O Estado de São Paulo (2020-03-22)

(Antfer) #1

ESPECIAL CORONAVÍRUS


BEM NO VÍDEO






Quais são as ‘boas
maneiras’
a serem
adotadas nas chama-
das de vídeo?
Para Adriano Marcan-
dali, diretor latino do
Workplace, rede social
corporativa do Facebook, o
trabalho remoto exige regras de
etiqueta e bom senso como qualquer
outro lugar. “Sempre orientamos as pes-
soas a colocarem o microfo-
ne no mudo quando elas
não estão falando em uma
chamada de vídeo. Quan-
do quiser participar, é só
sinalizar na plataforma.”
Vários serviços de video-
conferência têm um bo-
tão com o símbolo de
uma mão para ser acio-
nado quando o usuário
quer fazer um comentá-
rio. Porém, Marcandali aler-
ta que algumas situações de-
vem ser naturalizadas: “Vai ser
normal ouvir um cachorro la-
tindo e ver uma criança cor-
rendo enquanto um funcioná-
rio estiver falando.”





Como gestor, co-
mo faço para que
todos se sintam
incluídos em uma chamada
de vídeo?
Uma dica para aumentar
o engajamento em chama-
das de vídeo é pedir para
os funcionários irem
anotando suas ideias e
opiniões ao longo da
conversa. “Não tem
como todo mundo fa-
lar junto mas, com o recurso das anotações, o
gestor pode ir chamando cada membro da equi-
pe para falar”, diz Tathiane Deândhela, especia-
lista em produtividade.





Como montar o local de trabalho para
chamadas de vídeo?
Não são necessários muitos equi-
pamentos para participar de uma chamada de
vídeo: basta ter um computador, um celular ou
um tablet. Os fones de ouvidos são indicados
para melhorar a qualidade do som, mas não
são essenciais – geralmente, os próprios apare-
lhos têm microfones e alto-falantes que funcio-
nam bem. Além da ferramenta, a especialista
em produtividade Tathiane Deândhela reco-
menda que a pessoa se posicione em um lugar
reservado para o trabalho, como uma escrivani-
nha, e garanta que a iluminação do ambiente
esteja apropriada para o vídeo.





Como manter o interesse (e não pare-
cer entediado) quando a chamada se
prolonga?
Na visão de André Brik, consultor do Instituto
Trabalho Portátil, os mesmos comportamentos
adotados em uma reunião presencial de muitas
horas devem ser levados para a chamada de ví-
deo. “Faz parte do trabalho do funcionário es-
tar atento a uma reunião. Se estiver dando so-
no, uma saída pode ser tomar um café”, aponta.





Quanto tempo é razoável que a chama-
da de vídeo dure?
Os especialistas ouvidos pelo Esta-

do apontam que a partir de uma hora de cha-
mada de vídeo a conversa passa a ser improdu-
tiva. “O ideal é fazer chamadas de 30 minutos,
em média. Mas isso muda de geração para gera-
ção: os nativos digitais são ainda mais práticos
nessas conversas e gostam de reuniões mais
curtas”, afirma André Brik, consultor do Insti-
tuto Trabalho Portátil.





Quando é melhor fazer uma chamada
de vídeo do que mandar e-mail ou men-
sagem?
Na visão de Adriano Marcandali, diretor latino
do Workplace, rede social corporativa do Face-
book, as videochamadas são aconselhadas para
conversas que envolvam mais debate, trocas
de opiniões e votações. “O vídeo aproxima as
pessoas, traz empatia e acaba dando clareza
para as conversas. É inclusive uma ferramenta
fundamental para ser usada por empresas que
estão começando a adotar o home office agora
e estão se adaptando ao novo ritmo”, diz.





Não tenho banda larga muito boa em
casa. Como fazer para melhorar? De-
mora para começar a funcionar?
Para melhorar a banda larga em casa é preciso
acionar uma operadora e pedir a mudança de
plano para um pacote com velocidade de inter-

net superior ao atual. No caso da Vivo, a inter-
net Vivo Fibra é a mais recomendada pela com-
panhia: o plano básico é o de 100 Mega. Quem
não é cliente Vivo Fibra precisa receber um
técnico em casa para mudar o aparelho - a Vi-
vo afirma que a demora desse processo depen-
de da demanda e da região do usuário, mas
que está se preparando internamente para
atender a alta procura durante a pandemia de
coronavírus. Claro e Net informam que os pla-
nos ideais para home office devem ser de no
mínimo 120 Mega. A visita do técnico e o tem-
po para disponibilização da nova banda larga
variam de acordo com o plano e a localidade.

