O Estado de São Paulo (2020-03-22)

(Antfer) #1

ROTINA






Como me adaptar ao home office?
O home office é uma grande quebra de
paradigmas e uma mudança de comporta-
mento. Ainda funciona como uma novidade e,
por isso, as dúvidas existem em ambos os la-
dos, empregador e empregado. É importante
levar em conta duas questões básicas:
Capacidade de preparação, tanto da empresa
quanto do funcionário: como vai ser a rotina, o
que vai produzir, o que e quando precisa entre-
gar; Estabelecer uma rotina de comunicação
com a própria empresa, de forma que o líder
oriente o funcionário nesse processo.






Sinto que em casa, por me sentir mais con-
fortável, fico menos produtivo. Como posso
melhorar isso?
É comum associar o conforto de casa à produti-
vidade menor. É importante seguir a mesma
rotina do escritório, mas em casa. Isso ajuda a
ter a sensação de que, mesmo mudando de am-
biente, é preciso produzir. As reuniões online
diárias ajudam a minimizar essa questão. Se os
seus líderes e a sua empresa não estabeleceram
isso ainda, dê essa dica. Essa ação faz com que
você se arrume para aparecer em chamadas de
vídeo, fique mais motivado por interagir com as
pessoas e seja estimulado a compartilhar mais.






Sinto que trabalho mais horas quando es-
tou em home office. Como evitar excessos?
Estabeleça um planejamento e avise o
seu líder que você vai encerrar o expediente. O
líder, por outro lado, precisa respeitar os horá-
rios do profissional, para evitar mensagens fo-
ra do horário do expediente. Um bom método
é colocar alarme no celular ou em algum outro
dispositivo para avisar sobre início do expe-
diente, almoço e encerramento.






Devo separar um ambiente especial para o
trabalho remoto?
Sem dúvida. Evite um local com muito
barulho e busque um lugar com boa iluminação.
Com esse espaço demarcado você se lembra que
ali precisa cumprir as suas responsabilidades.






Um dos maiores problemas que percebo
quando estou em home office é que meus
familiares me desconcentram. Como agir?
A família nunca se desconecta da gente, seja
em home office ou não. A diferença é que, em
casa, a presença física é maior. Quem está tra-
balhando em home office pode fazer “combina-
dos” com os familiares. Por exemplo: combi-
nar de trabalhar até as 18h e depois ver um fil-
me juntos. Quando se constrói uma agenda
com os familiares, eles sentem que fazem par-
te desta entrega com você.






Como separar o trabalho da vida pessoal?
Se o profissional encarar que o home
office, no período do experiente, é o am-
biente de trabalho, e respeitar todas as rotinas
e horários, não terá muito problema. Por mais
que estejamos em uma crise, no almoço, procu-
re conversar com a família, não fique na frente
do computador trabalhando enquanto faz as
refeições. Encerre o expediente e procure fazer
exercícios normalmente, dentro de casa mes-
mo. Faça cursos online e aproveite para aprimo-
rar o seu conhecimento. Em todo momento
ruim, há sempre o lado positivo. Foque nele.






Posso começar a trabalhar na hora em que
quiser, durante a madrugada, por exemplo?
“A legislação não está preparada para
isso por causa do adicional noturno. Quem pu-
der, deve dormir das 23h às 6h, que é o melhor
horário para isso. O ideal é trabalhar dentro do


seu horário de trabalho normal”, explica Bian-
ca Vilela, consultora em saúde corporativa, pa-
lestrante e fisiologista do exercício pela Univer-
sidade Federal de São Paulo (Unifesp).

SAÚDE






Quais são os principais desafios para aque-
les que ainda não tinham o home office co-
mo parte de suas rotinas?
Há geralmente dois perfis de profissionais:
aqueles que gostam muito do home office e
preferem trabalhar com mais tranquilidade
em suas casas, sem interrupções, e aqueles

que precisam de interação com frequência.
Muitos sentem falta do time, mas podem
ser motivados com reuniões e outras ativida-
des diárias. Também é possível dividir os
perfis de pessoas quando se fala sobre foco
e produtividade. Há aqueles que não saem
de frente do computador, não almoçam di-
reito e começam a fazer hora extra, prejudi-
cando a saúde. E há aqueles que não conse-
guem manter o foco, a produtividade cai
consideravelmente e acabam misturando a
vida pessoal com outras atividades, o que
também não é saudável. Para ambos os per-
fis, é importante o líder planejar rotinas de
acompanhamento para que nenhum dos ex-
tremos prejudique o desempenho.





