O Estado de São Paulo (2020-03-23)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto SEGUNDA-FEIRA, 23 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






A história começa no México
nos anos 1920. Depois de dez
anos de guerra civil e revolu-
ção, o novo governo recorreu
à arte para divulgar uma ima-
gem unificadora nacional,
que enfatizasse tanto as suas
profundas raízes na cultura
indígena pré-hispânica quan-
to os heroísmos de suas lutas


recentes.
O veículo escolhido foi a pin-
tura mural. E três pintores lo-
go passaram a dominar este
campo: Diego Rivera, José Cle-
mente Orozco e David Alfaro
Siqueiros. Muitos admirado-
res eram artistas americanos
que foram para o sul.
http://www.estadao.com.br/e/muralistas

O


coronavírus chegou
com tudo. A população
está assustada e o pâni-
co é, de longe, o principal alia-
do do inimigo que pôs o mun-
do de joelhos, mostrou o tama-
nho da fragilidade humana e a
miragem de tantas prepotên-
cias. Regiões inteiras do mun-
do estão isoladas. O globalis-
mo recua e fecha fronteiras. Os
mercados afundam. Museus es-
tão vazios. Estádios de futebol
perderam brilho, colorido e vi-
bração. O Vaticano está mergu-
lhado num silêncio que assom-
bra. O papa, numa de suas fa-
las expressivas, está “enjaula-
do” no Palácio Apostólico.
Imagens de praças, ruas e
avenidas fantasmas e de um
mundo vestido de vazio refor-
çam o pavor, que boatos e notí-
cias alarmantes na era das re-
des sociais amplificam barba-
ramente. Vídeos e informa-
ções irresponsáveis podem
matar. A luta contra o corona-
vírus depende da competên-
cia, capacidade estratégica e
seriedade das autoridades sa-
nitárias. Mas a guerra – e esta-
mos mergulhados num campo
de batalha sem precedentes –
só será ganha na trincheira da
comunicação.
A informação é sempre fun-
damental. E precisa ser confiá-
vel, clara e segura. Não é hora
de grotescos campeonatos de
egos e vaidades. Não é o mo-
mento de subir na passarela
da mídia para desfilar currícu-
los vistosos. Não mesmo.
A doença é desafiante. Pode
ter brutal impacto na saúde pú-
blica. Do ponto de vista sanitá-
rio, quarentenas, cancelamen-
to de eventos, suspensão de au-
las, planos de contingência fa-
zem todo o sentido. São medi-
das que visam a diminuir a ve-
locidade com que a epidemia
se alastra, de modo que os ser-
viços de saúde não entrem em
colapso por superdemanda.
Como bem salientou Alexan-
dre Cunha, infectologista do
Hospital Sírio-Libanês, a lota-
ção dos serviços de saúde, agi-
gantada pela epidemia do me-
do, pode ser o grande risco des-
sa pandemia: “Com serviços su-
perlotados, portadores da mi-

noria de casos graves e mesmo
portadores de outras doenças,
crônicas inclusive, podem ter
seu prognóstico piorado pela
lotação dos serviço de saúde”.
Os idosos devem ter cuida-
dos especiais. Dos 10 aos 49
anos a taxa de letalidade varia
entre 0,2% e 0,4%, com salto
para 1,3% nos pacientes entre
50 e 59 anos. Na faixa etária en-
tre 60 e 69 anos, o índice é de
3,6%. O número sobe para 8%
em infectados de 70 a 79 anos
e chega a 15% entre os que têm
mais de 80 anos. Os dados são
do Centro de Controle e Pre-
venção de Doenças da China.
A taxa de mortalidade é até
nove vezes maior entre pes-
soas com alguma doença crôni-
ca quando comparada à de pa-
cientes sem patologia preexis-
tente. Segundo dados do go-
verno chinês, no grupo de in-
fectados que não tinham ne-

