O Estado de São Paulo (2020-03-23)

(Antfer) #1

O astro da música country ame-
ricana Kenny Rogers, com uma
carreira musical de sucesso que
durou seis décadas e incluiu
hits como The Gambler e
Coward of the County , morreu
na noite de sexta-feira, 20, aos
81 anos, anunciou sua família
no sábado.
“Rogers partiu em paz, em ca-
sa. Ele morreu de causas natu-
rais, cercado por seus entes que-
ridos”, disseram os familiares
em comunicado.
A família indicou que será orga-
nizada uma cerimônia de despe-
dida íntima, sem que esta deci-
são esteja relacionada “à situa-
ção nacional de emergência cau-
sada pela pandemia de covid-19”.
Kenny Rogers deixa uma mar-
ca indelével na história da músi-
ca americana e “com canções
que tocaram a vida de milhões
de pessoas em todo o mundo”,
disse seu representante, Keith
Hagan.
O cantor, também conhecido
mundialmente por hits como
Lucille e Islands in the Stream , ga-
nhou três prêmios Grammy e
vendeu dezenas de milhões de
discos em todo o mundo.
O álbum The Gambler , lança-
do em 1978, foi um enorme su-
cesso internacional com vários
discos de platina e se tornou
sua música mais icônica.
Rogers estrelou o filme The
Gambler,
baseado em sua músi-
ca, e gostava de brincar que não
era um bom apostador.
“Aprendi há muito tempo
que não sou capaz de ganhar di-
nheiro suficiente para ficar em-
polgado, mas posso perder o su-
ficiente para ficar deprimido”,
disse ele à NPR, em 2015. “É por
isso que não jogo.”
Seu último show foi em
Nashville, em outubro de 2017,
onde dividiu o palco com sua
amiga e colaboradora de longa
data Dolly Parton para uma
apresentação final de Islands in
the Stream
.
Em abril de 2018, ele cance-
lou as últimas datas de sua tur-
nê de despedida devido a pro-
blemas de saúde. “Não quero
adiar minha aposentadoria pa-
ra sempre”, disse Rogers.
“Gostei muito da oportunida-
de de me despedir dos meus fãs


nos últimos dois anos”, conti-
nuou, acrescentando que “nun-
ca poderia agradecer adequada-
mente o incentivo e apoio que
me deram ao longo da minha
carreira”.
Nascido em Houston, Texas,
em 1938, filho de um carpintei-
ro e de uma enfermeira, Rogers
iniciou sua carreira no final da
década de 1950 e logo entrou no
mundo do rockabilly, jazz e ou-
tros gêneros que mais tarde o
conduziram ao estilo country.
Ele rapidamente se tornou
uma estrela: seus sucessos al-
cançaram a lista dos mais ouvi-
dos 24 vezes e ganhou seis
Country Music Awards.
Kenny Rogers ficou famoso
graças a seus duetos com Dolly
Parton e a sua participação em
alguns filmes e programas de te-
levisão, como The Muppet Show.
Suas baladas melodiosas e
turnês lotadas o tornaram um
artista popular pelo público em
geral, que também se rendeu às
reinterpretações das canções
clássicas de Natal.
Em um vídeo, Dolly Parton
afirmou que não acreditou
quando acordou na manhã des-
te sábado, 21, ligou a TV para
saber o que estava acontecendo
no mundo em relação ao novo
coronavírus e se deparou com a
notícia da morte de Rogers.
“Sei que todos sabemos que
Kenny está em um lugar melhor
do que estamos hoje. E tenho
certeza de que ele vai falar com
Deus em algum momento hoje


  • se já não falou – e vai pedir
    para espalhar um pouco de luz
    nesse monte de escuridão que
    está aqui. Mas amo Kenny com
    todo o meu coração, meu cora-
    ção está partido”, disse a canto-
    ra, no sábado.
    O perfil oficial do Grammy
    também prestou uma homena-
    gem a ele no Twitter, chaman-
    do-o de “lenda que inspirou
    muitos por meio do seu traba-
    lho”. “Seremos sempre gratos
    ao vencedor de três prêmios
    Grammy por tudo que ele deu à
    música”, completou. O perfil do
    Globo de Ouro também lamen-
    tou a morte de Kenny, nomean-
    do-o um ícone da música coun-
    try e lembrando que ele já foi
    indicado ao prêmio. / REUTERS


Q


uantas vezes giramos o botão do
dial no rádio do carro ao rodar pe-
las estradas do nortão, do oeste, do
mid-west americano, estradas do
Texas, do Tennessee, do Missouri para
ouvirmos sua voz romântica que tanto
nos empolgava. Batíamos palmas acompa-
nhando o ritmo no tempo fraco, dançáva-
mos sentados no assento, felizes com a
melhor trilha musical para uma viagem de
automóvel pelos EUA, a Country Music.
Em tantas viagens sempre em busca
da música, sua voz, suas canções eram a
essência que invadia e invade até hoje as
emissoras de radio do país. Basta sair
das grandes capitais, das cidades mais
turísticas, para reconhecer que essa é a
real música do interiorzão dos Estados
Unidos. Não tem para ninguém.
Kenny Rogers era a voz doce, a figura
bonita de cabelos grisalhos que adoráva-
mos. Até que, numa dessas tantas e tan-
tas viagens, chegamos a Las Vegas.
Na busca de nosso hotel, atravessando
a Strip forrada de luminosos, vimos no
totem do The Colosseum no Caesar’s Pa-
lace o nome da grande atração: Kenny Ro-
gers. Que noite inesquecível. Plateia abar-
rotada, feliz, à espera de seu ídolo. Kenny
Rogers surge triunfal com a classe de um
cavaleiro andante. Uma a uma, vamos ou-
vindo e aplaudindo ferozmente You and I ,
Evening Star das suas parcerias com Mau-
rice Gibb, o australiano dos Bee Gees,
uma depois da outra. Até que chega o mo-
mento culminante do show com Islands
in the Stream com Kenny em solo na pri-
meira parte e o público gritando de ale-
gria: “Baby, when I met there was peace
unknown...”. Na repetição, entra a figura
loira, peituda e cativante da mignon Dolly
Parton e os dois cantam juntos quando
acontece o refrão que derruba quem não
entende o contratempo do ritmo, “Is-
lands in the stream / That is what we are /
No one in between / How can we be
wrong...”, como no disco que conhecía-
mos de cor (Ilhas no regato / É o que so-
mos nós / Ninguém entre nós / Como es-
tar errados?). Seguiam juntos em duo até
o final. Foi lindo, foi inesquecível. É o
maior dueto da história da Country Mu-
sic. Até hoje dançamos juntos sempre que
ouvimos Kenny Rogers e Dolly Parton,
lembrando do privilégio que tivemos.

Música. Cantor, que morreu na sexta, deixa


uma marca indelével na história da arte


KENNY ROGERS H 1938 = 2020


Valeu, Kenny Rogers


]
ANÁLISE: Zuza Homem de Mello

JIM RUYMEN/REUTERS – 9/5/

Astro do

country

Rogers. No
momento em
que ganhou
prêmio pela
obra: vendeu
dezenas de
milhões de
discos no
mundo e
ganhou três
Emmys

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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2020 Caderno 2 C

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