O QUE DIZ A LEI






Há diferença entre home office e tele-
trabalho?
Sim. O home office é eventual e o
teletrabalho ocorre quando a atividade é exer-
cida preponderantemente fora do local de tra-
balho – esta tem requisitos previstos em lei.
Em tese, de acordo com Gisela Freire, sócia
do escritório Cescon Barrieu e especialista em
Direito Trabalhista, o home office não precisa
de um aditivo contratual, diferentemente do

teletrabalho, que deve ser previsto em contra-
to. Ou seja, se a situação de home office se
estender, é necessário que a empresa estabele-
ça as condições de teletrabalho em um aditivo
contratual.





O que esse aditivo contratual precisa
prever?
O aditivo deve esclarecer se há al-
gum tipo de despesa a ser
compartilhada, como energia
elétrica ou internet, por exem-
plo, se há fornecimento de equi-
pamento de trabalho (notebook, im-
pressora, papel) e se haverá alguma forma de
controle do horário do expediente, entre ou-
tros pontos. “O empregador deve orientar tam-
bém sobre o uso adequado de cadeira e mesa
de trabalho para evitar que alguém opte por
passar o dia largado no sofá, o que vai acarre-
tar problemas de saúde”, alerta o sócio da área
trabalhista do escritório TozziniFreire Advoga-
dos, Alexandre Cardoso.
Os cuidados para evi-
tar uma infecção por
coronavírus podem
ser encaixados aqui,
de acordo com Gisela
Freire, especialista em
Direito Trabalhista.
“O empregador teria
de dar instruções de
higiene, avisar para
que o funcionário evite
sair de casa e evite aglo-
merações, por exem-
plo”, afirma. “E o empre-
gado se compromete a
seguir essas normas.”





É possível rever-
ter o contrato
trabalhista após
a pandemia?
Sim. É possível fazer no-
vo aditivo contratual pa-
ra reverter o teletraba-
lho e voltar para o traba-
lho presencial. A única
recomendação de especialistas é que o
funcionário tenha um período de adap-
tação ao escritório.





Como fica a demissão das pessoas
que trabalham remotamente?
Tudo normal. O teletrabalho é es-
pelho do trabalho presencial, de acordo com
Gisela Freire. Dessa forma, também é necessá-
rio aviso prévio, o empregado tem de fazer exa-
me demissional, etc.





A lei de quarentena, sancionada no
mês passado, muda algo?
Em tese, não. Só vai mudar se o
empregado estiver doente (infectado por corona-
vírus ou outra doença) e, neste caso, o contrato
de trabalho não pode ser rescindido.





As medidas anunciadas pelo governo
federal na quarta-feira, que preveem
a redução da jornada de trabalho com
a redução salarial, já constam na CLT?
Sim, mas isso depende de acordos sindicais. A
exceção, segundo Gisela Freire, especialista
em Direito Trabalhista, são os funcionários
chamados de “hiperssuficientes”, com nível
de instrução superior e que recebem salário
duas vezes o teto de benefício da Previdência
Social – algo em torno de R$ 12 mil. “Essas
pessoas podem negociar diretamente com o
empregador, sem precisar passar pela media-
ção sindical”, afirma. A medida foi incluída na
reforma trabalhista, em vigor desde novembro
de 2017.

Marina Dayrell


T


eams, Zoom, Hangouts, Webex, Trello. Com o avanço do
novo coronavírus no Brasil e o aumento no número de em-
presas que passaram a adotar o home office na última sema-
na, quem ainda não conhece esses nomes provavelmente vai ter de
se familiarizar com eles e com muitos outros. Empresas de todos
os tipos e tamanhos tiveram de mudar – em muitos casos, às pres-
sas – o modelo de trabalho. Para não diminuir a produtividade e
manter as reuniões (até mesmo a conversa informal), a solução foi
recorrer a plataformas digitais.
Há mais de uma semana, a Dog Hero, plataforma online que
oferece serviços de hospedagem e passeio de cães, determinou que
os seus 45 funcionários começassem a fazer home office.
Em casa, eles foram instruídos a usar ferramentas de comunica-
ção e gestão de projetos. “Nós pagamos o G Suite (plataforma
empresarial do Google) e usamos todos os produtos: o Google Docs
para editar textos, o Drive para compartilhar arquivos e criar apre-
sentações, o Chat e o Hangouts para comunicação e videoconferên-
cias”, conta o cofundador da empresa Fernando Gadotti.
Para que os gestores consigam visualizar o que cada funcionário
está fazendo, as tarefas pendentes e as metas, a empresa adotou as
plataformas de gerenciamento de trabalho Jira e Trello. “Tenta-
mos manter a rotina, com videoconferência para ver o rosto da
pessoas. Os rituais tendem a permanecer”, afirma Gadotti.
Instituir o home office não foi uma grande novidade para a Solu-
tis, empresa de tecnologia da informação que oferece serviços de
aceleração digital para negócios. Dos cerca de 800 colaboradores,


