O Estado de São Paulo (2020-03-24)

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A10 Metrópole TERÇA-FEIRA, 24 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Patrik Camporez


O fechamento das fronteiras
terrestres do Brasil com oito
países vizinhos, por causa da
pandemia, vai impedir a entra-
da de aproximadamente 10 mil


migrantes diariamente em terri-
tório nacional. Essa foi a média
de estrangeiros que, em janeiro
e fevereiro, declararam entrada
por dia nos postos da Polícia Fe-
deral que foram fechados na se-
mana passada por determina-
ção do governo brasileiro.
Em janeiro, 350 mil pessoas
entraram legalmente no Brasil
por meio das fronteiras; em fe-
vereiro, com o fim do período
de férias, o número caiu para
240 mil, o que dá uma média de
300 mil por mês, ou 10 mil por

dia. O levantamento foi feito pe-
la PF a pedido do Estado.
A região de fronteira com a
Argentina será a mais afetada.
Somente em janeiro, 281.628 ar-
gentinos entraram legalmente
no Brasil por meio de vias terres-
tres. No mesmo mês, a PF rela-
tou a entrada de 49.338 para-
guaios e 16.383 bolivianos.

Carga. “A PF esclarece que
cumprirá suas atribuições cons-
titucionais e legais, restringin-
do os movimentos migratórios
nas fronteiras terrestres do Bra-
sil com os países citados nas
Portarias”, disse a PF ao Esta-
do, em nota. As restrições anun-
ciadas até agora não atingem
brasileiros, imigrante com resi-

dência definitiva no País e es-
trangeiros que atuam em orga-
nismos internacionais. E não
afeta o transporte de carga.

Fechamento de fronteiras


impede entrada de 300 mil


NÃO PEGAR
José Maria Tomazela
SOROCABA


O interior de São Paulo, que
responde por 15% da riqueza
nacional, começou a parar
nesta segunda-feira, em ra-
zão do coronavírus. Hoje, pas-
sa a vigorar em todo o Estado
a quarentena determinada pe-
lo governador João Doria
(PSDB).
Campinas, cidade com mais
de 1 milhão de habitantes, ama-
nheceu ontem com praças, ruas
e terminais de ônibus pratica-
mente vazios. Um decreto assi-
nado pelo prefeito Jonas Doni-
zette (PSB) antecipou a quaren-
tena, fechando o comércio em
geral e reduzindo a circulação
do transporte público. Medidas
semelhantes foram tomadas


nas principais cidades do inte-
rior, em outras, o processo de
isolamento social começa nes-
ta terça-feira.
A região central de Campinas
começou o dia praticamente va-
zia e o transporte coletivo fun-
cionava com frota mínima. Mui-
tos moradores desistiram de es-
perar pelos ônibus nos termi-
nais. A justificativa do adiamen-
to na paralisação, segundo o pre-
feito, foram os 9 casos confirma-
dos e 223 suspeitos na cidade.
O comércio em geral fechou,
mas a área de alimentação e de
medicamentos, e sua cadeia
produtiva, funcionaram. O de-
creto não envolveu indústrias e
bancos. “Não é só tirar as pes-
soas da rua e deixar em casa.
Dos nossos leitos de UTI, 30%
são ocupados por acidentes de
trânsito. Sem carro na rua o nú-

mero de acidentes cai e libera-
mos leitos para os casos graves
de coronavírus”, disse Donizet-
te. Ele determinou providên-
cias para que os ônibus operas-
sem apenas com pessoas senta-
das. A Guarda Municipal patru-
lhava as principais vias e aces-
sos da cidade para controlar a
lotação dos coletivos.
Em Sorocaba, o Sindicato dos
Rodoviários ordenou aos moto-
ristas que recolhessem os ôni-
bus que estavam em circulação
na manhã desta segunda-feira.
Os veículos cumpriam o itinerá-
rio até o ponto final e eram con-
duzidos à garagem. A medida
atingiu outros 43 municípios da
região e, segundo o sindicato,
visava a garantir a segurança de
motoristas e passageiros. Com
duas mortes suspeitas, Soroca-
ba está em estado de calamida-

