O Estado de São Paulo (2020-03-24)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-4:20200324:
A4 TERÇA-FEIRA, 24 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS
PARTICULARES.
Ronaldo
Caiado,
governador de
Goiás

»A ver. Em resumo, no ar-
razoado das análises e previ-
sões colhidas pela Coluna,
apenas as bobagens e as
contradições diárias de Bol-
sonaro ainda não foram (e
muito possivelmente não
serão) suficientes para der-
reter o presidente entre o
grupo dos 30% de brasilei-
ros que o veneram.

»Vento... O Bolsonaro que
se reuniu com governado-
res do Nordeste não menos-
prezou a covid-19. Segundo
quem acompanhou a tele-
conferência, o presidente
parece ter entendido a gra-
vidade da situação.

»...virou? “Meu muito obri-
gado pela oportunidade,
parabéns a todos nós pelo
entendimento e pela coope-
ração. Tenho certeza de
que juntos não só vencere-
mos esse obstáculo, bem
como sairemos muito mais
fortes”, disse Bolsonaro.

»Velas. No Planalto, a reu-
nião foi considerada bem
sucedida e muito comemo-
rada. Palacianos temem o
encontro de amanhã, que
terá João Doria (SP) e Wil-
son Witzel (RJ). A expecta-
tiva é de que Romeu Zema
(MG) seja capaz de quebrar
um pouco o gelo.

»Passa pra cá. O deputa-
do Marcelo Ramos (PL-
AM) defende que a Câmara
vote, mesmo em acordo
com o Executivo, um proje-
to próprio sobre mudanças
de regras trabalhistas duran-
te a epidemia da covid-19.

»Deixa pra lá. Para ele, a
MP editada pelo governo
deveria ser retirada e não
somente reescrita. Acredita
que ela não terá a concor-
dância de três quintos da
Câmara para ser aprovada.
A regra foi estabelecida na
semana passada com objeti-
vo de evitar que medidas
polêmicas sejam submeti-
das às votações à distância.

»Alvo. O governo de Iba-
neis Rocha (MDB) catalo-
gou os moradores em situa-
ção de rua do DF: 1.851. É
nesse grupo de risco que
deve focar ações: 1) tentar
encontrar as famílias; 2)
encaminhar para centros de
acolhimento do governo os
que não as possuírem.

»Teoria e prática. Médico,
Ronaldo Caiado (DEM-
GO) está aliando conheci-
mentos de saúde pública
no combate, como governa-
dor, à covid-19. Com mega-
fone, foi pessoalmente on-
tem dispersar uma fila mal-
feita de idosos em frente a
posto de saúde de Goiânia.

»Carteira. O líder do PL
na Câmara, Wellington Ro-
berto (PB), protocolou pro-
jeto que autoriza o governo
a tomar empréstimos com-
pulsórios com empresas
bilionárias: 10% de pessoas
jurídicas com patrimônio
líquido igual ou superior a
um bilhão de reais.

»Carteira 2. Pela proposta,
o valor seria pago ao gover-
no em até um mês. Se o va-
lor superar um milhão, po-
derá ser parcelado em até
três meses. O governo teria
quatro anos, a contar do
fim da calamidade pública,
para restituir o empréstimo
aos bilionários.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

P


ara além dos resultados aferidos, a pesquisa Ibope
(em parceria com o ‘Estado’ e a Associação Comer-
cial de SP) subsidiou no meio político algumas previ-
sões quanto ao futuro de Jair Bolsonaro. A notícia boa pa-
ra os adversários dele: a desaprovação de 48% à adminis-
tração federal leva a crer que o desgaste ocorrerá em in-
tensidade semelhante nos demais grandes centros do
País. A ruim: os 25% de ótimo/bom em território tão hostil
ao presidente e sob forte impacto da crise do coronavírus
comprova a resiliência do presidente e do bolsonarismo.

