O Estado de São Paulo (2020-03-25)

(Antfer) #1

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A2 Espaçoaberto QUARTA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Xavier Denamur, que possui
cinco bistrôs em Paris, disse
que a situação é tão incerta que
não pensa em reabrir os estabe-
lecimentos antes de junho. “O
queijo Roquefort pode durar es-
se tempo, mas o restante dos
nossos produtos não vai aguen-
tar”, disse ele. O presidente Ma-
cron afirmou que fará “o que


for necessário” para ajudar os
trabalhadores e as empresas de
pequeno e médio portes que
constituem a espinha dorsal da
economia. “Nenhuma empre-
sa francesa ficará exposta ao ris-
co de um colapso”, disse o presi-
dente.

http://www.estadao.com.br/e/bistros

B


olsonaro criou uma per-
sona política baseada
numa narrativa simples
e eficaz. Ele é o cara do povo
que tem coragem de falar as
coisas como elas devem ser di-
tas. Não compactua com a
classe política e seus interes-
ses corporativistas e tampou-
co com a imprensa, ambas jo-
gam contra o interesse do
País. Foi eleito pelo povo para
acabar com o petismo e a es-
querda nefasta, que destruí-
ram o Brasil por meio da cor-
rupção desenfreada e do apare-
lhamento do Estado. Seu pla-
no para tirar o Brasil desse la-
maçal consiste em liderar uma
cruzada contra os políticos, as
instituições, a esquerda e a mí-
dia. A salvação do País está em
Deus, nas Forças Armadas e
no governo Bolsonaro. Essa
foi a narrativa vitoriosa nas ur-
nas que elegeu Bolsonaro pre-
sidente da República.
E qual a narrativa que a opo-
sição oferece para servir de
contraponto ao discurso do
presidente? Trata-se de uma
página em branco. Os oposito-
res do governo tentam camu-
flar a falta de narrativa com
pinceladas de indignação. Cri-
ticam as grosserias do presi-
dente e seu desrespeito às leis
e instituições, denunciam
suas atitudes irresponsáveis e
seu comportamento antipresi-
dencial, que reflete seu menos-
prezo pela democracia.
A oposição carece de uma vi-
são de nação capaz de unir os
brasileiros em torno de valo-
res e de um propósito co-
mum. Ela padece de projetos
e de propostas que congre-
guem políticos e partidos em
torno de uma pauta mínima
que os estimule a dialogar e
buscar o entendimento em
torno de um plano de ação pa-
ra defender a democracia.
Além de não ter narrativa, vi-
são, propostas e propósito cla-
ros, a oposição não possui lide-
rança. Murmurinhos de gover-
nadores, beicinhos da elite de-
siludida com Bolsonaro, recla-
mações corriqueiras sobre o
lento andamento das refor-
mas não ganham eleições.
É inacreditável a passivida-

de cívica dos defensores da de-
mocracia. Refugiam-se nas pe-
quenas discussões partidárias,
apequenam-se nos projetos
pessoais de poder, encaste-
lam-se em seminários que fa-
lam para convertidos e perma-
necem na trincheira dos seus
negócios para defender seus
interesses particulares. Entre
queixas e soluços de indigna-
ção propostos pela oposição e
a narrativa do descontenta-
mento com a política, com a
corrupção e com a esquerda
oferecida por Bolsonaro (que
representa o sentimento de
uma parcela da população que
se sente ignorada pelos gover-
nos e partidos), o presidente
conquistará os votos para con-
tinuar no Palácio do Planalto
em 2022.
Para salvar a democracia
brasileira das garras do popu-
lismo autoritário, a oposição

tem de acordar e agir. Uma
narrativa precisa ter enredo,
personagens e uma moral da
história capaz de cativar as
pessoas e mobilizá-las em tor-
no de valores que elas pre-
zam. A defesa da democracia
foi o tema que cativou os brasi-
leiros em 1984. Naquele ano,
os opositores do regime mili-
tar uniram-se em torno de um
movimento nacional para
pressionar o governo do presi-
dente Figueiredo a aprovar a
emenda constitucional do de-
putado Dante de Oliveira que
instituía eleições diretas para
presidente da República. As-
sim nasceram as Diretas-Já, o
maior movimento cívico da
História do País. Milhões de
pessoas foram às ruas em to-
do o Brasil exigindo eleições
diretas para presidente da Re-
pública. Nos comícios havia
políticos de diversos partidos,
grandes lideranças políticas,
como Ulysses Guimarães e
Tancredo Neves, líderes sindi-
cais, como Lula, artistas, inte-
lectuais e estudantes. A emen-

