Napoleão em 1815. As antigas terras papais na
Itália voltaram às mãos dos pontífices. No en-
tanto, ficou difícil desfazer o clima revolucio-
nário. Falava-se cada vez mais de uma Itália
unida e democrática, na qual não haveria lugar
para o papa. Foi nesse contexto que Pio IX subiu
ao poder, em 1846. “Durante algum tempo, ele
foi visto como uma esperança de conciliar o
papado com o anseio por uma Itália unida”,
destacou dom Zeno Hastenteufel, bispo de Fre-
derico Westphalen, no Rio Grande do Sul, es-
pecialista em História da Igreja.
Pio IX iniciou reformas democráticas no Va-
ticano. Mas, temendo perder poder, logo acabou
com elas, atraindo a inimizade dos que queriam
uma Itália unida. O resultado? A perda progres-
siva de regiões que os papas tinham governado
desde a época de Pepino, o Breve. Em 1870 (ano
em que, ironicamente, a Igreja declarou que o
papa era “infalível”), Roma se tornou a capital
do recém-criado Reino da Itália. Como estadis-
tas, os papas voltavam à estaca zero.
Dentro da Igreja, ganhou força um movimen-to para que pelo menos o Vaticano se tornasse
autônomo. A ideia amadureceu ao longo dos
anos 1920. Péssima hora para fazer política: o
fascista Benito Mussolini controlava a Itália.
Mesmo correndo o risco de estar fazendo um
pacto com o diabo, o papa Pio XI levou as ne-
gociações adiante.
Em 1929, a Igreja e o governo Mussolini fir-
maram o Tratado de Latrão, no qual o Vaticano
foi reconhecido como Estado independente, o
catolicismo foi declarado religião oficial da Itá-
lia e uma polpuda indenização foi paga pela
perda dos antigos territórios papais. O dinheiro
serviu para vitaminar o Banco do Vaticano,
criado no fim do século 19 – e cujo nome oficial
é IOR, Instituto para as Obras de Religião. Gra-
ças a administradores competentes, o banco se
tornaria acionista de empresas importantes
dentro e fora da Itália – mas, nos anos 1980 e
1990, seria denunciado por conivência com frau-
des e lavagem de dinheiro.O PODER DA PALAVRA
A autonomia do Vaticano estava garantida. E
as relações do papado com os governos totali-
tários da Europa atingiriam um estágio ainda
mais sombrio com Pio XII, que assumiu em- No início dos anos 1930, quando ainda
era o cardeal Eugenio Pacelli, ele negociou um
acordo com o líder alemão Adolf Hitler. O re-
sultado? O Partido do Centro, a legenda cató-
lica alemã, apoiou a lei que deu ao chefe nazis-
ta poderes de ditador, em 1933.
Pessoalmente, Pio XII não simpatizava com
os nazistas. Mas seu comportamento durante a
Segunda Guerra Mundial deu a impressão con-
trária: preocupado com a segurança dos católi-
cos e dos membros do clero na Europa, ele evi-
tou a todo custo condenar abertamente o
Holocausto, mesmo sabendo do extermínio que
acontecia nos campos de concentração. E, ao
fim do conf lito, como muitos dos envolvidos no
genocídio judaico na Alemanha e na Croácia
eram católicos, eles ganharam uma inestimável
ajuda do Vaticano: “O subsecretário de Estado
de Pio XII ajudou essas pessoas a obter centenas
de vistos para a Argentina”, revelou o jornalista
Pio IX subiu
ao poder em
1846 e iniciou
reformas
democráticas
no VaticanoIMAGENS GETTY IMAGESRELIGIÃO