O Estado de São Paulo (2020-03-22)

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B10 Economia DOMINGO, 22 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


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Anne Warth / BRASÍLIA
Circe Bonatelli
Bruno Romani / SÃO PAULO


O aumento no número de pes-
soas que estão sem sair de ca-
sa para trabalhar e se divertir,
por causa do novo coronaví-
rus, está provocando alta no
tráfego de internet do Brasil.
Desde quarta-feira, o País ba-
teu recorde todas as noites
em volume de dados, com 10
terabits sendo enviados por
segundo (Tb/s), segundo da-
dos do Núcleo de Informação
e Coordenação do Ponto BR
(NIC.br). Enquanto as teles
dizem que a capacidade das
redes não é infinita e pedem
“uso responsável” aos usuá-
rios, especialistas e entidades
afirmam que o crescimento
até aqui é residual e a infraes-
trutura está preparada para
aguentar a alta na demanda.
Segundo Milton Kaoru
Kashiwakura, diretor de proje-
tos especiais e desenvolvimen-
to do NIC.br, que supervisiona
a governança da internet no
País, o uso de dados aumentou
entre 5% e 10% ao longo do dia
nas últimas duas semanas. “O
pico de 10 Tb/s ocorreu num
momento em que, por conta da
covid-19, mais pessoas passa-
ram a acessar a internet para
fins como trabalho remoto, es-
tudo a distância e busca por en-
tretenimento”, afirma. “Mas is-
to não deve ser visto de forma
isolada, porque o crescimento
recente tem sido uniforme.”
Já de acordo com Julio Siro-
ta, gerente de infraestrutura do
IX.br, entidade do NIC.br res-
ponsável por criar infraestrutu-
ra para trocas de dados entre as
redes das operadoras e de gran-
des empresas, o tráfego dos últi-
mos dias se assemelha a de um
fim de semana, com bastante de-
manda por streaming de vídeo.


Sob controle. Sirota diz que é
pouco provável que o volume
de tráfego venha a explodir em
breve. “As pessoas não vão pas-
sar a consumir duas ou três ve-
zes mais tráfego. Os provedo-
res de conteúdo já pediram pa-
ra aumentar a capacidade, mas
as empresas se antecipam a pos-
síveis aumento de demanda.”
A antecipação da demanda é
algo feito pelas operadoras, afir-
ma Giuseppe Marrara, diretor
de relações governamentais da
fabricante de equipamentos pa-
ra telecomunicação Cisco.
“Com ou sem coronavírus, o trá-
fego de rede cresce de 20% a
30% por ano. As teles trabalham


com capacidade que se antecipa
à demanda de 6 a 12 meses”, diz.
Responsável por atuar na ins-
talação e manutenção de redes
de fibra óptica e antenas de 3G
e 4G no País, a Associação Brasi-
leira de Empresas de Soluções

de Telecomunicações e Infor-
mática (Abeprest) afirma que a
mudança até aqui é esperada.
“Notamos um aumento no trá-
fego de dados, mas até aqui é
um volume residual. Não ve-
mos risco imediato”, diz o dire-

tor de Relações Institucionais
da entidade, Hélio Bampi.
Segundo Marrara, da Cisco,
podem acontecer problemas
pontuais, especialmente em
bairros residenciais. “A deman-
da que existe em locais prepa-
rados para o tráfego, como a
região da Avenida Paulista, vai
se diluir em outros pontos da
cidade que podem não ter a
mesma infraestrutura”, diz. Pa-
ra ele, as operadoras têm habi-
lidade para gerir as redes “É
possível identificar pontos
que estão consumindo banda
além do normal e baixar sua
capacidade para garantir o uso
de todos.”
Na sexta-feira, o Sinditele-
brasil, que reúne as principais
operadoras do País, divulgou
comunicado pedindo aos usuá-
rios “uso responsável” das re-
des, evitando sobrecargas. (ve-
ja dicas ao lado) “Os recursos
de rede não são infinitos”, dis-
se a entidade, em nota. Forma-
do por Algar Telecom, Claro,
Nextel, Sercomtel, Oi, TIM e
Vivo, o grupo também vai se
reunir em um comitê de crise
para alinhar prioridades e me-

didas, incluindo a conectivida-
de de hospitais e unidades de
saúde. Já a Asiet, associação
que reúne operadoras latinas,
reitera que a infraestrutura é
capaz de suportar aumento da
demanda.

Lá fora. Para manter a qualida-
de do serviço, recomendações
mais duras já foram adotadas
na Europa. Na Espanha, em qua-
rentena desde 15 de março, a Te-
lefónica pediu para seus clien-
tes que priorizem o uso da inter-
net para quem trabalha ou estu-
da em casa durante o dia e che-
gou até a sugerir o uso do telefo-
ne fixo. A União Europeia tam-
bém pediu a empresas de ví-
deos – como Netflix, YouTube e

Amazon Prime – para que redu-
zissem a qualidade de suas
transmissões, a fim de não so-
brecarregar as redes.
A medida foi acatada pelas
companhias – a Netflix, por
exemplo, vai reduzir a transmis-
são de dados em até 25%, confor-
me perceber a demanda das re-
des. Procurada pelo Estado, a
empresa disse que não descarta
adotar a prática pelo mundo.
“Trabalhamos com governos
de todo o mundo e aplicaremos
as mudanças conforme for ne-
cessário em outros lugares”,
diz, em nota. Já o YouTube diz
que as medidas por enquanto
só valem para a UE – no próxi-
mos mês, os europeus não terão
vídeos em alta definição ou 4K,
assistindo as imagens na chama-
da definição padrão (480p).
Para Marrara, da Cisco, o
streaming não preocupa. “As
empresas já fazem a redução de
qualidade conforme percebem
instabilidades na rede”, diz. “O
mais difícil será lidar com o ups-
treaming, isto é, com as pessoas
transmitindo conteúdo para a
rede, que é mais imprevisível.” /
COLABOROU BRUNO CAPELAS

