O Estado de São Paulo (2020-03-24)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 24 DE MARÇO DE 2020 Economia A


Bolsa já está a 5% de


perder os 60 mil pontos


Mesmo com estímulo do Banco Central, Ibovespa despencou e


caiu 5,22%, e dólar voltou a subir, após dois dias seguidos de queda


Renato Jakitas


Em mais um dia de forte osci-
lação nos mercados globais, a
Bolsa brasileira amargou on-
tem novo prejuízo, com seu
principal índice, o Ibovespa,
caindo 5,22%, aos 63.569 pon-
tos – o menor patamar para a
cesta de ações desde julho de



  1. O volume financeiro to-
    talizou R$ 18,4 bilhões e a os-
    cilação foi de mais de 8%, en-
    tra a mínima do dia (-7,32%) e


a máxima (0,80%).
O dólar, que vinha de duas
quedas consecutivas na sema-
na passada, voltou a subir on-
tem, fechando cotado a R$ 5,13,
alta de 2,15%, dentro do movi-
mento internacional de valori-
zação da moeda americana fren-
te às demais divisas.
Segundo analistas, o que man-
teve azedo o humor dos investi-
dores foi o impasse no Congres-
so dos Estados Unidos. Ontem
houve novo fracasso na tentati-

va de aprovar um pacote de so-
corro para injetar US$ 2 tri-
lhões na economia, dinheiro ti-
do por analistas como funda-
mental para enfrentar os efei-
tos da pandemia do novo coro-
navírus na maior economia do
mundo.
Exatamente por isso, as bol-
sas americanas também opera-
ram no vermelho. Elas chega-
ram a cair para além dos 4%,
mas amenizaram o ritmo no fi-
nal do pregão e encerraram o

dia rondando a casa dos 3% ne-
gativos.
Aqui no Brasil, essa foi a prin-
cipal razão do revés. O analista
da corretora Rico, Thiago Salo-
mão, diz até que nem no caso de

um grande esforço do governo
conseguiria rever o ritmo da for-
te queda nos ativos locais. “O
preço da nossa Bolsa está total-
mente ligada ao que acontece
nos EUA neste momento. O

Banco Central até anunciou me-
didas positivas aqui, mas isso
nem foi sentido no mercado”,
diz, referindo-se ao pacote do
BC que estima liberar R$ 68 bi
no sistema financeiro, a partir
do dia 30 de março.
Para o estrategista-chefe da
Infinity Asset, Otavio Aidar, a
Bolsa vai continuar assim, com
alguma alta e muitas quedas, en-
quanto o governo não descarre-
gar um caminhão de dinheiro
novo em empresas e trabalhado-
res. “A economia está parada e é
preciso dinheiro”, diz ele. “Está
absolutamente impossível di-
zer para que lado vai a Bolsa e o
câmbio. Claro, na sexta, a gente
estava a 10% de perder o pata-
mar dos 60 mil pontos. Agora,
estamos a 5%”, afirma.
Entre as grandes quedas do
dia, estão empresas da área de
varejo e serviço, justamente os
setores que vão fechando as por-
tas em São Paulo e no Rio, prin-
cipais praças do País.

Como atacar a covid-


l]
RAUL
VELLOSO

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


C


omo o vírus existe e tende a se
espalhar rapidamente, o segre-
do anticaos é um só: evitar o
contato das pessoas contaminadas
com as que não estão. Mesmo saben-
do que o organismo de uma pessoa
precisa de apenas 14 dias para elimi-
nar o vírus e adquirir imunidade natu-
ral, e seus efeitos se confundam com
os de uma gripe branda, quanto mais
vulnerável for a pessoa atingida (por
doenças, idade, etc.) e sem as provi-
dências corretas, a demanda por aten-
dimento hospitalar especializado pa-
ra os casos de alta gravidade pode su-
perar largamente a oferta desses servi-

