O Estado de São Paulo (2020-03-22)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-2:20200322:
A2 Espaçoaberto DOMINGO, 22 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






A Voyager 2 viaja pelo espaço
há 43 anos e agora está a mais
de 18 bilhões de quilômetros
da Terra. Mas, de vez em quan-
do, algo dá errado. No final de
janeiro, um erro disparou o
desligamento de algumas de
suas funções. Os gerentes da
missão sabiam o que fazer.
Eles enviaram comandos para


restaurar suas operações, mes-
mo que demore cerca de um
dia e meio para trocar mensa-
gens com a Voyager 2.
Mas, pelos próximos 11 me-
ses, eles não conseguirão en-
viar notícias à sonda, embora
a sonda ainda gere dados.

http://www.estadao.com.br/e/sonda

C


onseguiram humilhar
o coronavírus. Depois
de matar milhares de
pessoas em mais de cem paí-
ses, forçar milhões ao isola-
mento, arrasar mercados e le-
var o mundo à beira de uma
recessão brutal, o serial killer
foi rebaixado no Brasil à con-
dição de segunda maior cala-
midade. A número um, a
maior e mais perigosa, assola
o País há mais de um ano, pon-
do em risco a economia, a cul-
tura, a gramática, as institui-
ções, a natureza, o decoro e a
saúde pública. O Congresso
cuidou só do problema núme-
ro dois, portanto, ao aprovar
uma declaração de calamida-
de pública. Levam-se em con-
ta nessa decisão os danos cau-
sados pela pandemia do vírus
causador da doença conheci-
da como covid-19. Ao reconhe-
cer uma situação excepcional-
mente grave, o Legislativo
abriu caminho para ações tam-
bém extraordinárias. Com is-
so o governo poderá incorrer
num déficit primário superior
a R$ 124,1 bilhões, limite pre-
visto no Orçamento. Haverá
condições, enfim, para toda a
ação necessária contra os ma-
les associados à pandemia?
Isso dependerá, em boa par-
te, de como se comporte a ca-
lamidade pública número um.
As ações preventivas e com-
pensatórias anunciadas pelo
Executivo federal, até agora,
foram tomadas contra as con-
vicções demonstradas por
sua excelência, a calamidade
número um. Mesmo a reação
da equipe econômica foi mui-
to lenta. Há pouco mais de
uma semana o ministro da
Economia, Paulo Guedes, ain-
da cobrava do Congresso a
aprovação de reformas como
resposta aos novos desafios.
Uma boa reforma tributária
será, sem dúvida, importante
para a retomada de um cresci-
mento seguro e duradouro,
mas os novos problemas da
economia requerem respos-
tas imediatas. Além disso, o
Executivo nem sequer havia
apresentado ao Legislativo
suas ideias para a reconstru-
ção dos impostos e contribui-

ções. O projeto de reforma ad-
ministrativa, prometido para
logo depois do carnaval, conti-
nua em alguma gaveta.
A equipe econômica só
apresentou uma coleção ra-
zoavelmente ampla de medi-
das na última segunda-feira,
depois de desafiada pelo pre-
sidente da Câmara, Rodrigo
Maia. A grande novidade do
pacote foi a atenção, inédita
ou quase inédita no atual go-
verno, aos desempregados e
aos mais pobres. O anúncio
das iniciativas teve como con-
traponto comentários de sua
excelência, a calamidade
maior. Os comentários mais
uma vez puseram em dúvida
a gravidade da crise e atribuí-
ram exageros aos meios de
comunicação.
Segundo sua excelência,
tem havido histeria na reação
à crise. O Brasil, afirmou, já

enfrentou desafios mais gra-
ves. Não os mencionou, no en-
tanto. A primeira-ministra ale-
mã, Angela Merkel, e o presi-
dente francês, Emmanuel Ma-
cron, compararam a emergên-
cia de hoje com a 2.ª Guerra
Mundial. O presidente dos Es-
tados Unidos, Donald Trump,
definiu-se como “um presi-
dente de tempos de guerra”.
Recordando o conflito da Co-
reia, ele indicou a intenção de
invocar a Lei de Produção de
Defesa, de 1950, para ampliar
a fabricação de máscaras, lu-
vas e equipamentos hospitala-
res. No Reino Unido, a Ford
se prontificou a produzir res-
piradores para hospitais. Na
França, indústrias de perfu-
mes participam do esforço pa-
ra aumentar a oferta de álcool
gel. Pelos critérios de sua ex-
celência, a calamidade núme-
ro um, devem ser um bando
de histéricos.
Se esse for o caso, a mesma
histeria tem dominado, no
Brasil, governadores e prefei-
tos, dispostos a restringir as