nhuma comorbidade apenas
1,4% morreu. Já entre os pa-
cientes com alguma doença
cardiovascular, por exemplo, o
índice chegou a 13,2%.
Estamos diante de um dos
maiores desafios de comunica-
ção da História. E o jornalismo
de qualidade exerce papel deci-
sivo. Transparência informati-
va, rigor sem alarmismo e dida-
tismo compõem a chave do su-
cesso. Por isso registro com en-
tusiasmo recente iniciativa do
Grupo Estado de criar um nú-
cleo e uma newsletter especial-
mente dedicados à cobertura
do coronavírus.
O núcleo conta com cerca
de 30 profissionais de São Pau-
lo, Brasília e Rio de Janeiro,
sem contar os corresponden-
tes pelo País. “Nossa priorida-
de é a busca por informações
que orientem as pessoas nes-
sa crise e a cobrança das auto-
ridades para que cumpram
seu papel”, diz David Friedlan-
der, editor executivo do jor-
nal. O Estado está intensifi-
cando a produção de reporta-

gens especiais para as edições
digital e impressa.
As equipes do Broadcast e do
BRPolítico , dois serviços de in-
formação exclusiva do Grupo
Estado, estarão dedicadas aos
impactos na economia e na po-
lítica. Foi lançada uma vibran-
te newsletter, diária, que abor-
da todos os acontecimentos
que o leitor precisa saber so-
bre a crise. Essa ferramenta é
gratuita e está ao alcance de to-
dos os leitores do Estado , não
só dos assinantes.
A reação do Estadão , e de
outros veículos da mídia tradi-
cional, é uma lufada de ar fres-
co num mundo dominado por
tanta desinformação. É preci-
so avançar e apostar em boas
pautas. É melhor cobrir magni-
ficamente alguns temas do
que atirar em todas as dire-
ções. O leitor pede reporta-
gem. O bom repórter sabe en-
contrar histórias que merecem
ser contadas. É capaz de garim-
par a informação, prestar servi-
ço, ajudar a vida das pessoas e
apontar caminhos. A cobertu-
ra do coronavírus tem mostra-
do uma imprensa ética e sensí-
vel. Informação clara e objeti-
va, sem alarmismo e sensacio-
nalismo, está promovendo um
forte sentido de responsabili-
dade e de solidariedade em to-
dos os setores da sociedade.
Antes os periódicos cum-
priam muitas funções. Hoje
não cumprem algumas delas.
Não servem mais para contar o
imediato. E as empresas jorna-
lísticas precisam assimilar isso
e se converter em marcas mul-
tiplataformas, com produtos
adequados a cada uma delas.
Quando se escrever a histó-
ria deste momento da humani-
dade – único, dramático e
transformador – brilhará com
força a chama da imprensa de
qualidade. Muitos jornalistas
estão dedicando a vida e cor-
rendo riscos para que você,
amigo leitor, possa resguardar
sua família com a força da infor-
mação correta e bem apurada.
Que Deus proteja todos nós!

]
JORNALISTA. E-MAIL:
[email protected]

Pesquisadores falam em gol-
pe, mas quem quer alguém
morto não está ouvindo.

http://www.estadao.com.br/e/assassino

ESTADOS UNIDOS


A influência dos muralistas mexicanos


Carl Butz pensava em viajar
após a morte da esposa, em


  1. No entanto, ali estava
    ele, o proprietário do jornal
    mais antigo do Estado.


http://www.estadao.com.br/e/jornal

l“O presidente deu umas mancadas, mas não é hora de falar em políti-
ca. O foco das pessoas deve ser cuidar da saúde e da higiene.”
TUCA FLOR

l“Os governos federal e estaduais estão agindo de forma correta para
combater a covid-19, mas a própria população precisa fazer sua parte.”
RONNIE SANTOS RODRIGUES

l“Governadores sendo muito mais responsáveis que Bolsonaro. Ele
chama a covid-19 de histeria e ‘gripezinha’ e não leva a sério.”
VITOR MOURÃO

l“É só uma questão de tempo para que Bolsonaro perca o apoio da
esmagadora maioria que nele votou só para evitar o PT.”
CÉSAR SANCHEZ

COMENTÁRIOS

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

Nazira Kassenova tem um
papel importante na cres-
cente cena techno under-
ground do Cazaquistão, país
autoritário da Ásia.

