Sabor Club - Edição 39 (2020-04)

(Antfer) #1
Sabor. club [ ed. 39 ] | 53

Na mesma época em que Teresa conhecia o cultivo na maior floresta
urbana do mundo, por sinal, o francês recebia em seu Olympe um e-mail
de Fátima Anselmo, que desejava mostrar os brotos orgânicos plantados em
Brejal, na Serra Fluminense. Não sabia que o contato mudaria
a vida de ambos.
Em pouco tempo ela conhecia e cultivava, a pedido de Claude, folhas
como jambu e azedinha - esta importante na história francesa dos Troisgros,
através do emblemático prato de salmão da nouvelle cuisine. Claude não
demorou a anunciar no menu os “minilegumes da Fátima”, incluindo chuchu
que virou um cornichon à brasileira.
“Digo aos meus filhos que esse é um vínculo que se constrói, um caminho
de mão dupla, como um casamento. Não somos nada sem os agricultores e
precisamos encontrar tempo para a relação”, afirma Claude.


Em 2010, época de graves enchentes na serra, Fátima perdeu quase tudo,
do plantio a computadores e equipamentos, e teve a providencial ajuda do
francês, assim como da chef Roberta Sudbrack para reerguer a empresa,
estreitando os laços com os cozinheiros.
Na mão inversa da parceria, o chef Rafa Costa e Silva, do Lasai, foi
buscar em Teresópolis o auxílio do agricultor senegalês Aly Ndiaye para
desenhar a horta orgânica que mantém no Itanhangá, na Zona Sul do Rio,
com um galinheiro alimentado pelas sobras dos vegetais, e cujos dejetos
servem de adubo.
A ideia de fomentar para educar é alimento importante no enredo da
cozinheira e professora Ciça Roxo. Ao notar a distância indesejada entre os
estudantes de gastronomia e as feiras, criou trabalho para seus alunos que
consiste na escolha de um produtor para visitar, seguido de plantio em canteiro
na universidade, e a utilização do próprio cultivo em prova prática de cozinha.


“Claude Troisgros chegou a criar um menu com os “minilegumes
da Fátima”, incluindo chuchu que virou um cornichon à brasileira
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