O Estado de São Paulo (2020-03-25)

(Antfer) #1
CARRO PRÓPRIO É
GARANTIA DE LUGAR
SEGURO EM TEMPOS
DE CORONAVÍRUS

Hairton Ponciano


Não faz muito tempo, os auto-
móveis eram considerados
vilões, responsáveis por causar
poluição e congestionamentos
nas grandes cidades. Por isso,
muita gente trocou o carro pelo
transporte público, seja metrô,
trem ou ônibus. Pela comodida-
de, veículos de uso comparti-
lhado, como
táxis e carros
de aplicati-
vos, também
passaram a
ser uma op-
ção natural.
Afinal, dessa
forma não era
mais necessário se preocupar
com estacionamentos, por
exemplo. Ao mesmo tempo,
quem vendeu o carro próprio
não precisou mais arcar com
despesas como licenciamento,
multas, seguros e manutenção.
Mas, com a pandemia do novo


coronavírus, o cenário se inver-
teu. De “inimigo”, o automóvel
voltou a ser um aliado mais se-
guro na luta contra a covid-19.
A razão principal é que o espa-
ço privado oferece maior segu-
rança contra a contaminação.
Aquele é um território conheci-
do, sem surpresas. Basta tomar
as precauções básicas com rela-
ção à higienização.
Em carro
próprio, não
há a proximi-
dade com ou-
tras pessoas,
como ocorre
no transporte
público, nem
a preocupa-
ção de saber quem se sentou no
banco, acionou o ar-condicio-
nado ou a tecla do vidro elétri-
co. Enfim, seu carro é seu caste-
lo. Seu refúgio seguro.
Os serviços estão se adaptan-
do ao novo momento, com
maior oferta de sistemas do ti-

po “drive thru”, em que não é
preciso sair do carro para reali-
zar as tarefas. Em alguns luga-
res, basta fazer a encomenda e
depois passar para retirá-la.

Vacina. O exemplo mais notó-
rio dos novos tempos é a campa-
nha de vacinação contra a gri-
pe, que começou na segunda-
feira desta semana em todo o
País. Para evitar a proximidade
entre as pessoas e diminuir a
possibilidade de contágio do
novo coronavírus, foi possível
tomar a vacina sem sair do auto-
móvel em cidades como São
Paulo e Rio de Janeiro.
Apesar das filas de automó-
veis diante das Unidades Bási-
cas de Saúde (UBS), o sistema
proporcionou até mais confor-
to a quem compareceu motori-
zado aos postos de vacinação,
já que não foi necessário ficar
em pé à espera da vez de ser
atendido. Com isso, foi possí-
vel não ficar exposto não ape-

nas ao contato com outras pes-
soas, mas também se livrar de
um possível excesso de sol, ven-
to ou mesmo chuva.

Escritório. O automóvel tem

se transformado também em
um eficiente “escritório” ambu-
lante. Modelos como o Chevro-
let Onix, Cruze e o novo
Tracker podem até vir com in-
ternet a bordo, o que possibili-

ta maior conectividade. Cone-
xão do celular via Bluetooth
com a central multimídia per-
mite até que o usuário partici-
pe de reuniões virtuais.
Até recentemente, algumas
agências de bancos em São Pau-
lo ofereciam serviços como sa-
ques e depósitos sem a necessi-
dade de o correntista sair do au-
tomóvel. O Bradesco, uma das
instituições que ofereciam es-
sa opção em alguns locais, infor-
mou que o serviço não está
mais disponível. Em farmácias
e alguns supermercados, dá pa-
ra fazer as compras sem entrar
no estabelecimento.

Cerveja. Na Inglaterra, tam-
bém por causa do coronavírus,
a cervejaria Beartown, localiza-
da na pequena cidade de Con-
gleton, ao sul de Manchester,
também adotou o sistema de
drive thru. Os clientes podem
comprar e receber a bebida
sem precisar sair do carro.

