Valor Econômico (2020-03-21, 22 e 23)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 3 da edição"23/03/20201a CADC" ---- Impressa por vdsilvaàs 22/03/2020@20:04:41


Sábado,domingoesegunda-feira, 21, 22 e23demarçode 2020| Valor|C3


Finanças


MercadosAnalistas avaliam que turbulências devem acabar por gerarrecessão globalno 1


o
semestre

Crise de liquidez assusta investidores

Rafael Vazquez
De São Paulo

A turbulência nos mercados
globais que tem marcado as últi-
mas semanas geroufortesmovi-
mentos de vendastantode ações
quanto de tradicionais ativosde
segurança, comoos títulosdoTe-
souroamericano eoouro. Em
meioao pânico,investidores têm
buscado refúgio principalmente
no dólar, oque levouoindicador
DXY—que mede o desempenho
da moeda americana ante outras
divisas fortes —aultrapassar os
102 pontos na última quinta-feira,
nívelmaisaltoemtrêsanos.
Tal cenário levantou preocupa-
ções sobrea possibilidadedeavisí-
vel falta de liquidez nos mercados
resultar em uma novacrise finan-
ceira de grandesproporções. Ana-
listasouvidospeloValorainda di-
vergem sobreas chances de a crise
atual ser tão profundaquanto a de
2008, embora ninguémmaisne-
guequeasmedidasnecessáriaspa-
ra conter a pandemiadecoronaví-
rus levarão auma inevitável reces-
sãoglobalnoprimeirosemestre.
Para o economista sênior do
UBS Global Wealth Management,
BrianRose,oproblemadeliquidez
que tem estado presente nos mer-
cadosglobais desdea semanapas-
sada é sério,mas tudoindica que o
Federal Reserve (Fed) e os demais
bancos centrais estão preparados
para evitar que a questão se trans-
formeemuma profunda crise fi-
nanceira. “O Fedestá adotando
açõesagressivas,especialmenteno
mercado de Treasuries, eisso deve
ajudaraacalmaroutrosmercados.
O BC americano aprendeu lições
da crise financeiraglobal eestá
preparado paratomar medidas
adicionais,senecessário”, diz.
Essa percepção écompartilha-
da pelo diretorde investimentos
da gestorasuíçaGAM,Charles
Hepworth,que administra uma
carteirade US$ 132,7bilhões.“É
muitocedopara dizerque have-
rá crisefinanceira; os mercados
caíramsubitamenteno espaço
de algumas semanas”, disse
Hepworth,lembrandoqueomo-
vimentode quedafoi intensifica-
do por investidoresvendendo
ativosde segurança,comooou-
ro,paracobrirperdasemações.
O ouro, que chegou a ficar perto
de US$ 1.700 por onça-troyen-
quantoapandemiaestavamaislo-
calizadana Ásia,virouum dos
principaisativosusadosporgesto-
res pararealizar lucros ecobrir
perdas. Depois de seguidos pre-
gões de “sell-off”(venda generali-
zada)após o coronavírussedisse-
minar por Europa e EUA,ometal
fechouem US$ 1.484,60 na sexta,
quedade maisde 10% em duas se-
manas, um movimento raroconsi-
derandooscortesde juroseasfle-
xibilizaçõesmonetárias ao redor
do mundo que visam reduzir os
danoseconômicosdapandemia.
Em meioàturbulência atual, o
Fed (banco centraldos EUA) já fez
dois cortes emergenciais de juros e
levousua taxa referencial para o in-
tervalo entrezero e 0,25%,mesmo
nívelpara oqual foi reduzida em


  1. Atéaúltimasexta, oFed já
    acionou praticamente todas as fer-
    ramentasusadas durantea crise de
    2008,entre elas acomprade “com-
    mercial papers”,que são dívidas que
    empresas emitemsem garantias pa-
    ra financiamento de suas operações
    de curto prazo, e um instrumento
    usado para conceder empréstimos
    “overnight”pormeiodebancospar-
    ceiros em trocade garantias elegí-
    veis. Tambémanunciouum progra-
    ma com outros bancos centrais es-
    trangeirosparaaumentarafrequên-
    cia das operações para disponibili-
    zardólares americanosno exteriora
    taxas de juros próximasde zero (li-
    nhas de “swap”). Amedidavisa arre-
    fecer acorrida desenfreada dos in-
    vestidoresparaodólar.
    “Acreditamosque oFed imple-
    mentará novasmedidas emergen-
    ciaisde crédito efinanciamento.
    Tambémacreditamos que aumen-
    tará bastante otamanhodo pro-
    gramade afrouxamentoquantita-
    tivo [QE, na sigla em inglês]”,diz a
    economista-chefe em finanças dos
    EUA na Oxford Economics, Kathy


Bostjancic, em relatório.Aecono-
mistaespera aindaque o Fedpedi-
rá autorização ao Congresso ame-
ricanoparacomprartítuloscorpo-
rativos, seguindo a recomendação
dos ex-presidentes da entidade
BenBernankeeJanetYellen.
Para Rose, do UBS, é importante
que o Fedse mantenha presente
atéqueasmedidasquarentenaem
combate ao coronavírus termi-
nem.“Ochoqueeconômicoémui-
to grande. No entanto, todos sa-
bem que essa situaçãonão vai du-
rar para sempre.A economia deve

se recuperarassim queos blo-
queios terminarem. Éimportante
que as empresas recebamcrédito
suficiente paracontinuar operan-
do enquanto esperam que a eco-
nomiavolteaonormal.Esperamos
ver governos ebancoscentrais fa-
zendooqueforprecisoparaimpe-
dir que uma crise de crédito cause
maisdanosàeconomia”, afirmou.
Paraodiretorglobaldeestratégia
de emergentesdo BNP Paribas,Ga-
briel Gersztein, a liquidação de ati-
vos de segurança reflete a busca por
caixa em meioao pânico causado

pelosefeitosdapandemianaecono-
mia. “A situação éséria ecertamente
podecausarumacrisefinanceira.Es-
tamosno meiode um eventojamais
visto na era modernadas finanças.
Em2008,foiumeventonosEUAque
teve repercussão global e não tinha
relaçãocomasaúde,umtemamuito
sensível paraapopulaçãoem geral.
Hoje,é um eventorealmente global,
presentenomundotodoeprovavel-
menteaglobalizaçãovaificarabala-
da. A recuperaçãonão deve serrápi-
da”,disseaoValor.
Gersztein chama a atenção para a

possibilidade de um efeito dominó
geradopossivelmente pela quebra
de empresas.As mais vulneráveis às
paralisaçõescausadas pela pande-
mia de coronavírus, segundoele, es-
tão nos setores de turismo eviagem.
“O grande risco éodeque empresas
comecem a quebrar, oque gera difi-
culdadesaos bancos, o que conse-
quentemente causa restriçãodecré-
dito e aí outrasempresas não conse-
guemcontinuar operando.Existe,
sim,oriscodeumeventosistêmico.”
ParaoexecutivodoBNPParibas,
os bancos centrais estão fazendo

tudo oque podem. Mas lembra
quedificilmenteasituaçãovaime-
lhorar antesque o númerode in-
fectados emortos pelocoronaví-
russejadevidamentecontrolado.
“Estamosvendo em primeira
mãocomotodosmercadosdomun-
do dependiam de uma economia
global, edos EUA em particular,que
foram mantidos intactos por uma
farra de dívida sem precedentes. Es-
tamosagora em uma alavancagem
mundial e adívidase desdobraem
proporções históricas”, diz, em rela-
tório,aRosenbergResearch.

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