ponte Preta se tor-
naram uma dessas brechas, momentâ-
neos instantes ensolarados entre dias
sombrios, para suavizar um cotidiano
brutal. Faz parte também do acaso ter
destinado a esses dois clubes fazer o
jogo final, o que dava por encerrado o
campeonato não se sabe por quanto
tempo.
Guarani x Ponte merece seu lugar

entre os clássicos pela trajetória in-
vulgar das duas equipes no futebol
paulista e brasileiro. Talvez, neste
momento, tivesse mais significado
para o Guarani, pelos infortúnios
do clube até recentemente, quando
se temeu até por seu próprio desapa-
recimento. Mas, por tratativas e pro-
vidências que eu totalmente desco-
nheço, o time ressurgiu e o prêmio
maior que poderia ter, a mensagem
mais clara que poderia dar de sua
reconstrução, é certamente uma vi-
tória como a que acaba de obter con-
tra seu maior rival.
A volta do Guarani é importante
também para a Ponte. Os dois clu-
bes se nutrem da rivalidade e talvez
existam sobretudo por ela. Quero
dizer que pessoalmente agradeço a
Guarani e Ponte por me terem dado
momentos, que julgava já perdidos,
de encanto com o futebol. Foi como
olhar pela janela e perceber, subita-
mente, que sobre a rua deserta o sol
brilhava.

Confederações


esportivas nacionais


apoiam a postura


PHILIP FONG / AFP

Brasil defende adiamento dos Jogos


Chama olímpica. Apesar dos apelos para adiar, organizadores dos Jogos de Tóquio mantêm a programação do evento

lAs confederações esportivas
ligadas ao Comitê Olímpico do
Brasil (COB) endossaram a
posição da entidade que
comanda os esportes olímpicos
no País e se manifestaram a
favor do adiamento dos Jogos de
Tóquio para 2021, no período
semelhante ao originalmente
estabelecido, entre o fim de julho
e a primeira quinzena de agosto.
O motivo do pedido da
prorrogação é a pandemia do
novo coronavírus. A postura do
COB e das confederações
brasileiras se opõe à do Comitê
Olímpico Internacional (COI) e
do governo japonês, que por
enquanto entendem que o evento
deve ocorrer na data prevista.
Para além do apoio, a
Confederação Brasileira de
Ginástica (CBG) informou que vai
enviar uma carta à Federação
Internacional de Ginástica (FIG)
para pleitear o adiamento da
Olimpíada. “Nossos atletas não
podem treinar e estamos
impossibilitados de fazer planos
de viagens. Neste momento a
crise mundial provocada pela
pandemia se impõe sobre o
planejamento anteriormente
traçado, que é forçosamente
relegado a um segundo plano.
No quadro atual, essa
perspectiva é impossível”, disse
Maria Luciene Cacho Resende,
presidente da CBG.

NA WEB
Coronavírus.
Atacante Dybala
está infectado

6

33 medalhas
a natação dos Estados Unidos
ganhou nos Jogos do Rio, sendo
16 delas de ouro.

32 pódios
conquistou o atletismo norte-
americano, incluindo 13 ouros.

Fechou em grande estilo


LAURENT CIPRIANI/AP
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