REVISTA VOO LIVRE - EDIÇÃO 30 - JANEIRO DE 2023

(MARINA MARINO) #1

FEMINISMOS, ARTES E DIREITOS
DAS HUMANAS
Durantemuitotempo,asmulheresdo
e no Direito brasileiro tiveramque, com
poucas e honrosas exceções, ler livros
escritos somente por homens. Mais do
queisso,onossoDireitoeratambémfeito
majoritariamenteporhomens.Ascriações
da ciência, e das normas, carregavam a
visão de mundo apenas do gênero
masculino, com todos os seus padrões
patriarcais. E isso, obviamente, era
determinante na interpretação jurídica,
direcionando, portanto, a aplicação
normativa. No pós-Constituição da
RepúblicaFederativadoBrasil,de 1988 ,os
estudos de gênero no campo jurídico
começaram a surgir com mais vigor,
mesmo que como iniciativas isoladas,
notadamente em pesquisas de pós-
graduações stricto sensu. Uma dessas
investigações científicas eu tive a
satisfação de realizar, no âmbito do
Mestrado em Direito da Universidade
Federal de Santa Catarina, a partir de
1994 , sendo a primeira pesquisa de
questõesdegêneronaáreajurídicasobre
o sistema de cotas eleitorais (ações
afirmativas, empoderamento feminino,
lutasufrágicaetc.).Aslinhasdepesquisa
críticas em temáticas de gênero foram
ampliando-se e tornando-se, de certo
modo,ummovimento.
Porém, mesmo com esse avanço, as
obras seguiam sendo prepon-
derantementepublicadasporhomens.


Demodoaenfrentaroincômodoqueisso
causava,umavezqueexistiamsuficientes
culturas de pesquisa e de escrita
instaladas,edeformacompetente,entre
mulheres, em 2016 um grupo delas
reuniu-separa organizarumpotentelivro
coletivo, de alcances nacional e
internacional, e com a pluralidade e a
abertura conferidas pelos aspectos inter,
multietransdisciplinares.Foiassimquese
gestou “Feminismos, Artese Diretosdas
Humanas”, trazendoinúmeros e diversos
olhares crítico-sociais, femininos e
feministas, sobre o mundo jurídico, em
interseccionalidades com as artes, nas
suas diversas manifestações. Em virtude
detrocadeeditoranomeiodocaminho,a
publicação saiu em 2018 , reunindo 105
coautoras, em 592 páginas, nas versões
impressaeeletrônica.Editamosestaobra
pela Tirant lo Blanch, a única editora
jurídica atuante no Brasil, à época, com
uma mulher na sua condução. Enfim, o
livro é recheado de simbolismos
inovadorese,porissomesmo,ummarco
histórico.
Ao possibilitar visibilidades a
mulheres e meninas, como sujeitos de
direitos que se expressam a partir de
desenhos, pinturas, contos, poesias,
crônicas, resenhas, peças teatrais, textos
acadêmicos, o livro mostra também os
múltiplos papeisque elas desempenham
nomundo–comoeemquaiscondições–,
com suas vontades, dores, coragens,
alegrias, tristezas, dúvidas, certezas e
incertezas, e seus anseios, medos,
murmúrios,gritos,lamentosepoderes.
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