O Estado de São Paulo (2020-03-24)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 24 DE MARÇO DE 2020 Economia A


Adriana Fernandes / BRASÍLIA


Lideranças do Congresso arti-
culam a apresentação de uma
Proposta de Emenda Consti-
tucional (PEC) para permitir
um “orçamento de guerra” e
agilizar a implementação das
ações de enfrentamento da
crise provocada pela pande-
mia da covid-19. O pacote an-
ticoronavírus envolve, até o
momento, R$ 185 bilhões,
mas fontes do Congresso já
falam na necessidade de desti-
nar R$ 500 bilhões para o
combate da crise. A avaliação
de parlamentares é que será
preciso aumentar o aporte pa-
ra o Bolsa Família e os traba-
lhadores informais, além de
suspensão de tributos para
empresas.
O “orçamento de guerra” se-
ria uma espécie de orçamento
paralelo, com menos amarras
como os impedimentos previs-
tos na Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF), nas licitações e


também em transferências vo-
luntárias para Estados e municí-
pios brasileiros.
Durante o estado de calamida-
de, que vai até o dia 31 de dezem-
bro deste ano, ficariam suspen-
sas as restrições constitucio-
nais e legais para as despesas ex-
clusivamente voltadas ao com-
bate do coronavírus. Apesar do
reconhecimento do estado de
calamidade, há uma série de
cláusulas na LRF e regras orça-

mentárias que impedem uma
ação rápida.
Segundo apurou o Estado, o
presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), e outras lide-
ranças do Congresso têm con-
versado com integrantes do Mi-
nistério da Economia e do Ban-
co Central sobre a PEC. “A gen-
te cria esse orçamento de guer-
ra e segrega do orçamento fiscal
do governo. Estamos tentando
separar o que é emergencial do
que não é, para que a gente não
tenha impacto de médio e lon-
go prazos de aumento de despe-
sa”, disse Maia, ontem, em en-
trevista pela internet feita pelo
BTG.
A ideia, ainda segundo Maia,
seria também criar um grupo
com o Poder Executivo para co-
mandar a execução desse orça-
mento. “Está precisando orga-
nizar isso melhor e dar mais cla-
reza (sobre) que orçamento é
esse e como é que ele vai”, disse.
Juristas, autoridades do go-
verno e também técnicos da

área orçamentária relataram
que estão preocupadas com a
falta de amparo jurídico para
ações mais contundentes e rápi-
das. Uma das propostas é sus-
pender no período também a
“regra de ouro”, que impede o
Tesouro de se endividar para pa-
gar despesas de correntes, co-
mo salários.
A avaliação de fontes da área
econômica do governo, ouvi-
dos pela reportagem, é que não
dá para administrar a crise, que
exige agilidade nos próximos
meses para a liberação dos re-
cursos, da mesma forma que
um orçamento comum.

As despesas para o coronaví-
rus ficariam apartadas, mas ha-
veria regras para que haja trans-
parência para fiscalização da so-
ciedade civil. Um “conselho da
crise”, formado por represen-
tantes do Executivo federal, Es-
tados e municípios, apontaria a
natureza das despesas que po-
deriam ser incluídas nas ações
de combate à pandemia, socor-
ro aos mais vulneráveis de baixa
renda, informais e empresas pa-
ra a manutenção dos empregos.
Ou seja, o conselho vai dizer as
fontes de recursos e o que entra
ou não orçamento paralelo.
As conversas com integran-

tes do governo giram também
em torno da necessidade de os
bancos privados e não só os pú-
blicos oferecem capital de giro
para as empresas manterem os
salários. Uma das propostas é
que o BC dê garantia por trás
desses empréstimos.
O governo tem no seu caixa
único cerca de R$ 1,3 trilhão pa-
ra administrar o fluxo de dinhei-
ro necessário aos seus compro-
missos. Mas uma parte desse di-
nheiro tem “amarras” que só po-
dem ser usadas para determina-
dos fins, como abatimento da
dívida pública./COLABOROU
CAMILA TURTELLI

http://www.sodresantoro.com.br
11 2464-
Marginal da Via Dutra, km 224 - Guarulhos/SP.

Adriana Fernandes / BRASÍLIA


O secretário da Receita Federal,
José Tostes, informou ao Esta-
do, por meio da assessoria de co-
municação do Ministério da
Economia, que não houve ne-
nhuma mudança no prazo final
de entrega da declaração do Im-
posto de Renda da Pessoa Física
(IRPF), que acaba em 30 de
abril. Segundo Tostes, a notícia
sobre adiamento é “improce-
dente”.
Tostes recebeu, na sexta-fei-
ra, ofício do Sindicato Nacional
dos Auditores Fiscais da Receita
(Sindifisco) para ampliar o pra-
zo de entrega até o dia 31 de
maio. O argumento é que a ne-
cessidade de isolamento social


