O Estado de São Paulo (2020-03-24)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 24 DE MARÇO DE 2020 Especial H5


Dave Itzkoff
THE NEW YORK TIMES


Antes que o público tivesse
chance de vê-lo, A Caçada es-
treou nos cinemas na sexta-fei-
ra como um dos filmes mais
controversos do ano. Trata-se
de uma sátira sombria na qual
um grupo de conservadores é
sequestrado e caçado por libe-
rais sádicos, só por esporte. O
filme estava programado para
ser lançado pela Universal em
setembro do ano passado. Mas
o estúdio suspendeu a campa-
nha publicitária de A Caçada,
depois de tiroteios em massa
em Ohio, Califórnia e Texas.
Escrito por Damon Lindelof
e Nick Cuse e dirigido por
Craig Zobel, a película recebeu
críticas de especialistas políti-
cos e espectadores, que acha-
ram que a história estava zom-
bando dos americanos dos Es-
tados predominantemente re-


publicanos. O presidente Do-
nald Trump pareceu condenar
o filme em tuítes que não cita-
vam A Caçada, mas se referiam
a um filme que, segundo ele, fo-
ra “feito para inflamar os âni-
mos e gerar caos”.
Em agosto, a Universal can-
celou o filme, mas depois re-
considerou e resolveu lançá-lo
em 13 de março. Quando o lan-
çamento foi suspenso pela pan-
demia e pelo fechamento gene-
ralizado das salas de cinema, a
distribuidora ofereceu A Caça-
da em canais on-demand.
Essa imprevisível cadeia de
eventos foi um choque para
Betty Gilpin, protagonista no
papel de Crystal, uma engenho-
sa sulista determinada a lutar
para fugir do misterioso cam-
po de batalha. Gilpin, estrela
das séries GLOW e Nurse
Jackie, nunca imaginou que o
filme fosse considerado polê-
mico. Gilpin falou sobre seus
motivos para fazer A Caçada e
sobre sua reação ao veemente
debate que precedeu seu lança-
mento. Aqui vão alguns tre-
chos editados da conversa.

lComo surgiu a oportunidade de
fazer A Caçada?
Eu trabalhei com Craig Zobel
em American Gods, e quando
Craig disse: “Quero que você
estrele esse filme”, respondi:
“Não é bem assim que funcio-
na a relação entre filmes e ato-
res”. É como a primeira vez
que você recebe um cartão de
crédito e eles perguntam:
“Qual é a sua pontuação de
crédito?”. Enfim, li o roteiro e
me apaixonei por ele.

lQual a mensagem do filme?
É uma sátira do nosso tempo,
em que estamos nos afastando
cada vez mais da política e, cul-
turalmente, em que as paredes
de nossas respectivas bolhas es-
tão se transformando em aço,
ficando mais difícil passar de
um lado para o outro. Era para
ser um filme sobre aquele pa-
rente que não consegue olhar
nos olhos no Dia de Ação de
Graças, era para você sentar-se
do lado dele e rir um do outro.

lComo foi sua educação políti-
ca?

Venho de uma família liberal.
Sei muito bem que minha bo-
lha não reflete o resto do país.
É importante fazer filmes em
que se foge de tudo. Mas tam-
bém acho que será um erro evi-
tarmos fazer perguntas descon-
fortáveis, porque os cinema de-
veriam ser o último lugar onde
assistimos à mesma coisa.

lComo se sentiu quando a Uni-
versal decidiu suspender a cam-
panha de marketing do filme?
Se isso tivesse acontecido
quando eu tinha 19 anos, te-
riam que me levar para o hospi-
tal. Mas, aos 33, já sei que ne-
nhuma fada-madrinha vai re-
solver todos os meus proble-
mas. Metaforicamente falan-
do, parecia que eu era uma pro-
fessora de biologia que estava
fazendo o experimento do vul-
cão de papel machê e bicarbo-
nato de sódio e, pela janela
atrás de mim, dava para ver
um vulcão de verdade explo-
dindo. Agora, precisamos
aprender com esses vulcões,
mas talvez seja melhor esperar
a lava esfriar.