Ibope: resiliência e


desgaste de Bolsonaro


ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
[email protected]
POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

KLEBER SALES/ESTADÃO

Após críticas, Bolsonaro


anuncia ajuda aos Estados


Presidente reage à pressão de governadores por ação no combate da pandemia; medidas


incluem acesso a novos empréstimos, suspensão de dívidas e transferências de recursos


BRASÍLIA

O presidente Jair Bolsonaro
reagiu ontem à pressão de go-
vernadores por uma ação
coordenada e mais recursos
para o enfrentamento ao no-
vo coronavírus e anunciou
um amplo pacote de ajuda a
Estados e municípios, que in-
clui acesso a novos emprésti-
mos, suspensão de dívidas e
transferências adicionais de
recursos. Segundo o Ministé-
rio da Economia, o plano en-
volve R$ 88,2 bilhões em re-
cursos. As medidas foram
anunciadas pelo presidente
no Twitter, enquanto ele par-
ticipava de videoconferên-
cias com os chefes dos Execu-
tivos do Norte e do Nordeste.
Aos governadores, Bolsona-
ro prometeu que serão edita-
das duas medidas provisórias
para garantir repasses imedia-
tos aos fundos de saúde esta-
duais e municipais. Serão R$ 8
bilhões ao longo de quatro me-
ses. O presidente afirmou que
o valor é o dobro dos R$ 4 bi-
lhões solicitados originalmen-
te pelos governadores.
Outras medidas serão a sus-
pensão das dívidas de Estados
com a União, num valor de R$
12,6 bilhões, e a renegociação
de débitos de Estados e municí-
pios com bancos, somando R$
9,6 bilhões.
No fim de semana, o governa-
dor João Doria, de São Paulo,
recorreu ao Supremo Tribunal
Federal (STF) para adiar o paga-
mento da dívida do Estado com
a União e usar o recurso para o
enfrentamento do coronaví-
rus. Após decisão favorável do
ministro Alexandre de Moraes,

outros Estados também já se
preparavam para também re-
correr à Corte.
O presidente ainda citou em
seu perfil no Twitter que o go-
verno promoverá “operações
com facilitação de créditos”,
num total de R$ 40 bilhões. Ele
não deixou claro, porém, como
se darão esses novos financia-
mentos.
Bolsonaro disse que também
pretende ampliar o programa -
Bolsa Família para contemplar
1,5 milhão de famílias, “pratica-
mente zerando a fila dos reque-
rentes”. Reportagem do Estado
mostrou no mês passado que,
sem o dinheiro do programa so-
cial, a população voltou a bater à
porta das prefeituras em busca
de comida e outros auxílios.

Nova rodada. Hoje está marca-
da uma nova rodada de conver-
sas, desta vez com governado-
res do Centro-Oeste, Sudeste e
Sul. Com isso, devem participar
dos encontros – também via vi-
deoconferência – Doria e o go-
vernador do Rio de Janeiro, Wil-
son Witzel, dois dos principais

desafetos políticos de Bolsona-
ro, que os acusa de usar a crise
do coronavírus com fins políti-
cos-eleitorais. Os encontros
ocorrem após o presidente de-
clarar, em entrevista à TV Re-
cord no domingo, que “breve-
mente o povo saberá que foi en-
ganado por esses governadores
e por grande parte da mídia na
questão do coronavírus”.
Se de um lado o presidente
deu declarações tentando em-
paredar os chefes dos executi-
vos estaduais, de outro eles se
organizaram e passaram a atuar
de forma coordenada, sem com-
binar o jogo com o governo fede-
ral (mais informações nesta pág.).
Em um esforço para baixar a
temperatura, Bolsonaro disse,
após as reuniões de ontem, que
todos buscaram entendimento
para o enfrentamento da covid-


