O Estado de São Paulo (2020-03-22)

(Antfer) #1

COM AS CRIANÇAS






Como combinar
com as crianças
o momento em
que elas podem interromper
o trabalho?
É interessante ter uma pla-
nilha com atividades para
as crianças com opções de
distração e aprendizado.
Neste momento de isola-
mento forçado, autores de
muitos livros estão tornan-
do disponíveis leituras ao
vivo em suas redes sociais,
o que pode servir de distra-
ção para elas. Os pais, de
acordo com especialistas,
devem avisá-las de que as
interrupções devem ser
apenas quando têm um
problema que não conse-
guem resolver sozinhas.






Como manejar
os horários da
família, como
almoço, lanches, etc?
É fundamental ter discipli-
na e organização. Para
cumprir a rotina e não in-
terferir no trabalho, Lu-
cas Oggiam, diretor da
Michael Page, empresa de
recrutamento especializa-
do, recomenda usar ou-
tros horários para deixar
refeições preparadas. “A
parte mais importante de
trabalhar em casa é a dis-
ciplina e a atenção. Não
adianta achar que vai tra-
balhar quando a criança
está dormindo, porque
elas não se encaixam em
um modelo de disciplina.
Não sabe quanto tempo vai
dormir. O cenário ideal é usar o fim de semana
e o período da noite para preparar as refeições,
usando o dia seguinte para esquentar a comida.
O planejamento requer organização.”






Como evitar barulhos, correria e ele-
trônicos às alturas?
Conversar é o melhor caminho, mas
é preciso estabelecer uma rotina também. “Se
a criança estiver solta, podendo brincar livre-
mente sem nenhuma orientação dos pais, a
chance de ela se distrair e ficar fazendo baru-
lho aumenta”, afirma Bruna Duarte Vitorino,
coordenadora do setor pedagógico do Kumon.






Quais as dicas para montar um roteiro
de atividades intelectuais e físicas para
as crianças?
“Para ter um bom equilíbrio entre essas ativida-
des e evitar o sedentarismo neste momento, tu-
do parte do cronograma de atividades. É difícil
encontrar atividades físicas, mas os pais podem
procurar no YouTube aulas de alongamento e
de dança que podem ser feitas em casa. É um
momento de se adaptar à realidade de estar em
casa”, diz Bruna Duarte Vitorino, do Kumon.


E-MAILS E MENSAGENS






Remotos, usamos o e-mail e as mensa-
gens com mais frequência e a chance de
mal-entendidos aumenta. Como evitar?

Para evitar mal-entendidos é importante revi-
sar mensagens e e-mails antes de enviá-los.
“Revise os textos como se estivesse enviando
um artigo”, orienta Tathiane Deândhela, espe-
cialista em produtividade. Além disso, ela res-
salta que é importante optar por videochama-
das quando as conversas exigirem discussões
mais profundas.





Como dar o tom certo nas mensagens
por escrito, para não parecer rude ou
pouco profissional? Qual a “etiqueta”
dos e-mails quando o funcionário está em home
office?
Uma técnica simples para enviar e-mails educa-
dos é ler sempre os textos em voz alta, diz Ta-
thiane Deândhela, especialista em produtivida-
de. “Deve-se evitar também textos em caixa
alta, porque dá a impressão de que a pessoa
está gritando.”





Há um limite para o uso de mensa-
gens de celular enquanto o funcioná-
rio trabalha em casa?

André Brik, consultor do Instituto Trabalho
Portátil, sugere que, durante o período de
trabalho remoto, as pessoas chequem suas
mensagens de celular após blocos de tarefa
de uma ou duas horas, em média. “É impor-
tante focar no trabalho por algum tempo”,
afirma ele. Além disso, o consultor alerta que
os funcionários devem parar de ver mensa-
gens referentes a trabalho fora do horário do
expediente.





Como gestor, quais assuntos devo escre-
ver por e-mail e quais é melhor abordar
em videochamada?
Na visão de Tathiane Deândhela, especialista
em produtividade, quando os e-mails exigem
várias réplicas e tréplicas, o gestor já pode pen-
sar em fazer uma ligação ou videochamada.
“As chamadas em vídeo também são interes-
santes para fazer reuniões de alinhamento e
para dividir tarefas dentro da equipe. Com um
bom planejamento inicial, é possível, em um
segundo momento, manter as conversas só
por e-mail.”