aglomerações para conter –
ou pelo menos tornar mais
lenta – a difusão do novo coro-
navírus. As limitações afetam
o funcionamento do comércio
e dos serviços. Dirigentes de
empresas privadas já haviam
avançado nessa direção, man-
dando para casa os trabalhado-
res mais velhos, organizando
sistemas de home office e alte-
rando os horários de trabalho.
Aparentemente sem perceber
ou entender esse amplo movi-
mento, sua excelência mais de
uma vez acusou governadores
de impedir o bom funciona-
mento da economia.
Se sua excelência tiver ra-
zão, esses governadores, as-
sim como os prefeitos, devem
estar dispostos, por mera in-
competência ou por demago-
gia autodestrutiva, a perder re-
ceita de impostos num ano já
difícil desde o começo. À som-
bra da calamidade maior, a
economia já foi mal no ano
passado. Quanto aos dirigen-
tes de empresas, só podem
ser, por esse critério, um ban-
do de cretinos. A prova disso
é a disposição de complicar o
funcionamento de suas com-
panhias – atitude agravada pe-
la aceitação pacífica das medi-
das de prevenção sanitária di-
tadas pelo poder público.
Sua excelência tem alterna-
do o discurso contrário à pre-
venção com declarações bem
comportadas a favor dessa
mesma política. De vez em
quando, no entanto, suas con-
vicções e preocupações mais
fortes irrompem de forma
descontrolada. Isso ocorreu,
por exemplo, quando a ilustre
figura se declarou disposta a
entrar em barcas e metrôs pa-
ra se juntar ao povo. Já havia
feito algo do gênero, violando
recomendação médica, ao par-
ticipar de manifestação em
Brasília. Nessa manifestação
houve cartazes contra os Po-
deres Legislativo e Judiciário


  • contra a ordem institucio-
    nal democrática, portanto. Al-
    guma surpresa quanto ao en-
    tusiasmo de sua excelência?


]
JORNALISTA

Ação #MãosSeguras vai con-
tar com a colaboração de
influenciadores.

http://www.estadao.com.br/e/tiktok

MISSÃO PARA MARTE


Chamadas sem resposta para o espaço


O vídeo ensina como lavar
as mãos corretamente e faz
parte dos esforços para con-
ter a transmissão do novo
coronavírus.

http://www.estadao.com.br/e/google

l“Para nós aqui no Brasil, que estamos no começo da pandemia, a pos-
sibilidade de o tratamento com esse remédio dar certo é animadora.”
ELIANE BATISTA RAMOS

l“Parem de comprar esse remédio sem necessidade. Está faltando
para as pessoas que fazem uso diário por causa de doença autoimune.”
ROBERTA CERQUEIRA REIS

l“A dúvida é: e o pobre, agora sem emprego, que vai procurar o SUS,
terá direito também?”
DAVID HAMBER

l“Para quem não sabe, só quem pode usar o medicamento são os
hospitais. Não compre em farmácias ou vai ficar doente.”
MATEUS CECILIANO

COMENTÁRIOS

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Com estoque excedente
após ter feira cancelada por
causa do novo coronavírus,
eles se unem para comercia-
lizar material online.

http://www.estadao.com.br/e/produtores

Espaço Aberto


A


verdade é que temos
dois governos. Um no
rumo certo, sério e
competente, personificado
pelos ministros da Economia
e da Saúde, principalmente.
Outro, populista e irresponsá-
vel, personificado pelo presi-
dente Jair Bolsonaro, vez por
outra coadjuvado pelos minis-
tros da Educação e das Rela-
ções Exteriores.
De fato, 15 meses não fo-
ram suficientes para Jair Bol-
sonaro nos tranquilizar quan-
to à sua compreensão dos re-
quisitos básicos do cargo pa-
ra o qual foi eleito e da crítica
situação que estamos viven-
do. Sua subestimação da se-
riedade da pandemia de co-
vid-19 volta e meia nos traz à
memória um fato de dez anos
atrás: a hilária referência de
Lula à crise financeira que se
avizinhava. Da subestimação
decorreu a convocação de ma-
nifestações de apoio à sua
pessoa e de pressão sobre o
Legislativo e o Judiciário. Há
quem afirme que ele não fez
tal convocação, que elas te-
riam sido espontâneas, ou, en-
tão, que ele as convocou e de-
pois desconvocou. Acontece
que em política é possível di-
zer algo sem dizer nada, ou
até dizendo o contrário do
que se pretende. Para mim,
ele as convocou na base do
“bem me quer, mal me quer”,
deixando espaço para recuar
quando isso lhe parecesse ta-
ticamente conveniente.
Mas isso é o de menos. Fato
é que, sendo ele o presidente
da República, a atitude corre-
ta seria alertar a sociedade pa-
ra o risco de aglomerações,
alerta feito por seu ministro
da Saúde; e fazê-lo, não em
frases soltas ao vento, mas
com solenidade e firmeza, em
cadeia nacional de rádio e tele-
visão. Alertar também, no que
toca ao Legislativo e ao Judi-
ciário, que a Constituição ve-
da expressamente quaisquer
ações que dificultem o ade-
quado funcionamento dos Po-
deres do Estado. Não menos
importante, afirmar, em alto
e bom senso, como supremo
magistrado, que ele não com-