Enquanto as pessoas estão
cumprindo período de quaren-
tena ou trabalhando em casa, o
carro fica parado na garagem,
sem uso. O lado positivo é que
o trânsito na cidade diminuiu
muito, assim como os índices
de poluição.
Mas, apesar disso, o carro
não deve ser completamente
esquecido, principalmente se
o período de inatividade exce-
der os 15 dias. De acordo com o
mecânico Pedro Scopino, do-
no da oficina mecânica que le-


va seu sobrenome, localizada
na zona norte da cidade, ligar o
motor a cada 15 dias é suficien-
te numa situação como a atual.
“Quando a pessoa viaja de fé-
rias e deixa o carro na garagem
por 30 dias, não há nenhum pro-
blema. Basta ligar quando vol-
tar”, exemplifica.
Acionar o motor a cada 15 ou
20 dias, segundo Scopino, é
uma providência suficiente pa-
ra evitar que a bateria se descar-
regue. Isso porque é o funciona-
mento do propulsor que faz
com que ela mantenha a carga
em níveis saudáveis, por meio
do alternador. Se a operação de
ligar o veículo for feita em um
dia mais frio, é recomendável
acionar embreagem em carros
com câmbio manual. Isso faz
com que a transmissão seja des-

conectada do motor, e facilita
o trabalho do motor de arran-
que, responsável por fazer o
motor principal funcionar.
Scopino diz que não é neces-
sário sair com o carro na rua, e
cinco minutos com o motor
funcionando já são suficientes.
No entanto, caso a garagem se-
ja fechada (em prédios, por
exemplo), é recomendável sair
com o veículo para dar uma pe-
quena volta, para facilitar a dis-
persão de gases.
Outra dica dada pelo mecâni-
co nessas situações é que o car-
ro seja guardado com o tanque
cheio de combustível, para evi-
tar entrada de oxigênio no re-
servatório, o que poderia cau-
sar oxidação interna por perío-
dos mais prolongados de falta
de uso.

Além disso, os pneus devem
ser calibrados. Esses compo-
nentes perdem mais pressão
com a falta de uso do que quan-
do o carro está se movimentan-

do. E, se eles estiverem com bai-
xa pressão e ficarem muito tem-
po no mesmo local, o peso do
veículo pode causar deforma-
ção na borracha.

Caso o período de inativida-
de ultrapasse os 30 dias, pode-
se ligar também o ar-condicio-
nado por alguns minutos, jun-
tamente com o motor. Isso evi-
ta ressecamento das borrachas
do sistema.
Quanto ao óleo do motor, é
importante prestar atenção na
data da troca. Normalmente,
os fabricantes recomendam
substituição a cada 12 meses
ou 10 mil km, o que ocorrer pri-
meiro. As indicações estão no
manual do veículo. Na fase
atual, mesmo sem o carro an-
dar, pode ser necessário fazer a
troca pelo tempo transcorrido
desde a última troca.
Por fim, se o automóvel esti-
ver precisando de alguma ma-
nutenção, esse pode ser o mo-
mento ideal, já que a necessida-
de de uso diminuiu bastante, e
as oficinas permanecem fun-
cionamento normalmente, co-
mo atividade essencial. / H.P.

Conforto. Vacina
sem sair do carro é a
principal novidade da
campanha deste ano

lO sistema “drive thru”, forma
simplificada do inglês “drive
through”, algo como passar por
algo, ou através de algo, é anti-
go, mas ganhou novas possibili-
dades diante da atual pande-
mia. O drive thru mais popular é
o oferecido por lanchonetes co-
mo o Mc’Donalds, no qual o
cliente, sem sair do carro, faz
seu pedido e paga em um gui-
chê e retira no próximo, sem

necessidade de entrar na loja.
O objetivo inicial era tornar o
atendimento mais ágil, para
quem não tinha muito tempo.
Mas, em períodos de necessida-
de de isolamento social e dis-
tanciamento entre as pessoas,
como agora, essa modalidade
ganhou mais relevância.

NÃO SE ESQUEÇA DO CARRO PARADO NA GARAGEM


JornaldoCarro


WILTON JUNIOR/ESTADÃO

CARRO VIRA


SUPER-HERÓI


EM TEMPOS DE COVID-19


Cerveja. Na Inglaterra, cervejaria passou a entregar a bebida diretamente no veículo

MOLLY DARLINGTON/REUTERS

Por causa da pandemia, o automóvel passou a ser o meio seguro


para fazer compras e um aliado até na campanha de vacinação


LEE SMITH/REUTERS
Rede de lanches

popularizou


o conceito


MONALISA LINS/ESTADÃO

Tanque. Mesmo sem uso, reservatório deve ficar cheio

Ligar o motor a cada 15


dias por 5 minutos está


entre as recomendações


para o veículo que vai
ficar em ‘quarentena’


%HermesFileInfo:B-1:20200325:D1 QUARTA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2020 ANO 38 - Nº 1010 O ESTADO DE S. PAULO


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