SIM, MÃES SÃO


PRODUTIVAS NO


TRABALHO ONLINE


“G


osto de ver o copo meio
cheio e o lado positivo de tu-
do. De alguma forma, a gen-
te estava se desconectando do mundo.
Agora, temos um convite para nos reco-
nectarmos. O que faremos depois que
a covid-19 passar? Vamos entender que
existem outras formas de trabalho – e
não poderemos voltar atrás.
Minha história está muito relaciona-
da ao home office. A B2Mamy nasceu
entre 2014 e 2015. Eu estava grávida do
Lucas, que hoje tem 5 anos. Quando ele
nasceu, vi o quanto dói ter de se di-
vidir entre a maternidade e a
vida profissional. Conver-
sei com muitas
mães e comecei a
estudar o tema.
Descobri que
48% saem do
mercado de
trabalho quan-
do seus filhos
nascem. Foi por
isso que criei a
B2Mamy, uma
empresa de edu-
cação para conec-
tar mães ao ecos-
sistema de inova-
ção, uma acelerado-
ra de startups.
Moro em Santos e a B2-
Mamy fica em São Paulo. Me
divido entre as cidades. Na em-
presa, muita coisa já é online. Não
temos horários fixos e os colaborado-
res fazem home office desde o primei-
ro dia. É o nosso DNA.
Existem dois tipos de home office:
com e sem a companhia dos filhos.
Quando eles estão em casa é muito di-
fícil conciliar. Então, como me organi-
zo? Lucas fica de manhã comigo e vai
para escola a partir das 13 horas. De ma-
nhã, com ele em casa, respondo What-
sApp, falo ao telefone, mas não uso o
computador. Fico à disposição. À tar-
de, me concentro e o ritmo é intenso.
Não quero romantizar essa situação.
A gente tem dificuldade de foco e pro-
dutividade. Se você vacilar, se perde.
Eu utilizo duas técnicas. Na primeira,
divido o trabalho em períodos de 25 mi-
nutos, separados por breves interva-
los. Eu faço quatro desses por dia.
Também escrevo um Bullet Journal.
Com essa técnica, organizo a minha
agenda do dia e acompanho as ativida-
des. Funciona.
Acredito que hoje as empresas estão
aprendendo que as mulheres conse-
guem ser produtivas online. Nós esta-
mos entregando tudo o que temos de
fazer. E o mundo nunca mais terá de
voltar para trás.”

]
DEPOIMENTO A GILBERTO AMENDOLA

ESPECIAL CORONAVÍRUS


DEPOIMENTO

Paula Felix


C


om a atual fase de isolamento forçado – e a suspensão das
aulas –, profissionais de diversas áreas estão se dividindo
entre o trabalho e o cuidado com os filhos em tempo inte-
gral. A tarefa não é fácil, e a organização é fundamental para conci-
liar as demandas profissionais e as das crianças.
A gerente de atendimento Bianca Putignani Ciancaglini, de 38
anos, está vivendo a experiência pela primeira vez. Embora o mari-
do esteja promovendo atividades para entreter o filho, Lucca, de 2
anos, a rotina tem sido cansativa. “Fazemos parte de uma geração
multitarefa, mas estou muito mais cansada, porque tenho de traba-
lhar, arrumar a casa, colocar roupa e louça para lavar”, diz.
A rotina do filho foi mantida. “Quando ele acorda, ficamos jun-
tos e tomamos café da manhã, como faríamos quando saímos para
trabalhar. Às 9 horas, começo a trabalhar e meu marido vai com ele
para a área aberta do prédio. Ao meio-dia, paro de trabalhar e vejo
se precisa complementar o almoço. Almoçamos e ele dorme na
parte da tarde. Meu marido faz contatos e eu também. Paro o
trabalho umas 18h30, 19h.”
Apesar das mudanças, ela vê aspectos positivos na situação. “É
bom ficar em casa, não precisa ficar saindo, gastando dinheiro.
Claro que tem irritabilidade, mas é um momento de retomada para
dentro da família.”
O diretor financeiro Vinicius Portes Giglio, de 30 anos, tem um
filho de 2 meses e também começou a fazer home office por causa
da pandemia. “Estou trabalhando como se estivesse no escritório.
A tecnologia permite isso, e a gente tem de agir como se estivesse lá