pactua com a grita de setores
“sinceros, mas radicais” que
exigem a derrubada das insti-
tuições representativas, qual-
quer que seja a avaliação de
cada um sobre o presente de-
sempenho delas.
Acrescente-se – e este é o
ponto mais grave, que não
deixa dúvida sobre as diferen-
tes interpretações que se têm
dado aos fatos acima mencio-
nados – que Jair Bolsonaro
não se contentou em saber
pela imprensa ou pela inter-
net que uma parcela da socie-
dade parecia (ou parece) ade-
rir ao seu não convocado
“queremismo”. Não. Ceden-
do ao cerne populista que in-
forma seu modo de sentir a
política, ele desceu a rampa a
fim de cumprimentar um gru-
po de manifestantes, trocar
apertos de mão e tirar algu-
mas selfies, descumprindo de

modo flagrante as recomen-
dações de todas as organiza-
ções nacionais e internacio-
nais e de seu próprio minis-
tro da Saúde, que ora, angus-
tiadamente, se empenham no
combate ao coronavírus.
A bem da justiça devo repe-
tir que a outra metade de seu
governo tem demonstrado se-
riedade e competência, mas
em relação a ele, Jair Bolsona-
ro, sou forçado a reiterar o
que afirmei no início: até o
momento, ele tem se compor-
tado como um político popu-
lista e irresponsável. E a reite-
rar também minha dúvida so-
bre sua compreensão dos re-
quisitos básicos da posição
que ocupa e dos dramáticos
desafios que ora ameaçam
nossa existência como povo.
Não voltarei ao coronaví-
rus, voltarei à estúpida polari-
zação que se configurou des-
de a eleição de 2018. O fami-
gerado recurso ao “nós con-
tra eles” cultivado por Lula e
pelo PT metamorfoseou-se
em coisa pior: o bolsonaris-

mo acima de tudo e contra to-
dos os outros. Ou seja, uma
divisão vertical sem preceden-
tes no País, como se fôsse-
mos dois povos, contrapos-
tos e antagônicos. Cada um
com seus slogans, sua raiva e
seus panelaços. Quem não
apoia o “mito” é comunista, é
de esquerda, é tucano, ou tu-
do isso ao mesmo tempo, ou
coisa pior. É liberal, outro gra-
ve xingamento, não obstante
o ministro da Economia se
identificar como tal e estar
tentando implementar refor-
mas sabidamente indispensá-
veis, e inequivocamente libe-
rais. Orientado, ao que tudo
indica, pelo sábio da Virgínia,
o clã Bolsonaro vê-se como
um Dom Quixote de lança
em punho, pronto para extir-
par uma imaginária hegemo-
nia de esquerda que se teria
instalado entre nós desde a
Contrarreforma e no bojo do
patrimonialismo português,
perdurando e se fortalecendo
mesmo durante os 21 anos de
governos militares.
Tivesse ele uma compreen-
são mais adequada de sua po-
sição como supremo magistra-
do, Jair Bolsonaro já teria en-
tendido que não foi eleito por
uma seita, mas pela maioria
do eleitorado; e que a função
presidencial não se restringe
a um grupo de seguidores, a
um partido ou seita eleitoral,
mas à totalidade do povo bra-
sileiro. O palanque teve seu
momento, mas não foi e não
pode ser levado para dentro
do Palácio do Planalto. O ver-
bo agressivo, não raro insul-
tuoso, tem de ceder lugar a
uma fala formal, impessoal e
comedida. O que temos visto,
infelizmente, é o oposto. Jair
Bolsonaro parece entender
que seu papel é o de dividir
ainda mais o País, nem que o
preço seja se misturar infantil-
mente com a multidão, pon-
do em risco um número não
desprezível de cidadãos.

]
SÓCIO-DIRETOR DA AUGURIUM
CONSULTORIA, É MEMBRO DAS
ACADEMIAS PAULISTA DE LETRAS
E BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
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vendem pela internet

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]
Bolívar Lamounier


Tema do dia


Barreira com o Afeganistão
atravessa os penhascos verti-
ginosos da região.

http://www.estadao.com.br/e/fronteira

Um governo


bifronte


Verbo agressivo, não
raro insultuoso, tem de
dar lugar a fala formal,
impessoal e comedida

A calamidade pública número um


não é o coronavírus


Sua excelência fala
de histeria, enquanto
Trump e Merkel
falam de guerra

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
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SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO).
ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
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Cloroquina será


testada em pacientes


com coronavírus


Albert Einstein e Prevent Senior vão
pesquisar eficácia do medicamento que
já mostrou resultados promissores

]
Rolf Kuntz

NASA ALIMENTOS

No estadao.com.br


COVID-

TikTok lança nova
campanha no Brasil

DIVISA

Paquistão monta
cerca na fronteira
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