O Estado de São Paulo (2020-03-25)

(Antfer) #1

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A4 QUARTA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS
PARTICULARES.
Jair
Bolsonaro,
presidente da
República

»Em on. Gabriel Kanner,
presidente do grupo de em-
presários Brasil 200, sim-
pático a Jair Bolsonaro, de-
fende que o isolamento du-
re apenas mais duas sema-
nas, no máximo, contrarian-
do o que diz o Ministério
da Saúde e a OMS.

»Em on 2. “Sem menospre-
zar o coronavírus, mas tem
que haver uma abordagem
mais cirúrgica. Isolar gru-
pos de risco e os outros vol-
tam às atividades econômi-
cas em, no máximo, duas
semanas”, afirma Kanner.

»Bom senso. Em conversa
com parlamentares, Rodri-
go Maia defende o isola-
mento. Acha que o impacto
econômico será gigantesco
para todos se o sistema de
saúde entrar em colapso.

»Boia. Entusiastas da pro-
posta de cortar parte dos
salários de servidores para
engordar recursos do com-
bate à covid-19 acreditam
que a medida pode ser uma
espécie de salva-vidas ao
tão desgastado Legislativo.

»In... A medida, apoiada
por Maia e encabeçada pe-
los tucanos, encontra resis-
tência de líderes. A forma, a
porcentagem e as carreiras
afetadas ainda são alvo de
debate. O consenso de que
o tema pode entrar na agen-
da nas próximas semanas
está sendo construído.

»...progress. Maia reforça,
contudo, que a iniciativa
deve partir do Executivo e
incluir todos os Poderes.

»Juntos. Representantes
diplomáticos fizeram chegar
ao secretário de Relações
Internacionais de SP, Júlio
Serson, o pedido de audiên-
cia com a cúpula do Bandei-
rantes. Entre mais de 60 di-
plomatas já confirmados na
videoconferência de hoje
com Rodrigo Garcia, está o
representante da China.

»Digital. O CNJ criou gru-
po de trabalho para discutir
videoconferência no siste-
ma criminal. Conselheiros,
magistrados e representan-
tes do Ministério Público,
Defensoria Pública e advo-
cacia emitirão, até o dia 30
de maio próximo, parecer
com proposta de ato norma-
tivo e protocolos.

»Digital 2. A ideia do CNJ
é regulamentar o uso da vi-
deoconferência em instru-
ção processual e de execu-
ção penal. As audiências de
custódia continuam suspen-
sas e com o uso da tecnolo-
gia vedado por cortes supe-
riores, diz o conselho.

»Cadê... Enquanto a Prefei-
tura de São Paulo já está
com dois hospitais de cam-
panha quase prontos (Pa-
caembu e Anhembi), o pre-
feito do Rio de Janeiro, Mar-
celo Crivella, segue fazendo
lives em um espaço vazio,
onde supostamente existirá
um hospital.

»...prefeito? Crivella foi o
primeiro a prometer a ado-
ção da medida, mas, até ago-
ra, nada. O prefeito nem
sequer conseguiu conven-
cer o Exército, que seria o
responsável pela monta-
gem, da necessidade de ins-
talar um hospital de campa-
nha no Rio de Janeiro.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

A


s redes bolsonaristas atuam para propagar a tese de
que vale afrouxar o confinamento para “salvar” a
economia, custe o que custar. No pronunciamento
de ontem, Jair Bolsonaro repetiu as linhas gerais dessa
narrativa, segundo a qual ele luta contra exageros de ini-
migos interessados no pânico e no desemprego de mi-
lhões. Algumas das mensagens reproduzem dados de cará-
ter duvidoso. Alvos de ataques dessas redes e autoridades
preocupadas com a pandemia disseram à Coluna que já
enxergam nelas digitais cibernéticas do gabinete do ódio.

Presidente reverbera


as redes bolsonaristas


ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
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KLEBER SALES/ESTADÃO

MP de Bolsonaro restringe


Lei de Acesso à Informação


Medida Provisória suspende prazo e isenta de punição por não atendimento de demandas


da sociedade; entidades de transparência e de jornalismo reagem e Rede vai ao Supremo