para não criar um gargalo de informações.”
Ele diz que há situações em que a presença de uma criança pode
tirar o foco, mas que isso não chega a interferir no desempenho
profissional. “Já tenho uma agenda estruturada de entregas sema-
nais. A gente tem de ser eficaz. Essa situação permite ter o contato
com ele e é muito prazeroso. Nós vamos aprender a lidar com isso
de forma impositiva ou natural.”
CEO da marca de moda esportiva feminina Authen, Christopher
Spikes diz que a empresa começou em 2015 com a equipe em home
office e que o esquema funciona. Os profissionais que têm filhos e
trabalham em casa vivem uma situação desafiadora mas, de acor-
do com ele, têm o mesmo desempenho dos demais funcionários.
“Todos os nossos colaboradores ajudam as pessoas que têm
crianças. Nós não fazemos gestão de agenda, mas de resultados. O
profissional está com pessoas que ama, pode almoçar com a sua
família. Acho que ajuda a pessoa a ficar mais motivada.”
Diretor jurídico em São Paulo da Associação Brasileira de Recur-
sos Humanos (ABRH-SP), Carlos Silva avalia que, embora o home
office não seja uma novidade, a situação de estar com os filhos em
período integral é inédita para a maioria dos profissionais, princi-
palmente os que estavam acostumados a ir diariamente para o
local de trabalho. Ele diz que é fundamental ter transparência com
os empregadores e explicar a rotina da família neste momento.
“As pessoas acham que as crianças ficam brincando ou vendo
desenho no tablet, mas nem sempre é assim. Os pais podem falar
sobre os horários que vão produzir melhor e negociar. Tem de
colocar a situação na mesa com a empresa. Se ela está oferecendo o
home office, não está ameaçando a empregabilidade.”

Conversar e organizar. A mudança na rotina deve ser conversa-
da com as crianças, que precisam entender que os pais estão, neste
momento, trabalhando em casa. Mas a situação não precisa ser
traumática. Organizar as tarefas que serão realizadas pode ajudar a
conciliar o trabalho com as atividades para os filhos.
“Os pais precisam montar um cronograma para colocar um horá-
rio para cada uma das atividades. As que já eram rotineiras da
família não mudam, como os horários de acordar, do almoço e de
dormir. É preciso ter equilíbrio em todos esses pontos para que as
crianças não sejam prejudicadas”, orienta Bruna Duarte Vitorino,
coordenadora do setor pedagógico do Kumon.
Presidente da Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleativi-
dades (Sobratt), Luís Otávio Camargo Pinto recomenda que os
pais conversem com as crianças. “Tem de buscar organizar uma
conversa em família. É primordial fazer acordos e mostrar que os
pais estão em casa, que eles vão ter momentos de lazer, mas esta-
rão trabalhando.”
Diretor da Michael Page, empresa de recrutamento especializa-
do, Lucas Oggiam diz que, para casais, uma solução pode ser fazer
um revezamento para que o outro consiga agilizar o trabalho. Em
caso de pais solo, é possível pedir ajuda a um familiar ou pessoa
próxima. Oggiam, que é pai de uma menina de 1 ano e 5 meses e está
em home office, explica que os pais não devem criar bloqueios e
achar que não vão conseguir trabalhar em casa com os filhos.
“É desafiador, mas temos de aceitar e aprender uma forma nova
de trabalhar. Não precisa pensar que será impossível. Tem de colo-
car isso dentro da sua rotina com a vontade de realizar. Melhor do
que ficar sofrendo, é focar na solução e ter disciplina.”

TRABALHO REMOTO


Dani Junco,
CEO da B2Mamy

CRIANÇAS EM CASA. E AGORA?


Diálogo e organização são fundamentais; manter a rotina dos filhos pode fazer a diferença


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