de pública. Segundo o sindica-
to, empresas de transporte ur-
bano mantinham plantão para
o transporte especial. Empre-
sas de fretamento e de cargas
não foram afetadas.
De manhã, a guarda munici-
pal chegou a intervir, mas não
conseguiu evitar que os ônibus
saíssem lotados do Terminal
Santo Antônio, o principal da ci-
dade. Em nota, a prefeitura in-
formou que a medida adotada
pelo sindicato foi unilateral e
entraria na Justiça para que par-
te dos ônibus circulasse, visan-
do a atender quem trabalha em
serviços essenciais. O comér-
cio geral e de shoppings deve
ficar fechado em virtude do de-
creto de calamidade. Só no do-
mingo, 82 bares foram autua-
dos por descumprir a regra.
Em Itapetininga, a rodoviária
e os terminais de ônibus ama-
nheceram isolados com faixas
zebradas em todo o entorno pa-
ra proibir a entrada de ônibus e
passageiros. As pessoas que fo-
ram até o local tiveram de fazer
meia volta. A cidade tem 37 ca-
sos suspeitos. O número de ôni-
bus circulando também foi re-
duzido em Jundiaí. Fiscais da
prefeitura receberam mais de
70 denúncias de descumpri-
mento das medidas restritivas
ao funcionamento do comér-
cio. Piracicaba reduziu a frota
do transporte público e suspen-
deu a gratuidade dos cartões de
idosos fora do horário entre 10
e 15 horas.

Burla. A prefeitura de Bauru

autuou ao menos 15 estabeleci-
mentos que funcionavam na
manhã desta segunda, burlan-
do um decreto do prefeito Clo-
doaldo Gazzetta (PSDB) que fe-
chou o comércio desde a sexta-
feira, à exceção de serviços es-
senciais. A regra limitou o fun-
cionamento até de bancos. Nes-
ses locais, só eram atendidos
presencialmente idosos, ges-
tantes e pessoas vulneráveis.
Nesta segunda, empresas e in-
dústrias operavam com metade
dos funcionários e, conforme o
decreto, deverão fechar total-
mente a partir de amanhã.
Uma decisão da Justiça do
Trabalho reduziu em 40% a cir-
culação dos ônibus de transpor-
te público de Ribeirão Preto. Os
coletivos já circulam com fras-
cos de álcool em gel, todos os
passageiros sentados e com as
janelas abertas. Em caso de des-
cumprimento, a empresa de
transporte pode ser multada
em até R$ 50 mil por dia. Shop-
pings e centros comerciais fe-
charam. O prefeito Duarte No-
gueira (PSDB) antecipou a pri-
meira parcela do 13.º e pediu às
pessoas que fiquem em casa.
Em São José dos Campos, o

comércio fechou nesta segun-
da, mas funcionavam serviços
essenciais, como supermerca-
dos, e, com frota reduzida, o
transporte coletivo. O uso de bi-
lhete único por idosos foi restri-
to a viagens por motivo de saú-
de comprovado. Parques públi-
cos, academias e centros espor-
tivos também fecharam. Em
Araraquara, com uma morte
suspeita, seis postos de saúde
passaram a funcionar, nesta se-
gunda, com horário ampliado
até 20 horas. Em São José do
Rio Preto, até as 23 feiras livres
foram suspensas. A prefeitura
de Araçatuba anunciou a sus-
pensão, a partir desta terça, das
visitas domiciliares dos agentes
de combate à dengue.

Bloqueios. Cidades menores
que ainda não têm casos confir-
mados de coronavírus estão bar-
rando a entrada de pessoas de
fora, como Botucatu, Águas de
Lindóia, São Pedro e Motuca.
Em Aparecida, cidade do San-
tuário Nacional de Nossa Se-
nhora Aparecida, o bloqueio
dos acessos foi determinado pe-
la Justiça. A medida atinge tam-
bém a vizinha Potim. Com isso,
subiu para 20 o número de cida-
des paulistas com acessos con-
trolados por causa da pande-
mia. No interior, já adotaram a
medida Itariri, Pedro de Tole-
do, Itápolis, Miguelópolis, Taba-
tinga e Nova Europa. No litoral,
os acessos estão controlados
em Ilhabela, Santos, Guarujá,
Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe,
Ilha Comprida e Cananeia.

Aumento de


violência em


casa já preocupa


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS SP quer usar hotel e verba de multa para internações. Pág. A11 }


Média foi registrada nos


postos da PF nos dois


primeiros meses do ano;


argentinos serão os mais


afetados com restrição


PREFEITURA DE BOTUCATU

lAção no domingo
“Antecipamos porque um
dia nos dá um ganho extra.
Fizemos uma edição
extraordinária do decreto
no domingo.”
Jonas Donizette (PSB)
PREFEITO DE CAMPINAS

Vistoria. Agentes escoltados por guardas municipais entram em ônibus para detectar pessoas com sintomas da covid-19, em Botucatu, interior de SP


