soldados da Primeira Cruzada tomaram Jeru-
salém. Mantida à custa de diversas outras Cru-
zadas, a presença cristã no Oriente Médio per-
durou por mais de 200 anos e deu origem a uma
lenta revolução intelectual na Europa. De repen-
te, os horizontes culturais e econômicos da cris-
tandade tinham se ampliado. Depois da guerra
com os muçulmanos, veio o comércio: objetos
de luxo e especiarias voltaram a circular desde
a China até a Inglaterra, estimulando trocas que
desembocariam, mais tarde, nas grandes nave-
gações. E a parte da herança grega preservada
pelo Islã deu combustível para que os europeus
redescobrissem seu passado.
Tempos depois, os filósofos e artistas da An-
tiguidade foram os maiores inspiradores do
Renascimento, a efervescência cultural que to-
mou conta do território italiano nos séculos 15
e 16. Apesar da inf luência pagã nessa nova onda,
os papas também embarcaram nela. Pontífices
como Pio II e Júlio II patrocinaram a arte mais
esplendorosa que a humanidade já vira, feita por
mestres como Michelangelo e Rafael. Mas havia
um lado obscuro nesse processo: o gosto artís-
tico refinado era só mais um sintoma de que o
papado tinha virado uma simples monarquia,
como tantas que existiam Europa afora. Longe
dos princípios morais pregados pela religião que
comandavam, os papas passaram a ter tantas
amantes e ser tão corruptos e violentos quantoqualquer rei secular. “Apesar dos defeitos, os
pontífices mais recentes são homens extrema-
mente dignos perto dos papas do Renascimen-
to”, afirmou o vaticanista espanhol Juan Arias.
Para quem está acostumado com plácidos
senhores como João Paulo II ou Bento XVI, é
difícil imaginar um papa em plena guerra, à
frente de um exército. Bem, foi isso o que fize-
ram alguns pontífices renascentistas, como
Júlio II, que ficou no poder entre 1503 e 1513.
Não é à toa que a famosa Guarda Suíça foi fun-
dada por ele. Esses cerca de 200 mercenários
eram uma força de elite que protegia Júlio II
dentro e fora do Vaticano. Usando uma arma-
dura de prata, o papa liderou pessoalmente mi-
lhares de soldados e capturou as cidades italia-
nas de Bolonha, Parma, Reggio e Piacenza.
O comportamento incompatível com os en-
sinamentos religiosos, aliado à corrupção da
Igreja, acabou partindo a cristandade ao meio.
Em 1517, o teólogo alemão Martinho Lutero deu
origem à Reforma Protestante, que pregava uma
volta à “pureza original” da fé cristã. As ideias
dos reformadores se fixaram rapidamente nos
países germânicos e a Inglaterra também acabou
entrando no movimento. Pela primeira vez des-
de Constantino, uma fatia considerável dos
cristãos da Europa Ocidental não reconhecia
mais a liderança do papa. E outros desastres
ainda espreitavam o Vaticano.GULA
Vários papas são conheci-
dos por ter protagonizado
banquetes pantagruélicos.
Há até um caso em que a
gula está ligada à morte de
um pontífice. Em 1471,
Paulo II caiu duro logo após
comer dois grandes melões
sozinho – há suspeita de
que ele tenha sido envene-
nado.AVA R E Z A
O maior exemplo da sede
de riqueza dos papas é a
Doação de Constantino,
forjada por volta do ano- Imitando um decreto
do imperador romano, que
vivera 500 anos antes, o
falso documento simples-
mente doava toda a Europa
Ocidental ao papado. Até o
fim da Idade Média, muita
gente acreditou na farsa.
FAÇA O QUE EU DIGO, MAS
NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO
Respeitar os pecados capitais (criados pela
própria Igreja) nem sempre foi prioridade no
Vaticano. No século 6, o papa Gregório I fez uma
lista com sete pecados capitais. O catálogo faz
parte da doutrina da Igreja: gula, avareza, inveja,
ira, soberba, luxúria e preguiça. Os fiéis sempre
foram orientados a não ceder a nenhum deles.
Apesar disso, é possível identificar pelo menos
seis pecados capitais na história do Vaticano –
o da preguiça, se houve, ficou bem disfarçado
dentro dos domínios da Igreja.RELIGIÃO