lQuando você viu A Caçada vi-
rar um para-raio político, teve
vontade de dizer às pessoas que
elas estavam sendo injustas?
A melhor maneira de decidir
se gosto de um filme é assisti-
lo, mas não sabia se entrar na
briga poderia ajudar em algu-
ma coisa. Não sabia se, daqui a
uns anos, o filme passaria no
boteco da esquina. Não tínha-
mos ideia do que aconteceria.

lComo você se sentiu quando
soube que o filme seria cancela-
do?
A célula mais maligna do meu
cérebro ficou pensando: “Vou
ter 80 anos e ainda tentarei
convencer o entregador a en-
trar na minha casa para mos-
trar as fotos da produção do
meu filme cancelado, choran-
do no ombro dele?”. Não, não
estou interessada nessa narra-
tiva. Uns dias depois do cance-
lamento do filme, meu cachor-
ro morreu. E isso me pareceu
muito mais significativo do
que qualquer tipo de aborreci-
mento com minhas estrelas
no IMDb.

lAgora que A Caçada está es-
treando, você ainda tem o mes-
mo entusiasmo do começo?
A indústria do entretenimen-
to se apoia na ideia de que, se
você continuar correndo, vai
chegar ao Éden – um paraíso
onde continua tentando ser a
versão mais magra e jovem de
si mesma – e na ilusão de que
é o próximo papel que vai
abrir essa porta. Quanto mais
cedo todos concordarmos que
é uma falácia, mais interessan-
te será todo o nosso trabalho,
acho. De certa forma, esse can-
celamento interrompeu um
período de mais de cinco anos
de perseguição a uma coisa
que não existe. Na verdade, a
jornada é mais importante do
que a chegada.

lVocê está prestes a gravar a
última temporada de GLOW. Co-
mo é chegar ao fim da série?
É um sentimento agridoce. Tal-
vez as pessoas se sintam assim
com a família, porque você es-
tá perto de pessoas que a co-
nhecem. / TRADUÇÃO DE RENATO
PRELORENTZOU

POLÊMICA


SÁTIRA AOS


REPUBLICANOS


Americana fala sobre


o desafio de estrelar o


o filme ‘A Caçada’


Eliana Silva de Souza


Todo mundo está tentando fa-
zer com que as pessoas enten-
dam a importância da higiene
nesse momento de pandemia
de coronavírus. De forma di-
vertida e clara, o YouTube fez
uma parceria com criadores e
artistas e lançou o desafio #Fi-
queEmCasa e lave as mãos
#Comigo. Para isso, tomou co-
mo base a música Lavar as
Mãos, de Arnaldo Antunes,
uma marca do programa infan-
til Castelo Rá-Tim-Bum, da TV
Cultura. Com a intenção de di-
vulgar em redes sociais, para
alcançar o maior número de
pessoas, vemos nesses vídeos
o povo do Porta dos Fundos,
Carolina Ferraz, a banda Fran-
cisco, El Hombre, Canal do Jú-
lio, do Cocoricó, Professor
Nolsen, Luccas Neto, e o pró-


prio Arnaldo Antunes. Essa
versão exclusiva da canção de
Marcio Arantes e Arnaldo An-
tunes foi editada por Rosa Ce-
leste. No material de divulga-
ção, Cao Hamburger, criador
do Castelo, falou sobre a cam-
panha. “Naquela época, lavar
as mãos já era uma questão de
saúde pública, principalmen-
te para a população de baixa
renda. Pensei em um clipe
com uma música chiclete para
as crianças e os pais sempre
lembrarem. O Arnaldo fez es-
sa obra prima que se transfor-
mou em um clássico. Espero
que utilizá-la para combater
essa pandemia seja tão eficien-
te quanto na época em que lan-
çamos o programa.”

Sem intervalo


Entrevista*


Dogman / Dogman
(Itália, 2018.) Dir. e roteiro (com Ugo Chiti
e Massimo Gaudioso) de Matteo Garrone,
com Marcello Fonte, Edoardo Pesce.