A ministra da Mulher, Família e
Direitos Humanos, Damares Al-
ves, afirmou que o período de
isolamento durante a pande-
mia do novo coronavírus pode
aumentar a incidência de vio-
lência doméstica no Brasil.
Nas redes sociais, ela pediu
ajuda para divulgar o Ligue 180
(para violações contra mulhe-
res) e o Disque 100 (para casos
que envolvem crianças e ido-
sos). Segundo o ministério, 90%
dos casos de violência ocorrem

no local onde as vítimas moram.
“Nesse período em que tere-
mos mais pessoas em casa há
um risco maior. Me ajudem”, es-
creveu Damares, no Twitter.
Em um comentário, na mes-
ma publicação, uma mulher re-
latou um caso de violência co-
metido pelo pai do seu filho.
“Mas como se faz se o pai de
uma criança de 9 anos maltrata
fisicamente e emocionalmente
e se mora ao lado e ele tem 1,
metros e pesa 150 quilos e eu
57?”, questionou a mulher.
A ministra, então, recomen-
dou que a vítima ligasse para a
polícia e para o Disque 100.
“As autoridades devem inter-
vir”, afirmou Damares. / JULIA
LINDNER

AS DETERMINAÇÕES

Marcia de Chiara


A corrida de consumidores às
lojas físicas de supermercados
que houve na semana passada,
movimento comparável aos


dias que antecedem o Natal,
também ocorreu no mundo vir-
tual. As duas maiores redes de
supermercados do País, o Carre-
four e o Grupo Pão de Açúcar
(GPA), não dão detalhes de
quanto cresceram as vendas on-
line nesse período por causa da
epidemia do novo coronavírus,
muito menos do prazo maior pa-
ra entregar os pedidos virtuais.
Mas admitem que houve sobre-
carga no sistema.
O Carrefour informa, por

meio de nota, que notou “au-
mento significativo de pedidos
via e-commerce”. De acordo
com a empresa, por causa desse
“cenário de exceção é natural
que o tempo de entrega acabe
se estendendo um pouco”.
Questionado sobre os prazos
mais longos de entrega, o GPA
informa, por meio de nota, que
“as entregas estão sendo realiza-
das de acordo com a disponibili-
dade de datas informadas no
momento da compra”. Tanto o

Carrefour como o GPA argu-
mentam que estão reforçando
as estruturas para acelerar o e-
commerce. “Estamos contra-
tando novos colaboradores”, in-
forma o comunicado do Carre-
four. O GPA está contratando
temporários e o comércio onli-
ne do Grupo, que atua com as
bandeiras Extra e Pão de Açú-
car, terá nos próximos dias um
novo centro de distribuição pa-
ra abastecer São Paulo e região,
onde está concentrada a maior

parte dos pedidos.
Além de correr ao supermer-
cado para reforçar a panela e es-
tocar álcool em gel, os brasilei-
ros também trataram de com-
prar mais botijões de gás para
cozinhar. A Ultragaz, líder na
venda de gás de cozinha, regis-
trou nos últimos dias cresci-
mento de 10% a 15% nas vendas
de botijões de gás, segundo o di-
retor Aurélio Ferreira.
Ontem, pequenos comercian-
tes e prestadores de serviços tra-

balhavam com as portas fecha-
das ou semifechadas em São
Paulo. Para não quebrar, os lojis-
tas que não têm licença para
vender alimentos ou itens es-
senciais apostavam nas vendas
por telefone ou internet. Al-
guns chegavam a deixar a porta
entreaberta, indicando que os
clientes podiam bater e com-
prar um ou outro artigo de ma-
neira rápida, sem entrar na lo-
ja.“Provavelmente amanhã (ho-
je) eu fecho as portas, em razão
da quarentena (veja abaixo)”,
diz Lucia Souza, prestadora de
serviços de lavanderia. /
COLABOROU TALITA NASCIMENTO

KIKO SIERICH/ESTADAO

Rigor. Vigilância aumentou

Venda online cresce e há sobrecarga; entrega pode atrasar


Carrefour e Pão de


Açúcar tiveram grande


aumento de pedidos nos


últimos dias e devem


contratar funcionários


Quarentena começa


hoje, mas interior


paulista se adiantou


Ações municipais restringem transporte público e até cidades sem


casos do novo coronavírus adotam barreiras em suas entradas


l Bares e restaurantes
De acordo com a determinação
do governo estadual, esses esta-
belecimentos devem ficar fecha-
dos – assim como cafés – e po-
dem funcionar apenas no siste-
ma de entregas.

l Funcionando
A decisão de sábado determina
ainda que serviços essenciais na
área de saúde pública, saúde pri-
vada, alimentação, abastecimen-
to, segurança e limpeza devem
continuar funcionando.

l Obrigatórios
Há serviços listados como de ma-
nutenção obrigatória, entre eles,
o transporte de passageiros por
táxi e aplicativos e a geração e
transmissão de energia.

l Em âmbito federal
Por ação federal, são de manu-
tenção obrigatória também servi-
ços médicos e hospitalares; as-
sistência social e atendimento à
população vulnerável; ativida-
des de segurança pública e pri-
vada, incluídas a vigilância, a
guarda e a custódia de presos.

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