Vontade Humana^121
2 Pode surgir a pergunta: Por que, se essa é a verdadeira condição
do homem, as Escrituras se dirigem à vontade do homem? Não está
escrito: “E quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22.17)?
Reconhecemos, sem restrições, esse fato. Tais exortações demonstram
que o homem tem a responsabilidade de se arrepender, crer e receber a
Cristo; e todos esses deveres envolvem a reação da vontade. Porém,
como o demonstram outras passagens bíblicas, se os homens reagirão
dessa forma ou não, depende do estado da natureza humana, da qual a
vontade é a expressão. A vontade é a causa imediata das ações e não a
causa primária.
Supõe-se constantemente que o homem não pode ser responsa
bilizado por sua resposta ao evangelho, a não ser que tenha a capacidade
de escolher a Cristo; assim, geralmente tem-se admitido que o “livre-
arbítrio” e a responsabilidade humana são sinônimos e que não se pode
negar um sem negar o outro. É nessa confusa base que freqüentemente
se levanta a acusação de que a Fé Reformada não dá o devido valor à
responsabilidade do homem, porque nega o seu “livre-arbítrio”. (Veja
“Nota sobre a Responsabilidade”, p. 122)
O ponto de vista bíblico e reformado a respeito da responsabili
dade do homem é, de fato, muito mais profundo que o popular conceito
arminiano. O homem é responsável não só por sua vontade, mas também
por toda a sua natureza; e, enquanto essa natureza permanece na condição
em que o pecado (e não Deus) a deixou, ela “não aceita as coisas do
Espírito de Deus” (1 Co 2.14) e não quer vir a Cristo para ter vida (Jo
5.40). Conseqüentemente, embora todos tenham o dever de receber a
Cristo, só a vontade daquele cuja natureza tenha sido renovada pelo
Espírito Santo é a que responde ao evangelho. (Nota de The Banner o f
Truth.)
3 Devemos lembrar com clareza que a Teologia Reformada
jamais nega, como às vezes se supõe, que o homem tem a “liberdade de
agir”. A liberdade de agir é diferente da questão do “livre-arbítrio”
(conforme esta expressão é geralmente usada) e não deve haver confusão
entre essas duas expressões. Cf. Systematic Theology, de Louis Berkhof,
p. 248, e Systematic Theology, de Charles Hodge, vol. 11, pp. 260 e
- Hodge escreveu: “A doutrina da incapacidade do homem não
pressupõe que ele tenha cessado de ser um agente livre, do ponto de
vista moral. Ele é livre porque determina os seus próprios atos. Cada
escolha é um ato de livre autodeterminação. O homem é um agente
moral livre, porque tem consciência da obrigação moral, e, sempre que
peca, age livremente contra as convicções da consciência ou contra os
preceitos da lei moral. O fato do homem estar em uma condição, que, de