http://www.estadao.com.br/e/dj

Espaço Aberto


G


rande estranheza nos
têm causado os tem-
pos presentes, tem-
pos brasileiros, embora o
mundo também esteja des-
concertante, pelas anomalias
de toda natureza que nos ofe-
rece diariamente.
As situações inusitadas a
que assistimos na atualidade
são de vários matizes. Mas po-
de-se afirmar que as perplexi-
dades de maior intensidade
são as advindas dos setores
governamentais e da reação
de parte da sociedade em face
do quadro político-institucio-
nal que se apresenta.
Pessoalmente, entendo que
os erros e as omissões na ges-
tão da coisa pública, bem co-
mo a retórica e as falas ofi-
ciais, chocam tanto quanto
choca a reação de uma parce-
la dessa mesma sociedade
que apoia e aplaude os atuais
governantes.
A desarmonia entre a con-
duta dos que nos governam
com aquela que deles se espe-
raria já é uma verdade indiscu-
tível para boa parte dos cida-
dãos lúcidos e portadores de
bom senso. E parece ser con-
senso que nada vai mudar. A
má gestão decorre da persona-
lidade, do caráter, do modo
de ser desses mesmos gover-
nantes, que têm como exem-
plo o titular do Palácio do Pla-
nalto. Ele e os demais são co-
mo são e assim serão.
Resta-nos resistir, procuran-
do defender as instituições, a
democracia e a liberdade, sem
nada deles esperar. Eu ouso
dizer que para eles o despre-
zo, pois a nossa energia deve
voltar-se para o Brasil.
Por outro lado, incompreen-
síveis também são os aplau-
sos que os dirigentes recebem
de um segmento, embora mi-
noritário, de brasileiros. A in-
compreensão não é em rela-
ção à opção política que fize-
ram. É da essência da demo-
cracia a possibilidade de livre
escolha dentro das alternati-
vas que compõem o quadro
político-institucional.
No entanto, as opções de-
vem sempre ter um substrato
para justificarem a preferên-


cia. Substrato ideológico, par-
tidário, confluência de ideias,
de ideais, programas, plano
de governo, enfim, algo que
identifique quem escolhe
com o escolhido. Até os mais
sanguinários ditadores se
apresentavam como portado-
res de alguma ideologia, al-
gum programa governamen-
tal, metas a serem atingidas.
Os nossos atuais mandatá-
rios, no entanto, têm como al-
vo exclusivo o poder pelo po-
der, e nada mais.
Procuram suprir essas ca-
rências com uma retórica va-
zia, um discurso pretensamen-
te moralizante, inconsequen-
te, retrógrado, odiento e into-
lerante, absolutamente distan-
te dos interesses do País.
O desprezo pela cultura e
pela criação artística, a inven-
cionice do “perigo comunis-
ta”, a apologia das armas, da

tortura, da escravidão, tida co-
mo um bem para o País, e tan-
tas outras pregações anticivili-
zatórias provocam discórdia e
divisão no seio da sociedade.
O Brasil, sem dúvida, políti-
ca e espiritualmente ficou
mais pobre. Não se distri-
buem riquezas nem cultura, a
não ser bananas. Não são cria-
das condições que possibili-
tem ascensão social e financei-
ra às camadas menos privile-
giadas, vide a infeliz manifes-
tação acerca das viagens de
empregadas domésticas. Pare-
ce que ainda somos um país
de escravocratas. Escravidão
sem pelourinhos ou grilhões.
Pelo menos visíveis.
Uma simples retrospectiva
das falas oficiais, e já foram
inúmeras, nos mostraram que
elas não contêm nenhuma
mensagem relacionada às
reais necessidades do povo.
Raramente o chefe do Executi-
vo se manifesta sobre pobre-
za, desigualdade social, distri-
buição de renda, integração
das camadas menos favoreci-