25% já faziam trabalho remoto. Agora, todos estão em casa.
“O modelo de produtividade exige ferramentas de tecnologia
que são fundamentais para a colaboração, além de conexão via
rede com os colaboradores e informações e dados em nuvem”,
destaca o CEO, Paulo Marcelo. Para tornar a experiência de comu-
nicação o mais próxima possível de uma reunião, eles usam a plata-
forma Webex, da Cisco, que permite videoconferências, além do
Microsoft Teams, para o compartilhamento de documentos.
As opções de plataformas são muitas, mas para quem está come-
çando com o regime home office é recomendado ir com calma. “No
início, não é bom adotar muitas ferramentas. É melhor trabalhar a
questão da disciplina e combinar quais vão usar. Tem de ter a comu-
nicação alinhada”, aconselha Roberta Vasconcellos, CEO da Bee-
rOrCoffee, plataforma que ajuda clientes a encontrar espaços de
trabalho e que sempre funcionou 100% no esquema home office.
Por já estarem familiarizados com o regime de trabalho em casa,
os funcionários da empresa usam diversas ferramentas no dia a
dia. “O Slack é o nosso coração, é o escritório virtual. Já o Zoom
utilizamos muito para videoconferências, ele ajuda a criar laços e a
sentir que estamos juntos”, explica Roberta.

Ajuda das grandes. Para acompanhar o crescimento do home of-
fice nas últimas semanas, diversas plataformas ampliaram seus
pacotes de serviços gratuitos. Os clientes do G Suite Empresarial e
do G Suite for Education, ferramentas do Google, passaram a ter
acesso a recursos avançados de videoconferência do Hangouts
Meet – ferramenta para reuniões online da companhia.
Com a medida, os usuários podem fazer videoconferências com

até 250 participantes, gravá-las e armazená-las, além de fazer trans-
missão ao vivo para até 100 mil espectadores. “A demanda por
mais informação sobre trabalho remoto se ampliou muito. A gente
começa a ver empresas que já estavam preparadas e aquelas que se
viram na emergência de se preparar”, diz Raquel Cabral, gerente
do G Suite para a América Latina.
A empresa informou que, na última semana, a busca pelos ter-
mos “videoconferência” e “trabalho de casa” atingiu o recorde de
interesse dos últimos cinco anos no País.
A Microsoft passou a oferecer gratuitamente o Microsoft Teams


  • plataforma para videoconferência. Os interessados no Webex,
    software de reuniões online da Cisco, podem usar a plataforma
    gratuitamente em todos os países nos quais a ferramenta está
    disponível, inclusive no Brasil (mais informações na página 5).


Escritório virtual. De forma gratuita, também há opção de plata-
forma brasileira para trabalho remoto. A catarinense Resultados
Digitais, empresa de marketing digital, criou há um ano a #matrix,
um tipo de escritório virtual que simula o espaço físico da empre-
sa, com salas para cada time ou assunto. “A ideia é distribuir as
pessoas dentro do escritório virtual e é possível customizá-lo. Há a
possibilidade de conversar no privado ou fazer uma reunião”, expli-
ca o cofundador da empresa Bruno Ghisi.
A Embratel lançou a sua solução também. Batizado de Conecta
Home Office, o pacote oferece banda larga, segurança cibernética,
plataformas de comunicação, ramal virtual, chat corporativo, sala
de reuniões virtuais e armazenamento em nuvem para empresas
de todos os tamanhos e segmentos.

TRABALHO REMOTO


PARA ENCURTAR DISTÂNCIAS


Empresas recorrem a plataformas digitais para a comunicação e a gestão de projetos


%HermesFileInfo:H-4:20200322:H4 Especial DOMINGO, 22 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO

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