BRASÍLIA
SÃO PAULO

O presidente Jair Bolsonaro
desobrigou repartições públi-
cas de prestar informações pe-
didas durante o enfrentamen-
to da crise causada pela pande-
mia de coronavírus. Em mais
uma medida provisória (MP)
publicada tarde da noite, em
edição extra do Diário Oficial
da União anteontem, o gover-
no suspendeu os prazos para
que a administração pública
atenda a solicitações feitas
via Lei de Acesso à Informa-
ção, que determina o máximo
de 30 dias para respostas a de-
mandas de qualquer pessoa. A
decisão causou forte reação
de entidades de transparên-
cia e de jornalismo, como a As-
sociação Nacional de Jornais
(ANJ). Para a organização
não governamental Conectas
Direitos Humanos, trata-se
de um “ataque a um dos pila-
res da democracia”. Parte do
Congresso já discute formas
de derrubar a norma.
Na prática, a medida isenta
de punição quem não prestar es-
clarecimentos sobre itens co-
mo gastos públicos, decisões
ministeriais e demais dados
que não são publicados volunta-
riamente pelos órgãos governa-
mentais. Como a lei é nacional,
prefeituras e governos esta-
duais também podem ignorar
as solicitações. A regra vale en-
quanto durar o estado de cala-
midade decretado por causa da
pandemia, que se encerra no
dia 31 de dezembro.
Segundo a MP, estão livres de
cumprir os prazos para respos-
tas todos os órgãos que tiverem
seus servidores submetidos a re-
gime de quarentena, teletraba-
lho ou que, necessariamente,
dependam de acesso presencial
para poder responder ao pedido
de informação. De acordo com
o texto, todo pedido negado sob
a justificativa de que o funcioná-
rio está em quarentena ou em
home office não teria possibili-
dade de recurso, bloqueando a
análise da Controladoria-Geral
da União (CGU) e da Comissão
Mista de Reavaliação de Infor-
mações (CMRI) sobre o caso.
Levantamento no site da CGU
mostra que atualmente há 3.
pedidos de informação penden-
tes de respostas feitos à adminis-
tração federal. Segundo a MP, es-
sas solicitações devem ser reite-
radas no prazo de dez dias após o
fim do estado de calamidade pa-
ra serem respondidas.

Para a ANJ, nas situações
atuais, o governo deveria ser ain-
da mais transparente e ágil.
“Em situações de calamidade, a
informação pública deve ser ain-
da mais transparente, abrangen-
te e ágil, e não menos, como defi-
ne a MP”, diz a associação.
Em nota conjunta, a Associa-
ção Brasileira de Jornalismo In-
vestigativo (Abraji) e mais de
cinquenta entidades aponta-
ram que as mudanças feitas por
Bolsonaro na lei são vagas, con-
traditórias e sem exposição de
motivos. “Ao estabelecer que
os pedidos não respondidos no
prazo devem ser reiterados em
até dez dias passada a calamida-
de, possibilita que todas as soli-
citações feitas no período se-
jam ignoradas”, diz o texto.
Fabiano Angélico, mestre em
administração pública pela Fun-
dação Getúlio Vargas (FGV) e es-
pecialista em transparência, clas-
sificou a MP como “desnecessá-
ria e equivocada”. “Agora é o mo-
mento de construirmos confian-
ça mútua, e uma MP como essa
vai na direção contrária.”
Ontem, menos de 24 horas de-
pois da sua edição, a MP foi usa-
da como argumento pelo Insti-
tuto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) para
negar informações sobre mu-
danças estruturais no órgão. O
pedido havia sido feito pelo Mi-
nistério Público Federal.

Congresso. Diante da reação
negativa, parlamentares já bus-

cam meios de derrubar a medi-
da. O deputado Kim Kataguiri
(DEM-SP) apresentou ontem
um pedido de para que seja reti-
rado do texto o trecho que trata
da Lei de Acesso à Informação.
“Esse tipo de atitude faz pare-

cer que ele quer esconder algo
de pouco republicano em seu
governo”, afirmou Kataguiri. Já
a Rede pretende recorrer ao Su-
premo Tribunal Federal. “Sus-
pender a LAI agora só favorece
a corrupção, porque foi suspen-
so o limite de gastos do gover-
no”, disse o senador Randolfe
Rodrigues (Rede-AP).
O presidente da Câmara, Ro-
drigo Maia (DEM-RJ), afirmou
ter discutido o texto da MP com
o ministro da Secretaria-Geral
da Presidência, Jorge Oliveira,
mas que os deputados poderão
fazer ajustes no texto. “De for-
ma nenhuma vai gerar informa-
ção para sociedade que esta-
mos restringindo ou omitindo
informação”, disse Maia em en-
trevista à GloboNews.
A justificativa do governo pa-
ra adotar a medida é concentrar
esforços no enfrentamento à
pandemia do coronavírus. Ao
Estado , o ministro da CGU,
Wagner Rosário, afirmou que a
intenção é “resguardar” os ser-
vidores e que vai divulgar volun-
tariamente todos os gastos
emergenciais do governo.
“Quando você pede informa-
ção a um hospital lá na ponta,
não tem equipe da LAI para res-
ponder. É o pessoal que está aten-
dendo. Então criamos essa sus-
pensão para que possam ser res-
pondidos assim que acabar esse
período de emergência”, disse o
ministro. / JUSSARA SOARES, PAULO
ROBERTO NETTO, CAMILA TURTELLI,
FELIPE FRAZÃO e IDIANA TOMAZELLI

