O Estado de São Paulo (2020-03-25)

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H6 Especial QUARTA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Longe das ruas e dos afazeres
diários, as pessoas com mais de
60 anos também necessitam de
atividades, físicas e culturais,
para se manter com saúde. Aqui,
algumas dicas de atrações para
a diversão de nossos idosos:

l Sou 60
A TV Brasil exibe o programa,
às quartas, às 7h15, que é dire-
cionado para esse público mais
maduro e que precisa de orienta-
ções enquanto fica confinado. A
atração apresenta conteúdo va-
riado, incluindo cidadania, saú-
de, sexualidade, comportamen-
to, tecnologia, mercado de traba-
lho, roteiros de viagem – para
quando for possível, claro – e
ainda aquelas pessoas que são
exemplos inspiradores.

l Drauzio Varella
Em suas redes sociais, o médico
costuma postar vídeos com dicas
e informações importantes para
que todos possam se manter sau-
dável nesse período de reclusão.
Fiquem atentos ao que diz o dr.
Drauzio, que enfatiza a importân-
cia de se manter em quarentena,
pois somos todos vulneráveis ao
coronavírus, no entanto, as pes-
soas com mais idade e com doen-
ças crônicas são mais frágeis.

l Merlí
A Casa do Saber liberou seu servi-
ço on demand. Um dos destaques
é o curso sobre a série espanhola,
com Renato Janine Ribeiro. A pro-
dução está na Netflix e mostra co-
mo o professor de filosofia Merlí
Bergeron (Francesc Orella) faz de
sua disciplina referência na forma-
ção de seus alunos como seres
livres. / ELIANA SILVA DE SOUZA

PARA EVITAR CHEGADA
DO CORONAVÍRUS,
ASILOS PROIBIRAM
VISITAS DE FAMILIARES

Camila Tuchlinski


Tem muita gente que está fazen-
do planos durante a quarente-
na: arrumar gavetas, organizar
roupas, aquela penteadeira que
está repleta de quinquilharias.
Mas colocar metas muito rígi-
das pode causar ainda mais es-
tresse no isolamento.
Vera Maria Moraes, de 75
anos, mora em Poços de Cal-
das, no sul de Minas Gerais. A
pandemia do novo coronavírus
fez com que a aposentada se re-
cordasse de algo que há anos
não fazia, o crochê. “O mais di-
fícil é a notícia. A gente fica ven-
do direto o mesmo assunto, en-
tão, comecei a ficar angustiada,
deprimida, aí fiz o seguinte: pe-
guei um novelo de lã, minha
agulha de crochê e comecei a
fazer”, conta.
Vera também decidiu manter
uma rotina: “De manhã acordo,
tomo meu banho, me arrumo
como se fosse sair para rua pas-
sear, cuido da casa direitinho.
Faço o que tem de ser feito e,
para não ficar só falando nisso
(coronavírus), comecei a fazer
uma toalha. Tô bem animadi-
nha aqui, esperando esses dias
difíceis passarem”, diz.
Ela tem a consciência de que
é importante manter a quaren-
tena para sua própria saúde e a
dos outros.
A falta de interação social e
contato com a família podem ge-
rar ansiedade e agravar casos de
depressão em idosos, segundo
análise da psicóloga Daniela
Bernardes, do Residencial Club
Leger, instituição que faz acolhi-
mento dessa faixa etária. A espe-
cialista dá algumas dicas para
superar esse período:
Jogos de mesa e dominós:
Muito esquecidos nas gavetas
empoeiradas de casa, eles po-


dem ajudar muito na distração.
São atividades que proporcio-
nam a interação entre pais e
avós. “Regular esse dispositivo
é extremamente saudável para
evitar ansiedade desnecessária.
O momento é de consciência e
responsabilidade, mas não de
alarmes”, afirma a psicóloga.
Rever álbum de fotografias:
Falar de casos passados e ver fo-
tos podem ser formas de trazer
aos idosos a importância de sua
história e fazer com que se re-
cordem de momentos felizes.
Tudo isso pode ser compartilha-
do também de forma virtual, pa-
ra quem não consegue estar
com eles. “Essa atividade ajuda
a dar um sentido positivo às ex-
periências deles e retomar sua
importância na vida de cada

membro familiar”, explica.
Resgatar filmes antigos: Da-
niela Bernardes afirma que su-
gerir títulos, caso eles não este-
jam no mesmo ambiente dos de-
mais parentes, alivia o sentido
de afastamento, além de ser um
poderoso método de distração
e divertimento.
Ligações ao longo do dia:
Também são vitais para aqueles
que estejam distantes. Neste ca-
so, devamos fazê-los se senti-
rem seguros, reforçando que es-
se período difícil é algo passagei-
ro, mas que requer cuidados.
“Faz parte de nosso mecanis-
mo psíquico acomodar-se cada
um a seu modo, por vezes desen-
volvendo a tristeza e a angústia.
As estratégias que considera-
mos tendem a ser uma forma de

alívio desses mecanismos, até
que cada um internamente en-
contre sua forma de enfrenta-
mento, cada um tem seu tempo
para isso”, conclui a psicóloga.

