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(Marcelobf) #1
Vontade Humana^107

coisa e aceitar outra. O lado positivo e o negativo precisam
calar presentes na mente, antes que possa haver escolha. Em
cada ato da vontade há uma preferência — o desejar uma
coisa e não outra. Quando não há preferência, mas completa
indiferença, não há volição. Querer é escolher, e escolher é
decidir entre alternativas. Mas há algo que influencia a escolha,
algo que determina a decisão. A vontade, pois, não pode ser
soberana, porque é escrava desse algo que a influencia e
determina. A vontade não pode ser soberana e serva ao mesmo
Icmpo. Ela não pode ser tanto a causa como o efeito, porque,
como dissemos, algo a induz a fazer uma escolha; portanto,
esse algo tem de ser o agente causai. A própria escolha é
afetada por certas considerações, é determinada por várias
influências que operam sobre o próprio indivíduo. Assim, a
volição é o efeito dessas considerações e influências; e, se é o
efeito, logo deve ser-lhes serva. Ora, se a vontade é serva de
tais considerações e influências, já não é soberana. E se a
vontade não é soberana, não lhe podemos atribuir “liberdade”
absoluta. Os atos da vontade não se produzem por si mesmos;
dizer que podem é postular um efeito sem causa. “Ex nihilo
nihil fit” — do nada, nada se faz.
Em todos os tempos, porém, tem havido os que sus­
tentam a absoluta liberdade ou soberania da vontade humana.
Argumentam que a vontade tem um poder autodeterminativo.
Como exemplo, dizem que posso voltar os olhos para cima
ou para baixo; a mente é indiferente quanto ao que faço; a
vontade é que tem de decidir. Porém, isso é uma contradição
de termos. Pressupõe-se que eu escolho uma coisa em
preferência à outra, quando estou em um estado de completa
indiferença. É óbvio que ambas não podem ser verdadeiras.
Pode-se replicar que a mente permaneceu indiferente até que
demonstrou uma preferência. Exatamente nessa ocasião, a
vontade também permanecia quiescente! Porém, logo que
desapareceu a indiferença, foi feita a escolha, e o fato de ter
a indiferença cedido lugar à preferência derruba o argumento
de que a vontade tem a capacidade de escolher entre duas

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