ços. Neste caso, as autoridades acabarão
tendo de escolher quem vai receber um
melhor atendimento ou, no limite, dei-
xar de ser atendida e falecer (vejam a ex-
periência chocante da Itália).
O primeiro item da lista de tarefas é
ter material específico de teste em gran-
de quantidade e de fácil acesso à popula-
ção (idealmente gratuitos), para poder
aferir a situação de qualquer membro, a
qualquer momento. Refiro-me a pôr à
disposição os kits diagnósticos pesquisa
por rt-pcr para coronavírus covid-19. Tu-
do isso deveria ser pago pela área federal,
não importando quanto custe, pois certa-
mente os benefícios superam os custos.
Assim, em teoria, numa família que te-
nha avós, pais e crianças (imagino-me
numa praia deserta do Piauí com a mi-
nha), se o teste der ausência de vírus pa-

ra todos, pode-se pensar numa segrega-
ção extrema por um período limitado (já
que, em média, o organismo anula o ví-
rus em 14 dias), em que a comunicação
seja só a interna à família e, pois, o risco
de contaminação seja muito baixo. A par-
tir desse ponto extremo, pode-se imagi-
nar algum relaxamento para algum risco
de contaminação, como quando a famí-
lia recebe a visita de um parente em situa-
ção desconhecida ou há uma empregada
que vem e volta para sua própria casa
todos os dias, algo que pode deslanchar
um processo de rápida contaminação.
No limite, se todos se comunicarem
com as demais pessoas dessa mesma co-
letividade o tempo todo, o risco de conta-
minação e de escolhas tipo “de Sofia” ten-
de, infelizmente, a se tornar muito alto.
Uma forma de atenuar esse risco é a
garantia governamental, por vários
meios, do uso de equipamentos de segu-
rança individual (máscaras de todos os
modelos do mercado, óculos, produtos

químicos para desinfecção, capotes des-
cartáveis) para os contatos extrafamília.
Finalmente, vindo pelo outro lado, na
direção da solução extrema acima indica-
da de milhares de famílias à Robinson
Crusoé, poderíamos pensar em algo
próximo de um isolamento social drásti-
co e compulsório, com uma operação
torniquete em que a cada dia vai parando
uma atividade. Escolas primeiro. De-
pois, todo o funcionalismo público. A se-
guir, bancos (ficando abertos só os cai-
xas eletrônicos), depois o comércio. Até
que fiquem só farmácias e supermerca-
dos. Em todos os casos, o processo de
recentralização em milhares de células
familiares começaria pelos home offices
que fossem viáveis, trazendo pais, mães
e/ou filhos mais velhos de volta à casa.
Nessas condições, teríamos pessoas
que, antes contaminadas e que estives-
sem fora do grupo vulnerável, se livra-
riam dessa condição em 14 dias ou algo
próximo, a contar preferencialmente da

data de positividade do teste. À medi-
da que o isolamento progressivo pro-
duzisse os efeitos de redução da velo-
cidade de contágio do vírus, a quanti-
dade de pessoas infectadas tenderia a
se manter baixa e constante. Mas não
é possível estimar o período que isso
levaria. O mesmo vale para se faze-
rem hipóteses sobre a taxa mensal de
contaminação durante o curso da
pandemia.
Uma questão, contudo, ainda gera
dúvidas na comunidade científica: de-
pois que uma pessoa se cura, há risco
de ser novamente contaminada? Co-
mo é um novo coronavírus, só o tem-
po e a ciência poderão responder.
Para encerrar, será que o governo
fará a parte que lhe toca nisso tudo?
Queira Deus que sim. Se não, estare-
mos perdidos.

]
CONSULTOR ECONÔMICO

Avanço do novo coronavírus provoca onda global de golpes digitais. Pág. A22 }


Dólar
EM REAIS

TESTE DE RESISTÊNCIA

Ibovespa
EM PONTOS

FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

2
JAN
2020

3
FEV

40.

80.

120.

160.

4,

4,

5,

5,

2
MAR

23

5,

63.

118.

4,

VARIAÇÃO
NO DIA
-5,22%
2,15%

NO ANO
-38,98%
14,65%

Bolsa
Dólar

Opinião


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