por conta da pandemia pode difi-
cultar o recolhimento de docu-
mentos necessários ao preen-
chimento da declaração e o con-
tato com contadores.
O ofício também propõe a
priorização da análise das resti-
tuições do Imposto de Renda pa-
ra que todos os lotes sejam pa-
gos até o fim de agosto. O presi-
dente do Sindifisco, Kleber Ca-
bral, também pediu à Receita a
suspensão, até o fim de abril, de
todos os prazos fiscais, como o
atendimento a intimações, en-
vio de declarações e recolhimen-
to de tributos.
A pressão pelo adiamento é
grande. O Estado apurou que
setores empresariais também
estão solicitando a alteração da
IRPF por causa das dificuldades
relacionadas à documentação
de trabalhadores usada na elabo-
ração da declaração.
A entrega das declarações te-
ve início no dia 2 e o contribuin-
te pode prestar suas contas pe-
rante a Receita Federal por
meio de três plataformas: pelo
programa de Declaração de Im-
posto de Renda de Pessoa Físi-
ca, para desktop, pelo aplicativo
compatível com tablets e
smartphones e pelo Centro Vir-
tual de Atendimento ao Contri-
buinte. A Receita espera receber
32 milhões de declarações de Im-
posto de Renda dentro do prazo
deste ano, que, sem mudanças,
se encerra no dia 30 de abril.

Receita Federal nega


adiamento da entrega


da declaração de IR


Fabrício de Castro
Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA


Para combater os efeitos negati-
vos da epidemia de coronavírus
sobre o sistema financeiro, o
Banco Central já anunciou a dis-
ponibilidade de R$ 1,216 trilhão
para os bancos brasileiros. A ci-


fra, divulgada ontem pelo pró-
prio BC, equivale a 16,7% do
PIB.
Os recursos têm como objeti-
vo manter a liquidez no sistema


  • ou seja, a disponibilidade de
    dinheiro para que as institui-
    ções financeiras possam fazer
    normalmente suas operações
    com os clientes (empresas e
    pessoas físicas). Não significa,
    no entanto, que essa enxurrada
    de recursos vai ser emprestada
    pelos bancos – até porque to-
    mar empréstimo em meio à cri-
    se é uma decisão dos clientes.
    Mesmo assim, chama a aten-


ção o fato de que o anúncio de
recursos já é substancialmente
superior ao verificado após a cri-
se econômica global de 2008.
Na época, o BC proveu liquidez
de R$ 117 bilhões, o equivalente
a 3,5% do PIB.
Entre as medidas para comba-
ter o efeito da pandemia sobre o
sistema financeiro estão a redu-
ção das alíquotas de compulsó-
rio sobre depósitos a prazo, de
31% para 25%, e a diminuição da
parcela dos recolhimentos com-
pulsórios considerados no Indi-
cador de Liquidez de Curto Pra-
zo (LCR) dos bancos. Estas

duas medidas, anunciadas em
20 de fevereiro, representam a
injeção de R$ 135 bilhões no sis-
tema.

Compulsórios. Ontem, o BC

anunciou nova redução das
alíquotas dos compulsórios, de
25% para 17%. A medida, que va-
lerá até 14 de dezembro, repre-
senta um adicional de R$ 68 bi-
lhões para o sistema financeiro.
Também ontem, o Banco
Central promoveu uma flexibili-
zação nas regras das Letras de
Crédito do Agronegócio (LCA)


  • um título emitido por institui-
    ções financeiras para obter re-
    cursos para financiar o setor
    agrícola. Pelo cálculo do BC, is-
    so permitirá um adicional de R$
    2,2 bilhões de recursos para os
    bancos.


Uma quarta medida anuncia-
da pelo BC está ligada à possibi-
lidade de empréstimos aos ban-
cos com lastro em Letras Finan-
ceiras (LF) garantidas por ope-
rações de crédito.
Na prática, a autarquia vai em-
prestar dinheiro aos bancos, to-
mando LF como garantia. Essa
medida tem potencial de libera-
ção de R$ 670 bilhões para as
instituições.
O objetivo dessas medidas,
reforçou ontem o Banco Cen-
tral, é prover liquidez ao merca-
do financeiro. “Vai haver liqui-
dez para todo o sistema”, afir-
mou o diretor de Política Mone-
tária do BC, Bruno Serra, duran-
te coletiva virtual com jornalis-
tas.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lDesmentido


lIncentivo

lEmergência

Impacto no emprego e renda está no radar mundial Pág. A18 }


Por ora, está mantido


o prazo de 30 de abril,


segundo informou


o secretário José


Tostes ao ‘Estado’


“ A notícia (de adiamento
do prazo de entrega da
declaração do imposto de
renda) é improcedente.”
José Tostes
SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL POR
MEIO DA ASSESSORIA DI MINISTÉRIO
DA ECONOMIA


R$ 135 bilhões
É o valor que deve ser injetado
na economia só com a redução
da alíquota de compulsórios
sobre os depósitos a prazo,
que vão cair de 31% para 25%

BC põe mais de R$ 1,2 trilhão à disposição dos bancos


Valor equivale a 16,7% do


PIB e é muito superior


ao que foi destinado ao
setor na crise de 2008,


R$ 117 bi, 3,5% do PIB


DIDA SAMPAIO/ESTADÃO - 31/1/

Congresso articula


‘Orçamento de


guerra’ contra vírus


“A gente cria esse
orçamento de guerra e
segrega do orçamento fiscal
do governo. Estamos
tentando separar o que é
emergencial do que não é,
para que a gente não tenha
impacto de médio e longo
prazos de aumento de
despesa.”
Rodrigo Maia
PRESIDENTE DA CÂMARA

Medida pode ser adotada por Proposta de Emenda Constitucional e


parlamentares já cogitam a necessidade de R$ 500 bi contra crise


Articulações. Parlamentares têm conversado com a Economia e o BC sobre nova PEC

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