das, educação. As ideias que
propaga são sempre fixas,
imutáveis, obsessivas, ligadas
ao imaginário “perigo do co-
munismo”, à repressão poli-
cial, aos elogios ao regime mi-
litar, até à tortura, com des-
prezo pela cultura, pelo meio
ambiente, pelas minorias.
Quando o discurso não é
rancoroso e ofensivo, é uma
fala quase pueril, que demons-
tra total alienação e falta de
um pensamento culto e eleva-
do. Discorre sobre radares
nas estradas, cadeiras para
crianças, tomada trifásica, co-
brança ou não de taxas para
turismo, terra plana e tantas
outras preciosidades que tais.
A ausência de uma gestão
que nos encaminhe para as so-
luções dos angustiantes pro-
blemas que nos afligem con-
duz à necessidade de se assu-
mirem movimentos civilizató-
rios em defesa de valores ho-
je desprezados, com o objeti-
vo de abafar as vozes do con-
fronto, da grosseria e do res-
sentimento.
Não vejo conciliação possí-
vel e a sociedade deve ser aler-
tada para os riscos reais de
uma ruptura social, caso não
haja uma reação. Reação ex-
pressa e objetiva, manifestada
pelos meios possíveis, que
possam atingir toda a socieda-
de brasileira.
Houve quem já pedisse des-
culpas por ter votado nesse go-
verno. Quantos não estarão
querendo fazer o mesmo, mas
se sentem envergonhados?
Portanto, o campo para a
reação é fértil. Assim, um tra-
balho eficiente de persuasão,
que conte com os Poderes Le-
gislativo e Judiciário, com en-
tidades como a OAB, a ABI a
CNBB, provocará uma mobili-
zação social, que hoje consti-
tui um dever cívico indecliná-
vel e impostergável, e poderá
até mesmo nos trazer uma es-
perança: a de que o primeiro
mandatário tenha a lucidez
de reconhecer que não pode
mais nos governar, ou me-
lhor, nos desgovernar.

]
ADVOGADO CRIMINAL

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
JOÃO FÁBIO CAMINOTO / DIRETOR DE JORNALISMO
MARCOS BUENO / DIRETOR FINANCEIRO
MARIANA UEMURA SAMPAIO / DIRETORA JURÍDICA
NELSON GARZERI / DIRETOR DE TECNOLOGIA

CENTRAL DE ATENDIMENTO AO LEITOR:
FALE COM A REDAÇÃO:
3856-
[email protected]
CLASSIFICADOS POR TELEFONE:
3855-
VENDAS DE ASSINATURAS: CAPITAL:
3950-
DEMAIS LOCALIDADES:
0800-014-
VENDAS CORPORATIVAS: 3856-

IMPRENSA
Aposentado salva
jornal da Califórnia

DJ cria espaço para
jovens serem livres

COMENTÁRIOS DE LEITORES NO PORTAL E NO FACEBOOK:

JENNA SCHOENEFELD/THE NEW YORK TIMES DAMIR VTOW/THE NEW YORK TIMES

]
Antônio Cláudio Mariz de Oliveira


Tema do dia


País faz fronteira com o Irã,
um dos lugares mais afeta-
dos pela doença no mundo.

http://www.estadao.com.br/e/iraque

Solução para


o desgoverno


É dever cívico persuadir
a sociedade a se
mobilizar em reação ao
chefe do Executivo

Coronavírus, a batalha


da comunicação


Quando se escrever a
história deste momento
da humanidade brilhará
a imprensa de qualidade

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

AV. ENGENHEIRO CAETANO ÁLVARES, 55
CEP 02598-900 – SÃO PAULO - SP
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FAX: (11) 3856-
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PREÇOS VENDA AVULSA: SP: R$ 5,00 (SEGUNDA A
SÁBADO) E R$ 7,00 (DOMINGO). RJ, MG, PR, SC E DF:
R$ 5,50 (SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 8,00 (DOMINGO).
ES, RS, GO, MT E MS: R$ 7,50 (SEGUNDA A SÁBADO)
E R$ 9,50 (DOMINGO). BA, SE, PE, TO E AL: R$ 8,
(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Para 47%, apoio de


Bolsonaro em SP


atrapalha candidato


Pesquisa Ibope mostra que apoios de
Lula, Doria e Alckmin também trazem
mais prejuízo que ajuda a candidaturas

]
Carlos Alberto Di Franco

TOMAS BRAVO/REUTERS MÚSICA

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CRIMES

Dark web oferece
aluguel de assassinos

FRONTEIRA

Iraque tenta impedir
entrada da covid-
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