Luiz Carlos Merten

Marcello Fonte foi melhor
ator em Cannes como o pa-
cífico dono de pet shop que é
intimidado pelo brutamon-
tes da área, que o força a fazer
coisas que não quer. Após ser
preso, e voltar para uma co-
munidade que agora o rejei-
ta, ele vai se vingar. Baseado
numa história real, e filmado
numa área periférica que
acentua a desolação do prota-
gonista, o filme fez sucesso
de público e crítica.
TEL. CULT, 22H., COL., 102 MIN.

Betty Gilpin, atriz

RYAN PFLUGER/THE NEW YORK TIMES

YouTube cria


ação com


música ‘Lavar


as Mãos’


Investigação
Com imagem em HD, o que
já ajuda bastante, a TV Bra-
sil ganhou muito ao começar
a exibir a ótima série Sher-
lock, que traz Benedict Cum-
berbatch na pele do famoso
detetive Sherlock Holmes.
Ao seu lado, o incansável
amigo e parceiro John Wat-
son (Martin Freeman). E, nes-
ta terça, 24, às 21h30, chega
ao canal a segunda tempora-
da, com um caso diferente
em cada episódio.

Aventura
Destaque desta terça, 24,
às 22h30, na Record TV, é a
exibição do filme A Múmia –
Tumba do Imperador Dra-
gão. Exibido com audiodes-
crição, mostra como o Im-
perador Dragão (Jet Li) é
amaldiçoado pela feiticeira
Zi Juan (Michelle Yeoh) e
ele e seu exército de 10 mil
homens são petrificados.
Dois mil anos depois, seu
túmulo é descoberto por
Alex O’Connor (Luke Ford),
filho dos aventureiros Rick
(Brendan Fraser) e Evelyn
(Maria Bello).

Bem-humorado
No episódio desta terça, 24,
às 22h30, no GNT, de Que His-
tória É Essa, Porchat?, o apre-
sentador começa o programa
dizendo que a Heloísa Périssé
tem as histórias das amigas
mais doidas do mundo e a
provoca a contar histórias
ao mesmo tempo. É o que
vamos ver neste episódio,
que conta também com
a presença de Cleo e
Rodrigo Fagundes.

Distraindo
O Prime Video está disponibili-
zando, gratuitamente para
seus clientes, uma seleção de
conteúdo infantil e para a famí-
lia, com filmes e séries de TV.

Complicações
Estreia na sexta, 27, na
Globoplay, a série The Affair,
que mostra o caso entre
o escritor Noah (Dominic
West) e a garçonete Alison
(Ruth Wilson). Relação
serve como pano de fundo
para o drama, que se
desenvolve a partir do
ponto de vista dos
amantes e dos traídos.

DESTAQUE
ARTEPLEX DISTRIBUIDORA

Away and Back
(EUA, 2015.) Dir. de Jeff Bleckner, com
Jason Lee, Minka Kelly, Maggie Elizabeth
Jones, Connor Patton, Jaren Lewison.

Irmãos carentes, órfãos de mãe,
entram em contato com ornitólo-
ga para ajudá-los a cuidar de filho-
tes de cisnes abandonados na fa-
zenda do pai. Ela e o pai brigam o
tempo todo, divergem sobre tudo,
mas você sabe que, na ficção, es-
se é o melhor caminho para o
amor. Pode não parecer, mas o
filme possui um encanto especial.
GLOBO, 15H. COLORIDO, 96 MIN.

Filmes na TV


Roda Gigante/Wonder Wheel
(EUA, 2017.) Dir. e roteiro de Woody Allen,
com Kate Winslet, Justin Timberlake, Juno
Temple, Jim Belushi, Jack Gore, Tony Sirico.

Woody Allen tem respondido às
perseguições com alguns de seus
melhores filmes. Um Dia de Chuva
em Nova York, Roda Gigante. Kate
Winslet é excepcional, e é absurdo
que não tenha sido indicada para o
Oscar como a mulher que forma
triângulo com a filha do marido e
um salva-vidas. A roda-gigante vira
metáfora da roda da vida.
TEL. PREMIUM, 22H. COL., 101 MIN.

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