da Dante de Oliveira foi derro-
tada, mas abriu-se o caminho
para a eleição indireta do pre-
sidente Tancredo Neves, em
1985, e a volta da democracia.
Em 1994, o povo uniu-se em
torno do combate à inflação.
Após mais de 20 anos de re-
tumbantes fracassos de gover-
nos que apelaram para medi-
das autoritárias a fim de debe-
lar a inflação – como confiscos
da poupança, criação de novas
moedas e arrochos salariais –,
o então ministro da Fazenda,
Fernando Henrique Cardoso,
implementou o Plano Real,
um projeto para acabar com a
inflação respeitando as regras
do sistema democrático. Fer-
nando Henrique derrotou Lu-
la no primeiro turno das elei-
ções presidenciais pelo fato de
representar a personificação
do líder democrata capaz de
sepultar a inflação e renovar a
esperança dos brasileiros.
Precisamos urgentemente
criar um “diretas-já” capaz de
mobilizar a sociedade civil e
unir políticos e partidos em
torno da defesa da democra-
cia e da liberdade individual.
Um movimento cívico que
mostre a nossa determinação
de converter pobreza em ri-
queza, desalento em igualda-
de de oportunidades. Uma ini-
ciativa capaz de enfrentar a de-
sigualdade social e crises co-
mo a do coronavírus. Isso sig-
nifica endereçar os reais pro-
blemas que afligem as pessoas
que temem perder seus fami-
liares, amigos, empregos e ne-
gócios num país governado
por um presidente que busca
bodes expiatórios, em vez de
soluções para atenuar o impac-
to da perda de vidas, do agra-
vamento dos problemas so-
ciais e do derretimento da ati-
vidade econômica. Sem essa
união cívica seremos incapa-
zes de vencer a batalha contra
o obscurantismo, a ignorância
e o populismo.

]
FUNDADOR DO CENTRO DE
LIDERANÇA PÚBLICA (CLP), É
AUTOR DO LIVRO ‘10 MANDAMEN-
TOS – DO PAÍS QUE SOMOS
PARA O BRASIL QUE QUEREMOS’

Busca por segurança faz em-
presa sediada nos EUA am-
pliar número de clientes.

http://www.estadao.com.br/e/mercado

FRANÇA


Bistrôs esperam ajuda do governo


Impedido de sair de casa,
casal realizou a união oficial
com os amigos, um líder reli-
gioso e um oficial de justiça,
tudo pela internet.

http://www.estadao.com.br/e/casamento

l“Cancelamento de Olimpíada só aconteceu nas duas guerras mun-
diais. Realmente estamos vivendo uma espécie de ‘3ª guerra mundial’.”
PAULO HENRIQUE NOGUEIRA NUNES

l“Era o melhor a fazer. Mas, quando tudo passar, a Olimpíada acontece-
rá. É só um adiamento...”
ANA BEATRIZ OLIVEIRA

l“Um país que já estava com tudo pronto... Que triste! Mas vamos
assistir do mesmo jeito quando acontecer!”
ADELIA GASNIER

l“Só foi o Canadá (e Estados Unidos) ameaçar um boicote que num
instante mudaram a data.”
QUICO ARENAS

COMENTÁRIOS

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

QUARENTENA
Argentina tem
casamento online

Aves produzem maravilhas
que ainda deixam os cientis-
tas perplexos. Universidade
tenta desembaraçar a dinâ-
mica estrutural do ninho.

http://www.estadao.com.br/e/ninho

ANDREW SPEAR /NEW YORK TIMES

Espaço Aberto


O


acrônimo VUCA – Vo-
latility/volatilidade,
Uncertainty/incerte-
za, Complexity/complexida-
de, Ambiguity/ambiguidade –,
criado por T. Owen Jacobs no
livro Strategic Leadership: The
Competitive Edge
, popularizou-
se entre os estudiosos do fenô-
meno da liderança a partir de
sua adoção pelo War College,
do Exército dos EUA, na déca-
da de 2000. Os termos ser-
vem para definir as principais
características do ambiente
na era da informação, que in-
fluenciam os líderes nos ní-
veis político e estratégico na
tomada de suas decisões.
A volatilidade manifesta-se
pela extrema velocidade dos
acontecimentos, pela nature-
za efêmera e dinâmica das rela-
ções, que exigem constantes
adaptações e realinhamento
de planejamentos e estraté-
gias. Lembra que, nos dias de
hoje, mesmo a informação
mais atual pode ser insuficien-
te para subsidiar uma adequa-
da tomada de decisão. Reforça
que líderes devem estar em
condições de se antecipar aos
acontecimentos, preparando-
se para as mudanças que virão.
A incerteza, causada pela
volatilidade, demonstra que é
impossível deter todas as in-
formações acerca de uma si-
tuação. Ela advém das múlti-
plas soluções e alternativas
que competem entre si e, em
geral, causa atrasos no proces-
so de tomada de decisões,
uma vez que aumenta a quan-
tidade de opiniões discordan-
tes sobre o que vai acontecer
no futuro.
A complexidade deriva da
dificuldade de entendimento
das múltiplas interações, en-
tre os múltiplos fatores, que
impedem que se identifi-
quem com clareza relações
de causa e efeito. A complexi-
dade, assim como a volatilida-
de, contribui para o aumento
da incerteza.
Finalmente, a ambiguidade
caracteriza-se por ser um ti-
po especial de incerteza. Ela
decorre do fato de que dife-
rentes grupos sociais podem
ter distintas interpretações