Falta de produtos. Os asilos
enfrentam um grande desafio
atualmente: impedir que seus
ocupantes tenham contágio do
novo coronavírus, já que idosos
fazem parte do grupo de risco
para a covid-19. Mas além dessa
batalha, alguns locais já relatam
também dificuldade para en-
contrar alguns materiais, como
máscaras, luvas e álcool gel.
Para tentar evitar a chegada
do vírus, todos os asilos consul-
tados proibiram as visitas de fa-
miliares. É o caso do Residen-
cial Recanto dos Nobres, na Zo-
na Leste de São Paulo, que impe-
diu as visitas e obrigada os fun-
cionários a colocarem um sapa-
to especial ao chegar no local. A
casa de repouso, porém, ainda
não tem falta de produtos.
É um cenário diferente do
Abrigo Irmã
Tereza, insti-
tuição filan-
trópica em
São Caetano
do Sul, que for-
nece moradia,
comida e cui-
dados para 64
idosos. Segundo Adilson Mi-
sael Magri, coordenador de cap-
tação de recursos, a entidade já
está com falta de máscara, luva,
álcool gel e álcool 70%.
Para tentar distrair os idosos,
o abrigo também usa jogos e
brincadeiras, e aceita doações
de produtos.

A falta de itens para a preven-
ção do vírus também está sendo
sentida pela Assistência Social
Dom José Gaspar - Ikoi No So-
no, que fica em Guarulhos, ou-
tra instituição filantrópica que
atende 66 idosos. Izumu Hon-
da, diretor superintendente do
local, destaca a busca pelos mes-
mos produtos hospitalares,
mas todo tipo de doação é bem-
vinda: “qualquer coisa ajuda”.
O cenário é compartilhado,
também, por asilos privados. É
o caso da casa de repouso Hotel
Residencial Boa Vida, localiza-
da na Mooca, Zona Leste de São
Paulo, com 22 idosos. Eduardo
Nunes, gerente administrativo
do asilo, relata dificuldades de
encontrar os materiais hospita-
lares, isso sem falar no aumen-
to no preço dos mesmos.
Além desses locais a Secreta-
ria de Assistência Social do Mu-
nicípio de São Paulo conta
com diversos centros de aco-
lhidas, alguns específicos para
idosos. Sete Centros de Acolhi-
da Especiais
são para ido-
sos em situa-
ção de rua,
com 702 va-
gas. Existem
ainda 14 Insti-
tuições de
Longa Perma-
nência para Idosos, com 480
vagas. Kits de higiene, produ-
tos de limpeza, álcool gel, más-
caras e roupas são os produtos
mais importantes e qualquer
doação é bem-vinda.
Veja como doar:
Abrigo Irmã Tereza - Rua
Lourdes nº 640 - Vila Nova
Gerty: é possível enviar doa-
ções por correio ou entregar
pessoalmente. Mais informa-
ções no número (11) 4238-3231.
Hotel Residencial Boa Vida -
Rua Dias Leme, 38 - Mooca: an-
tes de doar é necessário preen-
cher uma ficha de qualificação.
Mais informações no número
(11) 94022-3752.
Assistência Social Dom José
Gaspar - Ikoi No Sono - Rua Jar-
dim Repouso São Francisco,
881 - Parque Maria Helena, Gua-
rulhos: os interessados em doar
devem entrar em contato com o
número (11) 2480-1122 ou com
o e-mail contato@ikoinoso-
no.org.br.
Centros da Secretaria de As-
sistência Social do Município
de São Paulo: as doações devem
ser encaminhadas para a organi-
zação Cruz Vermelha, que dis-
tribuirá as doações. É possível
deixar os produtos na Avenida
Moreira Guimarães, 699. Mais
informações no número (11)
5056-8666. / COLABOROU JOÃO
PEDRO MALAR

LIÇÃO DE CASA

Conviver*


DICAS PARA UM


BEM CUIDAR


ACERVO PESSOAL

Existem muitas formas de os idosos vencerem o isolamento em


casa; há ainda como ajudar os que moram em asilos ou nas ruas


Passatempo. A mineira Vera Maria Moraes resolveu resgatar o crochê para aliviar o tédio

MARCOS MÜLLER/ESTADÃO

IDOSOS

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