Já disponível em países como
EUA e Coreia do Sul, a tecnolo-
gia de conexão móvel de quinta
geração ainda vai demorar um
pouco para chegar ao Brasil – a
previsão mais otimista é de que
as redes comecem a ser imple-
mentadas pelas operadoras no
ano que vem. Mas isso não signifi-
ca que as redes 5G, como são po-
pularmente conhecidas, não es-
tão ajudando desde já a internet
brasileira: segundo especialistas,
a preparação para a demanda
que as redes móveis trarão no fu-


turo é bem-vinda em um cenário
de alta na demanda, como o que
aconteceu nesta semana por con-
ta do novo coronavírus.
“O que estamos vendo nestas
semanas de coronavírus será si-
milar ao que haverá no 5G. As
redes ainda não estão prontas,
mas as operadoras já têm investi-
do no seu núcleo, o que garante
uma certa capacidade adicio-
nal”, diz Giuseppe Marrara, dire-
tor de relações governamentais
da fabricante de equipamentos
para telecomunicação america-
na Cisco. “Já lançamos equipa-
mentos de núcleo de rede que
entregam até 50 vezes mais capa-
cidade que um núcleo normal.”

Leilão. Há dúvidas no setor se
o atual momento do coronaví-
rus pode afetar o processo de im-

plementação do 5G. Ainda sem
data marcada para acontecer, o
leilão das faixas de frequência se-
rá o primeiro passo concreto pa-
ra isso. Na indústria, a expectati-
va é a de que ele ocorra apenas
em novembro, e o funcionamen-
to das redes só aconteceria oito
meses após a definição dos lotes
de frequências. Por conta disso,
especialistas e indústrias ado-
tam bastante cautela para fazer
previsões.
O ponto principal é determi-
nar se o leilão poderá sofrer atra-

sos por causa da pandemia. Nos
últimos dias, o processo ocorria
normalmente, contando inclusi-
ve com audiência pública feita
pela Anatel no dia 12. Ao Esta-
do, a agência emitiu uma nota
esclarecendo que “o processo
regulatório que trata do chama-
do leilão de 5G, não sofre interfe-
rência da covid-19”.
“Num cenário provável, nada
vai acontecer. Numa situação
bem pessimista, pode haver atra-
sos de datas e projetos”, diz Re-
nato Meirelles, analista da con-
sultoria IDC. “Existem outros
desafios para o 5G aqui, como a
geografia e a quantidade de ante-
nas exigidas pelas redes.” Procu-
rado pela reportagem, o Sindite-
lebrasil, que representa as opera-
doras, não quis se manifestar. Já
o Ministério da Ciência, Tecno-
logia, Inovação e Comunicações
(MCTIC) enviou nota à reporta-
gem alegando que o calendário
permanece o mesmo. / B.R.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


6

lDiferença

Preparação para 5G ajuda a evitar colapso


Brasil tem pico de tráfego de internet,


mas infraestrutura está preparada?


lCalma

COMO ‘ECONOMIZAR’ INTERNET

SERGIO PEREZ / REUTERS

100 Mpbs
é a velocidade máxima das
atuais redes 4G

1 Gbps
é a velocidade máxima do 5G
Meta. Previsão é de que 5G chegue ao Brasil no ano que vem

Implementação de


estruturas para demanda


futura diminui problemas;


até aqui, calendário de
leilão segue inalterado


Em meio à crise do coronavírus, volume de dados chegou a 10 terabits por segundo por duas noites seguidas, segundo o NIC.br;


operadoras pedem uso responsável a usuários, enquanto especialistas afirmam que aumento da demanda pode ser suportado


KACPER PEMPEL / REUTERS

“As pessoas não vão passar
a consumir duas ou três
vezes mais tráfego. E as
empresas sempre se
antecipam a possíveis
aumentos de demanda.”
Julio Sirota
GERENTE DE INFRAESTRUTURA DO IX.BR

Núcleo. De acordo com especialistas, ‘espinha dorsal’ da internet no País vai segurar demanda, mas problemas pontuais podem acontecer nas cidades

Dicas para ‘uso responsável’

l Arquivos
Baixar apenas arquivos que se-
jam necessários e, preferencial-
mente, no período da noite e não
enviar ou comprimir arquivos
pesados pela internet

l Horário
Não assistir a vídeos
de entretenimento e usar servi-
ços de streaming no horário co-
mercial, deixando redes livres
para quem estuda ou trabalha
remotamente. O mesmo vale pa-
ra downloads de jogos. Também
opte por ferramentas colaborati-
vas que não tenham funções de
vídeo, preferindo comunicação

por áudio ou texto

l Janelas
Desativar aplicações e páginas
que não estejam em uso naquele
exato momento, uma vez que
elas também consomem banda
para se manterem ativas

l Telefonia
Fazer uso das linhas de
telefonia fixas ou móveis para se
comunicar é outra alternativa, se
possível

l Streaming
Nos serviços de streaming de
música, baixar arquivos em vez
de escutá-los continuamente pela
internet
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