Quais são os impactos psicológicos do tra-
balhador que está em home office? O que
fazer para evitar a sensação de isolamento
de quem trabalha em casa?
Para pessoas com muita energia e necessida-
de de interação, o home office pode causar
mais ansiedade e até desmotivação. Mas é
possível reverter esse quadro se esse profis-
sional for estimulado e perceber que está sen-
do reconhecido pela conclusão de suas ativi-
dades. No caso do home office tradicional,
quando a pessoa entende que é preciso sem-
pre deixar o ambiente limpo e confortável e
procura ter interações frequentes com ou-
tros por telefone e vídeo, é mais fácil a adap-
tação. No entanto, o momento atual, de uma
crise global de saúde pública, em que o isola-
mento social precisa realmente acontecer,
pode gerar um sentimento de solidão em mui-
tas pessoas. “É preciso notar que existe uma
diferença entre o home office comum do que
está acontecendo agora, que é um home offi-
ce forçado. Muda em muito a questão com-
portamental. É preciso ficar atento à saúde
mental do colaborador. Temos de ter muita
consciência sobre como as pessoas estão li-
dando e passando por esse momento”, diz o
vice-presidente de Recursos Humanos da
Pearson, Rafael Furtado. “Estamos falando
de um prazo de quarentena que pode se es-
tender. Então, os gestores precisam ficar
atentos e respeitar as particularidades de
seus funcionários. É um momento especial e
toda a atenção à saúde mental é importante.”





O que um escritório minimamente ergo-
nômico deve ter?
O profissional não deve trabalhar
sentado no sofá ou na cama. O computador
deve estar posicionado de modo que a pes-
soa não precise levantar nem baixar a cabe-
ça para visualizar a tela, a cadeira deve ser
ergonômica e o local de trabalho, ilumina-
do. “Essas questões precisam ser observa-
das para não acontecer, de repente, de
o profissional chegar com dores lom-
bares porque não tinha cadeira ade-
quada para trabalhar”, explica Carlos
Silva, diretor jurídico em São Paulo
da Associação Brasileira de Recursos
Humanos (ABRH-SP).





Como deve ser a iluminação
ideal do home office?
O profissional não deve traba-
lhar na penumbra nem com luz volta-
da para os olhos. “O ideal é ter um es-
paço com iluminação natural e, à noi-
te, iluminar o local de trabalho e, se for
o caso, acrescentar uma luminária”, orienta Bian-
ca Vilela, consultora em saúde corporativa, pales-
trante e fisiologista do exercício pela Universida-
de Federal de São Paulo (Unifesp).





Devo fazer pausas ao longo do dia? O
que fazer nesses momentos?
Pausas são fundamentais. “A cada 1
hora ou 1 hora e meia, deve-se fazer uma pausa
de 15 minutos, e o importante é mudar a tôni-
ca mental. Se tiver em uma função que exige
muito raciocínio, como calcular, vá fazer algo
que não peça esforço mental, como meditar,
ouvir música, molhar as plantas”, sugere a psi-
canalista Juliana Machado.





Como desligar do trabalho no fim do dia?
Além de parar de trabalhar, guardar
o material que estava utilizando e se
dedicar a outra atividade. “Isso é muito impor-
tante, porque a pessoa tende a trabalhar mais
tempo do que consegue e do que é produtivo,
e tem efeito reverso: (o profissional) acaba fi-
cando exausto e o trabalho para de fluir”, expli-
ca a psicanalista Juliana Machado.

ESPECIAL CORONAVÍRUS


Gilberto Amendola


C


om a pandemia de coronavírus provocando uma série de
restrições e mudanças no mundo do trabalho, o home offi-
ce transformou-se em uma realidade mesmo para aquelas
empresas que ainda não vislumbravam esse formato em seu coti-
diano ou no horizonte próximo. Por isso, o que muitos gestores
estão se perguntando agora é: “Como manter o foco e o engajamen-
to da minha equipe sem o ‘olho no olho’ ?”
A experiência de empresas que já fizeram do home office algo
natural pode dar pistas para quem está experimentando o trabalho
remoto pela primeira vez. Palavras como “comunicação”, “alinha-
mento” e “confiança” parecem ser a chave para o sucesso dessa
nova (para alguns) empreitada.
A SulAmérica Seguros, por exemplo, vem implementando um
trabalho de home office e homeworking desde 2014. A VP de Capi-
tal Humano da empresa, Patricia Coimbra, conta que a SulAmérica
tem 10% do seu efetivo já atuando em homeworking (que é o
trabalho totalmente remoto) e 30% em home office (que, para a
companhia, são aqueles que trabalham até duas vezes por semana
de casa). “A gente aproveitou a Olimpíada de 2016 e as manifesta-
ções de 2017, que foram períodos de limitações em termos de
circulação, para testar esse modelo de trabalho”, conta Patrícia.
“Com esse modelo aumentamos nossa produtividade em 40%.”
Claro, os resultados do trabalho remoto não caíram do céu. O
emprego de tecnologia, de ferramentas de comunicação e de com-
partilhamento de informações e feedback sedimentaram o cami-
nho do sucesso. “Em um período normal, a empresa pode se prepa-