sobre um mesmo aconteci-
mento. Isso em razão de dife-
renças de perspectivas, dis-
cordâncias ideológicas, dis-
crepâncias culturais.
A crise causada pela pande-
mia da covid-19 apresenta cla-
ramente todas essas caracte-
rísticas, obrigando os líderes
das esferas governamentais e
privadas, em todo o mundo, a
decidirem sob estresse e pres-
são. Não é uma tarefa fácil,
mas as ações de enfrentamen-
to da crise definirão conse-
quências sociais, econômi-
cas, políticas, diplomáticas e
militares.
Apesar do ambiente volátil,
incerto, complexo e ambíguo,
procurar antever os cenários
pós-crise é fundamental para
que os líderes criem uma vi-
são de futuro e trabalhem no
sentido de estabelecer priori-
dades e promover as mudan-

ças necessárias à adaptação
que a nova realidade exigirá.
No sistema internacional,
as organizações multilaterais
e intergovernamentais devem
sair enfraquecidas, uma vez
que foram incapazes de apre-
sentar soluções. O fechamen-
to das fronteiras entre a Ale-
manha e a França, principais lí-
deres da União Europeia, é
emblemático nesse sentido.
A covid-19 chega num mo-
mento em que os EUA estão
se retraindo do cenário inter-
nacional. A reorganização das
relações internacionais num
mundo com menor presença
norte-americana, especial-
mente no Oriente Médio,
abre espaço para uma reorga-
nização que retorna a um mo-
delo semelhante ao da guerra
fria, de “esferas de influên-
cia”. A pandemia acirra a dis-
puta entre EUA e China, uma
vez que desorganiza relações
comerciais e causa disputas
por influência no campo psi-
cossocial, com reflexos até
mesmo em terceiros países,

que passam também a ser pal-
co dessa disputa.
O agravamento de crises já
em curso é outro efeito da
pandemia: a violência crescen-
te na região do Sahel, no norte
da África; a emergência ali-
mentar causada pelas nuvens
de gafanhotos que destroem
as plantações da região da So-
mália, e já migram para o
Oriente Médio; a guerra civil
no Iêmen e na Síria, com suas
enormes quantidades de refu-
giados; a crise do petróleo, mo-
tivada pela baixa intencional
dos preços pela Arábia Saudi-
ta, que ameaça prejudicar ain-
da mais as já muito debilita-
das economias do Irã e da Ve-
nezuela. Todos esses são
exemplos de crises que, ape-
sar de terem desaparecido dos
noticiários, se intensificam a
cada dia.
A desorganização da econo-
mia mundial talvez seja a mais
grave consequência no plano
das relações internacionais. A
redução drástica do consumo
e da produção industrial, além
do desarranjo das cadeias glo-
bais de suprimentos, podem
fazer as corporações transna-
cionais repensarem seus pa-
drões produtivos, com profun-
das modificações no atual mo-
delo de comércio internacio-
nal. Isso para mencionar ape-
nas alguns aspectos do cená-
rio que se aproxima.
Segundo a teoria geopolíti-
ca chamada “desafio e respos-
ta”, desenvolvida pelo sociólo-
go inglês Arnold Toynbee em
1934, as civilizações que aceita-
ram e venceram os desafios,
representados por obstáculos
e inferioridades, sobrevive-
ram e se desenvolveram. Além
disso, o autor afirmou que “o
estímulo humano aumenta de
força na razão direta da dificul-
dade”. Espera-se que, desafia-
das, as lideranças de todo o
mundo, em todos os níveis,
nas esferas governamentais e
privadas, saibam encontrar as
melhores respostas.

]
CORONEL DE CAVALARIA
DO EXÉRCITO. E-MAIL:
[email protected]

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

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Pássaros são os
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Paulo Roberto da Silva Gomes Filho


Tema do dia


Guerras e terrorismo; relem-
bre cancelamentos de Olim-
píadas anteriores.

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Desafio


e resposta


‘O estímulo humano
aumenta de força
na razão direta da
dificuldade’ ( Toynbee )

A guerra


das narrativas


Sem união cívica não
venceremos a batalha
contra obscurantismo,
ignorância e populismo

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
FRANCISCO MESQUITA (1915-1969)

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(SEGUNDA A SÁBADO) E R$ 10,50 (DOMINGO). AM, RR,
CE, MA, PI, RN, PA, PB, AC E RO: R$ 9,00 (SEGUN-
DA A SÁBADO) E R$ 11,00 (DOMINGO)
PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


  • SP E GRANDE SÃO PAULO – R$ 134,90/MÊS. DEMAIS
    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
    CARGA TRIBUTÁRIA FEDERAL: 3,65%.


Jogos Olímpicos são


adiados por conta do


novo coronavírus


Reunião entre governo japonês e Comitê
Olímpico selou decisão; Tóquio deve
receber evento em julho de 2021

]
Luiz Felipe D’Ávila

No estadao.com.br


E-INVESTIDOR

Corretora brasileira
dobra sua carteira

ACERVO

Guerra levou Japão a
abrir mão de Jogos

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