  1. Segundo o Estado apurou, o
    presidente quis iniciar as con-
    versas com os do Norte e do
    Nordeste para sentir a receptivi-
    dade antes de encarar os gover-
    nadores de São Paulo e Rio. “O
    que mais imperou sobre nós fo-
    ram as palavras cooperação e


entendimento. Sabemos que te-
mos um inimigo em comum, o
vírus”, disse Bolsonaro a jorna-
listas após as reuniões.
Para os governadores a reu-
nião virtual foi um momento im-
portante de diálogo, mas ressal-
taram que as medidas atendem
apenas parcialmente as reivin-
dicações. “Foi um passo positi-
vo, porém, ainda há dúvida, por-
que muita coisa depende de pro-
jetos. A suspensão de dívida,
por exemplo, depende de proje-
to de lei”, disse o governador do
Maranhão, Flávio Dino (PC-
doB). “O presidente atendeu
parcialmente a demanda dos go-
vernadores”, complementou o
governador de Alagoas, Renan
Filho (MDB).
O governo federal também
anunciou que vai proporcionar
um “seguro” contra a queda na
arrecadação de Estados e muni-
cípios durante a crise. Serão R$
16 bilhões ao longo de quatro
meses. / JUSSARA SOARES, IDIANA
TOMAZELLI, CAMILA TURTELLI,
RICARDO GALHARDO, PAULA
REVERBEL. TÂNIA MONTEIRO e
MARLLA SABINO

G


overnadores de vários Estados atuaram de forma
coordenada, nos últimos dias, para dividir expe-
riências e compartilhar medidas de enfrentamento
ao avanço do coronavírus. Não combinaram o jogo com o
presidente Jair Bolsonaro. Ao contrário: diante da perda
de popularidade, Bolsonaro é que foi obrigado a recuar,
anunciando ações de socorro aos Estados.
Em grupos de WhatsApp, chefes de Executivos troca-
ram mensagens sobre como agir na crise e praticamente
ignoraram Bolsonaro. Agiram assim após serem atacados
pelo presidente, que havia acusado alguns deles, especial-
mente João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel

(PSL), do Rio, de usarem o covid-19 para um revide com
cunho político-eleitoral.
Além disso, governadores conversaram sobre pedir ajuda à
China. A decisão foi tomada após o mal-estar provocado pelo
deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente,
que culpou o país asiático pela pandemia.
Doria chegou a recorrer ao Supremo Tribunal Federal
(STF) para adiar o pagamento da dívida de São Paulo. Após
decisão favorável, outros Estados já se preparavam para to-
mar a mesma atitude, mas Bolsonaro se antecipou e incluiu a
suspensão dos débitos, no pacote de socorro.
“Foi um passo positivo, porém ainda há dúvida, porque mui-
ta coisa depende de projetos”, afirmou o governador do Mara-
nhão, Flávio Dino (PC do B), após participar, ontem, de video-
conferência promovida por Bolsonaro com governadores do
Norte e do Nordeste. “Esse é um momento de unidade do Bra-
sil”, disse o governador do Ceará, Camilo Santana (PT).

Governadores ignoram


presidente durante pandemia


Fabiano Contarato

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


PRONTO, FALEI!

O ministro de Bolsonaro que provoca ciúmes no Planalto. Pág. A6 }


● Medidas anunciadas pelo presidente Jair Bolsonaro para prevenção e combate ao covid-

AÇÕES

INFOGRÁFICO/ESTADÃO

*EM QUATRO MESES

Operações
com facilitação
de créditos

Suspensão das
dívidas dos
Estados com a
União

Renegociação de
dívidas de Estados
e municípios com
bancos

Dobrar valor
previsto para
transferência
para a saúde

Orçamento
Assistencial
Social

Recomposição
do FPE e do
FPM

R$ 40


bilhões


R$ 16
bilhões*

R$ 12,
bilhões

R$ 9,
bilhões

R$ 8
bilhões

R$ 2
bilhões

ISAC NÓBREGA / PR - 23/3/

Videoconferência. Bolsonaro observa tela do computador durante reunião virtual com governadores do Norte e Nordeste

“Por medo do barulho ensurdecedor das panelas,
Bolsonaro recua, enquanto a crise vai consumindo o
País”, sobre a polêmica em torno da MP trabalhista.

Senador (Rede-ES)

»CLICK. Gisela Moraes,
do TRT-SP: “Essa soleni-
dade (12/03) foi feita de
aperto de mão, de beijo,
de abraço e, quando a
gente faz isso com amor,
a gente não pega vírus”.

COLUNA DO ESTADÃO

]
BASTIDORES: Jussara Soares e Camila Turtelli

i
Free download pdf