rar para ajudar na criação do ambiente de trabalho do colaborador,
alinhar metas, ter coordenação e orientação adequada do aspecto
legal da atividade (como revisão de contratos aditivos)”, diz Patrícia.
Mas, em plena pandemia de coronavírus, manter o engajamento
e uma equipe vibrante é sensivelmente diferente. Reforçar a comu-
nicação constante entre toda a companhia por e-mails, mensagens
e, principalmente, e por videoconferência pode ajudar a diminuir a
sensação de isolamento. Neste momento, um canal telefônico pa-
ra tirar as dúvidas sobre questões tecnológicas, mesmo que as
mais simples, também pode ajudar os não iniciados no mundo do
home office (um canal para tirar dúvidas sobre sintomas do coro-
navírus e os procedimentos adequados também é recomendável).
“Na próxima segunda-feira, dia 23, 97% dos nossos funcionários
estarão trabalhando remotamente, estamos disciplinados e temos
as ferramentas para que executivos se reúnam diariamente por
videoconferência, para que possamos falar com nossas equipes,
alinhar ações e tomar decisões. E, principalmente, para manter
vivo o contato entre as pessoas”, diz Patrícia. “O colaborador está
em casa, mas não isolado.”

Manter a confiança. Para Rafael Furtado, vice-presidente de Re-
cursos Humanos da Pearson, quem já tem uma política de home
office estabelecida vai passar por esse período de forma mais tran-
quila. Agora, as empresas que estão dando os primeiros passos no
trabalho remoto precisam criar laços de comprometimento entre o
indivíduo e a organização. “As empresas precisam tornar disponível
o ferramental para um home office adequado, como computador,
internet, etc. Os colaboradores, por outro lado, precisam estabele-

cer sua produtividade, montar um escritório adequado, etc”, afirma.
“Os gestores precisam ter a cabeça aberta para entender que esta-
mos vivendo um momento diferente, que problemas vão aparecer.”
Para Furtado, o gestor precisa manter a comunicação constante
com seus colaboradores para, principalmente, passar tranquilida-
de. “Você precisa criar uma comunicação baseada no conforto e na
segurança, além de deixar claro o caminho que a companhia está
seguindo. A relação precisa ir além da questão da produtividade.
Manter a confiança é o grande desafio. Com ela estabelecida, a
entrega do trabalho será a mesma.”
Já de acordo com o analista de estratégia da Pearson, Lucas Higa,
uma forma de manter uma equipe engajada é demonstrar que o
alinhamento e as entregas estão conectados. “No home office tu-
do se conecta e a coletividade precisa falar mais alto.”
O CEO da Connekt, doutor em Psicologia Social pela USP e Ph.D
com liderança e luta por reconhecimento, Celson Hupfer, pontua
que a confiança dos empregadores em seus colaboradores e, princi-
palmente, a preocupação de não transformar a vida das pessoas
apenas em trabalho devem nortear esse momento. “Você pode
pensar em tecnologias, procedimentos e na criação de uma nova
rotina. Tudo isso será importante se houver confiança”, diz.
Segundo ele, é importante lembrar que muitos que estão fazen-
do home office agora, por consequência da epidemia de coronaví-
rus, são de outra geração, pré-millennials que não estão familiariza-
dos com as tecnologias e as ferramentas de compartilhamento de
informação. “Crises no mundo do trabalho são educadoras, forne-
cem grandes aprendizados. O trabalho vai mudar e criar novos
padrões, um novo normal.”

TRABALHO REMOTO


COMO ENGAJAR A EQUIPE


Comunicação afiada e confiança são chave para manter produtividade mesmo a distância


%HermesFileInfo:H-2:20200322:H2 Especial DOMINGO, 22 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO

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