Mateus Vargas
Julia Lindner / BRASÍLIA

Uma guerra de versões sobre au-
toridades infectadas com o no-
vo coronavírus opõe o governo
do Distrito Federal, o Ministé-
rio da Defesa, a Justiça e o Hospi-
tal das Forças Armadas (HFA),
onde o presidente Jair Bolsona-

ro realizou exames. Nos bastido-
res, integrantes do governo do
Distrito Federal acusam o HFA
de omitir nomes de duas pes-
soas que contraíram a doença. A
Justiça Federal determinou, há
cinco dias, que o hospital infor-
masse a relação completa de
quem está com coronavírus,
mas na lista apresentada, com
17 casos, duas identidades fo-
ram mantidas sob sigilo.
Bolsonaro fez dois testes para
saber se foi contaminado e, se-
gundo ele, todos deram negati-
vo. Foi o governo do Distrito Fe-
deral que acionou a Justiça para
obter a lista. Além de Bolsonaro,

integrantes da comitiva que
acompanhou o presidente em re-
cente viagem aos Estados Uni-
dos também se submeteram a
exames no HFA. Ao todo, 23 pes-
soas que estiveram com ele já
contraíram coronavírus.
O Estado pede há dias à Se-
cretaria de Comunicação da
Presidência que apresente os re-
sultados dos exames de Bolso-
naro, mas não obteve resposta.
O presidente afirmou recente-
mente que não teria problema
em divulgar os testes, mas clas-
sificou os pedidos como “intro-
missão” e disse se preocupar
com reflexos na economia, caso
algo aconteça com ele.
O comandante logístico do
HFA, general Rui Yutaka Matsu-
da, assegurou que as informa-
ções sobre os pacientes do hospi-
tal com resultado positivo para a

covid-19 já foram compartilha-
das com a Secretaria da Saúde do
DF e com o Ministério da Saúde.
O Ministério da Defesa também
prestou a mesma informação.
Em ofício obtido pelo Esta-
do e endereçado à juíza Raquel
Soares Chiarelli, porém, o co-
mandante logístico do HFA afir-
ma: “Deixo de informar à V.
Exa., neste documento, os no-
mes dos pacientes com sorolo-
gia positiva para a Covid-19, a
fim de evitar a exposição dos pa-
cientes e em virtude (de) direito
constitucional de proteção à in-
timidade, vida privada, honra e
imagem do cidadão”.
A juíza impôs multa de R$ 50
mil à direção do hospital por pa-
ciente que tiver a informação so-
negada. Disse ainda que a devi-
da identificação dos casos é
“inadiável”.

Baleia Rossi

Hospital onde presidente


fez teste omite 2 positivos


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


PRONTO, FALEI!

Posts enganosos


sobre vírus são


apagados de redes


Guerra de versões opõe
Hospital das Forças
Armadas, Ministério da
Defesa, Justiça e governo
do Distrito Federal

Diante de pandemia, políticos propõem corte de verbas. Pág. A5 }


MARCOS CORRÊA/PR

Presidência. Bolsonaro participa de reunião com governadores ao lado do vice, Mourão

“Se a emergência exigir, não vejo nenhuma dificulda-
de. O MDB não vai se opor à utilização do fundo elei-
toral para o combate ao coronavírus.”

Deputado federal (MDB-SP)

»CLICK. O senador Izal-
ci Lucas (PSDB-DF) parti-
cipou de casa da sessão
do Senado que votou a
MP do Contribuinte Le-
gal. Foi a 1ª com votação
nominal no home office.

COLUNA DO ESTADÃO

lPerfis da rede de apoio do pre-
sidente Jair Bolsonaro tiveram
conteúdos sobre o novo coronaví-
rus apagados ou sinalizados co-
mo enganosos nos últimos dias.
Isso aconteceu porque Twitter,
Facebook e YouTube revisaram
seus critérios para retirar do ar
publicações que tratam sobre a
pandemia. O Twitter, por exem-
plo, passou a apagar posts que
descrevem medidas de proteção
ineficazes ou em desacordo com
orientações oficiais.
Anteontem, foram retiradas do
ar postagens do influenciador
bolsonarista Allan dos Santos.
Ele repetia argumentos apresen-
tados por Olavo de Carvalho em
vídeo do dia anterior, que tam-
bém foi retirado. Medida seme-
lhante foi tomada com publica-
ções do ministro Ricardo Salles e
do senador Flávio Bolsonaro que
citavam vídeo antigo do médico
Dráuzio Varella. / TIAGO AGUIAR

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